Negociar para Não Morrer Brasileira

Autor(a): Lágrima Negra


Volume 1

Capítulo 12 : Quando não é Possível Aceitar o Futuro.

Dia 3 do mês 4 de 182 Rei Rubi, casa dos Safira, Reino de Janfor.

Mirai estava retornando as aulas após ter se recuperado. Ela estava no jardim concentrada não havia ninguém para ensina-la a dominar o gelo. Enquanto concentrava, ouviu o som do ronco duma mulher dormindo numa cadeira de praia, tomando Sol, com uma máscara de dormir na cara. Assistindo a cena estava Frederico, olhando com desgosto para a mulher dormindo e tentando ignorar sua existência.

— Mirai, não se torne como essa sua professora.

Sem nunca notar as reclamações a garota apenas continuava inspirando lentamente o ar e expirando. Sua aula era autodidata, pois, dentro da família Safira não existia em nenhum ramo algum outro mago como ela. Apenas o aconselhamento do Frederico poderia tentar guiar ela para uma direção melhor.

Mesmo com as dificuldades, o aconselhamento do Frederico sempre foi muito bom. Seu desenvolvimento com magia de gelo não ficava para traz no domínio do ar ou da água, era até mesmo sobrenatural sua velocidade. Alguns servos teorizavam a existência de um segundo dom, para ela dominar tão bem os seus poderes, mas a realidade sempre foi outra.

Graças ao seu dom, o corpo da garota já sabia como manipular o elemento. Dentro da visão ela sentia o uso da própria magia, como a mana percorria seus braços, pernas, peito, dedos, sangue e como saia do seu corpo.

Frederico sempre se surpreende com os passos da garota, seu domínio em manipulação era anormal, mas a sua motivação nunca foi aparente. Ela sabia e podia usar, mesmo assim nunca realmente parecia se esforçar, até aquele dia. Pela primeira vez ela estava realmente motivada para usar sua magia, para domina-la o mais rápido possível, sua concentração era grande o suficiente para não fazer nenhuma piada ou brincadeira com ele naquele dia.

— ...Mirai, por que se esforça tanto para dominar o gelo rapidamente? É algum teste? Uma forma de provar seu próprio valor?

— Hum? Normalmente você não pergunta Fred, mas é simples, se eu dominar o Gelo eu não poderia fazer tudo nesse mundo?

— Tudo? Como assim tudo nesse mundo? Você não pode usar magia de cura se não for do elemento luz e você sabe disso.

— Com tudo eu quis dizer outra coisa... Bom com magia do ar, me permite respirar para sempre, com a da água posso sempre me manter hidratada e com o gelo sempre poderia cria uma parede, apoio ou arma embora eu não saiba balançar armas.

— Se você quer impedir algo como o tombo que você levou, você teria que manter-se constantemente em foco ou transformar isso em algum instinto. Independente de como, você sempre teria uma leve camada de magia preparada e isso pode ser chamado de ofensivo em alguns casos para algumas pessoas.

— Hum... isso daria muito trabalho... mal consigo manter o relógio e ele é só um gasto da mana para o objeto.

— Você deixa ele na função mais básica ainda.

Enquanto eles conversavam ao longe Yutyssia trotava até eles com uma sacola de doces na mão enquanto acenava.

— Mirai! Eu ganhei uns doces, vamos comer juntas?

— Yuty... estou no meio da aula...

— Se você é o seu próprio professor, você pode adiar a aula quando quiser.

Ela cruzava seus braços e fechando os olhos ela acenava em aprovação, foi como dizer a maior verdade do mundo. Mirai somente suspirava, se deixando ser convencida pela argumentação da própria amiga.

— Yuty... eu—

 

Antes da sua resposta, o mundo da garota sumiu. Ao rever o mundo, seu corpo possuía uma sensação de medo, estava com calor e frio ao mesmo tempo. Ela estava numa casa em ruinas, o fogo queimava tudo para todos os lados, o cheiro da fumaça era forte, mas todo o cenário era aberto, o céu era visível e caia uma tempestade forte. O fogo quase queimava ela e a tempestade esfriava uma parte dela tão forte quanto as chamas. A visão ainda não tinha se quer começado a se mover, seu novo costume era parar a visão antes mesmo dela começar.

“ O-o-o-o que é isso? Essa casa, não é a minha... é o quinto mês? É sem dúvidas o tempo do mês das tempestades, mas o fogo, não está apagando? ”

A chuva provavelmente batia no seu corpo com força, cada gota deve ter machucado um pouco a sua pele, sua cabeça tinha uma leve tontura com toda a mana da atmosfera. Seu corpo estava tonto e pesado, a mana do seu corpo era metade uma bagunça quase incontrolável enquanto a outra metade calma e invariável. Havia também algo a mais dentro do corpo, uma sensação estranha, não era nem agitada nem calma, estava em um leve movimento envolvendo ela.

“ Isso... onde é esse incêndio? Como ele não apaga? Isso... pera, o professor não falou algo assim antes? ‘Sob certas condições a água pode apenas aumentar o fogo e o incêndio, por isso a magia de gelo é o posto da de fogo e não a magia de água. ’ Mesmo assim normalmente uma tempestade sempre apagaria um fogo comum... fogo mágico? Queimaram algum combustível com magia? ”

Prestando atenção no quarto Mirai e sua mãe eram as únicas lá. Ambas estavam parcialmente encharcadas, a garota estava com leves arranhões, diferente da mãe. O lugar parecia alguma festa. Decorações queimadas e quebradas provavam isso.

“ Mamãe causou o incêndio?

A possibilidade ficou na mente, até olhar sua mãe de frente, a sua face estava perdida, mas parecia o mais firme possível. Procurando ver até onde poderia, havia machas de sangue aqui e ali no quarto. Para todo lado escombros do teto ou das paredes, era difícil descrever.

“...algo vai acontecer, não é? Algo como aquela visão... não mamãe está aqui, não vai ter nada, mas... aqui poderia ser... ”

A garota nem terminava a própria linha de pensamento, já tinha lagrimas em seus olhos ao observar a cena.

“ ...eu... eu... eu...

Ela se manteve ali parada por quase uma hora. Seu desconforto estava controlado, estava fazendo uma última série de respiração para se manter calma.

“ ...esse... dom... quando eu estava naquela semana ele nunca me mostrou um futuro ruim. Era como... se ele quisesse me dar tempo... ”

Seu relógio mostrava duas cores, mas foi inútil. Ainda não tinha decorado o tempo das cores. Sem conseguir qualquer nova informação, por bem ou por mal começaria a visão do incêndio.

— Filha, está tudo bem, sua mãe está aqui.

— MAS, MAS MAMÃE, A YUTY E A IRIS, ELAS, ELAS...

— Elas devolveram sua gentileza, Mirai.

— COMO?! COMO ASSIM?! COMO?! ELAS ESTÃO MORTAS!!! VEJA ALI, É O SANGUE DELAS!!!

Tudo ficou congelado. O tempo foi parado.

“ ...Yuty...  Iris... ”

Mirai caiu de joelhos, naquele mundo, onde o tempo não passaria, onde ninguém a veria, ela estava vendo o futuro. Da sua garganta saiu sons indecifráveis, mas nunca teria um consolo, nunca alguém viria, era ela e somente ela.

Sua mente repetia seu próprio grito.

Suas lagrimas caiam sem fim.

Sua voz morria aos poucos.

Ela quebrou.

Quem morreu não foi sua mãe e sim aquelas duas amigas.

A dupla da sua recuperação estava ali do lado morta, esmagadas.

O cheiro da fumaça ficou pior.

Ela não conseguia continuar a visão, mas não saiu. Não dava para dizer quanto tempo ficou encarando os fatos.

“ ...o resto da visão... o que mais tem nela? ”

— Mirai, nesse momento, você acha que elas queriam você morrendo? Engula o choro ou você não terá motivos de se preocupar com uma despedida, vamos sair vivas, depois... choramos.

A sua versão do futuro ameaçou brigar com a mãe, mas foi impossível. Sua mãe estava péssima, seu olhar eram lagrimas proibidas de sair. Ela sem dúvidas se sentia a responsável pela morte das pessoas do local.

 — ...

— Vou entender que você concorda co—  

Uma linha de luz atravessou o pescoço da sua mãe. Ela caiu como uma boneca com um buraco largo no pescoço. Pela segunda vez ela parou o tempo. Olhou na direção da magia, não conseguia ver nada, nem sentir nada. Ela olhou novamente para a cena, ela voltou o tempo, como se isso fosse mudar o resultado, ela continua a cena.

— ...

— Vou entender que você concorda co— 

A mesma morte, a mesma cena.

— ...

— Vou entender que você concorda co— 

De novo.

— ...

— Vou entender que você concorda co— 

De novo.

— ...

— Vou entender que você concorda co— 

E de novo.

— ...

— Vou entender que você concorda co— 

E de novo.

Não foi algo da mente dela.

Ela processou direito.

Ela viu direito.

Tentar rever, não mudaria o resultado.

— M... ã... e...

Sua voz saiu quebrada.

Cada letra pareceu um esforço imenso dela.

Passos se aproximavam.

— P...a ... i?

Ela virou o rosto lentamente.

“ ...pai? ”

Lá estava o homem em questão, andando levemente sem preocupações.

— Sim, fui eu, problema? — com a mais calma voz ele respondeu.

Tudo era embaçado.

Tudo estava borrado.

Tudo era uma bagunça.

Sua boca mexia, mas o som não saia.

— Sabe, durante 20 anos, eu convivo com essa “mulher”, e procurei uma forma de matá-la. Sua mãe só abaixou a guarda 3 vezes, essa foi a 4 e última. Obrigado uma coisa ridícula como você serviu de algo no final.

“ Como assim? ... como... assim? Como assim? Como assim? COMO ASSIM?! POR QUÊ?! POR QUÊ? POR QUÊ? ... por quê? ... pra que? ...

— ...vo... cê... você...

— Se eu te amava? Você ainda não entendeu? Eu me casei para matar essa “mulher”, você é tão burra assim?

— ...pa... pa... pa... papai...

Recardo levantou o dedo e o desceu na linha do ombro da garota, uma lamina de luz cortou o membro, mas não saiu uma única gota do sangue dela.

— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!

“ AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!! ”

Seu eu da visão estava sem braço, se debatendo. Enquanto isso, ela ainda tinha o braço, mas não sentia nada. Caído por completo, sem movimento ou sensação, não importava a força usada para apertar. Ela sentia a dor da queimadura, a falta do peso no ombro e a dor da sua mão tocando a queimadura. Seu pai moveu novamente um dedo cortando dessa vez no cotovelo do outro braço.

— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!

“ AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!! ”

Seu outro braço cai pela metade, ela tinha o movimento da primeira metade dele, mas era só isso, a mesma dor da queimadura e a ausência do peso.

Ela não estava mais olhando para a cena, mas suas pernas não podiam mais se mexer. Ela foi amarrada pelo seu pai, seu sangue descendo para a cabeça. A dor a fazia gritar sem parar, até ele forçar a mão na boca dela, uma luva com pontas metálicas furava a sua língua e forçava a ficar quieta.

— Escuta aqui, isso é um agradecimento por ter me ajudado, morrer queimado, é maior dor que existe nesse mundo. Me agradeça, você vai morrer por falta de sangue.

Puxando sua mão da boca dela, ele arranca a língua dela fora.

— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!

“ AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!! ”

O sangue escorre da boca dela.

— Se Matheus não tivesse me atrapalhado no final, ele teria me feito o favor e silenciado a sua maldita voz.

Ela vivia a cena.

Sua vida saia aos poucos.

Cada sentido sumia enquanto o homem se afastava.

O som diminuiu primeiro, não era possível ouvir as chamas ou os raios.

Depois, tudo ficou mais preto apesar da luz do fogo.

Já não sentia direito o calor embora aos poucos o fogo a alcançava.

O frio nem a afetava mais.

Um borrão preto se aproximava, as chamas foram empurradas.

Cada paço daquilo era frágil e danificado.

Não dava pa dizer se era homem ou mulher.

A voz daquilo não saia direito, mas falava do seu lado.

— Senhorita Mirai, me desculpe... eu não pude impedi-lo... e nem salvar minha família...

Os olhos mal viram o rosa do cabelo dele.

— Isso não serve de perdão já que eu era como seu pai, mas... que haja piedade na sua morte... obrigado, por estar ao lado da minha filha... por ter dado a ela alguns... dias felizes...

O borrão levantou o braço tremendo.

Quase sem força, balançou da direta a esquerda.

Sua cabeça caiu.

Estava morta.

Ela sentiu a morte no corpo.

O fim de qualquer movimento e da vida.

Apenas tinha um resto de razão inútil, incapaz de compreender tudo.

Antes da razão sumir por completo.

“ ...pro... começo... ”

Toda a visão voltou, para o momento inicial.

Podia enfim respirar e se mexer, mas ficou imóvel com o tempo parado.

“ Magia... não cura a morte... ”

A dor sofrida foi muito maior ao sentimento do começo.

“ ..., mas se eu morri ali... ”

Sua mente estava estranhamente calma.

“ ...eu posso evitar o futuro? ”

A garota tinha se abraçado.

“ ...estou viva... realmente viva... ”

A garota começou a chorar.

Sua mente pensava em cada momento da visão.

Amigas mortas.

Mãe morta.

Ela morreu.

Seu pai a mataria.

Um incêndio.

Uma tempestade.

Ela demorou para se levantar, mas apenas o suficiente para sentar.

O tempo não moveria, ela se prendeu ali, o máximo possível.

Dias passaram para ela, mas não no mundo real.

Acabou o seu tempo, pronta ou não ela voltaria após refletir.



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