Volume 1

Capítulo 8 : Vendo por Fora.

Yutyssia estava em cima de duas pessoas. Mirai estava em baixo. Uma poça com o sangue crescia a cada segundo como um espelho vermelho, cobrindo todo o chão do salão aos poucos.

“... Mi... rai...”

Seu reflexo era nítido naquele espelho vermelho doentio.

“ Por... quê?”

Sua pele parecia queimar com o calor do sangue fresco.

“ ... ela vai morrer...? ”

Suas mãos apertavam o vestido azul que trocava de cor.

“ Não morra... por favor... ”

A roupa era cada vez mais pesada e cada vez mais roxa.

“ Por favor não morra... ”

O roxo logo se tornou vermelho na sua frente rapidamente.

 “ Mirai ...”

Aquele corpo era cada vez mais branco.

“ Não... ”

O lugar ficou mais escuro, apenas uma luz vermelha mantinha o mundo claro.

“ Ela, não vai morrer... ”

Suas mãos se recolheram.

“ Ela, não vai morrer... ”

Estava com a boca aberta.

“ Ela, não vai morrer... ”

Nenhum som saia.

“ Ela, não vai morrer... ”

Cobriu seu rosto com as mãos.

“ Por que eu não consigo nem dizer isso? ”

A visão estava turva.

“ Por que ela passou por isso? ”

Lagrimas caiam.

“ Por quê...? ”

Havia um som cheio de tristeza e sofrimento na sua orelha.

“ Por quê...? ”

Sua pele estava ardendo.

— Arf!

Yutyssya acordava sem ar.

— Arf... arf... foi só... arf...um pesadelo... arf... arf...

Sua mão cobria o rosto.

— Hum? Quem é?

Iris coçava seus olhos enquanto perguntava. Haviam 3 crianças em cima da cama, uma delas estava meio pálida.

— Me desculpa... arf... foi um pesadelo.

— Foi com agora pouco?

— Sim...

— Yuty, como é a Mirai?

— A Mirai? Na casa dela?

— Sim.

A princesa se levantou e sentava em cima da cama olhando para a nova amiga.

— Bom, uma preguiçosa, ela vive dormindo nas aulas e querendo sair para fazer algo mais interessante — a garota sentava para responder. — As vezes acompanho as aulas dela, o professor é legal.

— Ela é ruim nas aulas?

— Não exatamente... — Yutyssia coçava o rosto com um dedo. — Só preguiçosa mesmo, mas quando a aula é pratica é completamente diferente.

— Como?

— Não existe um único professor para ela usar gelo e mesmo assim, e mesmo assim é um gênio autodidata.

— Autodidata?

— Aprende sozinho.

— Então... eu sou autodidata em dar trabalho?

— ... aprender normalmente é sempre algo bom, então não?

— Então... em ser fofa?

— Por quê?

— Todo mundo me chama de fofa, é ruim isso?

— Ser fofa é algo bom...

— Entendi, eu sou autodidata em ser fofa.

Iris tinha cruzado os braços e acenava positivamente para a sua conclusão.

— Mas fofura é uma matéria?

— Mas não era só ser algo bom?

— Mas eu acho que precisa ser uma matéria...

— Mas aí não é só ser bom, matemática é uma matéria e ela não é boa.

— Mas ela é importante.

— Onde? Eu não posso só chamar alguém pa fazer as contas quando eu crescer? — a princesa inclinava o rosto — Eu não vou precisar da matemática se contratar alguém para isso quando crescer.

— Eu... não sei te responder, mas ela ainda é algo bom e importante para as pessoas Iris...

— Simples, concorde comigo — a princesa era firme na sua resposta, sua voz era convincente e absoluta. — Sou autodidata em ser fofa, pronto acabou.

— Não acho que faz sentido isso.

— Se eu for rainha e decretar isso será o suficiente.

— Como rainha, existe esse poder?

— Sim?

Vendo a amiga inclinar a cabeça novamente, Yutyssya pensava em toda a conversa até agora para chegar nessa conclusão.

— Pff, há há, há há, há há...

— Não ri da minha pergunta!

Enquanto uma princesa enchia as bochechas irrita com a reação da amiga, Yutyssia ria sem preocupações da situação. Seu rosto mostrava um sorriso relaxado frente a face irritada, sem nenhum medo.

— Não tem como, você e a Mirai são exatamente iguais nessa parte.

— Qual parte?!

— Chegam em alguma conclusão maluca e com uma lógica irracional.

— Não sou irracional, sou muito raciocinal.

— O correto seria racional.

— Yuty! Malvada!

— Desculpa, desculpa.

— Hunf!

Iris cruzava os braços e olhava para outro lado.

— ... obrigado.

— ... consegue dormir agora?

— Podemos conversar mais um pouco?

— Hum... me conta alguma história das duas.

— Uma história? Já sei, o dia nosso comprando as roupas para sua festa.

— Como foi? — ela olhava atentamente empolgada.

— Primeiro, o dia começou indo para a casa dela bem cedo.

— Você tomou café da manhã lá?

— Sim, lá a mesa é enorme, mas me deixaram sentar do lado da Mirai e da tia Sara para comer.

— Eu queria comer com ela também, mas a Sara dá medo...

— Ela normalmente é legal e sorri.

— Ainda é meio assustadora...

— Deve ser só algo com seu pai, não sei o porquê.

— Ok, continue, estava no café da manhã.

— Aí a tia Sara falou sobre separarmos os carros entre as mulheres e os homens.

— Por quê?

— Não sei, talvez era mais confortável? Bom acabou sendo muito divertido, a tia pegou o volante e colocou uns óculos escuros e disse: “Apertem os cintos e preparem-se para a viagem. ”

— Por que isso?

— É uma questão estética segundo ela.

— Estética?

— Não entendi muito bem, mas depois eu entendi uma coisa.

— O que?

— Foi realmente divertido!

— Como foi?

— Primeiro fomos para pista e depois ela pegou um tijolo, jogou no acelerador e vrum! Nós fomos correndo para a loja, o vento batia com tudo, tudo ficava para traz, ela mexia com o volante com uma mão só e desviava dos carros.

— Quão rápido foi?

— Não sei, mas foi muito sem dúvidas.

— E?

— Quando chegamos o cabelo nosso estava em pé todo bagunçado.

— Deve ter sido ruim..., mas parece ter sido bem rápido mesmo... a Sara realmente não parece medonha assim.

— Precisamos arrumar ele antes para entrar. A Mirai usou magia para me ajudar, era muito melhor do que usar um pente.

— Por quê?

— Ele não puxa o cabelo em nenhum momento, foi tipo quando molha e fica tudo liso pra baixo, mas ficou seco o tempo todo.

— Hum, entendi.

— Ai na entrada nos duas vimos uma enorme coruja nós duas abraçamos como se fosse uma pelúcia gigante, mas infelizmente era uma pessoa e foi bem vergonhoso...

— Pff...

— A Mirai nem sabia dos não humanos até então.

— Ela não presta atenção nas aulas?

— Os professores não tocavam no assunto porque a tia falo para não fazer isso.

— Estranho.

— Bom, vamos continuar a história, mas você pode rir sabia?

— Ok.

As duas continuaram com a conversa até de manhã quando caíram cansadas de sono em cima da cama.

 

 

Enquanto as crianças dormindo, os adultos estavam reunidos numa sala para reuniões, apenas alguns copos com água estavam em cima da mesa. A dupla de médicos estava relaxada ouvindo e acenando com a cabeça durante a discussão. O rei e a rainha estavam com rosto fechado remoendo o andar da conversa. Sara era a única pessoa irritada enquanto falava. O restante da sala não mencionava nada apenas observando tudo.

— Certo... — Clara suspirava cansada enquanto liderava a conversa. — Repito, sinceramente olhando a memória das pessoas não faz sentido para mim a pedra falsa. O garoto derrubou ela da cadeira, mas o copo foi culpa da garota no colo dela.

 — Clara, foda-se. Se só o copo caísse ela não teria passado por aquilo.

— Sara se acalme, pedra falsa para uma criança por chutar uma cadeira, isso literalmente é destruir a vida dela por um erro idiota.

— O erro idiota quase custou uma vida e você mesmo amarrou ele em correntes, eu sou a extremista?

— Sim, eu só prendi ele para deixar ele parado.

— E eu só quero parar ele para sempre, não é muito diferente.

— Por favor, se acalme, só nós duas continuamos falando.

— Então cala a boca, mesmo sem o copo caído no chão dependendo como ela cai com duas pessoas em cima dela seria algo muito ruim.

— Ainda não justifica tanto.

— Eu disse para usarmos a pedra falsa, então vamos usar a pedra falsa. O prefere eu deixando meu cargo de lado? Tenho dinheiro suficiente para pagar qualquer multa, conexões para pagarem por mim se for preciso, entre muitas outras coisas.

— Não vai mesmo voltar a traz dessa vez?

— Fui tolerante demais só por parar ou gostaria de ver eu contra todos aqui?

— Repito se acalme Sara.

— Eu estou calma, não matei ninguém ainda hoje, não é suficiente.

— Sara—

— Clara desiste, ela é inflexível quando está assim.

— White, algo contra?

— Eu não, acidente ou não ele chutou porque quis e como disse, seria péssimo dependendo como ela caia.

— White, por que não me parou até agora então?

— Queria ver por quanto tempo isso rolava, mas os pais desistiram muito fácil.

— Como o pai não posso aceitar isso, mas meu filho quase tirou uma vida e se a Sara se revoltar, muito trabalho se acumulara.

— ... querido —

— Querida, é melhor não falar nada, sei que está só fazendo sua parte como mãe e tentando o possível evitar o pior para o nosso filho, mas... dessa vez não vai ser o melhor.

— ... certo.

Akas abaixava a cabeça em silencio.

— Ótimo, então vamos com a pedra falsa.

— Bom, não temos oposição... aliás por que a família rosário estava aqui mesmo?

— A filha deles estava perto, eles só estão ocupando mesas e fazendo papel como curiosos vendo problemas.

O casal com cabelo rosa trocou olhares e manteve o silencio.

— ... eles pelo menos leem o clima. Bom, quanto a família para ele servir, um ramo secundário da família rubi em outro pais é o suficiente?

Rubens apertava as mãos ao ouvir as palavras. Sara ainda com a cara irritada apenas olhou com o canto dos olhos para a dupla rei e rainha.

— ... até a morte, jamais mostrem aquela coisa na minha frente ou da minha família — o casal levantava o olhar e relaxava a expressão. — Sob hipótese, razão ou circunstancia ele pode aparecer, feito isso, não me importo se ele só sair da casa de vocês após os 15 anos.

— Obrigado.

— Obrigado, Sara.

Enquanto a rainha pronunciava apenas uma palavra com uma lagrima formando no olho, o rei respondia calmamente com alegria.

— Viu só Clara, a Sara não é um monstro total.

— White, quem a considera um monstro total é o Sr.

— Quando falamos do trabalho dela sim, as relações dela com as pessoas não.

— Podemos voltar ao assunto?

— Certo. O garoto vai perder o nome, os direitos como realeza, as obrigações, sua liberdade e se tornara um servo em alguma casa aos seus 15 anos, até lá ele deve se acostumar com o novo nome dele, como ainda existem uns bons anos, pensem com calma.

— Com essa reunião acabada eu vou sair.

— Tenha uma boa noite, seu marido continua aqui com o resto das formalidades pode ser?

— Boa noite.

Sara saia da sala com a cara levemente irritada. Seguindo uma serva, anda até seu quarto do palácio. O quarto era elegante, qualquer pessoa ficaria maravilhada com a mobília, mas para ela tudo aquilo era irritante.

“ Quase vi a minha filha morrer hoje... e mesmo assim, se ela tivesse cuidado direito do filho dela ele não teria feito aquilo. ”

Ela deita em cima da cama com a cara no travesseiro.

“ ... tudo por conta duma garota chamando atenção na festa. Sério... o problema está em mim por ter ficado tão irritada? Aquelas palavras da Clara não estavam totalmente erradas, mas sendo as coisas com a minha filha é obvio que eu ficaria puta. ”

Se remexendo na cama, a mulher passa a encarar o teto.

“ ... essa seria a segunda vez... perdendo alguém da minha vida na minha frente de repente... Rubens é o único provavelmente na mesa sabendo do ocorrido. ”

Estralando os dedos, apagava a luz do quarto.

“ Se a Mirai ficar como ela... ”

Na sua mente duas garotas apareciam. Uma delas estava com roupas bagunçadas, cabelo despenteado, olhos cheios com olheiras e tremendo cometia suicídio na sua frente quando criança. A outra era quase um espelho da primeira, mas dessa vez a cor do olho era outra, o cabelo era arrumado, as roupas eram novas e em bom estado e ela era sua filha sorridente.

“ ... eu não sei o que faço... ”

A imagem da filha ficava a cada segundo mais bagunçada, sendo substituída por um corpo caído no chão no meio duma poça vermelha. A garota sem sangue ou vida, estava ficado extremamente idêntica a sua irmã.

“ ... é nesses momentos a função a utilidade de rezar para algum Deus? ”

Seus olhos fechavam, sua raiva era agora apenas incomodo e preocupações agora.

“ Se for, então se nomeia e me ajude a dormir e eu me converto a sua religião. ”

Ninguém a ajudaria naquele momento e nenhum Deus se nomearia para ajudá-la.



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