Névoa Eterna Brasileira

Autor(a): Dimas Tocchio Neto

Revisão: KlayLuz


Volume 1

Capítulo 4: Caos

David

 

A hora de voltar para casa.

Finalmente, que dia tão desafiador… Há quanto tempo não entrava em um desafio assim?

Hm… Hoje vou tentar ver a Dora depois de passar em casa.

Novamente no porto, voltaria no mesmo navio que me trouxe. Mas, era estranho… Desde que cheguei, existia uma fumaça invasiva no ar. Enfim, embarquei.

O tempo passou.

No caminho, todos começaram a sentir esse cheiro muito forte.

O navio era revirado aqui e acolá, mas logo chegaram à conclusão que era impossível originar dele.

 E, se o cheiro não vinha dele, estava no ar.

Era estranho e… suspeito.

Em breve iríamos conseguir enxergar Solaria… Huh?! Um brilho muito forte!...

Todos ficaram espantados.

A luz havia tomado nossas vistas e apenas ao aproximarmo-nos entendemos que era fogo. Solaria, minha terra, estava em chamas.

Não apenas isso!... Tropas do império estavam na ilha, foi abismante deparar-se com a frota de milhares de embarcações organizadas solo e no ar.

Kaboom!

As tropas no ar atiravam com os canhões! E as tropas na terra!... Eles… Eles matavam as pessoas!

Por sorte, a nossa embarcação ainda foi para Solaria, hesitantemente, mas — como eu — boa parte da tripulação possuía a necessidade de voltar, de ver suas famílias e posses, sem outro lugar para ir.

Independente dos riscos e cenas cruéis, tínhamos que prosseguir.

Tomando uma rota ilegal, a embarcação foi levada para um pouso bruto distante do porto, numa área próxima da zona urbana. Uma região isolada, da qual todos se dispersaram às pressas.

Estava explodindo de ansiedade, ainda mais por estar perto da minha casa.

Minha casa…

Estava em chamas. Embora não houvesse nenhum soldado por perto, havia vestígios do caos cometido.

Entrei rapidamente para tentar recuperar ao menos minha espada — dada a mim pelo meu falecido pai. 

Obtida, abandonei o lugar.

Corri.

Tudo que conhecia estava acabado.

Corri.

Ia em direção à biblioteca, onde meus amigos deveriam estar nesse dia.

Ao chegar na entrada da cidade, a cena me fez entrar em desespero: o senhor Aelar estava morto, plenamente perfurado no peito por uma lança longa e seu corpo ficou estirado na beirada do portão pintado em seu sangue.

No outro canto, Gerald foi cortado por uma espada, mas ainda continuava vivo. Me aproximei dele, abaixei e segurei sua cabeça com minhas mãos.

Ei! Gerald! O que aconteceu? Consegue se levantar? Vou te tirar daqui.

— David… Eles quebraram as minhas pernas. Não vou sobreviver… Tome cuidado, eles estão te procurando — respondeu com a voz fraca e rouca.

— Irei te carregar. Vamos sair daqui!

Ele me empurrou com suas últimas forças.

— Salve seus amigos, David. Saia daqui o mais rápido possível. Não fomos capazes de proteger Solaria, mas viva por nós. Leve o legado da nossa ilha adiante, Davi… 

Ele morreu em meus braços.

Deitei seu corpo no chão com cuidado enquanto ficava imerso no pandemônio em ruínas que Solaria se tornou.

— Não te odiava, Gerald.

Dentro da cidade, Solaria estava em chamas. Nas ruas, o cheiro de sangue era muito forte. Todos os que um dia foram moradores estavam estourados por tiros ou cortes. A visão do inferno.

Corri em direção à biblioteca o mais rápido que pude.

No caminho, fui parado por guardas do império que me atacaram, mas consegui correr e escapar deles. Continuava um pouco fraco da última batalha, não conseguia lutar contra tantos soldados!

Que droga, o que está acontecendo aqui?!... O que esses malditos estão fazendo? Dora, Fernanda, Eric, e Helen, estejam bem! Vou resgatá-los!

No centro da cidade, milhares de corpos estavam sendo empilhados e queimados pelos soldados do império.

Cheguei à biblioteca e abri as portas, mas — assim que vejo tudo o que aconteceu — cai em desgraça.

— NÃOOOOOOOO! — Ecoou pela biblioteca.

Fernanda, Helen e Eric estavam mortos, atravessados por golpes mortais e abandonados ao piso. Dora estava no canto da parede, sentada com o rosto sujo de sangue e com a espada presa em sua barriga. Estava respirando, dava o indício na sua expressão macabra com os olhos furados.

— David… é… você?... — perguntou ela, tossindo sangue.

Fui até onde estava e me ajoelhei, pegando-a nos braços.

— Sim… Sou eu. O que está acontecendo, Dora?

— O império quer nos destruir… O governador de Solaria nos traiu… E-eu não tenho muito tempo… 

Dora tornava-se fria — sentia isso.

— David, fuja daqui… Perto da minha casa… um pequeno navio escondido… F-fuja… Eles estão te procurando… O filho do antigo imperador, Arcádia… 

— Te levarei, Dora. Você vai ficar bem! — Segurei a compostura, mas era meu limite.

— Irei partir em breve, David… Eu sei… Antes, me conceda apenas um único pedido.

— Me peça qualquer coisa, farei por você!

— Me dê um beijo… Morrer sendo beijada pela pessoa que amo… um final bom.

Fiquei surpreso com as palavras dela, mas não perdi tempo. Aproximei-a e a beijei, foi o gosto doce dos seus lábios pela primeira e última vez. Dora parou para dizer suas últimas palavras:

— Não busque… vingança. Não quero… que faça. Apenas… sobreviva… Chegue ao final… do mundo. Por todos nós. Leve… nosso sonho adiante.

Voltamos a nos beijar, mas logo percebi a mão dela cair do meu rosto.

Realmente se esvaiu… Dora morreu nos meus braços, mas sei que sempre estará presente no meu coração e na minha memória. Tinha um rumo, eu tinha.

A biblioteca começou a desabar devido ao fogo. Levantei-me e olhei ao redor. Todo o fruto do nosso trabalho era destruído fisicamente, entretanto eu sabia de cada detalhe e iriam comigo até o dia de minha morte.

— Dora, sempre te amei, embora seja tarde demais para dizer isso; Eric, você era chatinho, mas sempre foi um ótimo amigo; Helen e Fernanda, vocês sempre auxiliaram na busca do meu objetivo. Meus companheiros de pesquisa… 

Levarei nosso sonho até o final, juro em nome da minha vida que o farei — por vocês.

Corri para fora da biblioteca desabando, abastecido de um vigor furioso.

Quando sai, tudo desmoronou.

O tempo passou… 

De volta às ruas, já era noite e estava cada vez pior. Os soldados com armaduras de placas de ferro e aço usavam suas espadas, lanças e armas de fogo para continuar massacrando os últimos civis descobertos.

Cheguei à casa da Dora correndo pelas laterais das casas e lá encontrei o pequeno barco voador atrás de algumas moitas. Consegui entrar nele e rapidamente o fiz voar pelos céus.

Saindo de Solaria, finalmente, estou longe de todo aquela chacina.

A minha vida acabou. Tornei-me um procurado do império e o último aristocrata de Solaria vivo. No assento do pequeno navio de madeira vejo uma fotografia em cima do monitor de velocidade. Era uma foto minha e da Dora ainda pequenos num parque de diversões.

Foco, sei que dói muito lembrar, mas precisava manter o foco.

Segui até a ilha de Exóryxi, o único lugar no mundo onde tenho pessoas confiáveis. No caminho, peguei a fotografia e coloquei no bolso de dentro da minha camisa. A partir daqui, era para lembrar quem eu sou.

***

Escureceu.

Chegando à ilha de Exóryxi, observei alguns soldados do império andando na ilha: uma tropa com aproximadamente 8 soldados sem armaduras e com espadas simples, diferente dos soldados que estavam em Solaria. Via alguns deles seguindo para a casa do Frederic e outros indo para a clínica onde fui tratado tempos atrás.

Desci o navio perto dos soldados, que estavam perto de invadir o lugar. Assim que saí do navio, mostrei-lhes meu rosto em meio à noite, com isso os três soldados surpreenderam por saberem quem sou.

— David Arcádia, se entregue ao império! — gritou o homem ao apontar a espada para mim.

— Vão à merda vocês e esse maldito império. — Retirei minha espada da bainha.

— Tentamos — exclamou o soldado, que olhou para seus companheiros com escárnio. 

Os três sacaram suas espadas e correram na minha direção.

Pobres idiotas.

Num instante, apareci como um vulto entre os três soldados e, passado por eles, fiquei adiante. Estava de pé e de costas para eles.

Espantados, apontaram tremendo suas espadas para mim.

— Rendam-se, Da…! — Olhou para o lado e presenciou a cabeça do seu companheiro cair no chão.

— Não queria chegar a isso, mas nada de bom virá da complacência aos meus inimigos. — Com uma voz grave, mostrei minhas presas protuberantes. Estava queimando de estresse.

— Seu monstro, você é um vampiro! — falou o soldado. — Sua raça deveria ter sido extinta há mil anos!

— Que engraçado, não é? Atacam pessoas inocentes, e eu que sou o monstro.

Investi no outro soldado. Dessa vez, mordi seu pescoço com brutalidade e sugei todo seu sangue.

Realmente, não havia mais motivo para hesitar.

Ele murchou em poucos instantes.

— Só sobrou você agora. Quais são suas últimas palavras? — Segurei o soldado restante pela garganta e o ergui ao alto com facilidade.

— T-tenha piedade de mim! Eu…! Eu tenho dois filhos para cuidar! Só estou seguindo ordens!

— Sabe que muitos aqui também tinham famílias. Não se preocupe, seus filhos serão bem cuidados pelo império que você só estava seguindo ordens.

Matei-o ao perfurá-lo na barriga com minha espada.

Precisava me apressar.

Corri em direção à casa do Frederic — no topo da montanha — e, com minha transformação, cheguei em poucos segundos.

Na entrada da casa, ouvi os gritos de Ana lá dentro.

Arrebentei a porta com um chute e entrei. Frederic foi apunhalado no peito por um soldado, e outros quatro estava segurando Ana para violentá-la.

Gritei de raiva.

Avancei no soldado que estava apunhalando Frederic. Decapitei-o com minha lâmina; em seguida, parei e encarei os outros quatro soldados com um olhar sanguinário, mostrando minhas presas.

— David Arcádia, um maldito vampiro. Jamais imaginávamos que o império iria querê-lo por isso — disse o capitão dos soldados.

— Silêncio. Não falo com homens mortos.

O capitão estava confuso, desequilibrou-se ao sentir a grande dor na barriga. Quando olhou, o corte se abriu e, depois, seu corpo cedeu caído como dois pedaços sangrentos. Seus subordinados logo compartilharam do destino.

Estava feito.

Fui até Frederic e o segurei com uma das mãos.

— Até você, Frederic…! — exclamei, voltei à minha forma humana.

— Sempre soube que era alguém incrível, mas ser um vampiro, jamais sonharia! Cof! — Sua voz estava fraca e rouca. — David, Cuide da Ana… por mim. Me prometa.

— Eu irei, até o fim.

— Sou grato… Hah! E obrigado por tudo, companheiro minerador.

Frederic morreu. Ana ainda estava em choque com a situação, nem mesmo conseguia falar ou se mexer. Infelizmente havia a intensa urgência de sair dali, por isso a peguei nos braços e a levei até o navio, no qual a coloquei no assento de trás.

Saí da ilha. Sem rumo. Em busca de um local seguro para vivermos por enquanto. Sobreviver.

A noite estava tão escura, os céus nublados. Tudo o que pensava era que agora minha vida acabou. Restou apenas um homem com responsabilidades para cumprir.

Muitas coisas aconteceram, a ficha ainda não caiu por completo. Perdido, olhei para trás: Ana dormiu; o choque foi demais para ela, ao menos descansaria. 

Tudo… Que horrível… 

Ah!... Vamos lá, rumo ao novo objetivo.

 

 

 



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