Volume -5
Capítulo 7: Miasma, O Refúgio dos Revolucionários
“— Você sabe por que… Miasma é conhecida também como o ‘Refúgio dos Doentes?!’”. O vendedor havia questionado com um sorriso no rosto.
Nada Abigail respondeu, apenas interessado na quantidade abismal de canalizadores mágicos. Então o vendedor, ao ver aquela ausência de resposta, se sentou sob uma das caixas, e começou a contar a história da cidade.
“Quando os primeiros arcanistas do mundo, os 6 reis magos, se encontraram oprimidos e perseguidos pelos adeptos mágicos das religiões, como clérigos, inquisidores e padres de batalha, eles fugiram para o reino de Tebalion, ou melhor… para a série de tribos que se encontravam espalhados pelo atual território tebaliano.
A tribo tebaliana, na época chamada de “Tribalion”, estava em menor desvantagem e perto da sua completa aniquilação pelos inimigos, inimigos esses que por estarem ganhando, eram arrogantes demais para considerarem apoiar os reis magos.
Tribalion, em desvantagem extrema, não hesitou em acolher os reis magos, que com seus tremendos poderes, venceram e dominaram todas as outras tribos, assim criando um estado unitário, o Reino de Tebalion.
Para parabenizar os Seis Reis Magos, lhes haviam sido dado um território que antes pertencia à uma tribo inteira, e com esse território, havia sido criado o território autônomo da Cidadela Mágica, um lugar para abrigar todo tipo de usuário de magia e financiar mais pesquisas arcanistas, e em breve, de várias outras formas de magia.
Entretanto… após a morte dos Seis Reis Magos, conforme o tempo foi passando e mais tipos de magia foram sendo descobertas, houve uma guerra ideológica interna, diferentes tipos de conjuradores lutando, fisicamente ou ideologicamente uns contras os outros para provarem que sua forma de magia era superior.
Os nobres da capital tebaliana viram isso e, decidiram intervir, oprimindo e expulsando os “mágicos degenerados” da Cidadela, deixando apenas arcanistas para pesquisas e feiticeiros para serem estudados em experimentos arcanistas nefastos.
Entretanto, com uma grande quantidade de mágicos espalhados pelo reino, coisas ruins começaram a acontecer, como ataques à capital, destruição em massa e dentre outros.
Querendo evitar o problema, a solução da capital tebaliana foi criar cidades ‘não-relacionadas à Cidadela’ para ‘abrigar’ os viajantes mágicos cansados.
Mas mal eles sabiam que…
A única coisa que eles encontrariam seria um abatedouro generalizado criado para extermínio de mágicos.
A solução deu certo, com o passar dos séculos, mágicos que eram expulsos da Cidadea iam nessas cidades, se alojavam nelas, e quando dormindo, eram degolados e mortos pelos guardas da cidade. Deu certo porque… até o mais poderoso dos mágicos, quando indefeso e mentalmente inativo, pode ser facilmente executado.
O governo dessas cidades sempre guardavam os equipamentos mágicos para devolver à Cidadela, até que um dia…
Um enorme escândalo político, o governo de uma das cidades fazia comércio com um grupo de revolucionários que viam a cidade como um mero fantoche híbrido e sem identidade da Cidadela e do Estado Tebaliano, sem que recebessem verba para crescer, apenas para capturar e matar.
A cidade fora dominada pelos revolucionários, que com os canalizadores mágicos, lucravam com suas vendas à superpotências desesperadas por material de pesquisa mágico, ou em outros casos, as usavam como armas para defender a cidade contra a Cidadela e o estado tebaliano.
A guerra durou bons anos, reinos interesseiros de fora se metendo e enviando seus soldados para ajudar os revolucionários, a alta burguesia mundial financiando os revolucionários em troca da venda de canalizadores mágicos. Foi o momento do mundo onde o conhecimento mágico mais se espalhou, tirando a especialidade de Tebalion na área, e isso não agradou nenhum deles.
A guerra continuou por longas décadas, era basicamente dois sub-reinos dentro de Tebalion, lutando entre si e com a Cidadela tendo apoio tebaliano.
Ou… era assim inicialmente, pois com o tempo, reinos passaram a não só financiar a guerra, mas também começaram a participar ativamente dela, enviando colonos para destruir e dominar as cidades do oeste do reino, aonde ficava essa cidade revolucionária.
Parecia que a guerra não teria um desfecho nunca, na verdade, era como se Tebalion, por causa da Cidadela, seria completamente depenada, dominada por revolucionários e reinos do ocidente, a guerra já estava consumindo cerca de 40% do território tebaliano.
Cansados disso, Tebalion parou de apoiar a Cidadela financeiramente, e colocaram seus absurdos soldados em jogo, varrendo o reino do centro até oeste, exterminando qualquer coisa que vissem se mexer e destruindo qualquer assentamento, seja de civis, da Cidadela, dos revolucionários ou de reinos vizinhos.
Eles conseguiram recuperar grande parte dos territórios, mesmo matando milhares de civis e habitantes da Cidadela, mas mesmo assim, os revolucionários continuavam bravos em sua causa, e com táticas de cerco eficientes, conseguiram parar o ataque e focar completamente na defesa, assim impedindo o ataque tebaliano.
Mas em breve, o oportunismo dos reinos vizinhos havia sido a destruição dos revolucionários e deles mesmos, pois com os revolucionários lutando até o osso para impedir o avanço inimigo, esses reinos decidiram ir contra os próprios revolucionários, buscando já assegurar territórios de uma guerra já perdida para os o grupo.
Os revolucionários foram espremidos de oeste à leste, com o financiamento desses reinos tendo acabado e agora tendo que lutar em duas frentes ao mesmo tempo, não foi outra, em questão de meras semanas, o território que compunha 20% do território tebaliano, havia sido reduzido para míseros 0,7%, menos que seu tamanho original, sobrando apenas o necessário para construir forcas e forças para executarem os revolucionários.
Alguns revolucionários conseguiram escapar do reino, pois assim que os destruíram, separaram apenas uma pequena parcela do exército para cuidar da execuções, enquanto a enorme maioria estava ocupada esmagando os reinos vizinhos que haviam invadido Tebalion.
E depois de 2 meses, não só tudo havia sido recuperado, como aproveitaram para já dominarem os reinos vizinhos e os anexarem, assim também dominando partes dos reinados ocidentais.
Algumas décadas depois, a Cidadela se reconstruiu, se tornando menos autônoma sobre suas políticas, sendo obrigados a obedecer mais as ordens da capital, e com menos autonomia da Cidadela e mais desespero de Tebalion para voltar a ser uma superpotência na magia, para se diferenciarem, Tebalion ordenou que a Cidadela acolhesse todos os tipos de mágicos, para assim, obterem mais conhecimento mágico e se tornarem novamente o reino superior nisso.
Assim, as cidades para executar mágicos exilados voltaram, mas agora, voltada apenas à executar exilados políticos específicos… como você!”. Disse o homem, encerrando sua história e olhando para Abigail, com um sorriso no rosto.
Abigail, perplexa, apenas deduziu e questionou…
— E… que cidade… era essa que começou a revolução…? E… uh… onde estão esses revolucionários que fugiram?!
O vendedor e os seus dois filhos olharam uns pros outros e começaram a rir, e Abigail logo entendeu.
— Espera… vocês são eles? E continuam matando mágicos para vender as coisas deles?!
O vendedor, parando de rir e cauteloso com as palavras, olhou sério para Abigail, dizendo:
— Olhe, Abigail, primeiro… deixe me apresentar… Eu sou Ferdinand Ravencroft, antigo líder da décima sétima divisão de batalha da Frente Revolucionária de Antiga Miasma, e esses são meus filhos; Ludwig Ravencroft — disse ele, apontando para o filho mais velho e hiperativo. — E esse é o meu filho mais novo, Wolfgang Ravencroft. — disse apontando para o filho mais quieto e introvertido, com o mosquete na mão.
Então após se apresentarem, Ferdinand se pôs a responder a pergunta de Abigail:
— Olha Abigail, nós não matamos mais, apenas… tomamos, e… às vezes tomamos alguns órgãos como pagamento, apesar de que os nobres da capital tebaliana ainda exigem que ainda matemos os exilados que passarem por aqui.
Abigail, coçando a cabeça com seu único braço, questionou à Ferdinand:
— Mas… por que… vocês não roubaram meus órgãos?
Ferdinand, nervoso e sorridente, apenas respondeu :
— Nós íamos! Você dormiria na casa de Fred, e quando acordasse… bem, não teria mais algumas coisas que não fariam falta.
Abigail começou a suar muito, e com as pernas trêmulas, caiu sentada no chão.
— Oh… e-ele também faz parte disso?
— Todos da cidade fazemos parte, na verdade, estávamos guardando armamento para repetir essa revolução de novo mas nesse século agora sem reinos tão oportunistas nas fronteiras, afinal… estão todos ocupados lidando com o Culto de Lilith.
Ainda no chão e nervosa, Abigail questionou:
— E se… e se eu não dormisse naquela casa? Uh, eu tinha vindo nessa loja justamente pra comprar coisas pra poder dormir fora…
— Bem, se você fosse embora sem nos dar nada, essa bomba nas suas costas ia explodir e bem, você ia ser reduzida à estômago e vísceras — Disse Ferdinand, pegando na sua mão e a levantando, usando a outra mão para pegar uma mina redonda do tamanho de uma laranja que estava acoplada nas suas costas.
Abigail se surpreendeu, e questionou Ferdinand com uma tremenda agressividade:
— Mas o QUE é isso?! Como isso foi parar na minha roupa de dormir?!
De repente, o som do sino de quando a porta se abre tocou, e com o som das tábuas rachando e quebradiças, a figura começou a descer as escadas até onde estavam.
Era o brutamonte da taverna.
— Ei chefe, a pseudomaga não tava na cama dorm— disse o brutamonte, antes de se deparar com a cena de Abigail no chão e Ferdinand segurando a bomba que ele havia implantado nela quando estavam na taverna. O brutamonte apenas respondeu.
— Oh.
Abigail ficou absurdamente irritada, mais irritada em ser chamada de paeudomaga que em ter sido quase vítima de remoção de órgãos ou um assassinato violento, e com raiva, se levantou e começou a gritar.
— Mas… mas… o que DIABOS você acha que tá fazendo me chamando de paeudomaga?! Sua BALEIA BÍPEDE!!!!! MACACO RECÉM-EVOLUÍDO! ARGHHHH!! — berrou ela, batendo os pés no chão com muita força.
Ao ouvir aquilo, o brutamonte apenas se desculpou pelo imprevisto e subiu as escadas junto aos filhos de Ferdinand, aguardando fora da loja que a conversa acabasse.
Ferdinand a acalmou, dizendo:
— Não se preocupe, nós não iríamos fazer nada disso com você, não roubar seus órgãos, agora explodir essa bomba, uh, se você fosse embora sem nos ajudar, talvez.
— Eu nem reclamei da bomba… só não me chama de… pseudomaga… Mas enfim… como assim ajudar vocês?! Por que diabos eu ajudaria vocês?! — Abigail questionou.
— Porque… não roubamos os seus órgãos e podemos te dar um braço novo se nos ajudar!
Abigail suspirou e levantou as sobrancelhas, incrédula em estar basicamente sendo oferecida suporte médico necessário em troca de ajudar pessoa de índole questionável. Mas Abigail apenas aceitou e questionou:
— Ok… mas… como eu posso ajudar vocês? E com o que? Eu não quero ter que me meter em revolução alguma, a capital tebaliana fica pra Leste, eu quero ir pra Oeste.
— Não se preocupe. — Ferdinand disse. — Você não vai enfrentar nenhum tebaliano, enfrentaremos coisas piores, mas aqui mesmo. — Disse Ferdinand, indo abrir a caixa de varinhas de pactários que Abigail havia visto mais cedo.
— Está vendo? Todas essas varinhas de pactários? Elas são todas de cultistas de Lilith, usadas para canalizar melhor a energia do pacto entre elas e Lilith, sozinhos matamos muitas que tentaram atacar a cidade, e agora temos basicamente um armazém dessas varinhas.
— Então… você quer que eu ajude a defender a cidade de cultistas de Lilith? É isso? — Abigail questionou.
— Quem dera fosse ser tão simples quanto das outras vezes, por algum motivo, as bruxas de Lilith estão mais perigosas e desprezíveis que o normal, estão atacando diversos locais isolados do Continente, não sabemos de onde estão vindo e nem para onde vão, mas o arsenal de magias delas está definitivamente maior que antes. — Disse Ferdinand, pegando uma varinha de proficiência arcana do fundo de um dos caixotes.
— Toma! — Disse Ferdinand, em seguida jogando a varinha no ar para que Abigail a pegasse, enquanto voltava a falar:
— Elas estão terríveis, você sabe por que você não viu nenhuma mulher na aldeia até agora? Sim, essas cultistas malditas sequestraram todas, e as que não foram sequestradas acabaram indo para o lado delas.
— Até... — Disse Abigail.
— Sim, até minha esposa, a esposa e mãe de Fred, a filha de Stark, todas raptadas ou cedidas ao lado maligno de Lilith.
Nesse momento, Stark, o brutamonte, abriu a porta do porão, e olhando para Ferdinand com lágrimas escorrendo em seu rosto, disse:
— Não diga isso, Ferdinand. Minha filha… nunca, em hipótese alguma, iria se tornaria uma cultista, alguma… alguma coisa está as dominando para entrarem no culto! — Disse Stark, com seu rosto barbado pendendo e quase cedendo algumas lágrimas à cair no chão.
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