Volume 1: Sangue e Promessas.
Capítulo 8: Filho de quem?
Assim que entraram, Eiden foi direto para trás do balcão e pegou uma garrafa de Uischaim, servindo-se com tranquilidade. Serafina, ainda abalada pelos eventos recentes, tentou se levantar para servi-lo, mas foi interrompida pelo imperador.
— Não há necessidade — disse ele, dando uma leve fungada no ar. O aroma da comida que Serafina preparava invadiu suas narinas, trazendo um sorriso nostálgico ao seu rosto. — Faz anos que não provo as receitas de Haolin. Serafina, acho que seria prudente você ir até a cozinha. Se deixar no fogo por mais tempo, pode queimar.
O nome Haolin atingiu Serafina como um raio. Seu corpo travou, e a expressão pálida refletia o choque.
"Como o imperador conhece o nome do meu avô?"
Ela olhou para Eiden com um misto de surpresa e apreensão, mas desviou o olhar assim que ele sorriu de maneira sutil.
Markus percebeu a tensão e voltou-se para Okini.
— Filha, você pode ajudá-la?
Sem hesitar, Okini segurou a mão de Serafina e a conduziu para os fundos do restaurante.
Enquanto isso, Markus pegou um copo e se sentou de frente para Eiden, que o serviu sem necessidade de palavras. O gesto era automático, uma tradição silenciosa entre velhos companheiros. Ambos tomaram um gole, deixando o calor da bebida preencher o silêncio.
— A melhor bebida do mundo, como sempre — Eiden comentou, enquanto Pietro se juntava a eles.
Harkin observava a cena, tentando entender como aquele momento havia se tornado propício para uma bebida casual depois de tudo que aconteceu. Então, o imperador suspirou e virou-se para os presentes, seu semblante assumindo uma seriedade absoluta.
— Vocês agiram como idiotas — declarou, os olhos percorrendo cada um deles. — Mas o que está feito, está feito. Agora precisamos acertar as coisas.
Drake abaixou a cabeça, ciente da reprimenda. Harkin, por outro lado, sustentou o olhar de Eiden sem desviar, desafiador.
— Eu ia resolver isso diretamente com Solomon, mas parece que ele é tão idiota quanto os filhos dele — soltou, sem rodeios.
A provocação fez Drake explodir de raiva. Ele bateu na mesa e avançou em direção a Harkin, os olhos queimando de fúria.
— Quem você pensa que é para falar assim?! Está na presença do imperador, e meu pai é seu filho um duque do império!
— Calado!
A voz de Eiden ecoou como um trovão, carregada de autoridade incontestável.
Drake paralisou. Seu rosto ficou pálido como um fantasma, e seus dedos tremeram. Os olhos arregalados lembravam os de uma presa encurralada por um predador.
— O moleque pode ser arrogante, mas está certo — continuou o imperador, sua voz cortante. — Você, seu pai e Stein são tolos. Vocês dois por não pensarem antes de agir, e seu pai por agir sem pensar em todas as possibilidades.
Harkin pegou dois copos e serviu Uischaim neles, oferecendo um a Drake.
— Vocês são idiotas, mas não precisamos ser inimigos — disse, sua voz firme. — Eu não gosto do jeito que você e Stein fazem as coisas, mas vou precisar de vocês e do seu pai. Melhor aprendermos a lidar um com o outro sem precisar recorrer à porrada.
Pietro e Markus trocaram olhares, surpresos com o tom mais maduro e calculado de Harkin.
“Eu vou matar esse merda assim que sair da visão do vovô.”
Drake olhou o copo, o olhar fixo na mão enfaixada de Harkin.
“Esse asno tá tentando me humilhar na frente de todos?”
Mas antes que pudesse recusar a bebida, Eiden ordenou:
— Pegue.
Drake perdeu a paciência. Esqueceu-se completamente da presença do imperador e liberou sua raiva em palavras:
— ESSE PLEBEU DE MERDA... O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA, PERDOAR TODO VERME QUE SE OPÕE A NÓS?! QUANDO VAMOS PARAR?! QUANDO OS CACHORROS RESOLVEREM SE REBELAR E TOMAR O IMPÉRIO?!
O restaurante mergulhou em um silêncio absoluto.
O único som audível foi o líquido caindo no copo de Eiden, enquanto ele se servia calmamente.
Pietro arregalou os olhos.
“Puta que pariu, ele perdeu a cabeça. Sem Kaius aqui ou Erik, Markus não consegue parar o vovô, fodeu de vez,”
Harkin também se surpreendeu. Não era preciso conhecer bem Eiden para saber que falar assim com ele era suicídio.
Mas o inesperado aconteceu.
Eiden não explodiu.
Ele suspirou, passou a mão pelo rosto e, sem pressa, pegou seu copo e foi até uma das mesas vazias, sentando-se ali.
Drake sentiu o gelo rastejar por sua espinha. Merda... eu fui longe demais.
Ele abriu a boca para se desculpar, mas foi interrompido:
— Não precisa se desculpar — disse o imperador, sua voz fria. — Aqui não é a corte. Se vamos resolver isso, prefiro fazer longe do palácio.
Fez uma pausa, bebeu um gole e continuou:
— Eu não preciso que vocês virem amigos. Apenas deem uma chance um ao outro. Pelo que vi, Harkin, contra minhas expectativas, deu o primeiro passo. Então, aceite a droga da bebida.
Drake pegou o copo de má vontade, sentou-se à mesa e virou o Uischaim de uma vez.
O álcool queimou sua garganta como fogo líquido, e ele soltou um grunhido:
— Aaargh!
A careta involuntária arrancou risadas dos outros.
“Humilhado por um verme da periferia, pelo meu avô, por uma garota que depende do pai… e agora por não conseguir beber direito... QUE MERDA!”
Drake ferveu de raiva, mas conteve-se. Já havia desrespeitado o avô uma vez, se ele falar o que pensa ele pode acabar adicionando, Markus e Pietro na lista de ofendidos.
Foi então que o aroma da comida se intensificou, e todos os estômagos roncaram quase em uníssono.
Tentando desviar a atenção de si, Drake perguntou:
— O que é tão importante para o senhor, Markus, Gordon e meu pai fazerem tanto segredo? — Ele apontou para Harkin. — O imbecil aí é a encarnação de Empera e eu não tô sabendo?
Eiden sorriu de leve.
— Não se preocupe. Até o fim da tarde, tudo fará sentido. Mas antes disso, é melhor tratarmos o assunto de barriga cheia.
No instante seguinte, Serafina e Okini entraram trazendo um grande caldeirão fumegante para a mesa. O cheiro de ramen apimentado e acompanhamentos diversos espalhou-se pelo ambiente, provocando ainda mais a fome dos presentes.
Serafina endireitou a postura e declarou:
— A comida não é pomposa como a do palácio, mas eu tenho orgulho das minhas habilidades.
Eiden a observou por um momento antes de responder:
— Se soubesse o verdadeiro valor da sua comida, criança... não falaria assim.
Os olhos de Serafina brilharam em surpresa. "O que o imperador sabe sobre mim?"
Eiden apenas colocou a mão em seu ombro e concluiu:
— Mas isso é assunto para outra hora. Por enquanto, vamos comer.
Todos começaram a se servir.
Eiden sorriu, aproveitando o momento.
— Nossa cozinha no palácio é excelente, mas poucas vezes tive o prazer de saborear algo feito com paixão de verdade — disse, olhando para Serafina.
Drake, relutante, cedeu à fome e provou o ramen. No instante em que o caldo quente tocou sua língua, sua expressão traiu qualquer orgulho que ele tinha como nobre.
— Carece de apresentação. Um pouco mais de refinamento e estaria perfeito, mas o sabor renderia até meu pai.
Serafina, surpresa com o elogio vindo de alguém que a poucos minutos parecia odiá-la, abaixou a cabeça, corando levemente.
Eiden sorriu.
— Você faz jus à comida de Haolin, fico feliz com isso.
Markus e Pietro notaram a reação de Harkin e o olhar analítico de Serafina. Havia algo não dito ali.
Foi então que Pietro, percebendo a necessidade de esclarecer tudo, cortou a conversa.
— Vovô, por mais que esse momento pacífico seja agradável, precisamos esclarecer as coisas — disse, apontando para Drake e Harkin. — Sem falar no Stein, que ainda finge estar desacordado para não encarar sua derrota.
Eiden suspirou e tomou mais um gole. Seu olhar varreu a mesa antes de finalmente falar:
— Você é igualzinho a Gordon, pai e filho de fato, ambos sabem estragar um momento feliz para voltar a negócios, Enfim.
Eiden deu mais um gole na bebida, e respondeu:
— Harkin não é um plebeu qualquer, os pais dele são pessoas muito influentes. Pietro, Okini e Markus assim como alguns outros de extrema confiança já sabem.
Drake apertou os punhos.
— Esse merda... é filho de quem?
Eiden respirou fundo, deixando o silêncio se prolongar antes de finalmente responder:
— Harkin é meu filho.
O silêncio durou poucos segundos, mas para Drake, pareceu uma eternidade. Sua mente girava em círculos, tentando processar o que acabara de ouvir. Harkin, filho do imperador.
O silêncio era esmagador.
Drake abriu e fechou os punhos, tentando encontrar uma resposta lógica para tudo que ouviu. Mas quanto mais olhava para Harkin, mais difícil se tornava ignorar os detalhes.
Os olhos. O formato do rosto. A forma como ele se mantinha impassível, mesmo diante do caos.
"Inaceitável."
Ele não queria ver as semelhanças, mas elas estavam ali, tão óbvias que era quase um insulto.
O jeito que Harkin se portava…
A arrogância calma, como se estivesse sempre um passo à frente, exatamente como ele.
A postura corporal…
O equilíbrio absoluto, a forma de distribuir o peso nos pés ao se mover, idêntico ao treinamento familiar.
E o pior de tudo…
Aquele maldito olhar.
Não era apenas sem emoção. Era avaliativo, como se analisasse tudo friamente antes de decidir como reagir.
Drake sentiu o sangue ferver.
Se Harkin fosse apenas um plebeu qualquer, tudo isso seria irrelevante. Mas agora, com a revelação de Eiden, nada mais parecia coincidência.
"Não... não pode ser."
Foi então que ele começou a rir.
A risada cresceu, um riso vazio, frio, que se transformou em uma gargalhada descontrolada. Por quase um minuto, ele riu sozinho, limpando os olhos lacrimejantes antes de falar:
— Ok... alguém tá gravando essa palhaçada? — Sua voz tremeu, os nervos à flor da pele.
Sem aviso, ele bateu com força na mesa, derrubando parte da comida no chão.
— Que porra é essa, vô?! — Sua expressão estava irreconhecível, os olhos vermelhos de raiva, as veias saltadas no pescoço. — Você tá falando sério? Como acha que isso vai afetar o império? Você é o imperador, cacete!
A tensão no ar se solidificou.
Eiden permaneceu calmo, mas sua voz carregava um peso inescapável.
— Primeiro, se acalme. As circunstâncias são complicadas, e nada é tão preto no branco quanto você imagina.
Mas a calma só alimentou ainda mais a fúria de Drake.
Ele se levantou abruptamente, empurrando a cadeira para trás com violência.
Serafina, que estava perto, instintivamente ergueu as mãos, assustada com a explosão de fúria.
— FODA-SE A CALMA! — rugiu, o rosto tomado pelo ódio.
Antes que Eiden pudesse intervir, Harkin também se levantou.
— VIRA HOMEM E SE CONTROLA!
A voz barítona reverberou pelo restaurante.
Serafina estremeceu, surpresa com a intensidade. Harkin percebeu o medo em seu olhar e ajustou o tom, tentando trazer alguma razão para o caos.
— Não estamos em casa. Respeite ao menos o lugar onde estamos. Olha a bagunça que você já fez.
Mas Drake já estava perdido na raiva.
— VAI SE FODER, SEU MOLEQUE DE MERDA! EU SÓ NÃO TE MATEI AINDA PORQUE O IMPERADOR TÁ AQUI!
Foi nesse instante que o mundo pareceu parar.
O ar tremeu.
Os pratos começaram a vibrar levemente. Um rangido percorreu as paredes do restaurante.
O ar tornou-se denso, carregado de uma presença sufocante.
Drake percebeu tarde demais – o mundo ao seu redor já estava colapsando sob a vontade do imperador.
O impacto da mana de Eiden desabou sobre o ambiente como um peso invisível. Os pratos e talheres da mesa tilintaram, as cadeiras rangeram sob a pressão crescente.
A opressão era sutil no início, mas se intensificou num piscar de olhos.
Então, o chão tremeu.
Drake desabou de joelhos.
A respiração falhou.
Cada célula do seu corpo gritava, forçando-o a obedecer à presença absoluta que dominava o local.
Foi nesse instante que percebeu: não era só poder – era um lembrete.
Eiden não precisava dizer nada.
Seu domínio era absoluto, mas Markus percebeu algo curioso.
Harkin não se moveu.
Ele parecia inabalável, mas, observando com mais atenção, Markus viu o suor escorrendo de sua testa.
Ele estava tremendo.
Os punhos cerrados estavam sem cor, os músculos tensionados ao máximo. A pressão o atingia, mas ele resistia.
— Você fala de mim como se me respeitasse, Drake... — Eiden quebrou o silêncio, sua voz cortante.
O rapaz ainda lutava para respirar, o rosto branco, os pulmões incapazes de sugar ar suficiente.
— É a segunda vez que menciona minha presença, mas suas ações dizem o contrário.
Eiden suspirou. Mesmo sem intenção, sentiu que havia ido longe demais.
Liberou sua mana de uma só vez.
Drake desabou no chão, sugando o ar como um homem que quase se afogou. Seu peito subia e descia rapidamente, o rosto encharcado de suor.
Harkin, por sua vez, discretamente segurou a cadeira com a mão enfaixada, evitando que percebessem o esforço que fez para se manter de pé.
— Por mais que eu queira dar um corretivo em vocês, Harkin tem razão. — Eiden exalou, cruzando os braços. — Não estamos em casa. Então se acalme e respire antes de falar qualquer outra besteira.
O ambiente permaneceu carregado, mas ninguém ousou responder.
Então, com um movimento despreocupado, Harkin puxou um maço de cigarros do bolso interno de seu sobretudo.
Harkin puxou um maço de cigarros do bolso e girou um entre os dedos.
— É muito drama. Eu preciso fumar.
Ele se virou para sair, mas Eiden o interrompeu:
— Espere.
Harkin parou no meio do caminho e virou a cabeça com tédio.
— O que foi agora?
Eiden levantou-se, caminhando na direção dele. Ao passar pelo jovem, deu um leve tapa em seu ombro e disse, com um sorriso discreto:
— Me arruma um desses? Um cigarro cairia bem agora.
Harkin piscou, claramente surpreso.
Ele analisou Eiden por um segundo, como se tentasse entender se aquilo era uma piada.
O imperador apenas manteve o olhar firme, sem esboçar nenhuma provocação.
Então, Harkin deu de ombros.
— Acho que posso fazer isso.
Antes de saírem, Serafina interveio, cruzando os braços.
— Talvez, dadas todas as circunstâncias atuais, não seja sábio ir para a rua agora.
Harkin ergueu a sobrancelha.
— Aqui dentro seria pior.
— Nem em um milhão de anos eu vou deixar vocês acenderem essa coisa fedida aqui! — Serafina bufou, o rosto levemente rosado de estresse.
Ela suspirou e apontou para os fundos do restaurante.
— Se forem sair, passem pela cozinha e usem a porta dos fundos. Vai dar no quintal. Pelo menos terão privacidade. Só não deixem essa porcaria jogada no chão.
Harkin fez um leve aceno com a cabeça, reconhecendo o favor.
— Obrigado.
Os dois seguiram para a saída.
Eiden, já na porta, deu uma última olhada para trás.
“Drake e Harkin…Os dois me lembram de quando eu era jovem. Um, orgulhoso demais. O outro, arrogante demais. Ambos acham que são diferentes, quando na verdade, são igualmente tolos.”
Então, Eiden apenas sorriu de canto e continuou andando.
Harkin o ultrapassou, tomando a frente.
O imperador riu para si mesmo.
— Isso me parece familiar.
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios