Volume 1
Capítulo 4: Uma Típica Entrevista
Um número desconhecido no LINE. Aquela mensagem tinha vindo de alguém com quem nunca havia conversado na vida.
Voltei para o anúncio da vaga para confirmar. Não havia dúvidas, esse contato estava listado lá. Não sabia se era a própria, mas alguém a mando de Ikkitousen Kuroda veio conversar comigo.
> Olá, eu recebi seu currículo.
> Você estaria disponível para uma
entrevista amanhã.
Eu teria que ver <
> Não foi uma pergunta.
> Te vejo amanhã.
Amanhã quando? <
Fiquei apenas mais confuso com nossa pequena troca de mensagens, pois não foi marcado nenhum horário ou local para nossa entrevista. Será que foi um trote?
Não… Não tinha como ser o caso. Aquele com certeza era o número correto. Seria mais correto assumir que essa garota simplesmente é assim. E, se esse é o caso, em que merda estou me metendo?
No dia seguinte, fui à escola. Com sorte, poderia encontrar Kuroda lá e perguntar que tipo de palhaço ela pensava que eu era. Infelizmente, como se já previsse isso, a magnata não apareceu.
Para mim isso não fazia sentido nenhum. Não havia nenhum outro lugar onde poderíamos nos encontrar fora a escola. Se ela não apareceu, quer dizer que a entrevista simplesmente não poderia ser hoje, certo?
Bom, foi o que pensei, até o momento em que cheguei na parte de fora do restaurante. Aquilo que vi na frente dele me deixou estático.
Vermelho e brilhando, aquele carro não era algo que combinava com a rua tão maltratada no qual estava. Aquilo era uma Ferrari bem na frente da minha casa.
Apenas alguém muito imbecil ousaria colocar uma coisa dessas no meu bairro. Nem que fosse apenas uma saída de 10 minutos, sem dúvidas os caras teriam roubado até as rodas.
Foi o que pensei, até ver que havia cerca de 5 pessoas empilhadas no chão ao redor do carro. Elas estavam caídas e gemiam de dor e desconforto.
Sem pensar duas vezes, fui até uma mulher que estava tentando se levantar. Coloquei seu braço ao redor dos meus ombros para que se apoiasse e logo questionei:
— O que diabos está acontecendo aqui?
O estado dela era péssimo. Suas roupas estavam rasgadas, mas não parecia que eram assim normalmente. Era como se alguém tivesse a atacado feio.
— C-c-c-c-c-choque… m-m-m-m-machuca… — As palavras eram quase incompreensíveis e sua boca tremia.
— Droga… Eu vou ligar para um médico. — Peguei meu celular e comecei a discar o número.
— Tranquilo. Já liguei. — Uma bela soou baixinho em meu ouvido.
Nesse momento, meu corpo se arrepiou e instintivamente tentei escapar, de forma desengonçada, da direção de onde aquela voz havia vindo. Não deu muito certo, pois acabei tropeçando no meu próprio pé e caindo de cara no chão junto com a mulher que estava tentando ajudar.
E então, quando consegui me levantar e ver quem é que havia sussurrado para mim de maneira tão despreocupada, me deparei com ela. Sim, aquela pessoa que havia dito que nos encontraríamos amanhã: Ikkitousen Kuroda.
Já havia visto de relance, mas nunca estive tão perto. Existia algo diferente nessa mulher que fazia com que não conseguisse parar de encará-la. Seriam seus longos e bem cuidados cabelos negros? A silhueta de seu corpo? Suas roupas que acentuavam tudo isso?
Errado! O que realmente me chamava atenção era seu sorriso. E não de uma forma boa. Por que em uma situação onde 5 pessoas estão se arrastando no chão, esta mulher sorriria de forma tão maliciosa?
Mas antes que minha mente pudesse processar a razão por trás disso, uma delicada mão se estendeu até mim. Kuroda aparentemente queria me ajudar a levantar.
— Akazawa, certo? — Me puxou para cima cuidadosamente. — Que prazer conhecê-lo.
Mas eu não queria saber de apresentações. Tudo que me interessava no momento era entender porque aquela rua estava um caos. Porque aquelas pessoas estavam na merda.
— O que você fez? — Sem paciência, disparei contra ela.
Olhando para os lados, ela parecia procurar algo. E então, fixou o olhar no grande carro vermelho estacionado. Nesse momento, sua boca se abriu em um grande “Oooooh!” de quem finalmente entendeu do que eu estava falando.
— Não é nada demais. É só o sistema antirroubo do meu carro. Se alguém tenta roubar, acaba recebendo um pequeno choque elétrico.
— Pequeno!? Olha a merda que você fez!
— Ninguém mandou tentar roubar, né? — Deu de ombros com uma pequena risadinha.
Assassinei a garota com meu olhar, deixando bem claro o quão irritado estava. Eles podiam ser bandidos, sim, mas deixar uma barreira de eletricidade em um carro era muito irresponsável.
— Bom, de qualquer forma, vamos logo para os negócios. Eu estou sem tempo. — Desconsiderando completamente meu desejo de destruí-la, simplesmente apontou sua mão para o carro. — Vamos dar uma voltinha? Não é como se você pudesse fazer muita coisa fora esperar a ambulância.
— Você não pode estar séria… — Revirei meus olhos. — Você pode ter matado eles, sabia? Não se importa nem um pouco?
— Eles não vão morrer com isso. Só sofrer e convulsionar bastante.
— O que também é ruim! Francamente, o que diabos é você?
E então, o barulho do carro sendo destrancado soou. Kuroda pegou minha mão sem se importar com nada e foi me trazendo cuidadosamente para a porta do caroneiro.
— Ei! O que você está fazen…?
E então, fui empurrado com força para dentro, quase desabando nos comandos do carro. A porta logo em seguida foi batida com toda a força, me deixando lá dentro. Alguns segundos depois, a dona entrou pela porta do motorista.
— Que porra é essa? Isso é sequestro! — Depois de me arrumar no banco, questionei ela.
— Eu apenas fui gentil em abrir a porta para você entrar e você ainda está reclamando? — ironizou com o sorriso mais socável da face da Terra. — De qualquer forma, eu disse que a entrevista seria hoje. Vim aqui te buscar, já que eu sei que você não tem carro. Viu como eu sou gentil?
Ah, certo. A entrevista… Com toda essa merda ao meu redor até tinha me esquecido disso. Mas para vir me buscar no horário que ela queria, nas condições dela… O quão cheia de si essa mulher era?
E então, girando a chave, o carro foi ligado e acelerou em uma velocidade considerável. Era óbvio que um carro desses correria bastante, mas não estava esperando que a motorista em questão iria dirigir que nem um bêbado.
Pensei em comentar algo, mas já que não estávamos mortos, decidi deixar quieto. Talvez essa seja minha punição por sequer pensar em abandonar minha casa.
Sim… Uma mulher bem vestida aparecendo em minha casa, com um ótimo carro e um sorriso de raposa. Quando você para pra pensar nisso, demônios são conhecidos por representações assim, certo?
Exatamente. Ir para a casa dela seria basicamente como assinar um contrato com o diabo. Daqueles que ele compra minha alma por muito dinheiro.
— Você já tem carteira de motorista apesar de ainda ser uma estudante? — perguntei, tentando quebrar o gelo.
— Pffft. Claro que não.
— Você dirige sem carteira? Nunca te pararam, não?
— Uma vez me pararam em uma blitz. Só mostrei minha identidade e me deixaram passar. Vai ver tem uma lei dizendo que garotas perfeitas não precisam de carteira pra dirigir.
— Deve estar no mesmo parágrafo da lei que diz que pessoas muito ricas não podem ser punidas por crimes…
Aquela viagem estava sendo muito longa, aumentando minha curiosidade cada vez mais a cada placa que passávamos.
Sim… É óbvio que minha casa não era realmente tão perto da maioria das coisas nessa cidade, mas não tinha como o lugar ser tão longe assim, certo?
Mas logo entendi o motivo quando passamos por um grande portal de madeira. Aquele era o condomínio da família Kuroda.
Era como se uma cidade toda tivesse sido ocupada apenas para que eles instalassem suas ocupações. Além de casas e prédios, das quais eles provavelmente eram os senhorios, até instalações militares eles tinham.
Um grupo de mercenários inteiro, como um exército privado, protegiam aquele lugar com unhas e dentes. Nada nunca alcançaria essa princesinha.
E enfim, chegamos até a mansão. Aquele era o lugar onde, se tudo desse certo, em breve seria minha nova casa. A magnitude daquela casa e sua grandiosidade me deixaram hipnotizados.
Droga, Akazawa! Não se deixe levar por todo esse luxo! É isso que o demônio quer! Você precisa ser forte…
— Certo, chegamos. — Uma voz direta me despertou de meus pensamentos.
No meu transe, nem percebi que já estávamos na garagem da mansão. Estava na hora de abandonar esse estofado tão confortável e voltar à realidade. Ainda tenho uma entrevista para passar, né?
Por que estou falando como se quisesse isso? Não posso ser uma tão fácil assim, certo?
Fui guiado pela enorme residência, não podendo deixar de me impressionar com tudo que via. Aquilo era tão novo para alguém como eu.
Por dentro, o local era ainda mais bonito. Não pude deixar de notar o quanto parecia aconchegante. Principalmente os grande sofás na sala de estar que devem ter custado uma grana.
Mas não pude ver a casa toda. O objetivo da vez eram as escadarias que davam na parte de cima da casa.
— Você tem um escritório aqui ou algo assim?
— Meu pai tem um, mas eu não uso pra nada, então faz tempo que ninguém entra lá. Nem repara na bagunça.
O pai dela não está mais aqui? De fato, eu não vejo mais ninguém nessa casa além dela. É até meio assustador uma casa tão grande só ter nós dois.
Entrando no escritório, pude perceber que estava até que bem limpo e organizado. Os livros, documentos, tudo estava em ordem. Apesar de que a mesa não estava bem polida e com uma boa quantidade de pó.
Kuroda deu a volta na mesa e se sentou na cadeira que costumava pertencer ao seu pai, ficando de frente para mim. Não havia assento algum naquele escritório além deste, então fiquei de pé.
— Enfim, eu vou fazer algumas perguntinhas bem importantes para testar seu caráter?
Meu caráter, huh? Acho que é comum para empresas tentarem descobrir o perfil de alguém antes de um contrato. É preciso que eles combinem com o que é exigido da vaga, afinal.
— Que tipo de mangás você lê no seu tempo livre?
Isso… não é nem um pouco importante para o trabalho, certo? Por que ela me perguntaria algo assim?
— Uh… — Fiquei com uma cara meio morta ao ouvir isso, mas respondi de qualquer forma: — Meu favorito é Samurai de Prata, mas eu também gosto bastante de One Piece.
No momento em que a última frase foi proferida, a minha contratante deu um tapa bem forte na mesa fazendo com que eu tomasse um susto danado.
— Akazawa… — Um olhar extremamente sério foi dirigido para mim.
Fiquei com os olhos arregalados. Não é possível que essa pergunta seja tão séria assim, certo?
— Qual… qual o seu personagem favorito de One Piece?
Não faça tanto suspense para uma pergunta dessas, sua escrota! Eu achei que estava morto!
— Am… Sanji, eu acho.
— Não acredito! — gritou ela, realmente envolvida no assunto. — Eu também adoro o Sanji!
Bom pra você! Mas no que diabos isso demonstra meu caráter, hein?
— Hehe, Akazawa. Parece que você tem um perfil bem interessante para mim, mas será que você será capaz de passar pela próxima pergunta? — Kuroda direcionou um olhar muito malicioso, como se estivesse se divertindo com meu sofrimento.
— Não faço ideia.
Essa garota claramente não faz ideia de como fazer uma entrevista, mas pelo menos tudo que ela pergunta são coisas simples.
— Peito ou bunda? — Um dedo foi apontado para mim em um movimento brusco.
— Você está de brincadeira comigo!? — Me alterei completamente ao ouvir uma vulgaridade dessas.
— Responda a pergunta, Akazawa! Você não tem coragem!?
Ela está me testando… Quer ver até onde eu posso ir. Você vai ver então…
— Peitos! Peitos são a melhor coisa. Ainda mais os grandes e macios!
O que diabos eu acabei de dizer? Após ouvir a mim mesmo, virei o rosto para o lado, totalmente envergonhado. Olha o que você me fez fazer, imbecil!
— É isso, Akazawa! Você tem exatamente o perfil que eu precisava! — Com os olhos brilhando, Kuroda se levantou.
— Como diabos você percebeu isso com essa pergunta? — Totalmente vermelho, aumentei muito meu tom de voz.
— É óbvio! A maioria dos homens quando enfrentados com essa pergunta adoram se fingir de bonzinhos. — A magnata ajeitou seus óculos e começou a fazer uma voz bem fininha de tiração de sarro. — “Ai, porque o que importa é o caráter, a personalidade.” — E então, retornou ao tom normal. — Errado! Você tem que dizer o que realmente pensa!
— Então essa pergunta imbecil foi pra testar minha sinceridade? Não podia ter inventado uma forma melhor pra isso, não?
Risadas invadiram a sala. Só me faltava mais essa mesmo. Rir da minha cara.
— Relaxa. A entrevista acabou. Eu meio que me cansei de ficar fazendo perguntinhas. Não faço mais ideia do que dizer.
Você não fazia ideia desde o começo! Podia ter se esforçado um pouco mais pelo menos.
— Agora nós vamos para o teste prático. Será que você está pronto?
— Vindo de você, duvido muito — resmunguei com desdém.
Kuroda se retirou do escritório fazendo um sinal para que eu viesse junto. O que será que ela tem em mente agora?
Bom, eu não devia ter peguntado… Pois o lugar para onde fui levado era simplesmente o pandemônio.
— O que… o que é isso? — O terror nas minhas palavras era visível.
— O quarto secundário. É aqui que você vai ficar se tudo der certo.
Nem fudendo. Aquele lugar… Tinha um cheiro horrível. Eu conseguia ver meleca e comida grudada nas paredes, no chão.
E roupas. Roupas jogadas, tanto sujas como limpas, todas juntinhas. E o armário estava literalmente virado no chão. Passou um tornado nessa porra!
— Você tá de sacanagem que vai me deixar aqui!
— Errado! Porque esse é o antigo quarto… — A garota rica colocou sua mão na boca, tentando conter suas risadas. — Você vai transformar ele em novo! Com isso!
Ela então apontou para o que estava em cima do armário virado: um balde de água com sabão e uma escova de dentes.
Ela quer que eu limpe essa visão do inferno apenas com esses materiais? Isso é o quê!? O exército?
— Bom… boa sorte. — Uma saída de fininho e uma porta batida na minha cara foi o que eu recebi.
E então, o estresse começou a se acumular… Junto com o cheiro de bosta e comida estragada que permeou ainda mais minhas narinas quando a única fonte de ventilação foi trancada.
— Vai se fudeeeeeeeer! — Soltei o maior grito, com toda minha raiva acumulada desde o início da entrevista.
Depois de um tempo sofrendo que nem um condenado, de alguma forma consegui deixar o quarto limpo e organizado.
Separei as roupas salváveis e as coloquei no armário que por sorte não estava quebrado. As sujas e destruídas, separei em um cesto para jogar fora.
Como se já sabendo disso, essa foi a deixa para Kuroda abrir a porta e se surpreender com o resultado.
— Uau, você realmente tem garra, hein?
— Se eu vou ficar aqui, né? Só espero que eu não tenha que limpar assim toda vez.
Nesse momento, algo se passou pela minha mente. Enquanto limpava o quarto, encontrei algumas roupas bem interessantes no local.
Roupinhas de empregada, rabinhos e orelhinhas de gato, roupas coladas. Esse tipo de coisa…
Pensei em deixar de lado, mas minha curiosidade me venceu e tive que questionar:
— Tinha umas roupas ali no armário. Você gosta de fazer cosplay?
— Ah, eu não costumo fazer muito não.
Estranhei um pouco. Será que mora mais alguém aqui? De qualquer forma, aquelas roupas pareciam meio grandes para a Kuroda mesmo.
— Então quem usa elas? — questionei inocentemente.
— Bom…
Dizem que a dignidade de um homem é a única coisa que não pode ser comprada por nada nesse mundo. É algo que você não deve aceitar abrir mão.
Bom, acontece que isso é uma mentira, pois, sem nem perceber, acabei de vender a minha por um preço muito baixo.
— Meu deus, Akazawa! Você tá tipo muuuuuuuito fofo! Ahahahaha! Isso é incrível! — Kuroda estava tirando fotos de mim.
Acontece que no final das contas, aquelas roupas tão especiais foram compradas para os mordomos que trabalharam aqui anteriormente. Tantos homens antes de mim também venderam sua dignidade.
No começo, recusei veementemente, mas quando a minha contratante disse que ficaria me devendo qualquer favor caso aceitasse… Eu fui! Eu vesti a roupinha de empregada!
Sinceramente, após conhecer essa garota tão bem, não comprava por nenhum momento que esse demônio sádico sem consideração pelo próximo iria me ajudar com a Lyra.
Pelo menos com isso, com uma promessa, talvez eu tenha mais chances… Mas óbvio, talvez ela nunca pretenda me devolver o favor e só estou fazendo papel de trouxa aqui.
— Ei! Você não pode tirar fotos! Dá isso aqui agora! — Corri pra tentar tomar o celular da mão dela.
— Eh? Qual é a graça se eu não registrar o momento? Sai fora! Ninguém vai ver mesmo. Só meus seguidores no Twitter.
— Apaga essa porra!
Começamos a brigar pelas fotos, mas no final das contas consegui tomar o celular.
— Chato! — Ponderando por um momento, ela teve uma ideia. — Certo, Akazawa. Eu disse que realizaria qualquer desejo que você quisesse se vestisse a roupa, né?
— Sim! Mas eu não te deixei tirar fotos! Isso não tava no trato!
— Você está certíssimo! Por isso eu vou te oferecer outro desejo se você me deixar manter essas fotos.
Kuroda se aproximou de mim por um momento, colocando a mão em meu rosto. Ela estava tentando me seduzir a aceitar novamente!
— Sim, você vai ter dois desejos inteiros se só me der essas fotos… Eu vou te deixar pedir qual-quer coi-sa! — Repetiu lentamente em um tom provocativo para que eu entendesse claramente.
Hah! Só preciso de uma coisa sua! Não tem maneira alguma de eu te dar essas fotos. Se você acha que vai me enganar de novo está muito enganada.
Empurrei ela para fora de mim e imediatamente a repreendi, mostrando toda minha força de vontade em manter minha dignidade.
— Não tenho o menor interesse no seu corpo, sua vadia! — exclamei com convicção.
E então, sem pensar duas vezes, entreguei o celular de volta para ela com todas as fotos ainda lá!
— M-mas pode ser útil ter um favor de alguém influente como você, então… Toma antes que eu mude de ideia. Eu vou trocar de roupa agora.
— Eh… Mas você ainda nem colocou a roupa de gatinho…
— S-sai fora!
No final das contas, acabei pedindo um pouco mais de tempo para pensar sobre se iria aceitar a vaga ou não.
Ela aceitou me ajudar com a Lyra e até vai permitir que ela more junto comigo sem precisar trabalhar, mas mesmo sendo tão fácil assim, não consigo tirar da cabeça a ideia de sair da minha casa.
Bom, só estou meio irritado que ela deu uma desculpinha que precisava ir para um lugar urgente e me deixou há um quilômetro de casa.
No meio da minha enorme caminhada vieram pelo menos uns três mendigos pedindo esmola e acho que um queria até me atacar quando eu disse que não tinha dinheiro.
Mas quando finalmente cheguei no meu lar, algo me surpreendeu. Lyra estava entrando e o que ela segurava era um saquinho que parecia bem cheio.
— Lyra? Você tava fora de casa a essa hora?
— Ah, oi Akazawa. Eu já saí faz um tempo.
Cocei a cabeça meio confuso. Não tinha muito porque ela sair de casa normalmente. Será que ela quis conhecer melhor o lugar? Fico meio preocupado de ela sair sozinha, espero que alguém tenha ido junto.
— O que você estava fazendo?
— A Saki disse que uns ladrões ameaçaram seu pai e levaram dinheiro.— Com uma expressão totalmente séria, ela completou: — Ela parecia triste, então eu decidi procurar pelos ladrões.
— Ladrões no restaurante!? Quando que foi isso?
Apesar do crime andar meio alto esses tempos, nunca que eu esperaria um assalto na minha casa.
Além disso, a Lyra foi atrás de alguns ladrões aleatórios. Não tinha como ela achar…
— Não se preocupe, eu tomei o dinheiro de volta deles. Acho até que tem mais nesse saquinho do que eles pegaram.
— Você conseguiu pegar de volta!?
— Sim… — A loira bocejou, parecendo estar muito cansada para completar seu raciocínio. — Eu posso ir pra cama agora?
Sem nenhuma objeção, minha companheira alienígena voltou para o quarto, me deixando com o saquinho de dinheiro que havia pego de volta.
Ladrões na minha casa? Preciso tirar essa história a limpo com o meu pai. Preciso que ele me conte… absolutamente tudo.