Negociar para Não Morrer Brasileira

Autor(a): Lágrima Negra


Volume 1

Capítulo 25 : Começo de outro ano

Dia 1 do mês 1 de 183 Rei Rubi, casa dos Safira, Reino de Janfor.

A família Safira voltava para sua mansão após o longo mês das tempestades. O local era belo e pacifico, a mansão estava arrumada e organizada apesar de ter passado por um mês numa tempestade. Mirai tinha logo no primeiro dia aulas com sua professora.

— SUA MALDITA! O QUE VOCÊ FEZ!

— EU JÁ PEDI DESCULPAS PROFESSORA!

— EU VOU TER QUE TRABALHAR MAIS AGORA POR TUA CULPA! PARA DE CORRER E MORRE!

— MAS EU AMO MINHA VIDA!

— E EU O MEU SONO!

A aula, onde literalmente consistiu numa tentativa de homicídio, havia começado. Ambas acabaram correndo ao redor da mansão por um tempo até ficarem exaustas, quando finalmente começaram a conversar deitadas no chão.

— Garota, você sabe o que vai acontecer com você?

— Bom, treino mais intenso?

— Eu vou te perguntar isso, mas você seria capaz de matar alguém por algum motivo? Salvar sua vida ou então proteger alguém?

— Sim.

— ...ok, não esperava uma resposta rápida, isso encurta muito do meu trabalho.

A mulher se sentou, pegou dois copos e derramou água neles. A garota colocou gelo nos dois copos e se sentou para tomar a água.

— Professora, eu posso saber seu nome? Digo a anos tudo que eu sei é que você é a professora e mais nada, mesmo assim parece ser normal não saber.

— Não, o importante é, seria melhor não ter falado com o Valete.

— Certo, mas o motivo é?

— Ele é um Valete diferente na família, atualmente na família, a única pessoa realmente chamada como Valete é ele, isso não é porque não tem outras pessoas no nível dele, mas ele em especifico tem motivos o suficiente para ser destacado. Ele tem um dom, literalmente seu dom o permite criar um acordo inviolável por ambas as partes, tem umas condições aqui e ali, mas é esse o motivo.

— Isso quer dizer...

— Se você fizer o contrato com o termo, “me obedeça até sua morte”, só a morte para te libertar, sem renegociações — a mulher passava o polegar pelo pescoço enquanto falava.

— E se um dos termos for “sujeito a renegociar o acordo ”?

 — Aí tudo bem, mas é melhor ser especifica na condição.

— Entendo, mas vem cá sobre —

— Não, ainda não foi feito nenhum acordo real com ele. Algumas das condições do acordo inviolável é literalmente um debate, um aperto de mãos e a queima do contrato assinado por ambos. Ele não tem como fazer o contrato tão fácil simplesmente no primeiro encontro.

— Ele falou para você falar tudo isso para mim?

— Não, mas se ele não quisesse, ele tinha falado comigo.

— Ok, como vai ser a questão do treino?

— Vamos continuar sua rotina atual, um pouco mais intensa.

— Meu corpo vai ficar todo dolorido...

— Alias, como fez isso?

— O “isso” seria?

— Como é possível alguém ter esse 3° circuitos mágicos dentro do próprio corpo? Não me venha com as desculpas do tipo sempre esteve aí, nunca vi esse seu 3° núcleo, parece uma mistura dos dois...

— ...é um núcleo do elemento gelo, ele se desenvolveu durante os dias lá na mansão rosário. Quando eu decidi matar meu pai ele tomou forma completa, até então ele só parecia estar meio malformado? Não sei explicar essa parte... a e ele já veio com a mana, então tecnicamente, ele sempre esteve comigo. Talvez a causa real da minha doença foi ele o tempo todo.

— Em outras palavras, teoricamente uma deficiência do corpo em manter mana poderia na verdade ser um caso onde a pessoa teria um núcleo extra para utilizar magia... garota agora tecnicamente você pode usar 3 vezes a mana normal das pessoas na sua situação, está faltando algo nesse bingo da imprevisibilidade seu?

— Bom, talvez — a garota dava de ombros.

— De toda forma segura isso é uma varinha.

— Uma que?

A mulher joga na garota um bastão curto chamado como varinha. A arte era simples e minimalista, embora possuísse uma Safira e um Ônix no seu acabamento. A garota girava o objeto analisando cada parte com atenção.

— Esse bastão server para?

— Essa varinha é um objeto antigo, ou melhor muito usado antigamente para ajudar e auxiliar as pessoas a usar certas magias.

— Era? Caiu em desuso por que?

A garota tinha encontrado uma região móvel, girando a peça a Safira foi escondida e apenas a pedra de Ônix estava a mostra. A varinha nitidamente se tornou escura com esse movimento.

— Havia muitos contras, no final ele era pratico apenas para lançar de uma forma mais automática uns dois ou três feitiços, mas ele era restrito ao seu elemento e necessitava da sintonização. O problema era, caso fosse rompida a sintonia o dono da varinha seria temporariamente atordoada, mas isso nunca foi um problema real para os desenvolvedores.

— Eles continuaram desenvolvimento delas para evitar os problemas?  

Girando a peça no outro sentido a ordem das pedras trocou junto com a varinha ficando azul escura.

— Exatamente.

— Não faz muito sentido pararem com algo assim.

— Na realidade, faz. Na pratica aprender a magia era melhor, mas no momento do pânico, aí era realmente melhor a varinha.

— Entendo.

— A grande questão do mundo foi a recente descoberta das crias demoníacas terem todos os elementos, criou-se uma teoria da “utilização total da magia”. Eu realmente não entendo isso, então pergunta para o Valete se quiser saber, ele tem literalmente um laboratório só para isso.

— Eu vou precisar guardar uma dessas? — a garota falava enquanto brincava de girar a peça alternando as pedras e as cores da varinha.

— Infelizmente, varinhas, cajados e até anéis mágicos, são objetos não guardáveis, você teria que andar com um deles para todo o lado, mas não estou te ensinando sobre isso por esse motivo.

— E a razão? Digo o relógio é, então por que eles não?

— É simples, um só consome mana o outro manipula diretamente a mana muito mais livremente. Eu disse sobre eles ajudarem a conjurarem magias especificas, mas talvez dizer eles se comportam como parte do seu corpo seja o mais preciso.

— Agora a razão do assunto das varinhas, cajados e anéis?

— Esses objetos vão virar moda em breve. Os avanços desses itens estão ficando cada vez maiores e melhores, é apenas uma questão de tempo até voltarem com tudo.

— Levando em conta as possibilidades, no futuro seria possível uma pessoa usar magia de fogo mesmo que sendo um usuário de água e por aí vai, esse é ponto dessa conversa toda?

— Esse é um dos cenários possíveis, não é garantido, mas nada ainda consegue negar isso com certeza. Literalmente está acontecendo uma mudança nos livros e em todos os estudos, mas eu te afirmo uma coisa. Quando você se encontrar com uma cria demoníaca, se prepare para literalmente tudo, ainda não chegou ao ponto dos elementos combinados, mas eles podem usar todas as magias através dos itens, embora seja restrito a magia configurada no objeto, ainda é todos os elementos. Bom isso é o que eu queria falar, você tem algo para falar comigo ou podemos começar sua punição?

— Primeiro é treino, segundo eu preciso acrescentar algo ao meu pedido do Valete

— Você quer acabar ainda mais presa garota?

— Mas é algo importante.

— Algo importante?

— É, antes deu entrar na escola quero um relatório sobre os outros alunos, principalmente os garotos para saber quem é mais ou menos perigoso eu me envolver. Sabe o acordo é eu entrar e fingir ser um homem na escola, enquanto estaria me formando normalmente em outra turma.

— Me defina o “perigoso”, vou te poupar a minha dúvida do acordo mais idiota do mundo aos meus olhos.

— Bom, isso é desde a capacidade para notar disfarces até a tendência entre homens ou mulheres e isso deve ser antes e durante o tempo da escola. Seria ruim se um desses gostasse de mim e notasse as falhas do disfarce.

— Olha só alguém na verdade sabe usar a cabeça minimamente... pelo visto você vai entrar naquela escola como se fosse um Rei ou Dama em termos da minha família.

— Aceitarei como um elogio, embora isso seja uma forma como me chamar de assassina e manipuladora.

— Desde quando, não é? O Valete me contou, você não só matou seu pai, mas puxou o pai da sua amiga, o seu inimigo, para seu lado; drogou tecnicamente suas amigas e familiares para eles se manterem calmos no dia seguinte do incêndio e você ainda vai esconder tudo isso e muito mais da sua família. Ainda nega ser uma manipuladora?

— Eu não fiz isso para meramente matar alguém — a menina cruzou os braços enquanto respondia.

— Não use pesos e medidas diferente garotinha. Crime é crime, pecado é pecado tal como virtude é virtude, sim é sim e não é não. Seu fim pode justificar seu meio, mas não muda um fato.

— Eu fiz só para o melhor deles.

— Se você seguir essa linha de raciocínio, eventualmente você nota que todos têm razão em matar e têm motivos para serem mortos, logo o inferno teorizado na religião nada mais é do que um local cheio de boas pessoas com métodos distorcidos.

— ... eita, filosofia logo cedo.

— Eu não pretendo perguntar mais coisas, quando mais rápido eu me livro dos problemas atuais melhor para mim.

 

 

Enquanto acontecia uma perseguição dentro da mansão Safira, Yutyssia e Karen, agora membros da família, arrumavam a bagagem deles. Tanto quanto possível evitaram levar qualquer coisa para a nova casa. Cada objeto era uma lembrança do lugar e eles não queriam se lembrar do dia. Uma vez terminando a arrumação ambos ficam na sala em um silêncio mortal, sem qualquer tentativa de conversar, apenas após um longo tempo, a garota começa a falar.

— ...agora... nós moramos aqui mesmo.

— ...é, nós começamos a vir aqui não faz nem um ano por causa de um aniversario, e agora essa vai ser a nossa nova casa.

— Dessa vez, vai ser para sempre irmão? Ou outra coisa vai acontecer e vamos nos mudar?

— ...eu desejo ficar aqui e espero continuar.

— ...irmão, por que essas coisas aconteceram com agente?

— ...não sei.

A garota apertava as próprias roupas.

— Nós demos muito trabalho para a mamãe e o papai? (Yuty)

— ...

O corpo dela tremia aos poucos.

— Nós queríamos muito?

— ...

Cada viagem para cada reino diferente passou em sua mente.

— ...isso não é injusto?

— ...

A garota lembrava dos seus pais.

— Por que não podíamos ficar com papai e mamãe?

— ...

Ela estava chorando.

— Por que nossa família não podia fica junto como a da Mirai?

— ...eu não sei.

O irmão se vira para a irmã e abraça ela.

— Isso tudo é injusto.

— ...

Com uma mão batia levemente na sua costa.

— Injusto...

— ...

Com a outra penteava seu cabelo.

— ...eu não queria perder o papai.

— Eu também.

Ele olhava para cima.

— Nem a mamãe.

— Eu também.

Ele fechou os olhos enquanto ouvia.

— Eu estou pedindo muito?

— Não, definitivamente não.

Ele sentia lagrimas no seu ombro.

— Então, por que não posso ter isso?

— Eu não sei, eu só sei de uma coisa.

— Hum?

—O Safim me disse uma vez: “A maior injustiça da vida, é só entender alegria depois de conhecer a tristeza” sinceramente essa frase é muito irônica.

— Isso era para ser um consolo irmão, sério?

— Mais ou menos.

— E onde isso ajuda?

— Quando chegar as coisas boas, nós vamos aproveita-las da melhor forma possível, talvez seja nisso?

— Você não ajudou muito com isso — ela balançou a cabeça em negação e deu uma leve risada. — Pelo menos você não vai passar o dia todo com ele por um bom tempo. Se quiser ajudar alguém é melhor passar mais tempo com a nossa irmã agora, ela pelo menos consegue fazer isso certo.

— Bom ponto, mas ele pelo menos tenta, então qual o problema?

— É a diferença entre conseguir e confundir a pessoa.

— Eu deveria pedir conselhos para Mirai sobre como lidar com meus problemas para consolar pessoas?

— Hum... seria uma boa, assim meu cabelo não fica uma bagunça como agora.

— Pô, mas eu tentei...

— Bagunçar ele?

— Não isso...

— Ela vai ter muito trabalho para explicar.

— Me desculpe por eu ser uma falha.

A garota tirou um pente e começou a pentear seu cabelo.

— Bom, em uma parte você foi melhor pelo menos.

— Qual?

— A Mirai ouve tudo, sorri e tenta mudar o assunto... é diferente da sua forma, quanto a Iris, ela chora junto com você ou tenta te abraçar sem saber o que fazer.

— Bom, quem ficou sendo consolada por elas durante meio mês tem sem dúvidas muita autoridade no assunto.

— Eu fiquei cuidando dela depois do acidente, sabia?

O garoto deu de ombros para irmã e saia da sala.

— Bom eu vou indo, vejo você outra hora tenho que procurar o Frederico para minhas aulas.

— Eu vou... ficar aqui, se encontrar a Clara manda ela para cá, ok?

— Ok.

Após se despedir, Karen refletia as palavras da irmã.

“ Sorri e muda o assunto... não é só fugir dos problemas? Ou era a melhor forma para ajudar a Yuty? Hum... bom, pelo menos posso imaginar as duas ficando juntas agora todas as noites, até ela superar... ”

Seus olhos param em um quadro no corredor. A família Safira estava toda reunida, uma foto comum. A mãe sentada numa cadeira com a filha no colo, o irmão ao lado com o pai segurando os ombros do filho.

“ ...todos sorrindo juntos... ”

A sua irmã chorando agora pouco passou pela sua mente.

“ ...realmente, isso tudo é injustiça, todos vivendo juntos se vendo todos os dias das suas vidas..., mas agora eles não estarão juntos... talvez seja o pior para eles. ”

Seu rosto mudou rapidamente entre um sorriso leve e uma seriedade, sem graça.

“ ...eu não devia ficar feliz em pensar nisso... ”



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