Volume 1 – Arco 2
Capítulo 22: A Morte Ainda Não te Alcançou
Ella aterrissou violentamente sobre vários pinheiros, colidindo com força contra os troncos e deslizando pelas agulhas do pinheiro até atingir o solo.
Devido ao Castigo di Lancelot, ela caiu inconsciente, mas continuou viva, permanecendo desmaiada no chão por horas.
Ella despertou com um sobressalto ao sentir a língua de um filhote de urso pardo lambendo seu rosto, espantando-o rapidamente.
Sem hesitar, Ella se levantou, sentindo uma dor intensa, e sacou seu revólver, apontando para o filhote, assustada. O pequeno urso bramia de medo.
— Pra trás! — gritou Ella, com uma mão nas costas. — Porra, que dor.
Quando de repente, a mãe do filhote apareceu atrás dela e a derrubou ferozmente.
A ursa subiu em cima de Ella e a mordeu agressivamente, protegendo sua cria com a mais brutalidade de um animal selvagem.
O animal mordia a sua perna e a arrastava contra o solo molhado.
Ella tentou pegar sua faca, mas a ursa a virou e rasgou suas costas com suas longas garras afiadas. Ella gritava de dor, agonizando.
Sem alternativa, Ella fingiu-se de morta, enquanto a chuva torrencial caia sobre seu corpo ensanguentado, cujas as gotas de água adentravam suas feridas.
A ursa, pesando mais de duzentos e cinquenta quilos, subiu em suas costas, farejando seu pescoço ensanguentado.
A baba do animal caía sobre o rosto de Ella, escorrendo até sua boca, enquanto ela se esforçava para não gritar de dor. Quando a ursa finalmente saiu de cima dela e foi verificar seu filhote, Ella pôde respirar.
Rastejando-se até seu revólver, Ella o agarrou e mirou na cabeça da ursa. Ela definitivamente precisava acertar esse tiro.
Bang!
O tiro passou de raspão pelo olho do animal. A ursa avançou impetuosamente, rasgando o peitoral de Ella com seus dentes afiados e mordendo seu oblíquo. Ella tentou afastar a ursa com as mãos, mas a ursa mordeu sua mão direita barbaramente
— Aaaaaaagh! — Uma dor ainda mais excruciante tomou conta de sua mão.
A ursa a virou novamente, rasgando seus ombros enquanto mordia suas costas, lançando-a de um lado para o outro. Ella fingiu-se de morta mais uma vez, embora estivesse à beira da morte.
O animal farejou seu pescoço e lambeu seu rosto antes de sair de cima dela. Embora o tiro tivesse pego de raspão, o pescoço da ursa sangrava profusamente.
Ella lentamente pegou a faca escondida na lateral de sua bota, sem alertar o animal.
— Flammeum Gladium — sussurrou Ella.
A lâmina da sua faca envolveu-se em chamas, alertando a ursa, que velozmente correu em sua direção.
Ella golpeou o animal enquanto este rasgava ainda mais seu corpo.
A faca de Ella entrava e saía do corpo da ursa, fazendo-a rugir de dor. Mas uma mãe na natureza era imbatível, apesar dos ferimentos, a ursa continuou atacando, movida pelo instinto de proteger sua cria.
Foram necessários mais de sete golpes com toda sua força para matar o animal. No seu suspiro final, a ursa caiu morta sobre Ella.
Ella usou toda sua força para empurrar o corpo da ursa para cima.
— Yaaaargh!
Ella finalmente conseguiu colocar sua cabeça para fora do corpo, podendo respirar.
Sua respiração era pesada e lenta. Cada vez que respirava, seu corpo inteiro ardia de dor.
Ella colocou a mão direita para fora e tentou se arrastar, gritando de dor. Em seguida, virou o corpo e colocou a outra a mão, agarrando o solo e se arrastando debaixo do corpo imensamente pesado da ursa.
— Uuuuggh! — gritava Ella, acompanhada por sua respiração pesada.
Lentamente, ela saía debaixo do corpo do animal.
— Graaah! — Depois de dois minutos, conseguiu retirar as pernas debaixo do corpo do animal.
Estava livre, mas à beira da morte, com diversas feridas profundas sobre seu corpo.
Ella rastejou até seu revólver e o guardou no coldre. Tremendo, retirou a bainha da cintura e a usou como uma bengala. Com toda sua força, levantou-se e apoiou-se em uma árvore.
Esse era o pior momento para estar sem sua jaqueta. A mesma, era feita de couro com fibras de Rubrannium, para impedir que sua roupa se queimasse quando Ella usasse sua Vontade. Teria absorvido a maioria dos ataques da ursa.
Pouco tempo em pé, Ella caiu novamente. Permaneceu no chão, respirando de forma pesada, enquanto pensava no que fazer para sobreviver.
Juntando as pouquíssimas forças restantes, ela levantou-se novamente e caminhou pela floresta, seguindo o som de um riacho. Se houvesse algum humano ali, ele só poderia estar lá.
Uma figura humanoide estava à beira do riacho, essa era a última esperança de Ella.
— Por favor... me ajude — pediu Ella, aproximando-se.
Quando a figura se virou, sua boca tinha um pedaço de carne humana. Ele era enorme, com bolhas roxas espalhadas por todo o corpo. Seus olhos tinham a cor de um âmbar brilhante.
Seus dentes eram selvagens, com os caninos inferiores projetando-se para fora da boca. Aquele era, sem dúvidas, o estágio mais avançado de corrupção, conhecidos como Golias.
— Puta merda — murmurou Ella, recuando lentamente.
O Golias avançou contra Ella, derrubando-a no chão e tentando morder seu rosto a todo custo.
Ella, rapidamente, pegou sua faca e enfincou no ouvido da besta, desnorteando-a brevemente. Assim, ela rastejou até o riacho.
A criatura caminhou até Ella, puxando-a pela perna como se fosse uma mera presa. Ella virou-se e disparou um tiro contra o rosto do Golias, que a largou dentro do riacho.
Na queda, Ella acabou batendo a cabeça em uma pedra do riacho, e a forte correnteza a levou inconsciente água abaixo. Mas aquela não era a hora de Ella morrer. Não agora.
O corpo de Ella flutuou até o trecho onde um cavalo estava bebendo água. Destino, ou simplesmente sorte, era o cavalo de Tristan.
Ao avistar o corpo, Tristan rapidamente saltou no riacho e a agarrou, trazendo-a para a margem.
O corpo de Ella estava gelado. Impossível em situações comuns, mas isso sinalizava que estava com pouco tempo de vida. Tristan colocou dois dedos no pescoço de Ella para verificar seu pulso carotídeo. Ela ainda estava viva.
Tristan precisava agir rápido para manter Ella viva. Perto do riacho, havia um chalé abandonado. Sem hesitar, ele levou Ella para lá, repousando-a sobre a mesa da sala.
Ele tirou sua camisa e a rasgou em tiras para estancar as feridas de Ella, uma solução temporária. Em seguida, pegou seu cavalo e cavalgou para a floresta, em busca de ervas medicinais.
Estava procurando uma calêndula ou uma tanchagem, qualquer uma das duas serviria naquele momento.
Tristan deixou seu cavalo em uma parte da floresta e começou a busca pelas plantas. Aquela chuva intensa e congelante caía sobre suas costas, mesmo tremendo de frio, ele não parou de procurar. A vida de Ella dependia dele.
Após dez minutos procurando, finalmente conseguiu encontrar duas tanchagens.
Voltou correndo ao cavalo imediatamente, em poucos minutos já estava dentro do chalé.
Tremendo de frio, ele colocou as duas plantas dentro de uma tigela que havia encontrado dentro da casa e as esmagou continuamente.
Tristan tirou as roupas de Ella, deixando-a nua. Suas roupas estavam completamente encharcadas de água e sangue.
Com a água do seu cantil, ele limpou cada ferimento dela.
Tristan levantou e sentou o corpo de Ella, aplicando a pasta das ervas medicinais sobre suas feridas.
“Por que eu não trouxe um kit de primeiros socorros?” pensou, passando a pasta lentamente.
Ella estava com ferimentos por todo seu corpo, até mesmo em suas pernas e cabeça.
Após terminar de tratá-los, rasgou sua calça para fazer bandagens e estancar os sangramentos.
Tristan pegou sua mochila e colocou como um travesseiro para Ella, virando-a de lado. Procurou pelo chalé inteiro por um cobertor, mas tudo que conseguiu encontrar foi um pano sujo.
— Ella, não morra, tá legal? Eu já volto — disse Tristan, passando a mão em sua cabeça.
De volta a floresta, ele coletou galhos e folhas de pinheiro.
Ele repousou as folhas sobre o corpo de Ella, na tentativa de esquentá-lo, e os galhos, colocou na lareira do chalé.
Antes de acender a lareira, ele fez questão de colocar seu cavalo para dentro do chalé. Estava realmente frio lá fora.
Tristan retirou um casaco da bolsa da sela do cavalo e vestiu. Seu traje ficou engraçado: apenas um casaco e uma cueca. Ele pegou um cantil de bolso em sua mochila, estava cheio de uísque.
— Me perdoe pai. Sei que você ama um bom e velho Jack Daniels — disse Tristan, jogando uma quantia considerável de uísque nos galhos e acendendo a lareira com um isqueiro.
Aquecendo-se frente à lareira, ele verificava a pulsação de Ella de tempos em tempos. Passou o restante do dia e toda a madrugada em frente aquela lareira, apenas garantindo a sobrevivência de Ella.
Logo pela manhã, quando o sol surgiu, Tristan foi encher seu cantil de água. Ao retornar ao chalé, Ella estava levantando, com as folhas de pinheiro caindo de seu corpo.
— Ella! Não levanta, espera! — gritou ele, correndo até ela.
— Água... — pediu Ella, rouca e com dificuldades para falar.
Tristan entregou o seu cantil e Ella bebeu a água como se não houvesse amanhã, esvaziando-o em segundos. Ella deitou novamente.
— Obrigada... — disse Ella, quase sem forças para manter os olhos abertos.
Tristan verificou seu pulso novamente. A temperatura do corpo de Ella aumentava lentamente. Ele recolheu as folhas de pinheiro que caíram no chão e as colocou sobre o corpo de Ella.
— Ella, você tá me ouvindo? — Tristan se ajoelhou ao lado dela. — Aqui perto tem o chalé de um homem muito bom, ele pode cuidar de você, mas eu preciso que você fique acordada. Por favor...
— Se eu colocar seu corpo deitado no cavalo, tenho medo que a bandagem improvisada que fiz em você caia. Eu preciso que você fique consciente.
— Eu... preciso... descansar — disse Ella, com dificuldades.
Ella virou a cabeça para ele, com apenas um olho aberto. Tristan notou a beleza dos olhos de Ella pela primeira vez.
— Pode descansar, eu estou aqui. Não deixarei que nada de mal aconteça com você.
Ella fechou seu olho e tornou a dormir.
Tristan aproveitou o amanhecer para caçar algum animal.
Era arriscado deixá-la sozinha na cabana com seu cavalo, mas ela também precisava se alimentar para restaurar suas energias. Era um risco necessário.
Marc mais uma vez estava correto. Se tivesse escolhido Owen, ele não teria todo esse trabalho para manter Ella viva.