Parte 1
Capítulo 16: Inveja
Na Cidadela. Número 5 levava o novo Número 4 para buscar sua máscara e gibão, e no caminho até o local, Número 4 começou a puxar assunto:
— Então você é o que? Um mago? Um feiticeiro? Um bruxo? Eu realmente estou bem animado!!
— Isso não te interessa, precisamos rápido ir pegar logo sua máscara e gibão pra você começar a trabalhar com os corpos dos figurões que matamos lá no palácio e depois irmos caçar os números 6 e 7.
Mesmo com os olhos por trás daqueles óculos industriais e escuros, era possível perceber a tamanha tristeza no rosto do homem.
O homem então ficou para trás conforme Número 5 caminhava, que parou para olhar pra trás.
— O que?! — Número 5 questionou de modo irritado
— Então vai ser assim?! Só porque você é o bonzão agora vai ficar me ignorando?! Vamos pelo menos dizer nossos nomes um pro outro! — Disse Número 4.
— Nós NÃO temos tempo pra isso, precisamos nos apressar!
— Ugh, pode me chamar de Cordelius, quando pegarmos minhas coisas você vai querer que a gente vá primeiro atrás dos dois possíveis desertores ou que eu vá mexer nos cadáveres?
— O líder quer que primeiro você mexa nos corpos e faça o que deve ser feito. Agora chega de papo, vamos pegar as coisas. — Disse Número 5, voltando a andar em frente e ignorando completamente o pedido de revelação de seu nome vindo de Cordelius.
Os dois caminharam por algum tempo até chegar no Ferreiro Real em um região nobre, com ruas de pedras de mármore quadradas e casas elegantes de madeira. Lá, Numero 5 não disse nada, apenas cutucando Número 4 e sinalizando com o indicador onde ele devia ir.
Toc Toc Toc
Cordelius bateu gentilmente na porta do ferreiro, que a abriu logo alguns segundos depois, se assustando com o seu tamanho que beirava os 2 metros de altura.
Agradeceu ao homem e estendeu sua mão para pegar a máscara. O ferreiro então fechou a porta em sua cara, a abrindo logo alguns segundos depois com a máscara em mãos. Era uma máscara prateada de lagarto.
— Lagarto? — Cordelius questionou, fechando a cara.
Número 5, apoiado em uma parede, longe do cone de visão do ferreiro, começou a rir discretamente da reação de Cordelius por trás da máscara.
O ferreiro então fechou a porta em sua cara, e Cordelius retornou à Número 5 com um rosto triste e deprimido.
— O que foi? — Perguntou Número 5, cinicamente.
— Lagarto… Ugh… honestamente… máscaras precisam combinar com seus portadores né…? Acho que isso combina comigo… — Disse Cordelius.
— Haha — Riu Número 5, do modo mais falso de todos. — Por que combinaria com você? Você seria algum tipo de… réptil pegajoso e rastejante? Não parece a coisa mais digna do mundo… sabe? — Disse ele tentando conter um sorriso enorme por detrás da máscara.
— Não é isso, lagartos meio que representam a… biologia, certo?
— Uh, sim, por que? — Questionou Número 5, parando de rir e ficando com o rosto sério
— É porque no geral… eu não sei literalmente nada de arcanismo e essas coisas dd magia no geral.
Número 5 então fechou seus lados e olhos, se esforçando para não rir por detrás da máscara apática, mas ainda assim um enorme sorriso se abria em seu rosto de ponta à ponta e pensamentos começaram a passar em sua mente:
Hihihihihi Esse perdedor, não acredito que esse ser inferior realmente achou que eu faria amizade com um cretino como ele.
— …Mas… — Cordelius continuou:
— …O líder me deu esse trabalho porque meio que apesar de não saber nada de magia, eu ainda sei muito sobre Engenharia Biopunk, Química, Engenharia Eletropunk, Engenharia Steampunk e há pouco tempo atrás até estudava um pouco de Engenharia Atompunk! — Disse Cordelius, extremamente animado.
O sorriso de Número 5 logo de estremeceu, por trás da máscara, aquele sorriso aberto e longo logo se transformou em um cerrilhar de dentes com profundo desgosto.
Número 5 não falou nada ao ouvir aquilo, apenas se virou para trás e o chamou:
— Ei, vamos, precisamos ir agora no Alfaiate Real para pegar o seu gibão. — Ele disse friamente.
— Vocês tem mesmo um monte de trabalhos “Reais” por aqui, não é mesmo?
— Cale a boca, cale a boca e me siga, não temos tempo pra essas gracinhas, além de que… é inaceitável um cientista fazer parte da tropa dos Caçadores de Elite da Cidadela. Eu não sei aonde o Líder estava com a cabeça quando teve essa ideia terrível. — Disse Número 5, caminhando até o próximo ponto.
Então chegaram na instalação de alfaiataria da Cidadela. Cordelius logo foi buscar seu gibão enquanto Número 5 ficava ao lado da instalação, em um beco, apoiado na parede com a mão na máscara e se angustiando daquilo que ele havia ouvido anteriormente.
Voltando com o gibão, Número 5 se recusou à falar com ele, apenas se dirigindo até o laboratório real.
Que nojo… que gosto terrível na minha boca… eu sinto como se fosse vomitar. Por que… — Número 5 pensava conforme caminhava e fechava os punhos.
Existe essa… crença de que pessoas mais habilidosas que você são mais importantes que você… mas… ELES não veem como a magia é a única forma de ciência plausível… a forma de magia que rege o mundo… as pessoas…
— Número 5? Número 5…? — Cordelius o chamava.
— O que você achou da cor desse gibão? Ele é… verde, da mesma cor do gibão desse tal de Número 7, pelo que me disseram.
— Claro que ele é verde, oras, combina com… lagartos, além de que quando você vestir essa roupa e máscara, vamos partir na missão para ir atrás dos Aavatjanos.
— Na verdade… eu preciso mexer nos corpos primeiro.
— Como assim? — Questionou Número 5, que por trás de seu corpo gelado, estava queimando de ódio por dentro.
— Você não lembra? Foi literalmente você que disse isso logo antes de irmos pegar o gibão e máscara.
— Ugh, sim, sim… — Disse Número 5, colocando a mão sobre a testa da máscara.
— O que foi? — Questionou Cordelius.
— É que… eu acho que eu não me sinto fisicamente quente desde uns bons anos atrás… e isso dói… — Disse Número 5, encolhendo a sua coluna e forçando a mão contra a máscara, tentando resistir contra uma dor mental e física nunca antes sentida.
— Hmm… Não se preocupe, se essa cidadela tiver um laboratório de respeito, acho que vou conseguir sintetizar algo pra fazer você melhorar. — Disse Cordelius, pegando no ombro de Número 5.
— O que..? Não… Ugh… Pare com essa… superioridade moral… Me deixe quieto… Apenas vá no laboratório fazer o seu serviço…
— BLUERGH
Vômito caia no chão, sujando as botas e calças de Cordelius e Número 5, enquanto todos os civis que passavam na rua observavam a cena.
Cordelius não perdeu tempo, e já caminhou até o Laboratório Real, onde viu Eustáquio ainda carregando um dos corpos pelas axilas, então o ajudou pegando o mesmo corpo pelas pernas, levando até dentro do laboratório.
Com a mão na barriga e uma na boca por detrás da máscara, Número 5 se aproximou do laboratório, cambaleando e tentando se manter em pé. Assim que a porta do laboratório se abriu, um odor grotesco e oleoso bateu em sua face como um tapa, era invasivo, beirava o ácido, obsceno, quente.
Um outro vômito foi expelido, sem que Número 5 pudesse ser rápido para tirar a máscara dessa vez, a máscara havia sido completamente enchida de vômito, sujando sua face de um jeito agonizante.
Os arcanistas estudiosos que lá restavam, vendo Cordelius aparecer, julgaram ser algum invasor, entretanto, o ver carregando uma máscara de prata e um gibão, os fizeram liberar o local e sair de seu caminho sem muitas perguntas.
— COF COF COF — Disse número 5, caindo no chão de joelhos.
A entrada do laboratório possuía diversos cadáveres vivos no chão, acumulados aos montes, vivos, mas com a energia vital completamente sugada, os deixando basicamente imóveis e fisicamente inválidos.
Cordelius passou por toda aquela cena com uma completa naturalidade, as paredes gordurosas, o cheiro podre, os grunhidos de dor e o ar frio quando não estava infectado com aquele odor quente e ácido, nada daquilo afetava Cordelius, que caminhou com Eustáquio (que também segurava o estômago) para que ele o mostrasse o local.
Paredes de metal azul escuro, diversas celas abertas com pilhas de corpos vivos do outro lado, um corredor que levava até uma sala cuja luz brilhava fortemente em azul, chamando atenção de Cordelius, que logo caminhou rapidamente até o local, deixando o corpo de um dos figurões mortos com Eustáquio.
Chegando na sala, encontrou um experimento em andamento, diversos béquers jogados para os lados, tambores que brilhavam azul e verde, sendo a literal nunca fonte de iluminação que aquela sala escura possuía, fazendo até Cordelius se questionar se aquele tipo de iluminação era intencional ou não.
Ele se deparou com um tanque de vidro com um líquido branco esverdeado brilhante. Encarando aquilo com curiosidade, Cordelius estalou os dedos, chamando os arcanistas para a sala, que vieram rapidamente.
— Ei, aquilo ali… — Disse Cordelius, apontando para o tanque e olhando os arcanistas. — …não é nada da Tecnomancia, né?
— Não senhor. Esse aqui é um laboratório mágico, trabalhamos apenas com… MAGIA, sabe? — Disse o arcanista, esperando que Cordelius entendesse o resto sem depender dê maiores explicações.
— Hm… Mas o que é aquilo brilhante naquele tanque de vidro?
— Oh, aquilo é energia vital humanoide senhor, eu fortemente aconselharia que não pense em usar aquilo para alguma coisa além do propósito verdadeiro…
Cordelius nem quis saber do motivo daquilo, pois estava profundamente preocupado com a saúde de Número 5, que naquele momento, estava completamente caído no chão e sujo de vômito. Então Cordelius apenas olhou fundo nos olhos do arcanista, e disse:
— Pra terem tantas cobaias naquele estado, vocês devem ter uma sala de operações, certo?
— Sim… — Respondeu o arcanista, hesitante por medo das possíveis ideias que Cordelius teria.
— Então tire quem quer que esteja na mesa de operações, e coloque aquele homem. — Disse ele, apontando para Número 5, que estava caído e agonizando no chão.
— Mas nós não… — Disse o arcanista, antes de ser interrompido.
— Não importa. Tire qualquer que seja o pseudo-cadaver de cima da mesa e coloque ele. Pare de ser estúpido. Nós sequer sabemos se vai ser necessário usar as coisas de vocês, mas se formos rápido, pode ser que não vá ser necessário.
Hesitantes, fizeram isso, o levando até a sala de operações, aonde repousava uma pessoa completamente imóvel, aguardando apenas a morte. Cordelius então abruptamente empurrou a pessoa da mesa, colocando Número 5 em seu lugar.
Então Cordelius examinou Número 5, que estava quente e transpirando, algo nunca antes presenciado pelos arcanistas devido à sua natureza gélida.
— Vamos precisa fazer uma transfusão de Mana. — Cordelius disse.
— Como vamos fazer isso?! — Questionoi um dos arcanistas.
Número 5 estava quente, suando por detrás da máscara, mas ainda assim se recusava a tirá-la, e tal opinião foi respeitada por Cordelius, que apenas se virou aos arcanistas para os responderem:
— Eu sei que vocês possuem contêineres de Mana aqui, os passem pra mim!
— Não é uma questão de termos Mana ou não! É uma questão de se ela vai ser compatível ou não!
— Vocês são quem deviam saber disso! Eu sou apenas um tecnomante! — Disse Cordelius conforme ligava cabos às narinas de Número 5 e verificava sua temperatura.
— Está aumentando — Ele disse, conforme fervorosamente ordenava que lhe trouxessem um recipiente com fluido de Mana.
Assim foi feito, o entregando um recipiente de vidro contendo um líquido azulado bem claro, quase invisível, então Cordelius fez o que precisava ser feito.
Conectou os tubos ao recipiente, e então puxou o interruptor do recipiente para cima, liberando o fluído até as narinas de Número 5.
Por trás da máscara, os olhos de Número 5 brilhavam intensamente e seu grito ecoou por toda a sala conforme se tremia e convulsionava para todos os lados.
— AAARRRRGHHHHHH!!!!! — Ele gritava enquanto se balançava na mesa, chegando até mesmo a derrubar o recipiente do que restava de Mana no chão, mas já não era problema, pois a operação já havia se concretizado.
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