Volume -5
Capítulo 8: Uma Noite Serena
Agora com uma varinha em mãos, Abigail se retirou para as colinas próximas à aldeia, próximo aos domínios da aldeia.
Chegando na subida da colina, se virou para trás, se sentou e se deitou sobre a grama, inclinada para observar as estrelas e a aldeia.
O céu não estava roxo naquela hora, estava um completo azul escuro, mas permitia à Abigail observar todas as estrelas do céu, então assim ela fez, em silêncio, apreciando a ventania pura e fria em seu rosto, completamente seguro, mas completamente vívido.
Deitada em silêncio sob o céu, com seu braço sadio, levantou sua varinha, e sem dizer nada, apenas a balançou, gerando um jato de água que se unificou na forma de uma esfera líquida flutuante no céu. Aquilo dispararia rajadas de água pressurizada em qualquer criatura com algum alinhamento maligno que se aproximasse de Abigail.
Após criar a esfera, Abigail suspirou fundo e amoleceu o braço sadio, o fazendo cair no chão sem menor esforço físico, ela então largou a varinha na grama, e olhando para o céu, ela começou a pensar em sua infância, quando possuía apenas 8 anos e vivia em sua cidade natal.
— Seu cabelo fica bem melhor loiro do que laranja, não é? — Questionou a voz femininas em sua cabeça, vindo de um passado distante.
Não… — A Abigail do presente respondeu
— Sim! Eu adorei! — Respondeu a Abigail de 8 anos, em suas lembranças.
— Mas mamãe… Por que temos que pintar nossos cabelo dessa cor e colocar essas lentes azuis? Eu, você e o titio somos as únicas pessoas no mundo com cabelo e olhos laranjas! Isso é bem mais legal!
A figura feminina em sua memória, cujo rosto mal se posa enxergar por causa da ausência de luz do lugar, abaixou sua cabeça até Abigail, a olhando com um olhar inocente, mas internamente perturbado, então acariciou sua cabeça e disse:
— Abigail… Sabe… aquelas pessoas malvadas que… hm… sumiram com as pessoas de nossa comunidade?
Droga… — Abigail do presente pensou.
— Sim! As pessoas de cabelo branco e olhos azuis! — Disse a Abigail de 8 anos, extremamente curiosa por tais pessoas também serem raras como ela.
— Essas pessoas… fizeram isso porque… nós… nós… — A mulher pausou sua fala, pensando e mantendo um sorriso torto, aonde suas sobrancelhas não condiziam com a de alguém verdadeiramente feliz. — …nós somos nós…
Abigail do presente, deitada sobre a grama e olhando apaticamente para as estrelas, estreitou seus olhos, contorceu seus lábios, tentando não sucumbir à uma sensação de decepção.
— Como assim? Eles mataram meus amigos por causa… da cor do nosso cabelo?
— Merda… — Disse Abigail, aumentando sua cara de decepção, colocando o braço sobre os olhos.
— É mais complexo do que isso… mas em resumo… sim. — disse sua mãe.
— E para onde foi o tio?
— Hm… aquelas pessoas estavam… focando mais nele, sabe? Então… ele só foi embora para… não chamar atenção pra gente de novo…
— Ahhhh… Primeiro o papai… agora… o tio… você acha que agora que estamos mesmo ruins, papai vai voltar pra nos ajudar?
— AAAAAAHHHHHH!!!! — Gritou Abigail, com o rosto vermelho, lacrimejando, enfurecida e com um extremo desgosto, se levantando para ficar de joelhos, perfurando a terra com a varinha, desejando que aquela fosse o seu pai.
Filho da puta… você teve 19 anos para voltar pra minha vida e pra da mamãe… dezenas de ÓTIMAS oportunidades para voltar… Eu sempre achei que seria o Destino… que tudo que acontecesse de ruim comigo seria para me dar mais prazer quando você voltasse… mas não… NUNCA era o que acontecia. — Pensou Abigail conforme estava de joelhos, com a cabeça no chão, onde suas lágrimas pingavam.
VUUuuuUuuUU
O vento uivou em seus ouvidos, é uma memória veio à sua mente.
“Auster”.
Ao pensar na imagem de tal homem, ela levantou sua cabeça. Vozes dentro de sua cabeça começaram a discutir.
— Você ama um homem que literalmente faz parte de uma raça que quer a extinção da sua...?
— Não… — Abigail disse em voz alta.
— Pare de ser tão carente, ele não é o seu pai, ele não pode cumprir esse papel e nem vai!
— Não… Abigail disse, colocando a mão sobre a têmpora e fechando os olhos, em uma negação tremenda.
— Você se deixou perder um braço, você desperdiçou uma parte inteira de você… e quantas outras vezes você não fez isso ao longo da sua vida, sem que fosse físico para que você pudesse ver?
— Não o faça desperdiçar tempo e amor com uma garota tão arrogante como você, não seja tão egocêntrica assim.
— AAARRRRGHHH!!! — Berrou Abigail, rolando para os lados com o seu único braço sadio chacoalhando a cabeça.
— O… o que-?! — Ela questionou em voz alta, vendo que seu corpo estava se movendo.
Quando se deu conta, estava escorregando colina abaixo, como se o chão tivesse desaparecido, e sendo arrastada pela gravidade, começou a rolar morro abaixo.
— A-AI! EH! AI AI! — Ela descia rolando, batendo o ombro e a cabeça contra a terra, sentindo dores como se seu crânio fosse de destruir, além de estar engolindo toda a terra e insetos pelo caminho. Depois de um tempo, a velocidade era tanta que parou de rolar e simplesmente começou a ser periodicamente jogada no ar direção abaixo.
Quando chegou ao chão, seu corpo estava torto, em cima do único braço sadio, mas com o ombro deslocado, terra nos olhos, dentro do nariz e boca.
Com a coluna tremendo e mãos ásperas, como se seus ossos tivessem se esmigalhado dentro da carne, ela apenas se jogou para o lado para sair de cima do braço sadio, virando seu rosto para o céu.
Olhando pra frente, com todas as partes do corpo trêmulas e frias, apenas ouviu novamente a voz em sua cabeça.
— Você não entende que pra onde tenta correr, apenas encontra mais problemas? E quanto mais você tenta correr desses problemas, mais problemas surgem?
Abigail, completamente trêmula, suja de mato e sentindo que iria expelir algo de sua garganta, colocou seu braço sadio sobre o olho e disse em voz alta:
— Não… isso tudo… isso tudo é o Destino, é tudo um teste pra me fazer mais forte, eu… eu consigo sentir…! Eu consigo me sentir ficando mais forte com isso tudo, é esse o propósito de todo o meu sofrimento…! Uma hora eu precisarei dessa força, eu juro…!
A voz logo começou a ecoar novamente:
— Sempre tão cética com tudo, rejeitando à todos os deuses, mas acreditando em destino apenas para parecer mais intelectual e menos falha que os outros.
— Você… se lembra da primeira vez que acreditou em destino…? Lembra do quão doloroso foi ver a sua única base de fé se mostrar errada? — A voz questionou
Abigail simplesmente desistiu, se mantendo deitada no chão, cessando sua tremulação, olhando fixamente para o céu, com suas pálpebras sujas de terra e levemente fechadas.
Cenas do passado voltaram à ocorrer em sua mente.
Céu completamente cinza. Abigail com uma pá. A usando para jogar terra sobre um corpo acizentado em meio à uma terrível chuva que era mais barulhenta de que todos os seus pensamentos naquele momento.
— Agora que ela se foi… meu pai irá voltar, espero que pelo menos disso eu consiga extrair algo bom. — Disse a Abigail do passado, conforme se sujava de lama que era respingada em sua roupa quando as gotas da chuva atingiam a terra.
Após enterrar o cadáver, Abigail olhou para trás, esperando que algo ou alguém acontecesse. Mas ninguém veio. Apenas via as planícies ao seu redor e sua já antiga casa de madeira nas proximidades.
Com a boca semi-aberta e o olhar apático e sem brilho, largou a pá no chão e cambaleou até a sua casa nas planícies, em meio às poças de água ricocheteando as gotas da chuva em sua roupa.
Chegando na frente de sua porta, encarou a placa aonde se lia o nome da família, o falso nome da família. Na verdade, Abigail sequer usava o sobrenome de seu pai, apenas o sobrenome de sua mãe. Ela sabia o sobrenome de seu pai, mas se recusava a usar e a sequer pronunciar, e no fim precisava saber qual manteria pelos próximos tempos onde estaria fora de casa.
Abigail então cortou as cortas que seguravam a placa à um prego na porta, e assim a placa caiu na lama que se concentrava perto da porta de casa.
A porta foi aberta, rangendo conforme se abria lentamente. Uma enorme escuridão da casa sendo vagamente iluminada pela fraca luz que conseguia passar pelas nuvens cinzas, e encarando o corredor, olhando fixamente e apaticamente para a frente, sem olhar para os lados, apenas tateou a parede até sentir uma cordinha.
Assim que a puxou, o corretor se iluminou, revelando quadros de diferentes pessoas, mas Abigail apenas passou por todos eles sem sequer olhar para os lados, caminhando como se estivesse morta por dentro.
CREEEEEEEEC
Uma porta se abria, levando ao porão, e assim que adentrou o local, puxou novamente uma cordinha, revelando uma sala repleta de itens e ferramentas.
Um cajado arcanista.
Um chapéu arcanista.
Um retrato de Abigail junto à sua mãe, seu tio, e do lado de sua mãe, alguém cujo no lugar do rosto havia um buraco, preto nas bordas.
Abigail, ao ver aqueles itens, abriu um pequeno sorriso genuíno no rosto, ainda com o olhar apático, mas agora por estar visualizando um ótimo futuro.
— Vai valer a pena, mãe.
Abigail do presente, se lembrando disso, começou a encher seus olhos de lágrimas, sem conseguir nem colocar o braço sobre os olhos devido à enorme dor que sentia nele. A única coisa que restava para Abigail, era pensar.
Abigail então pensou:
Talvez… talvez… talvez essa dor seja necessária para que eu vá dormir de uma vez, eu apenas preciso… fechar os meus… olhos. — Pensou Abigail conforme fechava seus olhos, sentindo a terra que se estendia pela pele da pálpebra até cobrir o olho inteiro.
Não se passou nem alguns segundos de olho fechado, sentiu uma enorme quantidade de líquido caindo sobre ela. Era a orbe de água que ela havia conjurado há um tempo atrás, se instabilizando devido ao cansaço mental da usuária e se desfazendo no ar. E assim caiu sobre seu rosto como uma enorme pancada de água fria que estalou em seu rosto.
— ARGH! — Abigail resmungou conforme quase sufocou, tossindo toda aquela água.
Com extremo desgosto, Abigail virou seu corpo para ficar virada para o chão, e em uma tentativa de se manter em pé, empurrou o chão com seu único braço, conseguindo uma deixa para colocar seu joelho no chão, e assim, não ficar tão miserável no chão.
Depois de colocar o joelho no chão, Abigail suspirou profundamente, e em meio à pingos de suor, começou a empurrar o chão com o joelho e braço juntos, conseguindo manter um pé no chão.
Um enorme sorriso maníaco se abriu no rosto de Abigail, e assim que se preparou para se manter em pé, olhou para o lado, onde à uma certa distância, viu um par de luzes de lanterna rodeando o local.
Acreditando ser alguma criatura, Abigail simplesmente desistiu, e aceitando o que quer que fosse, amoleceu seu braço e joelho, caindo bruscamente de cara na lama criada pela colisão do orbe com a terra, e lá ficou, imóvel, aguardando o que quer que fosse aparecer.
As luzes começaram a aumentar de intensidade, e aceitando seu destino, percebeu a familiaridade das vozes.
— Então você tá aqui! Ei tio! Não precisa mais da espingarda! — Disse o homem, acenando para alguém atrás.
— Ah que bom! Eu achei que ela havia cedido para o culto de Lilith também! Mas parece que a estupidez dela só a fez se espatifar caindo daquela colina! — Disse o tio.
— Não diga isso tio! — Disse o homem, parando de focar no velho e agora focando em Abigail. — Ei! Ela tá horrível! Precisamos levar ela de volta pro hospital!
— Mas de novo?! Não já levamos ela há tipo 6 horas atrás?!
— Não importa! Me ajude a levantar ela! — Disse o homem, conforme segurava Abigail pelos pés, que apenas aceitava com o corpo amolecido, rosto sujo de lama e olhos entreabertos, inchados e vermelhos.
Abigail então foi arrastada, deixando sua varinha para trás.
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