Volume 1: Sangue e Promessas.

Capítulo 11: Péssima escolha

O tempo avançou alguns dias.

 

Harkin voltava para casa depois do trabalho em um restaurante. Era tarde.

 

As ruas de Sinnomun eram frias, mas o cheiro do mercado noturno ainda pairava no ar.

 

Ele virou por um beco estreito, o caminho de sempre.

 

E então parou.

 

O coração falhou uma batida.

 

Edgar estava ajoelhado no chão.

 

Três homens de terno preto o espancavam sem misericórdia.

 

O sangue salpicava o chão de pedra.

 

Harkin não pensou.

 

Ele correu.

 

— HARKIN! — Edgar gritou, tentando tirá-lo dali.

 

Mas era tarde.

 

Harkin se lançou contra o agressor mais próximo, socando-o com tudo que tinha.

 

O homem cambaleou, pego de surpresa.

 

Mas logo se recuperou.

 

Edgar agarrou Harkin pelo braço e o puxou para trás.

 

— Vá para casa!

 

A voz dele estava rouca, mas firme.

 

Seu rosto estava coberto de hematomas.

 

As roupas, rasgadas e sujas de sangue seco.

 

Eiden, preso dentro da memória, sentiu o cheiro da terra e suor impregnados no irmão de Harkin.

 

Ele já estava apanhando há muito tempo.

 

— Edgar... isso não é nada demais pra você? — A voz de Harkin saiu cortante.

 

O homem que ele havia derrubado se ergueu, estalando o pescoço.

 

— Tsc.

 

Seus olhos pousaram em Harkin com tédio.

 

— Esse pivete tá cheio de coragem.

 

Ele alisou as roupas amassadas, revelando um punhal preso à lateral do cinto.

 

— Mas alguém tem que ensinar a ele que as ações têm consequências.

 

Os outros homens riram.

 

O líder tragou o cigarro lentamente, seus olhos avaliando os irmãos com desinteresse calculado.

 

A fumaça dançou no ar, dissolvendo-se no silêncio do beco.

 

— Sabe, garoto... — Ele soltou a fumaça, como se ponderasse suas próximas palavras.

 

— Você realmente acha que pode interferir em assuntos que não entende?

 

O tom não era raivoso.

 

Era puro desprezo.

 

Ele ajustou as mangas do terno, removendo uma sujeira invisível.

 

— O mundo tem regras. E quando alguém as ignora... sempre há um preço.

 

Ele olhou para Edgar, seu sorriso ligeiramente indulgente.

 

— E eu sou um homem razoável. Tal preço já foi decidido.

 

Harkin sentiu o sangue ferver.

 

Ele ainda estava ajoelhado no chão, tentando se recompor do soco, mas a voz dele saiu firme:

 

— Isso é um absurdo. Edgar não fez nada para merecer isso!

 

O líder arqueou levemente a sobrancelha.

 

— Não fez?

 

Ele inclinou a cabeça para o lado, como se Harkin fosse um animal exótico tentando falar.

 

— Garoto, você acha que isso importa?

 

Ele sorriu, mas não havia calor ali.

 

— O que importa é que ele contrariou as pessoas erradas.

 

Harkin trincou os dentes.

 

— Vocês se acham donos do mundo.

 

O líder suspirou, como se estivesse cansado daquele tipo de conversa.

 

— Não, garoto. O mundo já tem donos. Nós apenas garantimos que as engrenagens continuem girando da forma correta.

 

Ele fez um gesto com a mão.

 

— E agora, seu irmão vai entender isso da maneira mais difícil.

 

Em um piscar de olhos, um dos homens avançou e socou Harkin no estômago.

 

O impacto rasgou seu fôlego pela metade.

 

Dor.

 

Ele caiu de joelhos, vomitando no chão.

 

Os pulmões queimavam, tentando puxar ar.

 

— POR FAVOR, SENHOR! — Edgar se ajoelhou diante do líder, desesperado.

 

— Deixe ele fora disso! Eu assumo total responsabilidade!

 

O homem o ignorou.

 

Com calma, tragou o cigarro novamente.

 

— Ótimo.

 

Ele se abaixou, o rosto frente a frente com Edgar.

 

— Pelo menos você sabe quem tem que pagar a conta.

 

Sua mão entrou no paletó.

 

E então, ele puxou uma faca grande, de oito polegadas.

 

A lâmina brilhou sob a luz fraca do beco, a faca caiu na frente de Edgar.

 

O garoto estremeceu.

 

— Você vai cravar essa faca na mão esquerda dele.

 

O ar ficou pesado.

 

— E vai cortar o dedo anelar.

 

Edgar engoliu em seco.

 

O mundo pareceu parar.

 

Harkin tremeu, segurando o próprio estômago, ainda tentando se recuperar do golpe.

 

Isso não pode estar acontecendo.

 

— Senhor, por favor… — A voz de Edgar tremeu.

 

— Ele é só uma criança.

 

O líder sorriu, balançando a cabeça.

 

— Criança ou não, Ed…

 

Ele pisou na faca, enterrando a lâmina no chão de pedra.

 

— Ações têm consequências.

 

Edgar empalideceu.

 

Suas mãos tremeram incontrolavelmente.

 

— Eu… eu não posso…

 

— Você pode. — O líder tragou novamente. — Ou você prefere que alguém mais faça isso por você?

 

Edgar fechou os olhos com força.

 

O suor escorria por seu rosto.

 

Harkin observava tudo, paralisado.

 

“Eles vão mesmo fazer isso?”

 

O líder sorriu.

 

— Decan, o chefe quer que você se torne experiente, faça você.

 

Um dos capangas se adiantou.

 

Ele era jovem, provavelmente na casa dos vinte e poucos anos. Seu rosto estava rígido, mas os olhos denunciavam uma hesitação leve.

 

— O chefe exige classe no que fazemos. Faça bonito.

 

Harkin sentiu o mundo desacelerar.

 

Seus dedos se fecharam ao redor da terra solta.

 

“Eu tenho alguns segundos.”

 

O capanga puxou uma faca do cinto.

 

“Agora!”

 

Harkin jogou terra nos olhos de Decan e se lançou para frente.

 

Um chute preciso na parte de trás do joelho.

 

Decan cambaleou.

 

Harkin pegou a faca de sua mão.

 

O punhal brilhou sob a luz.

 

Sem pensar, ele pressionou a lâmina contra o pescoço do capanga.

 

Um filete de sangue escorreu pela lâmina.

 

Harkin engoliu em seco.

 

— Soltem o Edgar.

 

Sua voz tremeu.

 

— Ou eu mato esse desgraçado.

 

O líder sorriu de canto.

 

— Você realmente acha que isso vai acabar bem pra você?

 

Ele pegou a faca que antes havia dado a Edgar.

 

E então, a cravou na mão dele.

 

O grito de Edgar rasgou o beco.

 

Harkin tremeu.

 

O mundo desmoronou.

 

Isso não era um jogo.

 

O líder sorriu diabolicamente.

 

— Péssima escolha, garoto.

 

E então…

 

O inferno começou.

 

Os passos do líder ecoavam pelo beco, tranquilos e calculados.

 

Harkin tentava manter os olhos abertos, mas o corpo doía.

 

A visão turva mostrava Edgar caído no chão de pedra, seu sangue manchando as roupas rasgadas.

 

Os capangas rindo ao fundo, como se a cena fosse um espetáculo barato.

 

O líder tragou o cigarro e soltou a fumaça lentamente.

 

— Vamos, fedelho.

 

Ele segurou a faca ensanguentada e passou lentamente a lâmina pelo rosto de Edgar, desenhando um corte fino e calculado.

 

Harkin sentiu algo quebrar dentro dele.

 

Seu irmão nem gritou.

 

Ele apenas tremeu levemente, como se já não tivesse forças para reagir.

 

O líder limpou a faca no próprio paletó, sem pressa, e o olhou com tédio.

 

— Prossiga.

 

Ele fez um gesto preguiçoso para Decan, ainda imobilizado.

 

— Seja corajoso. Termine o que começou.

 

Harkin tremia.

 

A faca pesava em sua mão como se fosse feita de chumbo.

 

A ideia de cravar o metal no pescoço do homem lhe dava náuseas, mas—

 

Ele olhou para Edgar.

 

O irmão desfigurado pela tortura.

 

Os olhos perdendo o brilho, o corpo fraco demais para resistir.

 

"Se eu hesitar, ele morre, mas agindo, talvez..."

 

O líder suspirou, como se estivesse entediado com sua indecisão.

 

— Então, garoto? Vai agir ou vai continuar fingindo que tem escolha? Solte a faca e aceite a punição.

 

Harkin ofegou.

 

O líder estava se divertindo.

 

Isso não era só punição.

 

Era um jogo.

 

E Harkin era o brinquedo da vez.

 

Seu coração martelava como um tambor de guerra, cada batida pulsante em seus ouvidos.

 

Ele fechou os olhos.

 

E então, o ,líder deu um novo comando.

 

— Arranquem o dedo.

 

Um dos capangas segurou a mão de Edgar, pressionando-a contra o chão frio.

 

Outro colocou a faca exatamente sobre a base de seu dedo mínimo.

 

Edgar tentou resistir, mas estava fraco demais.

 

Harkin percebeu tarde demais.

 

O líder apenas pisou na lâmina.

 

O osso partiu.

 

Edgar gritou como um animal ferido, um som que ecoou pelo beco, reverberando entre as paredes de pedra.

 

O sangue quente jorrou para todos os lados, manchando as roupas já encharcadas.

 

Foi nesse momento que o desespero de Harkin se transformou em fúria cega.

 

— PARA, FILHO DA PUTA! EU VOU MATAR ESSE AQUI SE VOCÊ NÃO PARAR!

 

O grito explodiu como um trovão, a lâmina pressionada contra a garganta de Decan.

 

O capanga se engasgou de medo, o corte em seu pescoço já começando a sangrar.

 

Mas o líder não se moveu.

 

Ele apenas sorriu.

 

Como se esperasse exatamente essa reação.

 

Harkin sentia o cheiro do sangue fresco se misturando ao fedor da rua úmida.

 

Ele tentou focar sua visão, mas o mundo girava ao seu redor.

 

Ele viu Edgar.

 

Caído.

 

Inerte.

 

O irmão que sempre cuidou dele, agora ensanguentado e mutilado diante de seus olhos.

 

Os capangas rindo ao fundo, como se a cena fosse um espetáculo barato.

 

O líder tragou o cigarro e soltou a fumaça lentamente.

 

— Vamos, fedelho.

 

Pegando a faca do chão, o líder limpou ela no próprio paletó, sem pressa, e o olhou com tédio.

 

— Prossiga.

 

Ele fez um gesto preguiçoso para Decan, ainda imobilizado.

 

— Seja corajoso. Termine o que começou.

 

Harkin tremia.

 

A faca pesava em sua mão como se fosse feita de chumbo.

 

A ideia de cravar o metal no pescoço do homem lhe dava náuseas, mas ver o irmão naquele estado enfurecia.

 

— Vamos garoto, Faça, ou não tem a coragem necessária?

 

O líder começou a caminhar lentamente indo de encontro a Harkin.

 

O garoto ofegou.

 

— Harkin... não.

 

A voz baixa e rouca de Edgar quebrou seu mundo.

 

Ele abriu os olhos e viu o irmão olhando para ele.

 

Machucado.

 

Fraco.

 

Mas ainda segurando sua humanidade.

 

— Não cruze essa linha, é um caminho sem volta… nos podemos continuar depois de sairmos daqui.

 

O impacto daquelas palavras foi como uma lâmina gelada atravessando o peito de Harkin.

 

“Eles vão pagar!”

 

Ele trincou os dentes.

 

A faca em sua mão tremia violentamente.

 

Mas antes que pudesse hesitar por mais tempo—

 

— NÃO, GAROTO! POR FAVOR, NÃO FAZ ISSO!

 

O pavor na voz de Decan foi interrompido pelo som da lâmina perfurando sua garganta.

 

Harkin puxou a faca para o lado, rasgando a carne sem piedade.

 

O capanga se engasgou, os olhos arregalados em choque.

 

O sangue quente espirrou em Harkin.

 

O beco ficou em silêncio.

 

O líder apenas observou.

 

E então, ele riu.

 

Baixo.

 

Quase divertido.

 

— Tsc, no fim você teve coragem.

 

Ele balançou a cabeça lentamente, como um professor desapontado com um aluno teimoso.

 

— Péssima escolha, garoto.

 

Harkin sentiu as mãos tremendo, abaixo dele estava um homem se afogando no próprio sangue. Ele fechou os olhos.

 

“Não tem mais volta… eu ainda posso matar esse desgraçado.”

 

O pensamento veio como um instinto primitivo, uma última faísca de esperança em meio ao caos absoluto.

 

As mãos tremiam.

 

O corpo doía.

 

Mas a faca ainda estava ali.

 

“Se eu acertar um golpe na garganta dele… se eu for rápido… mantado o agora Edgar tem uma chance de escapar."

 

Ele disparou em direção ao homem que se aproximava dele. 

 

A lâmina cortou o ar em um arco selvagem, mirando a garganta do líder.

 

Mas ele já esperava.

 

O corpo dele se moveu antes mesmo que a lâmina chegasse.

 

Num único movimento fluido, ele desviou, o paletó negro tremulando no ar.

 

E antes que o golpe pudesse ser corrigido—

 

O impacto veio.

 

Um chute brutal acertou o queixo, arrancando os pés do chão.

 

O mundo explodiu em branco.

 

O chão de pedra se aproximou rápido demais, esmagando as costas e arrancando o ar dos pulmões.

 

Dor.

 

Os braços não respondiam.

 

O gosto metálico do sangue preencheu sua boca.

 

O grito de Edgar ecoou em algum lugar distante, mas os sentidos estavam distorcidos.

 

A única coisa clara era o riso dos capangas.

 

Eles achavam aquilo divertido.

 

Eles sabiam que Harkin não teria chances.

 

A raiva queimou, mas o corpo não obedeceu, ele tentava se erguer a todos os custos, então. Outro chute explodiu contra as costelas, jogando-o para o lado.

 

O mundo girou.

 

Os olhos estavam abertos, mas tudo dançava como um sonho febril.

 

Alguém falou.

 

Voz baixa.

 

Calma.

 

Tinha sido ele.

 

— Você realmente achou que isso terminaria de outra forma?

 

Os capangas agarraram Edgar, puxando-o como um boneco quebrado.

 

Harkin tentou se mover.

 

Sua mão se arrastou contra a pedra fria, os dedos buscando qualquer apoio.

 

Outro chute.

 

Dessa vez, no rosto.

 

A escuridão piscou na visão.

 

Algo pegou seu cabelo preto como a noite e puxou sua cabeça para cima.

 

O hálito quente cheirava a tabaco e crueldade.

 

— Você acabou de matar Decan Touriga.

 

As palavras perfuraram o ar como um veredito.

 

— O irmão do chefe da família Touriga.

 

A sentença já havia sido dada.

 

O toque frio da noite ficou mais denso.

 

Os músculos relaxaram.

 

Não havia mais força.

 

A mão que segurava o cabo da faca desistiu, o metal deslizando dos dedos.

 

O líder soltou a cabeça, deixando-a tombar no chão de pedra.

 

Os pés dele se afastaram.

 

— Encontrem a irmã deles.

 

A voz não carregava pressa.

 

Ajeitou a gola do paletó, como se aquilo fosse apenas mais

um dia de trabalho.

 

— Vamos levá-los para o chefe.

 

As ordens foram seguidas sem hesitação.

 

Alguém murmurou algo sobre amarrar as mãos.

 

O líder olhou de cima, seus olhos vazios de qualquer emoção.

 

O cigarro foi aceso.

 

A brasa brilhou na escuridão.

 

— Melhor rezar para todos os deuses que conhece.

 

Uma tragada lenta.

 

A fumaça se misturou ao ar frio.

 

— Porque nem eles poderão te salvar.

 

A última coisa vista antes da escuridão foi o brilho alaranjado da ponta do cigarro.

 

E então...

 

O último chute.

 

A dor desapareceu.

 

O mundo apagou.

 

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