Parte 1
Capítulo 15: Standborns
12:30. O sol ardia sobre os caçadores que haviam sido encarregados de caçar Abigail.
— Número 1… Quanto tempo falta para chegarmos em Miasma? Já demoramos a madrugada inteira pra achar o corpo do Número 4… e agora vamos levar a tarde inteira pra isso? — Questionou a caçadora mulher, conforme cambaleava em meio ao sol queimando sua pele em meio ao enorme calor.
O Número 1, andando em sua frente e liderando o caminho, pausou os passos e virou para trás, dizendo:
— Ei Lucy, não me chame de “Número 1”, é esquisito, as pessoas dizem isso quando vão fazer… coisas.
A mulher, suando, ficou ainda mais desconfortável ouvindo aquilo:
— Ew, que nojo! Ei… eu já disse, não me chame de Lucy. E responde a minha pergunta!
— An… que? Ah sim, sim, vamos levar a tarde inteira pra chegar em Miasma.
A caçadora parou de caminhar na hora, e assim que o caçador número 1 se afastou dela, se deu conta de que a mesma não estava seguindo seus passos, então parou e olhou para trás, em dúvida.
A caçadora estava irritada, e caminhando em sua direção, começou a o questionar:
— Espera… Mas e aquele pássaro de fogo que você lançou no céu! Ele já deveria ter te dado a localização da cidade… Certo…? Não é?! — Questionou a caçadora, o puxando pelo gibão.
O homem então, olhou para a mulher, colocou o dedo sob o queixo da máscara, e começou a pensar. Alguns longos segundos ponderando, olhou de volta para a caçadora, e soltou um sincero:
— Sim.
A caçadora ouvindo aquilo não conseguiu entender muito se ele estava brincando ou não, então chacoalhou o homem novamente, perguntando enquanto suava desesperadamente:
— Do que você tá falando?! Eu não estou entendendo! Você tá seguindo o pássaro, né??
Enquanto chacoalhava o homem, a mulher percebeu uma coisa, e então virou rapidamente seu rosto para trás.
— Cadê o Número 3?! Há quanto tempo ele sumiu?
O homem, delicadamente tirou a mão da mulher de seu gibão. Tirou a máscara dela, revelando um jovem e limpo rosto com cabelos longos e brancos, reluzentes como prata.
O homem se distraiu um pouco olhando o seu rosto, vidrando seus olhos nos dela, mas logo voltou à realidade, colocando as suas mãos nas têmporas de Lucy, começando a falar:
— Ok, olha Lucy, vê se ME ESCUTA E ME ENTENDE.
— Eu meio que… fui na direção oposta de onde o pássaro foi, porque… bem…
Sem nem esperar o homem parar de falar, os olhos de Lucy se tornaram acizentados, ela não conseguia acreditar no que estava ouvindo, e então caiu de joelhos no chão, sem reação alguma.
— Ei ei! Sem drama, Lucy!
— Eu fiz isso porque primeiramente, aquelas cultistas já vão matar a garota, tipo… ela literalmente não tem um BRAÇO, além de ser bem estúpida!
— Ah não… — Disse Lucy, ainda de joelhos, olhando para o lado com um extremo rosto de desgosto. O homem então continuou:
— Vamos lá! Vamos tirar um tempo pra nós dois! A gente literalmente só vem trabalhando desde que começamos a servir na Cidadela.
— Ah… Não sei não… — Disse Lucy, olhando para os lados conforme sua expressão de desgosto sumia aos poucos e se tornava apenas uma expressão de hesitação. O homem sabia que era aquilo que ela queria.
Após seu juiz interior e suas vontades primitivas chegarem à um acordo, Lucy suspirou fundo, se levantando do chão com os olhos fechados, como alguém que quisesse esconder a vergonha da cara.
— Ok… Mas aonde vamos? E o quão longe estamos de Miasma?
— Ah relaxa, não muito longe, Miasma está à noroeste de nossa localização, então se quisermos voltar, é só a gente… — Disse o homem, estendendo o indicador e se virando até achar o local correto para apontar. — …voltar por ali! — Disse ele apontando para a rota de retorno.
— Então ok… Mas e o Número 3? Não é perigoso o deixarmos por aí sozinho?
— Só é perigoso se ele for da nossa conta! Mas agora que estamos livres, podemos fazer o que quisermos! — Disse o homem, devolvendo a máscara pra Lucy e pegando em sua mão, a levando para caminharem juntos.
— Para onde vamos, Draven? — Questionou Lucy, ainda com a máscara na mão, seguindo o passo junto ao homem.
— Então você decidiu pronunciar o meu nome? Que bom… Enfim, existe uma cidade lá pra frente, vamos nos divertir um pouco mas teremos que estar preparados para sair de madrugada até Miasma!
— Vamos ficar lá até meia noite?
— Claro! Precisamos aproveitar enquanto podemos! — Disse Draven, apressando o passo enquanto a levava pela estrada de terra.
Longe de suas localizações, Número 3 cambaleava como um zumbi pela estrada de terra até Miasma, ou pelo menos era até lá que ele acreditava estar indo. Por trás de sua máscara, seus olhos não estavam na mesma altura dos buracos para enxergar.
Cambaleando e andando desordenadamente, em certo momento veio uma dupla de homens andando à cavalo, que ao verem o Número 3 cambaleando como um cadáver vivo, diminuíram sua velocidade e começaram a o acompanhar, conversando e a zombando:
— Ei, isso não não é um traje de um caçador da Cidadela? — Disse o homem de chapéu.
— Pode até ser, mas não sei não, esse aí tá muito estranho pra ser um deles… Não tá passando a ENERGIA de um caçador de elite, sabe? — Disse o homem com um exímio bigode.
— Hohoho, olhe bem, a máscara de prata, o gibão tingido com pigmentos naturais vindas direta do oriente… isso parece real o bastante pra mim! — Disse o homem, descendo do cavalo, ao lado de Número 3, que mesmo com todos aqueles assuntos ao seu redor, apenas continuava cambaleando cegamente até o fim da estrada de terra.
— Mas o que você está fazendo?! — Questionou o homem de bigode.
— Mas ué? Eu vou matar esse cretino e pegar as roupas dele. Isso deve valer uma fortuna se vendermos para as pessoas certas.
— Que? Isso parece estúpido, ele é um caçador de elite da Cidadela! Deve haver um motivo para ele andar assim, ou um motivo pra ele ainda ser um caçador da Cidadela.
— Oh Edward… É por causa de coisas ASSIM que você vai morrer sem ser lembrado por ninguém. — Disse o homem, puxando um revólver do bolso, enquanto caminhava para seguir o homem.
— Pelo menos veja se ele é um zumbi ou algo do tipo! Eu realmente não acredito que um caçador da Cidadela esteja se comportando assim, não parece normal! E também… e se for só um doente mental que fabricou essas roupas?! Elas podem não valer nada na verdade!
— Oh Edward, não se preocupe, a pele dele está branca demais para ser um zumbi, e o que importa se as roupas não forem reais? Se conseguiu nos convencer que são reais, com certeza vai conseguir enganar uns leigos idiotas. — Disse o homem, indo para trás de Número 3 para evitar que seu disparo na cabeça destruísse a máscara.
BANG
Edward colocava as mãos na boca, surpreso. Número 3 caia no chão sem a menor dificuldade, colidindo bruscamente contra o chão e escorrendo sangue para todos os lados.
O homem então se agachou, colocando dois dedos no pescoço de Número 3, quando começou a sorrir e disse:
— HA! ELE MORREU! EI EDWARD! DESCE DO CAVALO E ME AJUDA A CARREGAR ESSE CORPO! — Disse o homem, gritando de emoção.
Assim que Edward ia descendo de seu cavalo, algo começou a agitar o animal, o fazendo relinchar e bater os cascos bruscamente no chão. Bufando forte e deixando o branco dos olhos aparecer de tão assustado que estava.
— Ei ei! Calma! O que foi?! — Questionou Edward, passando a mão no rosto do cavalo para o acalmar.
VUUUUUUUUP
Uma criatura de materializou acima do cadáver de Número 3. Era uma enorme criatura espectral sob um manto de seda vermelho adornado com ouro. Não possuía um corpo, apenas um crânio voador e braços esqueléticos que carregavam uma foice.
VSWOOSH
A criatura balançou sua foice, acertando o homem. A lâmina passou reto em seu corpo por também ser espectral. Mas algo não era espectral, a abismal dor que o homem estava sentindo.
Seu rosto estremeceu. Seus olhos se abriram tanto que mostravam o vermelho das laterais. Cerrou seus dentes tão rápido que parecia que havia travado a mandíbula, salivando pelas vãos entre os dentes. Apertou o peito com uma mão e com a outra puxava o revólver para atirar na criatura.
BANG BANG BANG BANG TICK TICK TICK TICK
Ele puxou o gatilho tantas vezes que nem havia se dado conta que estava sem balas, mas de nada adiantou, todas as balas haviam passado direto pela criatura, sem acertar um único buraco.
No fim, o homem apenas caiu lentamente para trás, colidindo para trás e se estirando no chão, olhando fixamente para o alto com os olhos arregalados.
— O… o que?! — Questionou Edward conforme tentava controlar o cavalo, que no fim o derrubou bruscamente e saiu correndo para o horizonte.
— Não! Não!!! — Disse o homem caído no chão, desesperado, puxando o seu revólver e atirando na criatura espectral, mas nada aconteceu.
A criatura então, com seu braço esquelético e incorpóreo desocupado, o enfiou dentro do corpo de Número 3, puxando “nada” e o colocando dentro do corpo do homem assassinado. E então riu e esvaneceu no ar.
Parado no chão e assustado, Edward observou que o cadáver de seu parceiro começava a tremular e convulsionar, quando no fim, levantou seu tórax e cabeça do chão, ficando sentado.
Então se apoiou no chão com os braços e ficou em pé, encarando o ambiente com os olhos esbranquiçados e a boca semiaberta.
— Afonso?! — Gritou Edward, de longe.
— A… a… fo… uh… — Gemeu o homem, olhando para o chão com a mão sobre a têmpora.
— Meu nome… é… a-afonso… n-não…
— …
Um silêncio tomou o local, Edward estava caído no chão, temendo se mover, com medo de que o homem fosse em sua direção. Ele então se deu conta que o homem já havia o visto e apenas o ignorava pois mais centrado em si.
— AAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHRRRRRRRRRRRGGGGGGGGHHHHH!!!!!!!
Um cavernoso grito ecoou da boca da entidade no corpo de seu antigo amigo. O homem começou a falar, extasiado:
— FINALMENTE! FINALMENTE FINALMENTE FINALMENTE FINALMENTE!!!! — Disse o homem, puxando a manga de sua roupa e obsessivamente rasgando a carne de seu braço com as próprias unhas.
— Finalmente…! O último corpo que eu estava tinha um cérebro débil… eu me sentia preso numa prisão de carne sem poder falar, sem poder gritar!!! Mas agora…. Hahahahahah!!!!!!! — Discursou o homem para uma plateia de ninguém, e então cuspiu em seu corpo antigo.
Ele então olhou para Edward, encolhido no chão, e o confrontou agressivamente:
— Ei! Você! Por que você ainda tá aqui?! Você quer esse gibão e essa máscara?! Pois pode pegar!! Eu não faço a menor questão, seu cretino! Tome isso como recompensa por não ter parado aquele seu amigo imbecil de me matar! Eu estou indo embora. — Disse o Número 3, se virando para trás e seguindo seu rumo.
Um pensamento então estalou em sua mente.
— Desertora
— Capturar
— Matar
— Abigail…
Eu preciso matar… a DESERTORA — Pensou Número 3, conforme fechava sua cara e apressava o passo.
Longe da posição de Número 3, uma fumaça esbranquiçada se levantava em meio à floresta. Comerciantes abutres interessados nos positiveis espólios no local corriam até o meio da floresta para catar o que quer que restasse. Apenas para se darem de cara com uma cena incômoda.
Um casal tomando banho em uma lagoa que exalava fumaça devido à água estar bem quente, ambos nus e com o tórax fora d’água e olhos fechados.
Os comerciantes decidiram ignorar a questão de como aquela água estava quente se era apenas um lago, e apenas se retiraram rapidamente.
— Ahhhhh… Muito obrigado por isso, Draven… — Disse Lucy, fechando os olhos e se afundando na água até só ficar com o nariz pra fora.
— Então… Sei que o clima tá bom e tals… mas aproveitando o tempo, eu queria saber… O que o seu irmão acha da nossa relação?
Lucy apenas se levantou o bastante para sua boca ficar fora da água, e começou a falar
— Ahhhh… Não vem com isso agora… — Disse Lucy, ainda de olhos fechados e tão relaxada que não queria falar desse assunto que tanto a desagradava.
Tec
Draven deu um peteleco na testa de Lucy, que logo despertou
— An… o que…? Ah… sobre meu irmão… meio que uh… ele não gosta muito que eu esteja me relacionando com alguém que não seja da mesma raça que nós dois…
— Não quero parecer ingênuo, mas… eu não entendo, qual o problema?
— Ah… coisas culturais da nossa raça, sabe… se reproduzir só entre outros de nós… Ele tá preocupado que com o tempo a nossa raça foi se perdendo… mas ainda acho que não justifica… Enim… só quero ficar quietinha nessa água quentinha… — Disse Lucy, deitando sua cabeça sobre o ombro de Draven.
Draven então ficou pensativo, e continuou falando por si só.
— Eu não entendo… se fosse entre espécies humanóides, eu até entenderia, mas entre raças…
— É… Imagina não gostar desse lindo cabelo laranja brilhante que você tem…!! — Disse Lucy com os olhos fechados, se deitando sobre o peito de Draven.
Draven continuou pensativo, e conforme sua mente viajava no assunto, a água do lago ficava cada vez mais quente, até começar a ferver.
Lucy despertou num susto:
— An?! O que?! O que foi, Draven?!
— Lucy… eu realmente não quero incomodar você, mas… você sabe onde tá o seu irmão? — Questionou Draven conforme a temperatura da água aliviava um pouco.
— Ah não sei… Deve tá na Cidadela ajudando o líder de lá? Nós realmente não nos falamos tanto desde que comecei a me relacionar com você…
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