Volume 1 – Arco 1
Capítulo 6: Carnificina
Três homens adentraram na sala onde Ella se encontrava, enquanto ela, escondida atrás de uma mesa tombada, desembainhava sua espada lentamente, preparando-se para o confronto.
Seus inimigos caminhavam cautelosamente em sua direção, um pela direita, outro pela esquerda, e um pelo centro.
Ao avistar a sola de uma bota a sua esquerda, ferozmente investiu contra o homem, rasgando sua garganta com sua rapieira.
Pegando impulso na parede atrás de si, Ella realiza uma arrancada contra o homem do meio, decepando seu corpo do abdômen para cima.
Imbuindo sua espada em chamas, a atirou contra o rosto do último homem, levando-o à morte instantaneamente antes que ele pudesse abrir fogo contra ela.
Ella matou três homens armados em menos de dez segundos. O treino com o Andarilho amplificou suas habilidades de forma inimaginável.
Ella suspirou ao observar os três corpos ensanguentados no chão.
Inspirou profundamente ao ouvir mais passos vindo em sua direção. Matá-los fez muito barulho e, consequentemente, atraiu os outros seis homens.
Eles já estavam no corredor, não havia escapatória, mas Ella com uma inteligência inigualável, concebeu um plano.
Pegou o corpo de um dos homens que havia matado e o lançou em direção ao corredor.
Em meio ao ar, Ella fez seu corpo explodir com o mesmo encantamento que havia usado na batalha contra Deathbringer, Explosive Flammae, criando uma nuvem de sangue, restos humanos e fumaça no corredor.
Os homens se assustaram e começaram a atirar descontroladamente, enquanto Ella rastejava rapidamente pelo corredor, sem ser percebida.
— Entrem na sala, rápido, isso foi uma distração dela! — gritou um deles. — Entrem atirando, sem parar!
Ella viu a brecha perfeita.
Todos entraram na sala, que também estava coberta de fumaça, o que permitiu que ela contornasse os homens pela retaguarda.
Após os tiros cessarem na sala e a fumaça se dissipar, perceberam que a garota não estava lá, mas já era tarde demais.
Com o rifle que havia pego, Ella atirou pelas costas de todos, exceto por um homem, a quem ela atirou em sua perna.
Ele rapidamente tentou apontar sua arma para Ella, mas ela a chutou para longe e pisou em sua mão. O homem gemeu de dor.
— Eu não tenho nada a ver com isso… foi o Chaos, nós trabalhamos pra ele — disse o homem, arfando de dor, enquanto Ella pisava em sua mão.
— Eu sei — respondeu Ella, disparando um olhar de desdém para ele. — Há mais de vocês por aqui ainda? Conte e talvez você saia vivo.
— Não… estávamos guardando a saída, mas nos mandaram vir te caçar. Você já… matou todos.
— Se aliar ao Vazio é imperdoável… mas não irei te matar, deixarei com que Chaos faça isso. — Ella chutou seu maxilar, o desacordando.
Ella jogou o rifle que carregava no chão e caminhou em direção a saída. Ao abrir a porta, pôde sentir a liberdade novamente.
Sair daquele ambiente sufocante era uma sensação inexplicavelmente revigorante.
— Eu nem acredito que consegui… — disse Ella, se ajoelhando. — Obrigado Deus.
— Caraca em… que massacre rolou aí dentro — comentou o Vendedor Viajante, surgindo inesperadamente de um arbusto.
— Aaah, da onde você surgiu? — Ella se assustou com a aparição repentina.
— Eu estava assistindo o tempo todo, e particularmente, tenho que te dar os parabéns. Sua inteligência de combate é fenomenal. Vi isso em apenas duas pessoas em toda minha vida. Um incrível poder de observação, visão além do alcance e uma forte percepção. Suas habilidades com espadas e vontade… elas são verdadeiramente únicas! Eu diria que se a Comissão dos Caçadores ainda existisse, você teria nascido com o que chamávamos de “Dom dos Caçadores“.
— Espera aí! — disse Ella, se levantando. — Você estava assistindo o tempo todo? Por que diabos você não me ajudou? Você tem noção do sufoco que eu passei aqui? Eu poderia ter morrido!
— Não, não poderia. Se eles te matassem, Chaos mataria a todos e garanto que eles não queriam isso.
— D-de todo jeito, por que você não me ajudou?! Poderia ter sido bem mais fácil! — gaguejou Ella, visivelmente estressada.
— Se eu tivesse te ajudado, você não teria descoberto seu potencial. Você matou dezessete pessoas sozinha, tem noção disso? — respondeu o Vendedor, serenamente. — Agora eu sei que você pode sobreviver em Rubra.
— Dezessete pessoas? Meu Deus... — exclamou Ella, com seu rosto evidenciado em choque.
— Vamos pro meu acampamento antes que o próprio Chaos chegue aqui. Ele você não consegue enfrentar, hahaha — brincou o Vendedor
Caminharam juntos até o acampamento do Vendedor Viajante.
Sentaram-se lado a lado e jantaram um delicioso ensopado de frango que ele trouxe da UCC.
— Onde exatamente eu estou no mapa? — perguntou Ella com a boca cheia, enquanto mostrava o mapa ao Vendedor. — Eu sabia onde estava indo, mas agora estou totalmente perdida.
— Vejamos... o Okazaki tem uma péssima coordenação motora, a rota que ele traçou está toda torta, hahaha — O Vendedor riu enquanto examinanava o mapa.
— Oka… quem? — indagou Ella, confusa com o nome mencionado.
— Ah, ninguém em particular. Foi só a memória de um antigo amigo. Acho que pensei alto demais — respondeu o Vendedor, com um olhar nostálgico.
— Estamos aqui. — O Vendedor apontou no mapa. — Pelo que vejo nessa outra rota traçada, você pretende seguir para a superfície pelo laboratório, certo?
— Sim, um homem que eu conheci disse que esse é o melhor caminho.
— Realmente é o melhor caminho. Eu não tracei essa rota porque teria que passar pelo coliseu, isso que me preocupava. Mas agora que vi do que você é capaz, acho que não terá problemas se você seguir essa rota.
— Mas o que é esse coliseu?
— Ah, o Coliseu… — O Vendedor riu e cruzou seus braços. — Para ser honesto, aquele lugar é uma pérola. Humanos e criaturas do Vazio lutando entre si por puro entretenimento, de vez em quando aparece alguns Emissários. Eu nunca perdi uma batalha.
— Mas as criaturas do Vazio se importam com isso? — questionou Ella, confusa.
— O grande lance é que a Criatura do Vazio que ganha o torneio, tem grande chance de ser reconhecido pelo Chaos — respondeu o Vendedor, assoprando sua tigela com sopa.
— Mas o que eu não entendo é, se o Chaos quer acabar com a humanidade, por que ele criou um coliseu pra lutar contra nós? — perguntou Ella, colocando a colher da sopa em sua boca.
— Não sei. Entender o que se passa na mente de um ser de outra dimensão é complicado. Mas eu acredito que seja pra provar a suposta superioridade do Vazio. Bom, estou invicto, eles não são tão superiores como pensam.
— Você disse que eu tenho que passar pelo coliseu. Então eu tenho que vencer uma luta lá?
— Exatamente. Até onde eu sei, o coliseu é uma das únicas formas de atravessar para a superfície. A rota que eu tracei, te levaria para um lugar que tem um buraco no teto, dá pra alcançar por lá também, mas é relativamente bem longe. Neste exato momento, o coliseu é a opção mais perto de nós.
— Você tem algum conselho pra mim? — pediu Ella, um pouco receosa.
— Bom, primeiramente, nas redondezas do coliseu as lutas não são permitidas, então é um lugar relativamente seguro. Não saia brigando com qualquer um por lá, se não pode ser severamente punida. Segundamente, tome cuidado com os humanos que rondam por lá, especialmente com um sujeito que se veste como um palhaço, ele é o mais perigoso… seu nome é Quinn. Ele tem uma tara incomum com mulheres e um nível de poder comparável com o meu, para você ter noção.
— Bem… eu nunca te vi lutar, então não sei exatamente o quão forte você é — confessou Ella, um tanto tímida
Nesse momento o Vendedor quebrou a cara, pensava que seu poder era evidente.
Ella ainda não compreendia técnicas como a Ocultação de Presença.
— Lembra do cara que você enfrentou na prisão? Quinn é pelo menos três vezes mais forte que ele.
— O Samuel? Espera, como você sabe que eu lutei contra ele?
— Isso não vem ao caso — desconversou o Vendedor. — Tudo que precisa ter em mente, é que você não pode enfrentar ele de jeito nenhum. Entendeu? Dois conselhos básicos, não arranje brigas e não lute contra o Quinn.
— Eu entendi, eu entendi… mas porque ele é tão forte? Ele é um ex-caçador ou algo do tipo?
— Não faço ideia. Como eu disse, ele é maluco e tem uma fixação por mulheres. Quando eu tentei falar com ele, disse que só conversava com mulheres e que não compraria nada das minhas bugigangas. Como aquele palhaço miserável se atreve? — disse o Vendedor, indignado.
Ella riu com o jeito sinistro e cômico de Quinn.
— Talvez eu consiga tirar algumas informações dele. – Riu Ella.
— Faça o que quiser, só não lute com ele — alertou o Vendedor, se deitando após finalizar o jantar.
Assim terminaram a noite. O Vendedor Viajante tinha histórias interessantíssimas para contar para Ella, passaram horas rindo e se divertindo. Foram dormir por volta da meia-noite, o dia seguinte seria longo para ambos.