Arco 2

Capítulo 29

— Acho que sei por que Bae Jaemin nos traiu. — disse Seo Dawon, depois de caminhar da sala de estar até a cozinha, onde se sentou à mesa de jantar. Seu tom parecia um pouco estranho. Observando sua expressão complexa, puxei uma cadeira e sentei-me em frente a ele.

— …Qual o motivo?

— Ele nunca fez parte da Yeonhong para começar. Deveria ser um espião infiltrado pela guilda HaHae.

— Eles já existiam naquela época?

— Aham. O guildmaster deles tentou me recrutar lá atrás.

— Não pode ser… Eles enviaram Bae Jaemin porque você não entrou para a guilda? — Embora fosse a primeira vez que eu ouvia falar dessa guilda, ao escutar Seo Dawon, percebi essa conexão suspeita.

— Bem… essa pode ser uma explicação. Ou talvez eu os tenha incomodado de alguma outra forma após formar a guilda Yeonhong. De qualquer forma, depois de recusar entrar para a guilda, acabei esquecendo da existência deles. Pelo que eu sei, nossos caminhos nunca se cruzaram antes… Tenho o pressentimento de que essa guilda está de alguma forma ligada à minha morte. Na verdade, depois de ver o ato de Bae Jaemin, tenho certeza.

Os alvos originais da vingança já eram bem formidáveis, e não havia uma resposta clara sobre qual caminho deveríamos seguir para enfrentá-los. No entanto, quando Seo Dawon mencionou que havia outra organização agindo por trás dos panos¹ para apoiar Bae Jaemin, a situação pareceu ainda mais perdida.

— Quem é o guildmaster? — perguntei, enquanto torcia nervosamente as mãos.

— Não sei. Quando tentaram me recrutar, o guildmaster enviou um representante para esconder sua identidade. Eles também exigiram que eu mantivesse silêncio sobre o nome da guilda e suas atividades.

— Isso é bem suspeito.

— É, por isso que eu recusei.

*–Ding!*

De repente, o alarme do meu celular tocou.

Tentando desligar, desbloqueei o meu celular; pré-visualizações de notícias sobre a <Torre de Espíritos> e Bae Jaemin encheram a tela. Havia me esquecido de que, na tentativa de me preparar para a raid, configurei o telefone para coletar e filtrar palavras-chave relevantes.

— Desculpe, vou desligar isso… — eu disse.

— Tudo bem. Mas, já que tem algo que eu gostaria de pesquisar, pode me emprestar por um segundo?

Voluntariamente entreguei meu celular para Seo Dawon. Ele abriu o navegador de pesquisa e começou a buscar imagens usando a palavra-chave “Bae Jaemin”.

<Atingindo o Coração das Moças… Qual Usuário Fica Melhor de traje?>

Ele pesquisou até encontrar uma imagem de Bae Jaemin acenando para a câmera e, então, começou a analisá-la cuidadosamente.

Fiquei me perguntando por que Seo Dawon se daria o trabalho de observar Bae Jaemin tão atentamente em um traje, até perceber, um momento depois, que ele estava dando zoom no pulso dele. A área ampliada revelou um acessório  um bracelete? que aparecia na borda de suas mangas.

— Ah, essa não é a [Prece de Beatriz]? — perguntei, identificando impulsivamente o famoso item em seu pulso.

— Você sabe onde ele conseguiu? — perguntou Seo Dawon, após considerar minhas palavras.

— Não, isso eu realmente não sei… mas já a vi várias vezes nas transmissões.

— Como eu suspeitava. Bae Jaemin realmente matou Garam-ie — murmurou Seo Dawon para si mesmo ao ouvir minha resposta.

Fiquei me perguntando quem era Garam-ie… Ao vasculhar minhas memórias, lembrei-me do garoto que acompanhou Bae Jaemin na busca por pistas ou soluções para enfrentar o boss final da Torre, o Lorde Lich.

— Não me diga que… esse bracelete originalmente pertencia a esse tal de Garam?

— Exato.

A [Prece de Beatriz] ganhou fama por sua mecânica de herança incomum, só reconhecendo um novo dono após a morte do anterior. Se as palavras de Seo Dawon forem verdadeiras, é bem provável que Bae Jaemin tenha roubado o item de Garam sobre essas circunstâncias oportunistas.

Como Bae Jaemin pode matar o dono do item e usá-lo com tanto orgulho e indiferença? Observei seu sorriso destacado no artigo. Honestamente, as primeiras impressões não são mais confiáveis; ninguém acreditaria que ele seria capaz de atos tão abomináveis.

— Estou sem palavras… então, talvez, ele traiu Garam por causa deste item? Afinal, é bem raro… — Houve casos terríveis em que Usuários enlouqueceram por determinados itens.

No entanto, Seo Dawon balançou a cabeça suavemente. 

— Bem, é um bom item, mas não é muito necessário para Sacerdotes.  A [Prece de Beatriz] serve principalmente como um mecanismo de defesa para ajudar atacantes corpo a corpo com defesas muito baixas. Como Sacerdotes podem se curar, eles não o considerariam tão útil.

Isso significa que ele roubou um item que ele não precisava… Quanto mais Seo Dawon falava, mais perguntas surgiam em minha mente.

Mesmo assim, ele o pegaria e usaria?

— Ele deve estar usando como um troféu.

Um troféu para comemorar o asassinato de todos os membros da guilda Yeonhong?

Aí já é demais…

Queria perguntar a Seo Dawon se Bae Jaemin guardava algum rancor contra eles, mas fui incapaz de vocalizar a pergunta e acabei engolindo as palavras.

Ainda assim, Seo Dawon antecipou minhas perguntas não feitas e respondeu: 

— Jung Garam e Bae Jaemin tinham um relacionamento meio conturbado. Embora tivessem a mesma idade, Jung Garam era tão genial que os dois eram frequentemente comparados. E… como posso dizer isso… Bae Jaemin tinha uma personalidade muito direta e inflexível. Ele valorizava a cortesia, enquanto Garam vivia de acordo com suas próprias regras e tinha um jeito rude de falar.²

— Ah…

— Por causa da personalidade direta de Bae Jaemin, Garam frequentemente precisava censurar suas palavras. Mesmo que eles nunca tenham se atacado fisicamente, eles trocavam agressões verbais com frequência. Todos nós podíamos ver que eles não se davam bem com o outro… Não sei sobre Jung Garam, mas Bae Jaemin provavelmente guardou ressentimento em seu coração sobre esses conflitos. Talvez seja por isso que ele tomou a Beatriz. Acima de tudo, aquele bracelete deve lhe dar um sentimento de vitória sobre seu antigo rival… 

Seo Dawon falava como se estivesse imerso em lembranças do passado. Enquanto o ouvia, refletia sobre os momentos do passado da Yeonhong — suas minúcias cotidianas.

Então, perguntei com cautela: 

— Bae Jaemin estava apenas fingindo ser amigável?

— Ele era mais prudente do que simpático. Jamais dizia o que não gostava nos outros e considerava as boas maneiras o aspecto mais importante da interação social. Até durante os dias de glória da Yeonhong, muitos se referiam a ele como “Seonbi³”.

Uau… Então, tudo aquilo também era só uma encenação? Que assustador.

— Quando foi que ele começou a planejar sua vingança? Sua verdadeira face quase parece uma personalidade dupla.

— Eu não chamaria de dupla personalidade. É mais um outro lado dele. Ele nunca fez nada que provocasse ódio nos outros. Mesmo em conflitos, ele nunca foi aquele que atirou a primeira pedra.

— Ele… se comportava bem?

— Diria que sim.

Bae Jaemin mantinha uma imagem pública impecável. Como um ranqueado renomado e amplamente conhecido, ele sempre foi educado e articulado, tanto em público quanto, aparentemente, em particular. Talvez devido ao seu histórico com a guilda Yeonhong, ele conquistou muita simpatia e estima do público.

Por isso, fiquei surpreso ao ver Bae Jaemin nas memórias de Seo Dawon e dentro da caverna da Torre. Sua expressão ameaçadora foi tão impactante que arrepios ainda percorriam pelos meus braços… Eu nem pessoalmente conhecia o homem e me senti traído. Como será que Seo Dawon, que o conhecia há tanto tempo, se sentiu…?

— Mas, agora que eu paro para pensar, talvez ele tenha acabado assim por ter que aturar as personalidades e asneiras das outras crianças… — murmurou Seo Dawon.

— Das outras crianças?

— Os membros da guilda Yeonhong. Suas personalidades eram… bem… deveria dizer que não eram normais ou particularmente sociáveis…? — comentou Seo Dawon vagamente, quase como se estivesse criticando-os. — Para começar, fundei a Yeonhong para oferecer um lar àqueles que foram excomungados de outras guildas e não tinham para onde ir.

— Sério?

— Ah, não me leve a mal, eu não fui expulso. Eu fazia parte de uma guilda chamada “Artilheiros”, mas a namorada do líder começou a se interessar por mim, então não tive outra escolha senão… 

— …?

… Ele tá de palhaçada?

No entanto, Seo Dawon não se corrigiu e continuou explicando brevemente as origens da guilda: 

— Exceto por mim, todos os outros deixaram suas guildas devido a grandes conflitos e não tinham para onde ir. Lembra da Kim Olim? Aquela com um escudo.

— Ah, Ahh… Sim, de cabelo comprido e preto… 

— É, aquela pessoa tinha uma espécie de praga estranha. Curiosamente, todas as guildas que ela participou terminaram em ruínas. E, antes dela se juntar à nossa guilda, ela se embolou em todos os tipos de situações. Como ser presa por espancar seu antigo guildmaster.

— Hã? Que? — questionei imediatamente a afirmação de Seo Dawon, lembrando-me da garota de aparência benevolente de suas memórias. Claro, ela carregava um escudo, mas tinha um porte normal… Ela não parecia alguém que espancaria outra pessoa tão terrivelmente?

— Pensando bem… droga. A Yeonhong também acabou se lascando eventualmente?

— ?

— Fomos arruinados por causa da Kim Olim? — ele resmungou.

Quase comecei a rir, mas me contive mordendo o lábio inferior e desviando o olhar. Ele tinha uma expressão tão séria enquanto zoava. Felizmente, antes que eu cedesse à onda de gargalhadas, Seo Dawon retomou suas histórias sobre a guilda Yeonhong. 

— Enfim, paguei a fiança de Kim Olim e, junto com ela e Woo Ragi, fundamos a guilda Yeonhong.

— Entendi… E, Woo Ragi? Ele tem um nome bem singular.

— A personalidade dele é ainda mais.

Seo Dawon balançou a cabeça como se sentisse uma dor fantasma no pescoço. Pensando bem, nas suas memórias, ele parecia desprezar a personalidade de Ragi.

— Mas ele parecia tão encantador.

Não tinha experiência direta com sua personalidade, mas Woo Ragi, pela perspectiva de Seo Dawon, me deixou uma impressão marcante.

Sua arma não era apenas uma simples espada; parecia uma joia esculpida em forma de lâmina, brilhando intensamente. Quando ele ativava suas habilidades, as lâminas translúcidas que flutuavam e se lançavam contra o inimigo eram verdadeiramente deslumbrantes.

Quando suas espadas ressoantes, reminiscentes de cristais, se desdobravam e as lâminas individuais se moviam em uníssono, pareciam as asas de uma ave de rapina em pleno voo. Além disso, o rosto pálido que surgia brevemente enquanto ele controlava as lâminas harmonizava perfeitamente com a beleza da arma… 

Todavia, ao ouvir as minhas palavras casuais, Seo Dawon estreitou os olhos para mim, como se estivesse encarando um pervertido bizarro. Seus olhos questionavam o meu gosto.

— Ah! Não de um jeito estranho…

— Ragi é o seu tipo ideal?

— Não foi isso que eu quis dizer! Tipo ideal, mas que…

— Você não seria capaz de dizer esse tipo de coisa se soubesse porque Ragi foi demitido de sua guilda anterior. — afirmou Seo Dawon, de forma significativa, ignorando minhas veementes negações.

Eu sabia que Seo Dawon estava tentando me provocar. Mesmo assim, não consegui resistir e perguntei: 

— Por que ele foi demitido?

 


Notas:

1 – Oculta

2 – A relevância da idade deles segue aquela expectativa de que pessoas da mesma idade deveriam se dar bem, sendo amigos “próximos” sem a hierarquia de idades

3 – eram estudiosos virtuosos dos períodos Goryeo e Joseon na Coreia, que serviam ao público sem ocupar cargos governamentais. Eles optavam por renunciar a posições de riqueza e poder para viver uma vida dedicada ao estudo e à integridade, cumprindo os valores confucionistas e tornando-se modelos de moralidade. Atualmente, o termo é usado para descrever uma pessoa de boas maneiras, mas soturna (melancólica), alguém que adere firmemente a seus valores

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