Necromancer Survival Coreana

Arco 2

Capítulo 28

Depois de sair da <Torre de Espíritos>, me despedi de Kim Sangyoon e sua party, e fui até o depósito mais próximo para recuperar meu celular confiscado.

Para ser sincero, hesitei um pouco em me aproximar de Kim Sangyoon, pois ele mantinha uma expressão feroz no rosto. No entanto, após um dos membros dizer gentilmente: "Ah, bom trabalho hoje", consegui me despedir e escapar das formalidades da conversa sem muito constrangimento.

Ao sair da área de entrada, deparei-me com um número alarmante de câmeras, repórteres e meios de comunicação invadindo os arredores. A julgar pela atmosfera de euforia, parecia que os rumores sobre a expedição bem-sucedida já haviam se espalhado por toda parte.

— Seu nome? — perguntou um dos funcionários do depósito.

— Choi Yikyung.

— E o modelo?

— Um Galaxy…

Após recuperar meu celular e ligá-lo, recebi vários alertas de diferentes portais de notícias. Artigos detalhando o sucesso de Bae Jaemin no cenário do modo difícil dominavam todas as manchetes.

Olhei para a foto de Bae Jaemin na tela. Pelo canto do olho, notei o olhar fixo de Seo Dawon, então desliguei a tela. No entanto, quando o encarei diretamente, percebi que Seo Dawon não estava olhando para mim, mas para um ponto indeterminado no chão… como se estivesse imerso em seus pensamentos.

— Seo Dawon — chamei com cuidado.

— Hã?

— Se não se importa, gostaria de ir para casa descansar… Tem algo que você precise fazer?

— Não, podemos ir.

— Bae Jaemin vai dar uma entrevista… você quer assistir? — perguntei impulsivamente ao notar seus passos apressados.

— Está tudo bem — disse ele, de forma evidente. Então, acrescentou após um momento de hesitação: — Além disso, pude ver o rosto dele de perto mais cedo, não foi?

— Quando? Ah…

Ele provavelmente estava se referindo ao encontro logo após a finalização do nosso contrato.

Parando para pensar, Seo Dawon deve ter encoberto minha presença naquela hora… O que ele pensou ao ver o traidor da guilda? Abri a boca para perguntar, mas a fechei rapidamente ao perceber três Usuários aleatórios passando.

Quando eles estavam longe o suficiente para não ouvirem nossa conversa, perguntei em voz baixa: 

— Sobre sua vingança… O que você pretende fazer no futuro? Sinceramente, não tenho ideia de como proceder.

— Primeiro, preciso descobrir o que ofereceram a Bae Jaemin para nos trair. Só então poderemos começar a planejar seriamente.

— Ah…

Seo Dawon respondeu às minhas perguntas como se estivesse murmurando para si mesmo, dando leves tapinhas nas bochechas com a ponta dos dedos. Ele parecia estar organizando os pensamentos, então decidi organizar os meus próprios, sem perturbá-lo.

Agora que assinei o contrato… Bae Jaemin… Terei que matá-lo, não? E, relembrando as memórias de Seo Dawon, Bae Jaemin não é o único alvo de vingança. Há pelo menos outras quatro figuras-chave: Lim Jisoo, o mestre da guilda Dragão Vermelho, Koo Kyungman, e o vice-mestre da guilda Ópera, Ryu Hyerin.

No momento, eu estava curioso sobre a amplitude da vingança perfeita de Dawon. Quantos precisarei matar para que ele fique satisfeito? Além do mais, não se pode subestimar o status e o poder de todos esses alvos… 

— Você está suspirando um monte — observou Seo Dawon.

— Ah, é só que… — murmurei de forma evasiva, ainda perdido em pensamentos. Além de não ter nada particularmente relevante para acrescentar à conversa, não queria correr o risco de ofender meu parceiro com palavras erradas e descuidadas.

Todavia, ao observar minha expressão, Seo Dawon torceu as mãos e disse: 

— Não estou te repreendendo… Por que você parece mais abatido do que eu, o morto de verdade?

— …Só estou cansado. Vamos parar de falar de mim; você está bem?

Seo Dawon deve ter uma mente forte e estável. Mesmo como um espírito vingativo, ele conseguia ir além para conversar de maneira amigável, como se tudo estivesse normal. Se eu estivesse no lugar dele, me pergunto se conseguiria manter minha racionalidade e zoar com os outros.

— Por quê? Pareço muito jovial para um homem morto?

— Er… Não quis insinuar nada de ruim com a minha pergunta.

— É verdade. Estou de bom humor. 

— …Sério?

— Faz um tempo desde a última vez que vim ao Hub. Melhorou bastante desde que fui para a <Torre de Espíritos>. O ar está refrescante. — Ele até fechou os olhos e respirou fundo, como se estivesse apreciando o ar puro da montanha.

— Que bom — disse, não querendo estragar o clima.

— Uma vez que você chega no fundo do poço, o único caminho é de volta para cima. Meu espírito ainda está celebrando a vitória do reavivamento. Acompanhe meu ritmo. — continuou Seo Dawon com um sorriso no rosto.

— …É. — murmurei, inclinando a cabeça, sem saber qual expressão deveria fazer naquele momento.

— Bem, na verdade, ainda não consigo acreditar que estou morto. Para ser sincero, acho que ainda não aceitei minha morte.

— …

— Por outro lado, ficar pensando nisso por muito tempo só vai dar dor de cabeça — suas palavras sugeriam que ele não precisava de consolo, que ele rejeitaria minha simpatia. Após isso, atravessamos as ruas da cidade em silêncio desconfortável; qualquer conversa significativa havia cessado.

Enquanto liderava o caminho por becos e fachadas de lojas familiares, avistei o portão azul da frente do meu alojamento. Hesitei por um momento antes de apontar para a porta.

— É aqui…

— Você mora sozinho?

— Sim. — respondi, desviando de Seo Dawon, que observava os arredores, e entrei pela porta.

Enquanto Seo Dawon observava com curiosidade o pequeno quintal e o alpendre, percebi que era a primeira vez que alguém visitava minha casa desde que me tornei um Usuário. Se bem que, talvez, espíritos vingativos não contariam como visitas normais…

Me arrepiei por um momento quando o vi me seguindo para dentro de casa calçando seus sapatos.

Já que Seo Dawon só estava mantendo a imagem da sua forma logo antes de morrer, suas roupas eram meramente uma ilusão. Ainda sim, a natureza vívida do fantasma tornava difícil distinguir a realidade da ilusão, e não pude evitar sentir repulsa pela quebra das normas sociais.

Enquanto eu permanecia ali, travado, Seo Dawon começou a dar uma olhada na sala de estar com seriedade, como se fosse um convidado regular. Minha boca congelou; não sabia como interagir com ele. Sem graciosidade alguma, fui até a cozinha, abri a geladeira e me servi um copo de água. Só percebi que estava com muita sede depois de esvaziar o copo.

— Posso ligar a TV?

— Hã? Pode!

No entanto, diferente de mim que estava morrendo de estranheza, Seo Dawon acomodou-se em um pequeno sofá e confortavelmente pediu para usar a TV, já com o controle em mãos. Após assentir com a cabeça, também passei a assistir da mesa da cozinha. Ainda não estava confortável em deixá-lo sozinho na sala de estar.

O rosto de Bae Jaemin preencheu a tela. Pelo banner vermelho "Ao vivo" no topo da tela, parecia que Bae Jaemin estava conduzindo uma entrevista ao vivo na área de mídia que havíamos passado anteriormente.¹ Involuntariamente, sobressaltei ao ver seu rosto; em contraste, Seo Dawon, completamente imperturbado, apenas colocou o controle remoto de lado.

 

— Poderia nos contar brevemente sobre seu estado mental atual?

— …Na verdade, minhas emoções estão um pouco complicadas agora. No entanto, se eu tivesse que destacar algo, acho que seria alívio.

 

Apesar da aparição de Bae Jaemin, Seo Dawon assistia à entrevista de forma relaxada, com as costas encostadas no sofá.

— Oh?

De repente, ele se inclinou para frente, observando atentamente após Bae Jaemin ajustar o microfone e começar a falar, como se algo houvesse capturado sua atenção.

— …O que foi?

— Espera um minuto. — Parece que ele estava prestes a perfurar a tela com a intensidade de seu olhar. Em seguida, começou a mudar de canal, observando Bae Jaemin de diferentes ângulos.

Seo Dawon parou em um canal que mostrava a parte superior do corpo de Bae Jaemin por completo, em vez de apenas um close em seu rosto. Ao encontrar essa imagem, a testa de Dawon se franziu.

Enquanto isso, a entrevista prosseguia independentemente das ações de Dawon. Não consegui ouvir as perguntas, pois o som se cortava à medida que os canais eram trocados, mas Bae Jaemin parecia responder ao entrevistador com sinceridade, mantendo uma atitude humilde.

 

— Muito obrigado. Contudo, eu não teria conseguido concluir a raid hoje sem o suporte essencial dos meus colegas. Se não se importarem, gostaria de apresentar os membros da equipe, que têm se dedicado a me ajudar há muito tempo.

 

Observei atentamente o rosto das pessoas apresentadas na TV, uma a uma, e me perguntei se esses novos "colegas de equipe" eram a causa das rugas na testa de Seo Dawon.

Como se o segmento tivesse sido previamente preparado, legendas com os nomes e ocupações acompanharam cada foto. Após a apresentação do último membro, a câmera voltou a focar no rosto de Bae Jaemin.

Quando a luz da câmera voltou a focar nele, Bae Jaemin parecia estar sem palavras, diferente de sua expressão relaxada anterior. Todos no local ficaram em silêncio enquanto ele abaixava a cabeça, demonstrando um comportamento incerto.

Dedos longos e delicados esfregaram seus olhos, como se enxugassem lágrimas não vistas. Ele então falou com uma voz excessivamente rouca, como se tivesse um nó em sua garganta.

 

— Agora, acredito que posso falar sobre planos futuros… Pretendo formar uma nova guilda com eles e seguir com as atividades regulares daqui em diante.

 

Sua atuação era impecável — ele provavelmente vinha se preparando para essa situação há bastante tempo.

Naturalmente, ao ouvir sua voz embargada e ver sua expressão sombria, o público se lembraria de sua trágica história. A notícia estrategicamente divulgada logo após a conquista da <Torre de Espíritos> — uma dungeon antes considerada inexpugnável e fechada por três anos — só intensificava o efeito dramático. Eu me perguntava há quanto tempo ele vinha arquitetando essa performance.

 

— Há muito tempo venho recebendo ofertas favoráveis de outras guildas… mas a guilda Yeonhong sempre permaneceu em meu coração, tornando-se um tipo de trauma. Como único sobrevivente, se eu decidisse me juntar a outra guilda, a Yeonhong realmente desapareceria. Sentia como se estivesse traindo-os… 

 

— Ha… — suspirei.

Seo Dawon não comentou, mas eu, conhecendo a extensão dos pecados de Bae Jaemin contra a Yeonhong, fiquei atônito com suas mentiras descaradas.

Sua performance ainda não havia chegado ao fim.

 

— Por isso, essa expedição na <Torre de Espíritos> foi muito importante para mim. Os membros da equipe aqui… eles entenderam a minha obsessão profunda e me apoiaram tanto mental quanto materialmente. Eles me deram um novo propósito na vida, uma esperança que eu não conseguia imaginar além dessa dungeon.

— Então, qual será o nome dessa nova guilda?

 

O fluxo conveniente das perguntas da repórter me convenceu de que essa entrevista era ensaiada.

Bae Jaemin levantou seus olhos cristalinos, pretos e brancos, em direção à lente da câmera.

 

— É HaHae. Estou ansioso para trabalhar com todos vocês no futuro.

 

Com isso, Bae Jaemin fez uma reverência profunda.

Os membros da HaHae, posicionados atrás dele, também fizeram suas saudações educadas. A câmera se concentrou nos movimentos de Jaemin, capturando sua postura cuidadosa enquanto ele se virava e se retirava.

Uma pequena onda de aplausos aguardava os novos membros da HaHae, enquanto os repórteres se aglomeravam como urubus… Acima de tudo, Bae Jaemin deu um sorriso de coração para a câmera pela primeira vez, exibindo uma expressão alegre e relaxada.

*Click—*

Mesmo que Seo Dawon não tivesse desligado a TV, eu mesmo o teria feito. Não suportava assistir a uma cena tão enganosa. Eu, que não tenho talento algum para consolo, não consegui me forçar a olhar para a cara de Seo Dawon e permaneci em silêncio diante da tela vazia.

 

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Nota:

1 – No original, o termo "ao vivo" na TV estava em inglês, enquanto anteriormente, antes da entrevista, o termo estava escrito em coreano.