Negociar para Não Morrer Brasileira

Autor(a): Lágrima Negra


Volume 3

Capítulo 19 : Apenas Duvidas (2)

Sentada balançando as pernas aquilo não era um, mas parecia com um humano. Vestia roupas simples, um cabelo longo sem nenhum brilho e sem refletir qualquer luz. Uma pele branca como a lua da Paz e olhos como o sangue derramado durante a lua da Guerra. Era algo vivo, sem nenhum sentimento da vida, apenas tinha alegria e curiosidade pelo mundo todo.

— Mas que rude, sou mais velha que esse planeta sabia? Você não deveria chamar as mulheres como eu de jovens, pois, os jovens são todos burros e ignorantes. Entenda, chamar alguém tão sábia como eu assim é muito ofensivo.

— Mais do que o quê?

Virando o rosto para direita, ignorando a dúvida, a jovem irritada olhava para o nada. Um lugar tão vazio que estava até mesmo sem mana.

— O que foi raposa idiota? Disse algo engraçado? Ou uma mentira?

— Tem mais alguém aqui?

— Tem essa raposa aqui, mas não vai ser possível você̂ ver ela, até́ porque, a grande razão da nossa conversa é as suas maldições terem ficado caóticas e a minha existência acabou se aproximando do caos disso. Se por acaso quisesse ver essa raposa, das duas uma ou tenha uma maestria extrema em gelo, mais precisamente o gelo negro, ou uma existência como uma divindade, mas sem servir um Deus.

A fala da garota, os gestos sutis e até́ mesmo a intuição confirmavam suas palavras como verdadeiras, mas não havia nada ali onde era apontado. Não era uma, mas sim duas pessoas. Uma delas estava na sua frente e a outra não era possível enxergar ou sentir sua existência.

— ... o que exatamente é você̂?

— Mas eu já respondi? Sou apenas um corvo.

— Um corvo em forma humana? Perdão, mas não tem pássaro no mundo com aparência humana e ter a idade do planeta ainda por cima.

— Só́ porque não existe nenhum registro, não é impossível.

A mulher negava balançando a cabeça para direita e para esquerda e a garota sorria. A mulher transformava toda sua pele em sombras e os olhos da garota brilhavam levemente em vermelho. O corpo negro desaparecia na noite, o mais distante possível gastando toda sua magia, o mais rápido possível, com o menor som e rastros possíveis, ela correu. Entrando ainda mais na floresta, não havia brilho das estrelas e das luas ali, era um local completamente escuro.

— Na sua cabeça, eu sou monstruosamente linda ou assustadora? Responda-me, porque burra eu não sou.

Na sua frente poder ver o pequeno braço fino surgia e uma delicada mão a segurou pelo pescoço. Era um sorriso cruel com intenso olhar sanguinário. O aperto da mão macia poderia torcer ferro como a seda. Um leve brilho vermelho vinha de baixo. Com o canto da sua vista, numerosos outros olhos a encaravam. Havia no peito, na perna, cintura e pelo brilho havia nas costas também. Todos os olhos eram iguais a uma criança cruel cheia de prazer por ter matado um pássaro com as mãos.

— ... se eu disser os dois você fica com bom humor?

— Quando um rato te incomoda por fugir, se ele te elogiar isso vai te acalmar?

— Não, mas temos como simplesmente me deixar sair viva?

— O me desculpe, você pensava mesmo nisso acontecendo? Eu não vou fazer algo assim, pois para começo de conversa, eu só estou interagindo com esse mundo porque existe algo suficientemente próximo a mim e ciente do meu nome. Entende minhas palavras?

— Claro eu entendi, devo sair por aí e cantar sob—

— Com a sua voz horrorosa Caryne? Não obrigado, seria ofensivo.

Apertando a própria mão com forca, Caryne não sabia se aquele movimento segurava a raiva momentânea ou se era para garantir que ainda estava vida e acordada. A cada segundo sua razão parecia ser devorada e destruída pela luz vermelha.

— Então...?

Eu vou deixa-la viva, mesmo com aquela mestra minha te querendo morta.

— Mas—

O chão chegou a ela, uma sensação quente tocava sua pele, a dor nas pernas e o calor no pescoço explicava tudo. Naquele momento, foi solta no chão e tanto suas pernas foram cortadas para não correr quanto um corte no pescoço a silenciava. Foi um movimento sem reações. O sangue sai lentamente e não cura.

— Sabe eu lhe devo pelo menos alguns reconhecimentos, pois, muitas pessoas possuem bençãos e não as utilizam corretamente. Um exemplo perfeito é Safim Safira e sua habilidade de memorizar e processar todas as informações memorizadas e isso vale para uso da magia no corpo, mas ele não treina então acaba inútil. Pelo menos você usa e abusa das maldiçoes no seu corpo e... é simplesmente lindo, mas ao invés de ouvir meus elogios, olhe bem ao seu redor as consequências das suas ações.

As plantas se reviravam conforme absorviam o sangue. Um leve brilho verde era emitido e sua cor se tornava completamente preta. Raízes grossas saiam do chão onde o sangue respingou suas gotas.

— Já aprendeu isso, né? Água, luz e nutrientes são muito importantes para as plantas, mas mana em alta densidade também é muito bom e muito desejado por elas. Agora uma pergunta simples: “ Maldições são feitas por...? ”

Seguindo em direção ao sangue, as raízes entraram dento das feridas. A cada segundo mais e mais profundamente as raízes entravam no corpo, apertando e furando levemente os órgãos.

— Mana. Como seu sangue tem muitas maldições ele se torna uma fonte extremamente rica em mana. Cuide dela para mim plantinha carnívora e quando virar uma dríade negra, vá ajudar e proteger Mirai Safira, ok? Esse é meu presente para você e meu único pedido. Agora... vamos embora raposa, não posso fazer mais nada por hoje.

Ao lado da garota uma mulata a acompanhava com uma mão no queixo. Suas três caudas balançavam levemente. O cabelo preto era todo liso e suas roupas eram vestes sacerdotais preta e branca. Os olhos dourados brilhavam levemente para as duas luas no céu. Um tom invariável saia dos lábios.

— Essa noite foi tudo menos equilibrada, aqueles Deuses e anjos não pretendem fazer nada depois disso tudo?

— Tirando os Deuses, os penadinhos lá conseguiriam fazer alguma coisa por vontade própria?

Escondendo com uma mão o sorriso, a raposa juntava as 3 caudas e a balançava como uma.

— Um corvo ofendendo um anjo por terem penas é algo raro.

— Uma raposa que seguiu um Deus chamando as divindades de inúteis, não é a mesma coisa para você?

Respondendo com leve desprezo, a garota observava a mulher calmamente colocando os braços nas costas e voltando a sua forma original com metade do cabelo branca e enrolada.

— É muito mais comum uma pessoa perder a fé em Deuses após as dificuldades da vida do que você pensa.

— Seja como for, o quanto você sente sua própria presença nesse mundo?

A mulher adulta tinha um rosto decepcionado e com a cauda branca balançava negativamente.

— Levando em conta o ambiente atual? Nula praticamente, mas se formos para perto daqueles ninhos de dragão de gelo ou sombra, eu devo poder me manifestar brevemente por uns segundos.

— Crescer devorando e matando raças inteiras dessas espécies para agora precisar deles para se manifestar... o mundo é realmente cômico nessa parte.

Rindo da própria ironia, ela abre a boca para mostrar fileiras de dentes pontiagudos como uma joia branca preciosa.

— Bom, foi a única forma minha naquela época para ficar mais forte, já que o inútil Deus não quis ajudar a mim e toda a floresta naquele incêndio, por que eu deveria seguir aquela imundice? Ele não deveria ter ficado grato só por eu não sair caçando-o?

— Não julgo, eu precisei duma pessoa realmente perturbada da cabeça estudando tabus e a ordem do mundo para chegar onde estou.

Parando bruscamente seus movimentos, um arrepio subiu todos os pelos do corpo da Zazai. Ela olha para o lado onde sua colega estava andando normalmente.

— Você, Brian, reconheceu alguém como " realmente perturbado " ou eu ouvi coisas agora mesmo?

— Bom, eu realmente disse isso.

— ... sabe, eu —

— Cala a boca.

— Mas eu nem disse nada?

— Só ia falar merda.

— Ok, ok, mudando levemente o assunto, o que aquela incógnita vai querer dessa vez?

— Está falando do Valete?

— Que outro humano, além da nossa mestra, merece realmente ser observado por nós?

— Talvez todos aqueles que possuem potencial para atingir a classificação de um viajante do tempo e os perigosos mirando na mestra?

— Não finja não entender a pergunta — negando a resposta, Zazai olhava para cima enquanto suspirava. — Só aqueles parecidos com ele merecem observação, o resto, será o mesmo desafio duma colônia com 3 rainhas formigas no máximo.

— Bom, é meio errado falar isso. Humanos usando divindade se tornam impossíveis de prever, pois, se o Deus quiser ou não interferir vai depender do Deus. Ainda por cima temos o problema deles despertando por si só o poder.

— Hum... talvez ele procure algo na parte celada da biblioteca?

— Jura? Não tinha imaginado, mas quem diria o Valete querendo atacar uma biblioteca protegida com todos os livros que existem vai querer algo da parte celada. Zazai não tá afim de se nomear a Deusa da Sabedoria Desequilibrada?

— Falo da verdadeira parte celada, não aquela onde " puros " podem entrar.

— ... isso provavelmente é impossível, tirando os próprios dragões quem mais saberia algo da sua existência?

— Bom, ele tem um dragão do lado e adivinha, ela faz parte do clã responsável por proteger toda a biblioteca.

— Ainda é impossível isso. Mesmo aquela dragão maluca desejando a extinção da própria raça, se por acaso ela realmente fosse lá... um Deus seria livre para inferir lá e eles interfeririam sem dúvidas.

— Bom, mas se, e somente se, fosse o caso ainda, o que poderia ser?

— Bom, lá seria possível mexer com os princípios do mundo com aqueles livros... só com uma interferência direta nossa seria um plano minimamente válido, mas insano ainda. Cara divindade escondida, quer falar alguma coisa?

Saindo das sombras um manto azul marinho surgia, enquanto toda a magia do mundo desaparecia com sua presença. Passo leves, incapazes de sequer dobrar a grama com o peso do sapato preto. Por baixo do capuz nada era visível, existia apenas a sensação estranha do olhar calmo e sábio da divindade sem forma.

— Perdoe-me, mas como alguém se passou por mim eu precisava vir aqui está noite. Aliás, boa noite senhoritas.

— Lucaias.

— Bom pelo menos não é um faz nada tentando mentir na nossa cara.

— Ha ha, realmente quando comparado com os outros Deuses eu não sou um faz nada, mas senhorita Brian, por que se passou por mim? Na verdade, esqueça isso, por que existem tantos viajantes do tempo em um ponto do tempo ao invés de uma linha do tempo?

— Ponto do tempo?

— Hum... isso explicaria algumas coisas Lucaias. O cabeça de pássaro, responde essa pergunta: " O que é mais fácil tocar entre uma linha e um ponto numa folha? "

— A linha raposa.

— Exatamente, agora se pensarmos que tudo o que existe no mundo está numa folha de papel. Nesse momento do tempo, nós estamos em um ponto qualquer largado nessa folha.

— Hum...

— Foi uma boa explicação senhorita Zazai, mas se me permite completar a analogia sua, nesse momento estamos em algum ponto específico da folha de algum livro numa biblioteca que se estende ao infinito.

— E mesmo assim você nos achou?

— Bom, as pessoas daqui estão fortemente acreditando que eu pessoalmente vim aqui, então eu fiquei curioso. Esqueceu? Deuses podem sentir a profanação ou a gratidão dirigida ao nome.

— Não esqueci, mas como normalmente todos ficam quietos sem fazer nada e no máximo mandando um oráculo, eu realmente esqueci por um momento sobre o único trabalhador divino.

— É impressionante como todos os milhares de anjos nem são considerados seres divinos na sua perspectiva.

— Podemos voltar para o foco principal? Lucaias, o quão único são esses pontos do tempo? Não, para começo de conversa, por que viajantes do tempo não conseguem estar aqui nesse mundo?

— Tecnicamente um ponto do tempo é como se uma pessoa criasse toda uma linha do tempo e... falhado? Não é bem uma falhar, mas não existe tecnicamente passado ou futuro nesse lugar e a sua existência depende do tempo mesmo sem ter um tempo.

— Então... como alguém faria isso? É uma falha bem especifica ao meu ver.

— Uma pedra do desejo completa e um demônio para enganar alguém é uma opção válida.

— Sério? Normalmente as pessoas só não pedem o fim do mundo?

— Sua cabeça feita puramente por penas não consegue compreender esse tipo de coisa, mas vou dar uma colher de chá dessa vez, já que normalmente só quando um grupo louco deseja o fim do mundo vemos essa pedra sendo feita. Continua Deus.

— Bom, fazer um item todo poderoso realmente é difícil para pessoas individuais conseguirem. Voltando ao ponto, esse mundo provavelmente é um desses onde alguém conseguiu fazer ou simplesmente roubou a pedra quando feita e isso gerou essa coisa chamada ponto no tempo. Não existe linha alternativa, pois, só existe este momento e tempo do mundo.

— Em outras palavras, se um desejo fosse feito e ele não pedisse a destruição do mundo, um ponto no tempo é criado?

— Não apenas isso, mas este parece o caso daqui. Seja lá qual foi o desejo criou aquela garotinha usando o elemento gelo ou usa como referência do mundo, mas vai saber o pedido.

— Seria possível um pedido feito para ressuscitar uma pessoa ou pedir para que ela " nunca mais morresse infeliz " criasse isso?

— Sim. Isso explicaria ela ser tão fora da categoria humana a ponto dela usar magia do elemento gelo, algo que somente um ser vivendo por milênios deveria conseguir e se me permite ser ainda mais preciso da situação, ela não tem consciência completa das suas “ vidas ”, mas a alma dela deve saber e ter vislumbres do tempo com algumas condições atendidas.

— Conseguimos uma mestra bem peculiar e interessante.

Os três falavam alegremente um com o outro, seguindo viagem por hora.

 

 

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