Nexus: O Filho das Estrelas Brasileira

Autor(a): Velthar

Revisão: Banjoloko


Volume 1: Sangue e Promessas.

Capítulo 9: Cinzas do passado

O ar fresco do quintal contrastava com a atmosfera carregada dentro do restaurante.

Harkin caminhava lentamente, distanciando-se de Eiden, mas o imperador o seguia, mantendo o ritmo sem esforço.

— Você tá empenhado em ficar longe de mim.

Harkin não se virou.

— E você empenhado em me ver falhar.

Eiden apenas sorriu de leve.

O quintal do Restaurante Dragão Dourado era pequeno, mas bem cuidado. O lago artificial no centro refletia o céu limpo, os peixes nadando tranquilamente em meio à grama verde e bem aparada.

O muro alto ao redor proporcionava privacidade, isolando o lugar do movimento da cidade. Harkin parou perto de um banco de madeira, recostando-se contra uma parede.

Um cinzeiro próximo indicava que aquele era um espaço frequentemente usado para relaxar.

Eiden sentou-se sem hesitar.

— Eu só te segui porque estou esperando o cigarro que pedi.

Harkin revirou os olhos, mas pegou o maço, deu um leve tapinha na base e puxou um cigarro para si, segurando-o entre os lábios antes de estender o restante para Eiden.

O imperador aceitou, mas logo ergueu a mão aberta para o filho.

— Isqueiro.

Harkin riu, um som curto e carregado de ironia.

— De todas as pessoas, você é a que eu menos esperava que fumasse. E ainda precisa de um isqueiro?

Eiden não gostou da provocação.

— Cala a boca e me passa logo essa merda.

— Não ando com um.

Eiden o olhou por um instante, analisando se era uma piada ou não.

— E como caralhos você vai fumar sem acender?

Harkin simplesmente levou o cigarro à boca e puxou o ar.

Ao primeiro trago, o fumo brilhou, acendendo-se sozinho.

Tirando-o dos lábios, ele soltou a fumaça devagar.

— Vocês não têm isso aqui. Meus cigarros têm runas que acendem com a primeira tragada.

Eiden piscou, um pouco surpreso, mas logo repetiu o gesto, testando a nova tecnologia por si mesmo.

— Prático.

— É.

O silêncio se instalou entre eles.

O único som era o da brasa queimando devagar, misturando o amargo e o doce do tabaco no ar.

Eiden precisava falar com ele.

“Por onde começo?”

Harkin não fez questão nenhuma de ir até o palácio desde que chegou.

A última vez que haviam trocado palavras foi em Nyhara… e aquilo não foi uma conversa.

Ele desviou os olhos, reparando na bandagem na mão do filho.

“Uma prótese.”

A cicatriz por baixo devia ser feia.

“Talvez… só há um jeito de descobrir”

— O que houve no braço?

Harkin não respondeu de imediato.

Apenas girou o cigarro entre os dedos, pensativo.

— É a primeira vez que vejo uma prótese tão avançada. — Eiden continuou.

— Sua mãe deve ter procurado um artesão de primeira.

O olhar de Harkin se ergueu, sorriso leve e triste se formando em seus lábios.

— Não foi ela que providenciou isso.

Eiden franziu o cenho.

Harkin então inalou a fumaça novamente e, antes de responder, devolveu uma pergunta:

— O quanto mamãe te falou sobre a minha infância?

A pergunta o pegou de surpresa.

Por um momento, o imperador apenas olhou para o nada, refletindo.

“Se isso for um jogo mental, melhor acabar logo sendo direto.

Ele suspirou.

— Olha, Harkin… nós não tivemos contato nos últimos cinco anos. Basicamente, você é um estranho para mim.

O jovem permaneceu impassível.

— E sua mãe…

Eiden fez uma pausa. A expressão dele escureceu ligeiramente, mas ele continuou.

— Nossa relação é complicada. Nerio e o Império estão em paz no papel, mas há ameaças nas entrelinhas dos acordos que apenas alguns vêm.

Ele tragou novamente.

— Nos separamos séculos atrás, e desde então quase não tivemos contato além das conferências mundiais. O mais recente foi quando ela me revelou sua existência. Fui para Sinnomun imediatamente, e o resto da história foi uma discussão sobre como lidar com sua guarda… e sua existência.

O imperador apagou o cigarro no cinzeiro, soltando a fumaça pela última vez.

— Fora isso, ela exigiu que o resto eu descobrisse por você.

Eiden observou Harkin.

O jovem não demonstrou nada. Nenhuma reação aparente.

Ele apenas tragou o cigarro mais uma vez, soltando a fumaça devagar.

Então, se sentou ao lado do pai, pegando o maço e oferecendo outro cigarro a Eiden.

— A velha também não me conta muita coisa. — Ele falou casualmente.

Os dois acenderam ao mesmo tempo.

— Tudo que descobri foi nos sustos e pelos cantos. Então eu tô tão no escuro quanto você.

Eiden permaneceu em silêncio.

Harkin não o encarava.

Ele olhava para o chão, o cigarro equilibrado nos dedos, o olhar perdido em um pensamento distante.

— A única coisa que ela sempre me disse foi:

“Seu pai é um homem complicado. E obcecado com poder.”

Eiden trincou os dentes, fechando brevemente a mão.

“Então é assim que ela me descreve?”

O jovem finalmente se virou para ele.

— E então? O que houve com o braço?

A pergunta veio com naturalidade, mas Harkin estava atento à reação do pai.

Eiden não sabia nada.

Eles não estavam jogando um contra o outro.

Talvez… valesse a pena testar até onde podia ir.

Mas como responder?

Por um momento, ele hesitou.

A memória de como perdeu o braço queimava em sua mente, mas ele conteve qualquer emoção que pudesse trair seu semblante.

Os segundos passaram, o som dos pássaros ao longe e da cidade ao redor preenchendo o vazio entre eles.

E então, Harkin decidiu.

— Velho… você sabe ler memórias, certo?

O imperador arqueou uma sobrancelha.

— Sei.

“Ler memórias…? Por que ele não conta logo?”

Eiden estreitou os olhos. Seria Isso um teste?

Harkin sabia que esse tipo de conexão ia muito além de uma simples conversa.

— Você não pode simplesmente falar? Ler memórias é algo… íntimo.

O jovem soltou um riso breve e descrente.

— Eu literalmente saí do seu saco. Vai ter frescura agora?

Eiden arqueou uma risada curta, quase frustrada.

— Agora você soou muito como ela.

A expressão dele escureceu novamente.

— Ler suas memórias será doloroso para você.

Harkin tragou.

— Já passei por coisas piores.

Eiden hesitou.

Ele tinha certeza de que já havia visto coisas terríveis em sua vida. Mas o que Harkin passou…?

Ele tragou fundo uma última vez.

Chega de hesitar.

Colocando a mão na cabeça do filho, ele deu seu último aviso.

— Vou ser breve.

Harkin fechou os olhos.

As sombras de sua mente sugaram Eiden para dentro.

Sua visão escureceu.

E então, o mundo desapareceu.

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