Névoa Eterna Brasileira

Autor(a): Dimas Tocchio Neto

Revisão: KlayLuz


Volume 1

Capítulo 5: Nova vida

Um dia se passou.

Eu e Ana paramos numa pequena ilha.

Havia um pequeno oásis com árvores frutíferas e água. A área tinha cerca de 20 metros quadrados, com 10 árvores ao redor para formar um círculo, e no meio estava o oásis de água cristalina, mas chega de observar tão atentamente.

Ana dormia no banco de trás. Era uma pena, só que eu a abordei para sairmos do navio e explorarmos a ilha:

— Ana, Ana! Acorda!

Fui um pouco bruta demais? Ela despertou assustada. — As memórias do desastre a atacaram com força. — Então me destaquei em posição para a tranquilizar.

— David?... 

— Sim... Bom dia? Vamos colher algumas frutas. Estamos numa pequena ilha.

Ah… Tudo bem, vamos.

Saímos da embarcação e fomos para as plantas envoltas do oásis: encontramos maçãs, peras e uvas selvagens. Durante, Ana evitava ficar perto de mim, a olhei sem entender o comportamento.

Ei! Eu não mordo! — disse ao dar uma pequena risada.

— Por que você é um vampiro? Por que vocês ainda existem? — disse Ana, numa mistura de descrença e nervosismo.

— Assim como os elfos, humanos e quaisquer outras raças, nós também estamos nesse mundo e merecemos viver como qualquer outro.

— Não merecem. Sua raça tentou escravizar todas as outras há séculos, foram os tiranos do mundo por 500 anos!

— É incrível como o preconceito existe. Você mesma viu o que os benditos humanos realizaram em Solaria e na sua casa e, mesmo assim, nós vampiros que somos os demônios? — Larguei minhas frutas no chão.

— Tem razão… Me salvou… Serei eternamente grata.

— Gratidão não vai bastar, eu preciso de você.

Ana ficou corada após essa frase, pensava que estava cortejando ela.

— Irei chegar ao final do mundo pelos meus amigos e acabarei com a Névoa Eterna para sempre. E, prometi te proteger até o fim dos meus dias. — Mantinha o olhar esperançoso. — Logo, te considero minha filha agora.

— “Filha”!?... Tenho a mesma idade que você!

— Pode ser verdade, mas de qualquer forma, agora sou seu guardião. — Minha postura era brilhante. — Escute-me, minha criança.

— É meu guardinha, então — Ana riu com deboche, creio que também ficou desapontada.

— Você continua irritante…

Pegamos mais algumas frutas e voltamos ao navio, sentamo-nos encostados na lateral do navio enquanto observávamos a pequena floresta à frente.

— Ana, e agora? — perguntei, fui sincero sobre estar… perdido. — O que faremos? 

Ué! Chegaremos ao final do mundo, como você quer. Já mudou de ideia?

— Mas, para isso, precisamos atravessar o império e, como você deve ter notado, sou o procurado número um deles.

— Existe uma forma. — Ana apontou para o céu.

— Me diga.

Olhei. Ela mostrava um navio pirata passando nos céus. Realmente, uma ideia notável.

— Então vamos recorrer à pirataria… Quem diria, o grande cientista David Arcádia se tornando um bandido — respondeu com grande desânimo.

— Ou é isso, ou podemos nos entregar para o império. — Ana riu de mim.

— Está bem, decidido. Iremos abordar os piratas e tomar o navio.

Iniciada a convicção, então precisava ser moldada. Tínhamos algum tempo, por isso conversamos direito sobre o assunto, mas o tempo passava.

Era hora de agir.

Seguimos no nosso pequeno navio em direção àquele gigante dos piratas: possuia seis canhões de cada lado, duas grandes asas flexíveis de madeira nas laterais e um enorme balão oval, responsável por fazê-lo flutuar.

Aproximamo-nos do navio pela lateral. Puxei minha espada e pulei, caindo bem no meio do navio pirata, aí disse:

— Bom dia, senhores! Passem o navio ou morram aqui.

Que frase clichê! Hahah! Meu Deus! Desse jeito vão achar que é uma piada, já compus frases de efeito menos dolorosas, mas voltando ao que interessa:

— Meu nome é David Arcádia, o mais procurado bandido do império. Rendam-se e entreguem sua embarcação e todos sairão vivos.

Agora, sim! Essa ficou boa!

Os piratas eram realmente feios: dentes sujos e amarelos; muitos sem cabelos ou com partes do corpo faltando, como um olho, perna ou braço. Eles usavam roupas longas de tecido qualquer, todas desgastadas e com buracos. Que visão terrível.

Muitos ficaram paralisados por conta do susto de uma invasão inconsequente, mas logo se recuperaram por estarem apenas em frente a uma silhueta delgada.

Prontos e raivosos, partiram para cima de mim, brandindo suas espadas e punhais.

Talvez não tivesse pensado direito, era eu contra 20 piratas…

Shhhhhh!

Um grande barulho ecoou da lateral do navio.

Ana escalou para chegar aqui e, com uma magia de vento potente, lançou muitos piratas para fora da embarcação.

Eles olharam para ela com surpresa, afinal com isso era susto atrás de susto, “será que não haveriam mais inimigos escondidos?!”, algo do tipo.

Pulei na direção dela, saltando sobre as cabeças dos piratas. Próximos, Ana estava atrás de mim na lateral do navio e eu fiquei na frente. Nossa batalha iria começar de verdade contra o grupo de encrenqueiros.

Golpeamos e bloqueamos a miríade de investidas e apunhaladas. Caótico à frente, mas mantinha compostura enquanto o fazia com mãos ágeis manuseando minha lâmina precisa. Os homens gritavam e corriam por toda parte. O som das espadas se chocando ecoavam pelo navio.

— Hora de acabar com eles! — ordenei ao desviar de um golpe e contra-atacar com minha arma.

Ana, que estava ao lado, usou sua magia para criar barreiras protetoras e lançar feitiços que distraíssem os brutamontes.

— Fogo! — gritou ela ao lançar uma bola de chamas nos inimigos.

Estava feito.

Conseguimos derrotar dez piratas, sempre os golpeamos para apenas fazê-los desmaiar e de maneira que evitasse que caíssem do barco. Porém, não asseguro que tiveram bons sonhos.

No geral, ao esquivar fica fácil atingi-los atrás da cabeça com empunhadura da espada. 

Estava fluindo, até a interrupção brusca do capitão dos piratas.

Ele surgiu esbravejando e com passos pesados, impondo-se subitamente no lugar.

Para nossa surpresa, ele usou magia: moldou uma parede de fogo intensa entre mim e os piratas — Ana ficou junta. As chamas nos impediram a luta de continuar.

Podendo vê-lo com paciência: era um homem alto e musculoso, com uma longa barba negra e olhos frios. Segurava uma espada comprida e uma varinha mágica.

Hah! Vocês são bons, mas não bons o suficiente para vencer o Capitão Blackbeard. — Esboçou o sorriso malicioso.

Eu e Ana nos preparamos para lutar contra ele, mas o que posso dizer? Blackbeard era um adversário formidável, capaz de usar magia para criar rajadas de vento e raios para nos atacar. Não podia derrubá-lo sem uma estratégia.

— Ana, me proteja.

— Tudo bem, vá!

Nossas espadas colidiram. Ele era realmente muito forte, mas faltava chão para disputar comigo. Empurrei nossas espadas até perto do peito dele.

Fui relembrado de como o homem era sujo. Enquanto Ana me protegia com a barreira mágica, ele lançou um raio sútil na minha perna! Fiquei sem forças e desabei ao chão e minha espada caiu da mão. 

Estava prestes a ser apunhalado.

Numa estocada cruel, era para estar selado meu destino, mas desviei virando minha cabeça, depois chutei a mão dele, o desequilibrando para trás pela dor.

— ANA, RÁPIDO!

Minha parceira lançou uma forte onda de vento na direção do pirata, derrubando-o do navio.

Era algo que alguém da sua posição e histórico teria que arcar, estávamos destruindo a hierarquia com seus ímpetos.

Levantei-me e olhei para os piratas que não fugiram do navio e gritei:

— Se vocês se renderem agora, os poupo; se continuarem lutando, morrerão!

Os piratas hesitaram por um momento, mas logo decidiram se render. Jogaram suas armas no chão e ergueram as mãos em rendição.

Ana e eu pegamos o controle do navio, prendemos os piratas restantes e os deixamos na pequena ilha com o oásis onde estávamos.

Colocamos nosso pequeno navio guardado numa pequena câmara disponível na embarcação, lugar que os piratas guardavam bebidas e munição. O transporte era meu último presente da Dora, tinha que guardá-lo em ótimas condições.

Após isso, fomos ao leme localizado na parte de trás do navio. E era um pouco mais alto que o restante dele, observei.

— Então, Ana, o que acha de explorarmos?

— Mas é claro! Piratas certamente vão ter algo interessante guardado!

Começamos nossa exploração. Descemos pela escada que levava ao convés principal e encontramos uma série de barris que continham água e os alimentos da tripulação. O cheiro de madeira envelhecida e salitre impregnava o ar.

Caminhamos pelos corredores estreitos e escuros; passamos por camarotes com beliches simples e mesas destruídas.

Ao chegarmos à área da cozinha, encontramos panelas e utensílios amontoados, indicando que a tripulação se retirou apressadamente durante o ataque. Num canto, notamos a porta trancada.

— Vamos ver o que tem atrás — sugeri ao olhar para Ana. — Espero que seja algo de valor.

Ela concordou, ótimo, e bastou um chute para a porta ceder. 

Entramos numa sala secreta.

Que surpresa! Encontramos mapas detalhados das ilhas flutuantes, registros de rotas comerciais e, para saciar nossas expectativas, havia um baú contendo joias e moedas de diferentes reinos.

— Parece que tomamos o barco certo, Ana. — Estava admirado com o conteúdo do baú.

Continuamos explorando: subimos pelas escadas e descemos por passagens estreitas.

Finalmente.

Chegamos ao convés superior e fomos expostos à intensa vista panorâmica do céu estendido diante de nós.

Acima estava o grande balão de ar do tamanho do navio amarrado por grossas cordas que os ligavam ao casco do navio. Na parte de trás, três grandes hélices de ferro com um pequeno motor a gás eram quem impulsionavam a embarcação. Nas laterais, as duas asas grandes de madeira que serviam para controlar a direção. Era uma grande entidade.

— Incrível, não é? — disse, animado pela paisagem e satisfação da aventura.

Durante nossa exploração, pegamos algumas bolachas, uma garrafa de vinho e alguns mapas que destacavam os céus à nossa volta. Com tudo em mãos, fomos até a proa do navio. Lá nos sentamos e apreciamos o tempo — fazia falta isso.

O dia chegava ao fim, o sol se pôs.

Estudávamos os mapas sob a luz de uma tocha que ficava pendurada na lateral de um pilar.

— Olha isso aqui. — Apontei para um mapa mostrando certa ilha desconhecida. — Se o que diz aqui não for mentira, há um tesouro escondido nessa ilha.

— Interessante. — Ana pegou o mapa. — E também fica no caminho para o “final do mundo”.

— Sim. Uma oportunidade perfeita para nos testarmos. Vai servir como preparo.

Era tranquilo, o vento soprava estável. O céu estava estrelado e a lua brilhava, iluminando o caminho para o oeste. Tínhamos nosso rumo.

Ana continuava lendo o mapa.

— Diz aqui que o lugar se chama Ilha das Águas, região em que as pessoas vivem da pesca. Também há uma cidade gigante no meio conhecida como Cidade das Águas.

Hoh… Que inspirador.  

— A ilha é neutra em relação ao império, o que significa que não devemos nos encontrar com tropas do império por lá.

— Ótimo, então podemos nos preparar para encontrarmos esse tesouro sem sermos perseguidos e, Ana…, esquecemos de abrir o vinho. — Me apressei e o servi para mim e ela.

— Nossa, é gostoso, que alta qualidade — comentou Ana.

Bebemos toda a garrafa e comemos grande parte dos biscoitos. Ora, para uma pequena elfa, ela bebe muito! Hahah! Mais da metade foi ela.

Me levantei e caminhei até o leme. Peguei os comandos e apontei para a frente. Pronto, gritei com determinação:

— Rumo a Ilha das Águas!

Ana se posicionou ao meu lado e olhou para o horizonte. Ela ergueu sua mão e criou uma luz mágica que iluminou o caminho à frente.

— Vamos lá! Esse tesouro será nosso! E passaremos por cima de qualquer coisa que surja no caminho!

Estávamos nos recuperando bem, acredito, direcionados a um amanhã promissor.



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