Murphy Brasileira

Autor(a): Otavio Ramos


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 5: Uma contra todos

Gotas de água pingavam sobre o rosto de Ella e mesmo assim ainda não acordou. A potência daquele veneno era verdadeiramente singular.

— Está na hora de acordar, Bela Adormecida — zoou um homem misterioso, enquanto acariciava o rosto de Ella.

Com um sobressalto, Ella despertou e tentou se levantar, porém encontrou-se fortemente acorrentada à cadeira, com duas correntes de ferro prendendo suas mãos.

— Poupe sua energia, você está bem presa. Garanto que não vai conseguir escapar — afirmou o homem, apontando um rifle para Ella.

— Merda. Que porra é essa? Q-quem é você?! — exclamou Ella nervosa, puxando as correntes em desespero.

— Ah, quem eu sou não importa. Isso não é pessoal, são só ordens do Chaos.

— Chaos?! O que ele quer comigo?

— Bom, ele tem vários motivos, para ser sincero. Vamos lá, você é filha do único homem que derrotou ele, e outra, você é muito burra. Nunca ouviu falar dos Emissários? Você matou um deles, achou que sairia impune?

— Não, eu não… espera, você é um humano! Por que está trabalhando para o Chaos? Ele odeia a gente!

— Cada um sobrevive do jeito que pode. E sim, ele realmente nos odeia, mas quem se alia a ele tem mais chances de sobreviver nesse inferno. Então meio que eu não tenho outra escolha — falou o homem, enquanto acendia um cigarro.

— Ei, me escuta. Ainda dá tempo de fazer a coisa certa. Eu estou atrás do meu pai, e quando eu o encontrar, poderemos enfrentar Chaos e Rithan. A humanidade ainda tem chances. — Ella tentou convencê-lo amigavelmente.

— Você realmente acredita nesse conto de fadas? Sabe, Ella, eu não sei o que aconteceu com o seu pai, mas julgando pelo jeito que você falou, ele te abandonou. Se não voltou, é porque está morto. É assim que as coisas funcionam em Rubra. Desencana, não há ninguém que possa nos salvar, a humanidade é fraca perante o Chaos e o Rithan. — Finalizou com um trago profundo em seu cigarro.

Ella ficou sem palavras. Continuou quieta por um instante.

— Você não precisa fazer isso… por favor, me solta — implorou Ella, num tom melancólico.

— Não quero que me leve a mal, Ella, mas você ficar implorando não vai adiantar nada. Apenas aceite seu destino.

O homem começou a falar no rádio, discutindo com seus parceiros quanto tempo levariam para levarem Ella até Chaos.

Ela percebeu que tinha cerca de dez minutos para escapar dali antes deles chegarem.

— Nós temos que fazer o que for preciso para sobreviver, não é mesmo? — exclamou Ella, com tristeza.

— Isso aí, você tá pegando o jeito. — Riu ele.

— Você se importaria se eu cantasse uma música? Minha mãe costumava cantar para mim, ajuda a me acalmar.

— Vai em frente, só me deixa fumar em paz — concordou o homem, enquanto fumava olhando para a janela.

Ella começou a cantar num tom razoavelmente alto, sua voz era bela.

Tudo isso não passava de uma estratégia para encobrir o som das correntes se rompendo enquanto ela as derretia lentamente com as mãos.

“So go… My little one, I will sing a song until I know, my little one“. Cantarolou Ella.

Agora com as mãos livres, pegou a faca que escondia na lateral de sua bota e desamarrou suas pernas.

— Por que parou? A música estava boa.

— Você acredita em Deus? — Ella perguntou friamente

— Acredito, mas não acho que isso vá te salvar agora — respondeu o homem, enquanto soltava anéis de fumaça pela boca.

— Eu também... espero que Deus possa me perdoar — falou Ella, em seguida, partiu em disparada com a faca na mão.

Ella correu numa velocidade surpreendentemente sobre-humana, agarrou o pescoço do homem e o apunhalou com sua faca.

— Eu vou fazer de tudo para continuar viva, seu desgraçado! — gritou Ella, girando a faca dentro do pescoço dele e o apunhalando mais duas vezes.

Finalizou-o rasgando brutalmente sua garganta.

Ella naquele momento entendeu na péssima situação em que estava, mas faria o que fosse necessário para sobreviver.

Era assim que as coisas funcionavam em Rubra.

As vozes dos parceiros do homem ecoaram pelo corredor; vieram buscar Ella para levá-la até Chaos.

A garota precisava se esconder rapidamente e, avistando um duto de ventilação na parede, viu ali a oportunidade perfeita para o que planejava.

Com a ajuda de uma cadeira, conseguiu o alcançar e esconder-se, esperando sorrateiramente que abrissem a porta.

— Merda, merda, merda, o Edward... ele está morto! Avisem os outros e chamem reforços! — gritou um deles.

Rapidamente todos se uniram dentro da sala e debatiam freneticamente sobre o que fazer naquele momento, com a localização da Ella sendo o ponto central da discussão.

— Precisamos achar aquela vadia, porra. Vocês têm noção do que o Chaos vai fazer com a gente quando descobrir que a perdemos? — disse um dos homens, extremamente nervoso.

— Ela ainda deve estar no prédio. Vamos nos dividir em duplas e procurá-la. Ela não deve ter ido longe, ainda podemos pegá-la — sugeriu uma mulher.

— Já chamei o restante da facção. Não há chances de ela escapar — disse outro homem.

Ella empurrou a grade do duto de ventilação e gritou Explosive Flammae, disparando um projetil de chamas em direção a eles.

Todos tentaram escapar, mas era tarde demais. Em questão de segundos, a chama tocou no chão e irrompeu em uma explosão, incendiando a todos no local.

Ella permaneceu no duto, escutando os gritos angustiados das seis pessoas enquanto eram consumidas pelas chamas. Ela se sentia culpada, mas sabia, que no fundo, não havia outra escolha.

— Me perdoe, pai… Eu... eu não tive escolha — sussurrou Ella, enquanto rastejava pelo duto.

O duto havia uma saída para fora do prédio, mas sua fuga estava longe de ser concluída.

Ella precisava recuperar seus equipamentos que estavam em alguma sala no local.

A garota tomou outra direção pelo duto e continuou a rastejar pela instalação. Ao descer em uma das salas, foi surpreendida com um mata-leão.

Aparentemente, ainda haviam mais inimigos no prédio e eles sabiam que Ella estava à solta.

Rápida, puxou a faca da lateral de sua bota e a cravou na perna do homem, mas ele resistiu ao ataque, mantendo o estrangulamento.

Ella manobrou habilmente, entrando por baixo de seu oponente e usando toda sua força corporal para arremessá-lo ao chão brutalmente.

Velozmente, retirou a faca de sua perna e a usou para esfaquear seu peito até sua morte.

Os gritos do homem alertaram os outros no prédio e Ella pôde ouvir passos e vozes se aproximando no corredor. Com pressa, ela se lançou para fora da sala.

Três homens equipados com fuzis a avistaram e abriram fogo contra ela.

Celeremente entrou em outra sala sem ter sido atingida por nenhum disparo.

Seus equipamentos não estavam ali; havia apenas uma mesa de ferro e algumas cadeiras.

Ao olhar em volta, Ella observou uma janela bloqueada por uma barricada de madeira. Uma ideia surgiu em sua mente.

Ella usou a mesa para improvisar uma barricada, bloqueando a porta. Usando sua vontade, ela imbuiu sua mão em chamas e arrancou as pernas das cadeiras, soldando-as na mesa para reforçar a barricada.

Isso daria tempo para ela pensar no que fazer.

— Você não vai conseguir escapar. Já bloqueamos todas as saídas e reforçamos com mais homens. Apenas se renda — advertiu um dos homens.

“Que merda. A queda desse andar é de pelo menos dez metros, mesmo meus ossos sendo resistentes, eles se quebrariam. “.

Depois de alguns minutos de reflexão olhando por uma fresta na janela, Ella imbuiu seu punho com sua vontade solar e quebrou a barricada na janela, causando hesitação nos homens que estavam prestes a arrombar sua barricada provisória.

A garota olhou aos seus arredores pela janela e notou uma elevação no topo do prédio, onde poderia escalar e se esconder. Outra ideia surgiu em sua cabeça.

Embora arriscada e com grandes chances de fracassar, seus inimigos cegados pelo medo e ansiedade não perceberiam.

A mesa de ferro começou a pender para trás, quatro das pernas que haviam sido soldadas já haviam se soltado. Os homens estavam prestes a invadir.

Ella rapidamente pegou a última cadeira que ainda havia pernas, subiu pela janela e escalou um cano de água, até se esconder na elevação do prédio.

Ao ouvir a barricada ser arrombada, sem hesitar, ela imbuiu os pés da cadeira em chamas e violentamente a lançou em direção a um arbusto na base do prédio.

Seu plano era criar a ilusão de que havia saltado e usado as chamas para amortecer a queda, sendo assim, incendiando o arbusto e simulando sua fuga.

— A garota pulou! Rápido, todos vocês, para baixo! — gritou um dos homens.

Essa era a oportunidade perfeita para Ella escapar, mas ainda não era a hora, ela precisava dos seus equipamentos.

Quando ouviu os homens correndo para fora, escalou de volta para dentro do prédio cautelosamente.

Por algum motivo, um homem permaneceu dentro da sala, ele estava virado de costas para a janela, examinando a barricada que ela fez.

Ella silenciosamente e astutamente caminhou em sua direção, com um golpe preciso, o deixou inconsciente.

Poderia ter o matado, mas estava cansada de sujar suas mãos, só queria que tudo aquilo acabasse o mais rápido possível.

Com o homem desacordado, Ella pegou seu rifle.

Se tratava de um AR-15 com modificações militares para suportar balas de Rubrannium, a única capaz de perfurar a resistente pele dos Primordiais.

Ella conhecia quase todos os tipos de rifles, foi um conhecimento que seu pai a passou.

A garota furtivamente continuou sua busca pelos seus equipamentos.

Até que, finalmente, no primeiro andar, em uma sala destruída, lá estavam eles, sobre uma mesa antiga de madeira: sua rapieira e seu revólver.

Pegá-los depois de tanto tempo foi revitalizante, o suficiente para fazer Ella sorrir de alegria. Sua espada era o único presente que tinha de sua mãe.

Mesmo sendo apenas uma espada, nutria um amor incondicional por ela. Assim como sua Colt Python, o revólver dado por seu pai antes de sua partida.

Eram seus bens mais preciosos e faria de tudo para mantê-los consigo.

Passos ecoaram no corredor.

— Eu a vi descer pelas escadas. Ela está em alguma das salas e as saídas estão todas bloqueadas. O que vamos fazer? Nos separaremos e procuraremos em cada sala?

— Não, porra, você não viu o que ela fez com os outros? Ficar sozinho é pedir pra ser morto por ela. Essa desgraçada tem o treinamento de um Águia, sem dúvidas é a filha do Aslan Murphy. Por isso que Chaos a quer tanto.

— Vamos nos dividir em três grupo de três então. Será mais rápido e seguro. Vamos eu e vocês dois pela frente, vocês três vão pela esquerda e o restante pela direita. E não a matem! Se fizermos isso seremos mortos pelo Chaos.

Todos concordaram e se dividiram. Ella, escorada na parede, furtivamente escutou tudo atentamente, agora ciente da situação e das suas vantagens.

Ela era uma exímia oponente e eles não podiam simplesmente eliminá-la. Para sobreviver, ela precisará sujar suas mãos ainda mais.



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