Murphy Brasileira

Autor(a): Otavio Ramos


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 1: Essa é a verdadeira história que você resolveu iniciar

O Pináculo das Montanhas Brancas se erguia a uma altitude de mil metros acima da metrópole de Rubra, tornando a jornada até a cidade uma tarefa árdua. Por esse motivo, apenas os exploradores eram autorizados a deixar a comunidade.

Para se tornar um explorador, era necessário atingir a maioridade e passar no teste rigoroso realizado pelos líderes. Ella obteve a pontuação mais alta no teste sem dificuldade alguma, garantindo seu lugar entre os melhores exploradores da comunidade.

Após dois dias de uma árdua caminhada, finalmente chegara ao sopé da montanha. Era a primeira vez em sua vida que pisava no solo rodeado de lendas e segredos de Rubra.

Ella podia pressentir o perigo que a aguardava, mas nada superava a sua inata curiosidade pelo desconhecido.

Montou um pequeno acampamento aos moldes do que seu pai lhe ensinou e se deitou.

Estava totalmente exausta depois de andar mais de vinte quilômetros sobre as exuberantes florestas montanhosas de Rubra.

Desabou em um sono tão profundo que nada a acordaria.

Suas memórias tomaram o formato de um sonho, era o dia em que seu pai se despediu. Suas palavras estavam tão vívidas, era como se aquele momento estivesse se repetindo novamente em sua frente.

O rosto de seu pai começou a se distorcer e repentinamente tudo ficou escuro.

Em meio ao breu, uma silhueta cinza se destacou, uma voz suave sussurrou para Ella:

— Você está com tanto medo, com incontáveis receios e incertezas. Vejo uma mente tão frágil, mas também, uma ambição inigualável. Espera… não vejo nenhuma Restrição de Infinidade em você. Ella Murphy, você é realmente fascinante.

A silhueta se dissipou e a voz sussurrou suas últimas palavras:

— Não deixe suas memórias se esvaírem, o destino de todos está em suas mãos. Essa é a verdadeira história que você resolveu iniciar.

Ella acordou sobressaltada, com o coração acelerado e com lágrimas em seus olhos. Ela se sentou e secou seus olhos enquanto olhava ao redor do acampamento.

Não havia ninguém lá. Foi então que percebeu que tudo não passou de um sonho vívido. Mas havia algo a perturbando profundamente.

Quem era aquela silhueta cinza?

Com a mente cheia de dúvidas, Ella decidiu seguir em frente com sua jornada pelas Ruínas de Rubra. Ainda estava no começo e sequer havia entrado na metrópole.

Vários destroços e prédios caídos bloqueavam a entrada convencional, mas perto do seu acampamento havia uma cova no chão, possivelmente causada pela erosão.

Era grande o suficiente para Ella passar.

A cavidade a levou até uma linha de metrô abandonada, outrora um local movimentado com inúmeros transeuntes, agora se encontrava em ruínas, sem nenhum resquício de vida, exceto pelas monstruosas criaturas do Vazio que habitavam em larga escala o subterrâneo de Rubra.

Diante dela, um perseguidor estava andando pelos corredores do metrô em que estava.

Estas criaturas atingiram o segundo estágio de corrupção. A maneira com que o Vazio deteriorava o corpo humano era horrível.

Nesse estágio, os humanos já estão cegos, perderam a maioria dos resquícios de humanidade que ainda restavam neles.

Pele roxa, espinhos dispostos por todos seus corpos e olhos laranjas cintilantes. É até difícil imaginar que um dia já foram humanos.

Se orientam apenas pela audição, extremamente aguçada, capaz de ouvir sons num raio de dois quilômetros.

O coração de Ella acelerou ao se deparar com ele, nunca havia enfrentado um deles.

Ella conhecia suas fraquezas e sabia do que eram capazes; uma simples mordida ou arranhão poderia espalhar a corrupção por todo seu corpo.

Mesmo desembainhando sua rapieira lentamente, o perseguidor ouviu e correu freneticamente em sua direção.

Com um simples e preciso ataque, Ella decepou sua cabeça.

A criatura se ajoelhou e caiu morta no chão.

Ella pegou seu corpo e o colocou sentado em um dos assentos do metrô; agarrou um cobertor que estava em outro assento e colocou sobre seu corpo.

Aquilo simbolizava um enterro para a pobre criatura.

Depois do que Ella presenciou com sua mãe, todos os corrompidos se tornaram vítimas para ela.

Não mais inimigos, não mais humanos, mas almas que clamavam por alguém para libertá-las.

Continuando pelos trilhos do metrô, Ella chegou à estação, estava vazia como esperado.

Todas as lojas estavam abandonadas, destruídas e saqueadas. Exceto uma, uma se manteve intacta, mesmo depois do mundo ruir.

Não era bem uma loja, mas sim um departamento de contratação de caçadores do Vazio.

Era um departamento moderno, que refletia o avanço da tecnologia da sociedade da época.

Um totem de papelão de tamanho real do Aslan e um outro homem, quando eram adolescentes, estava posto em frente ao departamento. A garota correu rapidamente em direção a ele.

Seu pai já a havia mostrado várias fotos de quando era adolescente, e na maioria das fotos, o mesmo homem que estava junto a ele no totem aparecia.

Ela lembrava dele, Aslan já havia comentado sobre ele. Scott Miller era seu nome, ela lembrou.

Um homem generoso, tão forte quanto ele, mas um pouco temperamental. Num geral, era um homem de honra.

Mais que seu amigo, era um irmão para Aslan.

— Pai... — disse Ella, enquanto alisava a figura de seu pai. — Eu sinto tanta sua falta... eu prometo que vou te encontrar.

Ella encostou sua cabeça no totem de papelão; se ele fosse menor, certamente ela o levaria consigo em sua viagem.

Repentinamente, das sombras surge um homem, a assustando e fazendo com que ela empunhasse sua rapieira em questão de milissegundos.

Assim como ela, ele também portava uma espada.

Era um homem extremamente alto e forte, seu boné fazia uma sombra que tampava seus olhos e, surpreendentemente, havia uma águia em seu ombro direito.

Ella não conseguia traçar seu próximo passo, ele era totalmente imprevisível e misterioso. Quem era aquele homem e o que ele queria?



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