Volume 1

Capítulo 4.1: A rendição de um cachorro

— Você pediu desculpas para Anna?

— Eh? Bombo gosta de alpiste?

— Hm, não brinque comigo Arthur. — Era bem cedo e a primeira aula iria começar, e sim, Lucy já estava me interrogando.

— Eu não preciso me desculpar, eu não fiz nada de errado.

— Você gritou com ela — falou Lucy.

— Ela também gritou comigo. — Colé, isso é direitos iguais você não acha? Eu só paguei com a mesma moeda.

— Não se grita com uma garota, elas são frágeis. — Eu olhei para Lucy espantado.

Ela acabou de dizer que ela é frágil? Então resta um pouco de humildade em você afinal.

Lucy me olhou de volta com desconfiança e disse: — Claro que isso não se aplica a mim.

— Entendi.

Eu estava errado, não resta mais nada aí, a não ser a sua arrogância. E é claro que isso não se aplica a você, eu fui o único idiota a acreditar. Pensei que você fosse uma garota, mas na verdade eu estava enganado.

— Ele me deixou...

— Por que ele me deixou...?

— Uhaa... aaa... Hmm...

— Eu sou tão feia assim? Para ele me deixar.

— Droga, essa garota não consegue calar a boca.

Ah sim, toda escola tem uma, a garota vadia, aquela que sai catando tudo mundo que vê pela frente e depois se arrepende e no mês seguinte volta a fazer a mesma coisa.

Ele não vai volta para você, ok! Será que dá para calar a boca!

— Aparentemente o namorado dela a deixou — falou Lucy. Eu olhei para ela piscando os meus olhos.

Você acabou de dizer uma coisa óbvia.

— Não importa, isso não significa que somos obrigados a ouvir ela murmurar.

— Eu concordo com você — exclamou Lucy.

— ...

Nós ficamos em silêncio, olhando um para o outro. Tenho certeza de que Lucy estava duvidando do que acabou de dizer.

— Como é?

— Vá pedir desculpas Arthur — eu perguntei, mas ela rapidamente retomou o nosso velho assunto.

— Eu já disse... Não fiz nada de errado.

— Eu só disse a verdade.

— Será mesmo?

— O que você quer dizer com isso?

— Anna me disse que vocês eram amigos no passado. Ela usou a palavra “amigo”.

— Se um dos meus amigos gritasse comigo, eu ficaria bem chateada.

— Você tem algum amigo? — eu perguntei.

— O que você acha?

— ... Acho que eu sou o seu primeiro amigo.

Lucy me olhou tentando assimilar o que eu tinha acabado de dizer, quando a assimilação aconteceu, ela me lançou um sorriso desleixado e fez a pose de uma Rainha olhando para o seu plebeu.

— Ha-ha... Pobre coitado... Nós não seremos amigos.

— Ha-ha, saia da minha frente e morra. — Eu estava rangendo meus dentes de agonia, porque a cara que ela fez foi estranhamente sexy.

Espero que eu não esteja virando um masoquista, ser o escravo pessoal de uma Tsundere não está nos meus planos para o futuro.

No fim do terceiro período eu subi as escadas em direção a biblioteca.

— Oh? Ela não está aqui.

Anna não está na biblioteca, para falar a verdade eu não a vi o dia inteiro, nem mesmo na sala dela. De qualquer forma, isso não vai fazer diferença para mim. Anna não está aqui, mas Anjo sim e aparentemente ela está com problemas.

Eu comecei a me aproximar de Lucy e Anjo, elas estavam conversando uma de frente para a outra, ambas sentadas em cadeiras e ocupando a mesa redonda do centro da sala, ao me aproximar eu comecei a escutar e perceber.

Espera, ela está... chorando?

Anjo estava com as duas mãos no rosto e soluçando, quando me aproximei Anjo virou seu olhar diretamente para mim, foi quando eu também virei. Só que no caso eu virei de costas para ela.

— Que falta de educação virar as costas assim Arthur. — Lucy me repreendeu.

— Desculpa, eu só não quero ver ela chorando.

— Ha-ha... Tudo bem, pode se virar, eu já estou bem. — Anjo deu uma risada fraca, e me deu sinal verde para olhar.

— O que aconteceu? — perguntei.

— Eu perdi o dinheiro da Arrecadação — Anjo falou com fraqueza.

— Hã...? — Eu fiquei paralisado, tentando entender como uma pessoa perde uma alta quantia de um dinheiro que não é dela.

— Você perdeu... Ou roubaram de você?

— Eu perdi, fui eu... — Anjo olhou para mim com o rosto em lágrimas de novo. Só que desta vez, eu não pudi desviar o olhar.

Oh... Tão fofa.

Eu sei que não é certo dizer isso de uma garota em lágrimas, mas eu não posso mentir sobre uma coisa que é um fato. Mesmo com as lágrimas correndo pelo rosto dela, essa garota é linda.

Eu respirei fundo e soltei o ar.

Então comecei a agachar do lado da Anjo, ela estava de cabeça baixa segurando seus joelhos.

Eu coloquei uma das minhas mãos sobre a mão dela e perguntei: — Você está bem?

— Ah?

Ela olhou para mim confusa, seu rosto estava estranhamente corado e seus olhos brilhavam mais que um diamante.

— Não chore, Lucy vai te ajudar.

— Ei? — Lucy chamou a minha atenção e quando eu olhei para ela, seu rosto estava um pouco corado, mesmo com meus olhos fixos em Lucy, eu continuei falando.

— E se você não se importar, podemos avisar um professor e não se preocupe, eu não vou deixar que ele ferre com tudo.

Após Lucy e eu discutirmos um pouco sobre qual professor seria melhor chamar, fomos na opção mais óbvia e lógica, Beatriz-sensei.

— Ooh... Eu entendi — falou a professora.

— Ooh, eu entendi?? Que jeito mais tosco de falar — eu retruquei.

— Oooh, eu entendi. Arthur não implica comigo — Beatriz falou me olhando com seriedade.

— Tosco? — Anjo e Lucy se olharam e repetiram ao mesmo tempo.

— Posso fazer uma pergunta para você?

— Sim!

— Quando foi a última vez que você viu o dinheiro? — perguntou Beatriz.

— Foi na minha bolsa, no fim do segundo período — falou Anjo.

— Eh?

— Eh?

— Eh? — Todos nós entramos em perplexidade.

Eu não acredito no que acabei de ouvir, como essa garota pode ser TÃOO BURRAAA!

— Perdão... Me corrija se eu estiver errada. Você trazia uma alta quantia em dinheiro... Um dinheiro que não era seu, todos os dias para o colégio?

— Eh?!  Vendo como você falou Lucy, parece bem bobo, mas sim, eu trazia. — Anjo falou com uma expressão gentil.

— Meu deus. Bobo é uma palavra muito simples para descrever isso. — Lucy colocou a mão em sua temporã pensativa.

— Exatamente. — Eu simplesmente disse algo que venho a minha mente.

— Beatriz-sensei, o que você acha...

— Você é tão fofa — entonou Beatriz, com um sorriso padrão.

Olha o que você fez com ela Anjo, você á quebrou, sim ela está com uma expressão linda em seu rosto, mesmo assim, você a quebrou.

Beatriz respirou fundo e disse: — Então você não perdeu... Ela foi roubada.

Essa garota foi roubada, tenho cem porcento de certeza disso. Apesar de achar que não existe alguém tão idiota o bastante para roubar dentro do colégio... Espera, eu me precipitei, sempre tem um que é mais idiota que os outros.

— Hm... Isso é um problema sério — disse Lucy.

— Vamos ter que avisar a diretoria. — falou Beatriz suspirando

— Não precisa se preocupar com isso professora, eu, eu tenho um plano — falei gesticulando o meu dedo, puxando toda a atenção para mim.

— Estamos no horário do nosso intervalo, então todos estão lá embaixo no pátio, distraídos com a falsa sensação de liberdade. Então vamos revistar minuciosamente a bolsa de cada um deles.

— Hm, desde quando você virou PF? (polícia federal) — Lucy falou em tom de deboche.

— Eu não virei ainda. — Dito isso, eu me virei para a professora e a encarei com uma das minhas mãos no queixo.

— Parece que sobrou para mim, não é?

— Apenas diga as palavras que precisamos para fazer isso. — Eu falei, Beatriz fechou os seus olhos e cruzou os braços para pensar sobre o assunto.

— ... Tudo bem, vocês podem fazer isso, mas se algo der errado e vocês forem pegos... Vocês não falaram o meu nome.

Há! Típico da Beatriz-sensei, sempre tirando o seu da reta, “fação o que eu digo, mas não me usei como escudo”.

— Mas assim você só está colocando um alvo nas nossas costas. — Lucy falou com um tom de decepção.

Beatriz olhou para ela e sorriu gentilmente: — Boa sorte — foi o que ela disse.

— Hã! Essa mulher é cruel... — disse Lucy com sua boca aberta, olhando para a Beatriz-sensei.

— Sim, ela é — falei apoiando ela.

— Certo, se tudo já foi resolvido, vamos fazer isso de forma rápida. Lucy fica com as duas fileiras perto da janela. Anjo cuidará das fileiras do meio e eu ficarei com as que sobrar. — Quando eu parei de falar percebi que as garotas estavam me olhando com uma expressão de decepção.

— O que foi?

— Por que você está ficando com a menor quantidade de carteiras? — Lucy perguntou.

Eu olhei para ela e sorri: — Porque eu sou um auxiliar.

— Não, brinca. — Lucy respondeu lentamente.

— Certo vamos lá!

— Espera um pouco. — Beatriz parou o meu corpo e abriu os meus braços. Eu não entendi, mas por algum motivo eu estava sendo revistado.

Eu fechei os meus olhos e perguntei: — O que você está fazendo? Por que eu estou sendo revistado?

— É só uma precaução — disse ela.

— Uma precaução? — questionei.

Cheira...

— O que foi? — Beatriz estava revistando os meus ombros mais por algum motivo que eu desconheço, ela ficou interessada no meu cabelo e o cheirou.

— Nada — ele respondeu.

As mãos da Beatriz-sensei eram macias de mais para um garoto do ensino médio como eu. Meu corpo estava começando a sentir os calafrios de uma mão madura e feminina me alisando de cima a baixo. Quando as mãos de Beatriz chegaram na minha cintura, eu soltei a seguinte frase: — Olha a mão boba aí.

Ao ouvir isso, Beatriz parou imediatamente a sua revista. Ela olhou para mim e eu olhei para ela.

— Ahh! — De repente eu senti uma grande pontada na minha costela.

— É, dessa mão boba que eu estou falando — eu disse com falta de ar, Beatriz tinha cravado dois de seus dedos na minha costela.

Nós deixamos a biblioteca e chegamos em nossa sala, e começamos os trabalhos.

Lucy foi para perto das janelas e começou a revistar as últimas bolsas do fundo, Anjo foi para o meio da sala, e eu comecei a selecionar as carteiras que sobrariam para mim, isso incluía a minha carteira.

— Espera, eu acho melhor eu e Anjo revistarmos as mochilas das garotas e você, a dos garotos — disse Lucy.

— Eh? Mas assim não tem graça — eu falei com um tom manhoso. Lucy e Anjo me olharam com uma expressão de nojo.

— Ei! Foi só uma piada, não precisão me olhar assim ha-ha-ha. — Eu dei uma risada leve tentando amenizar o clima.

Que tipo de expressão é essa? Eu não sabia que o rosto humano conseguia fazer isso, ou que mulheres poderiam parecer tão assustadoras, por favor parem.

— Eh? — Começamos a olhar as mochilas e por algum motivo elas começaram a me evitar na sala.

Eu esperava isso da Tsundere, mas eu não esperava isso vindo de você Anjo, que decepção.

— Parece que términos aqui — dito isso, eu olhei para trás e por algum motivo Lucy e Anjo estavam em volta da minha carteira.

— O que vocês estão fazendo? Solte essa mochila agora.

— É só uma precaução. — Lucy estava prestes a abrir o zíper da minha bolsa.

Eu estiquei minha mão cautelosamente e disse: — Espere...

Elas olharam para mim em silêncio.

— Eu não peguei o dinheiro.

— Como vamos saber que não foi você? Precisamos olhar. — Nesse momento, elas olhavam a minha bolsa como se tivessem achado um baú do tesouro. Seus olhos brilhavam de excitação.

Mas que merda é essa?! O que tem de tão interessante em olhar dentro da bolsa de um garoto escolar? Parem com isso! Se bem que... se você trocar a palavra garoto por... olhar dentro da bolsa do "sexo oposto”, as coisas ficam realmente interessantes.

Cheira...

— Sua mochila cheira muito bem — falou Lucy, com seu rosto levemente envergonhado e cheirando minha bolsa junto de Anjo, que concordava balançando a cabeça.

Isso é maldade — pensei comprimindo os lábios e com meu rosto levemente corado.

— Tudo bem.

— O que você está fazendo?! — perguntou Lucy.

— É só uma precaução. — Eu fui até a carteira de Lucy e peguei sua bolsa.

— Tudo bem, eu estava só brincando vamos embora. — falou ela se afastando da minha carteira.

Parece que eu ganhei. Essa é só a minha primeira vitória de muitas que virão, contra as minhas inimigas mortais, as mulheres.

— O que vamos fazer agora? Devemos avisar a professora? — Anjo perguntou.

— Sua voz é bonita.

— Hã? Ah! Obrigada, ha-ha-ha...!

— Ha-ha-ha...!

O que foi isso??! Ela falou sua voz é bonita para a Anjo do nada. Será que eu acabei de testemunhar duas garotas flertando na minha frente? Espera, será que elas fazem isso o tempo todo?

— Não precisamos chamar a professora, eu tenho um palpite de onde o dinheiro está.

Descemos as escadas até o pátio que estava lotado de alunos.

— Nossa está cheio aqui — exclamou Lucy.

— É, acho que três salas desceram para o intervalo dessa vez. Mas se estivermos com sorte, a sala deles também desceu — eu falei, enquanto caminhava pelo pátio junto das garotas.

— Do que você está falando? — perguntou Anjo, olhando para mim.

— Ali estão eles, no fundo do pátio — disse, guiando as garotas para se esconderem atrás de uma pilastra.

— Delinquentes? — sussurrou Lucy, olhando os garotos mau vestidos no fundo.

— Mais cedo na troca da segunda aula, eu os vi dentro da sala, comentando sobre pegar alguma coisa. Eu não queria colocar um ponto final, mas aparentemente, talvez tenham sido eles.

— Eu vou chamar a professora.

— Não podemos colocar a Beatriz nisso Lucy, você lembra do que ela disse. Se chamarmos ela, isso vai se transformar em uma bola de neve.



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