Murphy Brasileira

Autor(a): Otavio Ramos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 38: Meu Querido Pai

O homem arregalou os olhos ao avistar Ella. Era ele, ela tinha certeza absoluta. Aslan Murphy, o seu pai.

Ele se levantou lentamente. Estava nu, mas seu corpo possuía um aspecto etéreo. Diferente de Ella, que estava fisicamente no Plano Espiritual, aquela era somente a alma de Aslan.

Atrás dele, três memórias pairavam, tangíveis no ar como se fossem pinturas vivas, materializadas no Plano Espiritual.

A primeira, à esquerda, era um retrato de Ella, ainda criança, pintando um cavalo em uma tela de algodão, enquanto Ethan a observava, deitado em um sofá.

A segunda memória retratava Aslan, ao lado do seu esquadrão na juventude. Dos rostos ali presente, o único que Ella conseguiu reconhecer foi Scott Miller.

E a terceira e última, mas não menos importante, mostrava Giulia, a sua mãe. Um sorriso tão doce estampava sua face — o amor de Ella pela sua mãe era tanto que sequer conseguia colocar em palavras.

Todas aquelas memórias, ali materializadas, era como se garantissem que Aslan nunca esquecesse quem ele era.

— Pai! — gritou Ella, correndo desesperadamente até ele.

Ela saltou para abraçá-lo, mas seus braços o atravessaram. Ele não possuía um corpo físico.

Aslan a encarava com um olhar estranho.

— Pai... — A voz de Ella ficou trêmula, enquanto seus olhos começaram a lacrimejar. — Sou eu, Ella.

Aslan levou um baque ao ouvir seu nome. Havia tempo desde que sua memória não era a mesma, mas ele jamais esqueceria de sua filha, sua amada e desejada filha.

— Ella... é você? — Sua voz falhou, carregada de incredulidade. — Como você cresceu... Eu... eu achei que nunca mais te veria novamente.

— Você não faz ideia de tudo que eu passei para te encontrar, pai — respondeu Ella, com um sorriso trêmulo nos lábios, enquanto as lágrimas escorriam em seu rosto. — O que aconteceu? Por que você nunca mais voltou? Eu passei cinco anos esperando por você.

Ella tentou segurar sua mão, mas Aslan recuou. Aquele geto foi pior do que qualquer resposta que ele poderia dar.

— Me sinto o pior pai do mundo — murmurou ele, evitando encará-la nos olhos. — Ter abandonado você e o Ethan... foi o meu maior erro.

—Não importa mais, pai! — insistiu Ella, com a voz carregada de urgência. — O importante é que estamos juntos agora. Eu... eu só preciso saber onde você está.

Aslan hesitou, evitando seus olhos.

— Não venha atrás de mim — disse ele, friamente.

— O quê?!

Ella cambaleou para trás, atônita.

— O dever de um pai, é proteger seus filhos. E é o que eu vou fazer. Volte para a comunidade, saia de Rubra imediatamente. Aqui não é lugar para você.

— Eu não vou sair daqui sem você. Por que diabos você não quer falar onde está? Por que você não me quer mais por perto? — gritou Ella, soluçando. — Eu ainda sou sua filha!

Aslan olhou Ella nos olhos, surpreso com sua reação. No fundo, aquela era sua filha. Ao mesmo tempo em que era calma, havia um temperamento incontrolável.

— Eu não quero você por perto? Você ficou maluca? Tudo o que eu mais quero é ter você ao meu lado — rebateu Aslan, atordoado com as falas de sua filha. — A humanidade está envolta em uma maldade sem fim. Eu não posso te envolver no sofrimento que me cerca.

— Tem noção de quantas pessoas eu matei para chegar até aqui? Eu fiz coisas imperdoáveis. Matei uma criança, tudo isso para te encontrar! Eu não vou embora sem você! — gritou Ella, tremendo.

Os olhos de Aslan arregalaram ao saber que sua filha matou uma criança. O alto poder destrutivo das Vontades causava danos irreparáveis na sociedade. Mortes acidentais foram o motivo para muitos caçadores se aposentarem.

— Essa teimosia... essa incapacidade de receber ordens, você é uma cópia da sua mãe — respondeu Aslan, calmo, ao contrário de sua filha. — Será que você pode me obedecer pelo menos uma vez na sua vida?

Ella respirou fundo, aproximando-se ainda mais do seu pai.

— Você ainda me ama? — sussurrou, olhando no fundo dos olhos do seu pai.

— Mais do que tudo. Você e o Ethan são a única razão pela qual ainda estou vivo.

— Algo aconteceu com você pai. Isso está óbvio para mim. Mas você ainda está vivo. Se realmente me ama, me deixe te ajudar!

Aslan a observou em silêncio. Ela tinha os mesmos olhos de sua esposa.

Ele repousou sua mão na nuca de Ella — ainda que não pudesse tocá-la de fato.

— Você não vai desistir enquanto não me encontrar, não é? — disse Aslan, sorrindo. — Eu conheço essa determinação, você é igual a mim. Mas essa determinação sozinha não te levará longe o suficiente para chegar até mim, Ella. Aqueles que estão protegidos pelos muros, não sabem o que de fato está acontecendo no nosso planeta. Nós não temos muito tempo. Uma tempestade está vindo. Uma tempestade que a humanidade nunca viu igual.

— O que você quer dizer com isso?

— Dois impérios estão se erguendo sobre a Terra, Ella. É algo muito maior do que todos nós. Te criei cercada pelos muros, embora não tenha te dado a infância que você merecesse, você foi mais protegida do que imagina. Assim como os que vivem na UCC, você não tem noção do que está acontecendo no mundo. Se você deseja mudar algo nesse mundo, se deseja me encontrar, você precisa de poder!

— Eu não sou uma heroína, não vim aqui para salvar a humanidade — retrucou Ella, acelerada. — Eu só quero você na minha vida novamente, é pedir muito? Eu encontrei o Ethan, só falta você, o meu pai!

Aslan sentou, cansado de sua teimosia.

— Eu também era que nem você quando entrei na CCV. Ocupado demais com meu ódio, só pensava em vingança. Matar, matar e matar. Mas quando consegui minha vingança, me deparei com um vazio imenso. Eu matei aquele que matou minha mãe, mas e agora? Isso não trouxe ela de volta, tampouco me trouxe paz. Foi quando eu conheci sua mãe.

Ella sentou-se ao lado do seu pai. Ouvir as histórias dele sempre foi um dos seus passatempos favoritos.

— Sua mãe nunca te contou muito sobre o passado dela, né?

— Não muito... ela contava sobre os Emissários que vocês derrotaram juntos, mas nada muito além disso. A mamãe preferia não falar sobre o passado de quando era uma caçadora.

— Ela nunca te contou porque usava próteses de Rubrannium, né?

— Mais ou menos. Me lembro dela ter me contado, mas foi de uma forma muito superficial. Apenas disse que, em uma das suas caçadas, um monstro gigantesco devorou uma das suas pernas e braços — respondeu Ella, com um olhar triste.

— Uma parte disso é verdade, mas a história por trás é bem pior. Eu e sua mãe fomos oferecidos como sacrifício durante a Ruptura. Não me lembro se já te contei sobre, mas é o ritual de nascimento de um novo Emissário. Fomos traídos por Jason, nosso melhor amigo. Ele entregou todo nosso esquadrão, todos eles morreram da pior forma que já vimos, pessoas boas e puras, e nós não pudemos fazer nada. Nós dois só sobrevivemos porque fomos salvos.

— Eu... eu não fazia ideia disso, pai — murmurou Ella, atordoada.

— Tinha uma garota do nosso esquadrão, ela era uma pessoa muito boa, assim como você — relembrou Aslan, sorrindo de nostalgia. — Ela era jovem, destemida e muito habilidosa. Entrou para a CCV apenas para juntar dinheiro para pagar a cura do câncer do seu pai. Quando eu tive que dar a notícia pessoalmente para ele de que sua filha havia sido morta... foi ali que eu entendi o que era ser um Caçador. Não fazemos o que fazemos por dinheiro, por poder ou por reconhecimento. Somos caçadores para garantir que as pessoas boas e puras desse mundo não tenham que passar pelo inferno que passamos.

Ella abaixou a cabeça, absorvendo tudo que seu pai havia dito. Um olhar melancólico estampava sua face.

— Não espero que entenda, você ainda é nova. Mas quero que saiba que você é tudo pra mim, e eu não desistirei de tornar o mundo um lugar melhor para você. Um mundo em que você possa acordar sem se preocupar em ser morta — concluiu Aslan, envolvendo seu pescoço com seu braço, em um gesto protetor.

— Eu entendi o que você quis dizer — respondeu Ella, esboçando um sorriso para ele. — Mas não vou embora sem você. Sou forte o suficiente para poder te ajudar. Me diga o que eu posso fazer, pai.

Aslan sorriu levemente. Ele sabia que sua filha não iria ceder tão facilmente. Mas ele também conhecia o seu potencial, o dom que possuia, ele a treinou a vida inteira para isso.

— Precisamos de um aliado. Ele é essencial para a vitória da humanidade, seu nome é Yersin.

O nome ressoou na mente de Ella. Como poderia esquecê-lo? Fora citado muitas vezes.

— Yersin? Vi esse nome no bestiário do Cedric. Ele não é uma criatura do Vazio ou algo do tipo?

— É complicado de explicar, mas isso não importa agora. O que importa é que ele está do nosso lado. O problema é que ele se induziu a um sono sem fim.

Aslan fez uma pausa breve, pensando na melhor forma de explicar.

— Pense nele como um ser de duas almas: uma humana e outra do Vazio. As duas lutaram incessantemente por séculos, disputando o domínio sobre seu corpo e consciência. Quase sempre sua alma esteve no controle do corpo, mas houve momentos em o Vazio assumiu o controle. O problema é que a cada vez que isso acontecia, a influência do Vazio crescia enormemente. Quando ele percebeu que estava perdendo a luta, ele optou pelo sono profundo, um estado onde nem ele nem o Vazio podem assumir o corpo.

— Só que precisamos dele urgentemente! Você precisa acordá-lo antes que seja tarde demais — exclamou Aslan.

— Ok... isso foi muita informação de uma só vez. Eu entendi que são duas almas lutando por um só corpo, já presenciei isso. Mas se ele se colocou em um sono sem fim? Como que eu o acordaria?

— Eu não sei — admitiu Aslan. — Mas existe alguém que sabe. Antes dele se induzir ao sono, ele disse que quando for a hora, era para eu levar uma mulher até ele.

— E que hora é essa?

— Eu também não sei. Yersin sempre foi muito enigmático, mas não podemos mais esperar, precisamos dele. Eu não posso ir atrás dessa mulher agora, mas você pode.

— Isso é muito vago. Quem é essa mulher? Como ela é? Qual é o seu nome? Onde foi vista pela última vez? Não faço ideia de quem seja.

— Não consigo lembrar — murmurou Aslan, colocando a mão na testa, frustrado. — Estou perdendo minhas memórias pouco a pouco.

Ella pousou a mão nas costas do seu pai, sua pele translúcida emanava uma luz etérea.

— Você está perdendo suas memórias... o que de fato aconteceu com você, pai?

— Não é nada, eu só estou ficando velho — respondeu, sorrindo para tranquilizar Ella. — Velho... velho! O velho estava com a gente no dia! Ele sabe quem é a mulher.

— Que velho? — perguntou Ella, confusa.

— O Marc! Derrotamos o Chaos e o selamos, aproveitando a época de paz, Yersin se induziu ao sono sem fim. Ninguém esperava que logo em seguida, um alienígena gigante invadiria a Terra.

— E como o Chaos escapou?

— Quando Rithan apareceu, tudo desmoronou. Todo o exército concentrou-se nele, o resultado foi uma rebelião vinda dos Emissários sobreviventes. Enquanto Rithan expandia seu domínio sobre a Terra, eles soltaram o Chaos. Aliás, eu engravidei sua mãe nesse ano, que azar, né? — brincou Aslan.

— Eu nasci no meio da guerra então — respondeu Ella, rindo suavemente. — Gostaria de ter nascido na sua época... Ir à escola, ter amigos, namorar, eu gostaria também de ser dona de um restaurante. E por fim, casar e ter filhos... O mundo parecia bem melhor.

Aslan a olhou com um olhar melancólico.

Ele teve tudo que ela sempre quis, já a sua filha, nasceu na pior época da humanidade. Sentia-se culpado por isso.

— Você não gostaria de ser uma caçadora? — indagou Aslan, deprimido.

— Não... eu não gosto de matar, mas também não quero morrer. Faço o que eu faço porque sou obrigada.

— Me perdoe, Ella... — exclamou Aslan, cerrando seus punhos.

— Pelo quê, pai? — respondeu Ella, genuinamente confusa.

— Por ter te dado essa vida. Eu tentei, juro que tentei te dar tudo, te fazer feliz, mas eu falhei.

Naquele estado, Aslan não conseguia chorar, era apenas uma alma, mas sua voz trêmula expressava sua emoção.

— Mas eu sou feliz. — Ella sorriu, colocando a mão no rosto de Aslan. — Enquanto eu tiver você e o Ethan, eu serei feliz. São as pessoas ao nosso redor que nos trazem felicidade.

O sorriso de Ella era cativante — aquela era a sua filha da qual ele criou com tanto amor e zelo. O seu milagre, a sua razão de estar vivo.

Eles se abraçaram. Mesmo que seus braços não se tocassem fisicamente, o amor ainda era a mesmo.

Aslan se levantou e começou a olhar para o horizonte; Ella fez o mesmo.

— Gostaria de ficar aqui com você o dia inteiro, mas não temos tempo a perder.

— Eu encontrarei o Yersin o mais rápido que puder. Tem alguma dica para mim?

— Diga que é minha filha, ele irá te ajudar bastante.

Enquanto isso, no mundo real, o confronto permanecia acirrado entre Quinn, Rostov e Icrow.

Rostov ativou seu sistema de propulsão a jato e voou para fora do observatório, enquanto disparava contra Quinn. O combate era feroz.

— Pequenino, você tem alguma carta na manga? Agora seria a hora perfeita para revelá-la.

— Eh... e-eu posso alterar o tamanho do meu corpo conforme eu quero — disse Icrow, com as orelhas encolhidas.

— Icrow, isso é excelente! Por que só disse isso agora?

— M-mas eu não quero me transformar, dói muito. Sempre que diminuo de tamanho, meus ossos e órgãos encolhem junto. Isso machuca demais.

— Então fique grande!

— Mas o inverso também acontece! Crescer absurdamente em segundos dói muito mais! Você é uma lata de ferro, não sabe a dor de ser uma criatura viva — gritou Icrow.

Quinn arremessou uma lança de Vontade Sagrada contra Rostov, acertando-o na perna e desestabilizando-o no ar.

— Maldição! Terei que recuar ao observatório. Icrow, quando eu ordenar, diminua para o tamanho de um rato, entre dentro da roupa de Quinn e o morda! — bradou Rostov, avançando contra Quinn, com sua lâmina reluzente.

— Já falei que não quero! — protestou Icrow, com suas orelhas tremulando ao vento da queda.

— É uma ordem! Se você não a cumprir, eu mesmo te matarei.

— Sua lata velha maldita! Tá bom!

Em queda livre, Icrow se preparava para saltar sobre Quinn.

Rostov aterrissou no observatório, já preparando um ataque feroz contra Quinn.

Velozmente, ele executou um golpe horizontal na direção do pescoço do Quinn. Ele, extremamente ágil, desviou facilmente, mas não percebeu que era exatamente isso que Rostov queria.

— Icrow, agora!

Aaaaaah! — gritou Icrow, sentindo a dor lancinante enquanto encolhia ao tamanho de um roedor.

Agora pequenino, correu pela lâmina de Rostov e saltou para o busto de Quinn, deslizando rapidamente até suas botas.

Icrow entrou dentro de suas calças e começou a rastejar sob seu corpo, mordendo-o com violência.

Mesmo pequeno, seus dentes afiados infligiam uma dor excruciante.

Rostov atacou novamente com sua lâmina, mas dessa vez, Quinn agarrou seu braço metálico.

Com a outra mão, Quinn começou a conjurar uma enorme esfera de energia.

— Máquina desgraçada, morra! — rugiu Quinn, erguendo o braço em sua direção.

— Icrow, cresça!

Icrow correu até seu pescoço, e num instante, aumentou seu tamanho drasticamente, cobrindo completamente seu rosto.

Com a visão bloqueada, Quinn errou seu golpe.

Aproveitando a brecha, Rostov transformou seu braço direito em um punho robusto e desferiu um soco brutal em seu abdômen, com toda a força da sua estrutura metálica.

Quinn subitamente caiu no chão, inconsciente, devido ao choque em seu sistema nervoso.

— Conseguimos! — celebrou Icrow, pulando nas costas de Rostov. — Você o matou?

— Não. Meu mestre me ordenou a não matar humanos. Ele não vai morrer, mas sofreu feridas graves.

— Merda, ele derrotou o Quinn! — exclamou Thomas, irrompendo na sala.

— Foque o robô! O pequeno não é uma ameaça — advertiu Andrew, assumindo postura de combate.

— Não acredito que possamos vencer dessa vez, pequenino. Não me importarei se decidir fugir. Como você mesmo disse, você é um ser vivo. Eu sou apenas uma lata de metal. Você tem uma longa vida pela frente — declarou Rostov, impassível como sempre.

— M-mas... e você, Rostov? — questionou Icrow, hesitante.

— Sou apenas uma máquina. Não possuo sentimentos, não conheço a dor. Fui programado unicamente para cumprir as ordens do meu mestre.

— V-você foi o meu primeiro amigo de verdade. Eu me recuso a deixá-lo morrer sozinho! — gritou Icrow, com os olhos marejados. — E-eu não quero morrer... Mas também não quero que você morra!

Rostov permaneceu em silêncio por um instante, processando as palavras da criatura do Vazio.

— Hm. Não imaginava que criaturas do Vazio fossem capazes de terem sentimentos como os humanos. Lealdade... é isso, não é? Interessante. Atualizando meu banco de dados sobre criaturas do Vazio.

Andrew aplaudiu, rindo de maneira sarcástica.

— Que emocionante, hahaha. Bom, não posso garantir que o fim de vocês será bonito, mas pelo menos vocês não morrerão sozinhos.

Se Haldreth ou Ella não chegarem a tempo, Rostov e Icrow estariam condenados pelas mãos impiedosas dos irmãos Griffin.

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