Volume 1

Capítulo 5: Sempre Pague o Agiota

Não conseguia acreditar nas palavras que saíam da boca de meu pai. Estava estático, chocado e, mais do que tudo, muito puto.

— Você fez o quê!? 

No final, aquilo era só uma confirmação. A história batia completamente mesmo que eu não fosse capaz de acreditar. Aqueles “ladrões” que levaram dinheiro… eram credores.

O velho tinha cometido a idiotice de pedir dinheiro para um agiota. Mas o pior de tudo é que ele fez isso sem nem pensar em consultar ninguém.

— Akazawa, você precisa entender… As finanças estavam complicadas, mas eu consegui pagar no final. — Tentando apaziguar a situação, ele empurrou seus braços para a frente.

— Não importa! E se você não conseguisse? É muito arriscado! Sabe o que eles podiam fazer com a gente? Com a Saki!? 

Minha irmã viu tudo aquilo acontecendo e por sorte não tentaram atacá-la, mas aquilo foi irresponsável pra caralho. Uma criança inocente poderia ter se machucado muito!

— Não tinha outro jeito… O banco não aceitou me dar um empréstimo. — Acenou com a cabeça com um olhar culpado. — Era isso ou ficar com as contas atrasadas.

Soltei um longo suspiro. Apesar de ser uma situação estressante, precisava raciocinar. Sim, agora que a Lyra atacou os credores e roubou o dinheiro deles, estamos em maus lençóis.

E sabendo de como as coisas são, mesmo que a nossa hóspede nunca tenha saído de casa, eles vão descobrir. Eles sempre descobrem. Em outras palavras, virão atrás da gente.

— Droga, velho… O que a gente vai fazer agora? — Deixando a raiva de lado, perguntei com um tom melancólico. Afinal de contas, fui eu que trouxe a Lyra aqui.

— Temos que devolver esse dinheiro agora! Antes que eles venham atrás do pior jeito possível. 

Estava ainda com o saco de dinheiro recuperado. Aquilo que servia para pagar a dívida agora era apenas a pior complicação da nossa vida. Mas, mesmo assim, não conseguia culpar a Lyra. Apenas com a descrição da Saki, que não ouviu tudo, não havia como ela saber.

— Então eu vou. — Apontei para mim mesmo. 

— Não. Você tá louco? Fui eu que criei o problema, eu que tenho que resolver — argumentou meu pai.

Discordei totalmente. Se ele fosse sozinho poderia até mesmo morrer. Mesmo que o velho tenha errado, essa família não pode viver sem o pai. Por isso, precisava levar aquela que realmente atacou os agiotas. Se ela pedisse desculpa, talvez tudo se resolveria.

— Esse cara vai matar vocês dois. Você não faz ideia do quão perigoso ele é. 

— Se a Lyra foi até eles, roubou tudo de volta e ainda mandou eles para o hospital, eu estaria mais preocupado é com a segurança deles se tentarem nos atacar. — Dou uma risada. — Eu sei me cuidar, você sabe.

Acenei para ele como indicação de que iria embora e subi até o quarto para chamar a nossa pequena delinquente que estava dormindo de tédio. 

— Lyra! Vai se arrumar que vamos sair hoje! — gritei do lado de fora do quarto.


Um escritório bem arrumado, ostentando todo o luxo que você poderia esperar de alguém que havia enriquecido às custas dos menos afortunados, o homem bem-vestido degustava de uma taça de vinho enquanto nos fitava de maneira zombeteira.

Eu odiava apenas olhar para ele, mas infelizmente precisava me humilhar para conseguir nos salvar de problemas. Ir pela força bruta do jeito que a Lyra fez ia causar mais problemas do que gostaria.

— E-então… nós trouxemos o dinheiro de volta. Eu queria mais uma vez me desculpar por todos os problemas que causamos. Foi apenas um mal-entendido, sabe? Ela achou que eram ladrões — falei com a voz gaguejante. 

— Confundidos como meros ladrões… Isso realmente é uma ofensa para mim, sabia, Senhor Jundou? — O homem de limpos cabelos roxos balançou sua taça, derramando um pouco de seu conteúdo sobre a mesa. — Afinal de contas, somos tão importantes para essa comunidade se manter.

— Bom, seus homens ameaçaram o pai do Akazawa por dinheiro com a mesma brutalidade que um ladrão faria, então não vejo a diferença. — A loira argumentou com sinceridade.

E então, o silêncio veio. Olhei para Lyra totalmente assustado, pois tinha me esquecido de como a garota não tinha nenhum senso comum e era incapaz de entender a situação em que estávamos. 

— A diferença, minha querida… É que O DINHEIRO ERA NOSSO! — Aumentando o tom de voz, Pachinoda pousou a taça com força na mesa, fazendo com que vinho fosse lançado na minha cara. — E quem é você para falar de brutalidade? Lembra o que fez com meus homens!?

— Acho que eu quebrei os braços e pernas deles e soquei a cara de um até ficar irreconhecível. — Colocou o dedo na boca, pensativa — Uma pena que eles sobreviveram. Meu pai sempre dizia: “o inimigo morto não busca vingança”.

Pachinoda ficou ofegante ao ouvir a vanglória de uma garota que nem sequer reconhecia todo o dano que causou. E admito que isso me assustou um pouco também. A falta de remorso em seu rosto era perceptível.

Mas isso não importava nem um pouco para mim. A sua criação podia até ser assustadora, mas era um fato que suas intenções sempre eram puras. Isso era algo que nunca poderia ser tirado dela.

Afinal de contas, foi para nos proteger que tudo aconteceu para começo de conversa. Não era só sobre mim. Lyra gostava de fraternizar com Saki e ajudar meu pai em carregar coisas pesadas. Era uma boa garota.

— Lyra. Você precisa pedir desculpas pelo que fez — repreendi a garota. — Independente de como eles fizeram, eles tinham todo o direito de cobrar o dinheiro deles. 

Flexionando os olhos, a alienígena fez a expressão mais confusa que já vi alguém fazer. Sim, eu entendia o que ela estava pensando: “Pedir desculpas para esse mala covarde? Nunca!” Mas, mesmo assim, era necessário.

— Senhor Jundou… Eu nunca fui tão insultado em toda minha vida. Se vocês acham que vão se safar só com um pedido de desculpas mixuruca, estão muito enganados. — Seus olhos detestáveis se fixaram em mim. — Eu exijo uma bela compensação pelos danos. Sabe o quanto estou gastando com hospital? Não vão só devolver o dinheiro e achar que vão ficar de boas.

Engoli à seco. Esse dinheiro para pagar a dívida foi algo que meu pai teve muita dificuldade de conseguir. Agora precisávamos de ainda mais? Isso era simplesmente impossível!

— De quanto estamos falando?

— 20 milhões de ienes. — A resposta foi curta e seca, mas uma facada no meu coração.

20 milhões!? Conseguir isso na nossa vida toda seria pedir demais e ele quer que simplesmente paguemos assim. Não… Não tem como. NÃO TEM COMO!

— Por favor… Pense melhor. Não tem como conseguirmos esse dinheiro. Somos apenas um pequeno restaurante de lámen com uma péssima localização.

— Deviam ter pensado nisso antes de fazer essa palhaçada! — E então engoliu todo o vinho com uma virada da taça. — Se não pagarem agora, já sabem o que acontece! — E deu uma porrada na mesa para ameaçar.

No momento em que o forte som de sua mão batendo na madeira foi produzido, percebi a mão de Lyra fechando forte e seu corpo sendo impulsionado um pouco para frente, em um gesto de confiança.

Eu sabia o que ela queria, mas arregalei meus olhos e acenei negativamente com a cabeça. Essa garota já havia feito cabeças demais rolarem e não queria que essa fosse mais uma para a conta.

E então, havia apenas uma coisa que podia me salvar agora. Não que eu fosse usar para outra coisa, claro, mas a minha não tão querida Ikkitousen Kuroda ainda devia um favor, então…

Puxei meu celular e enviei algumas mensagens avisando para ela me ajudar nessa, deixando bem claro que era urgente e precisava dela imediatamente.

— Eu mandei algumas mensagens para a minha amiga, senhor Pachinoda. Se puder esperar um pouco, vamos acertar tudo — expliquei com confiança.

— Te dou três horas. E vamos ficar esperando aqui! Não vou tirar meus olhos de vocês.


Três horas se passaram e nada de resposta da Kuroda. Tentei ligar umas 10 vezes no mínimo e sempre deu caixa postal. Quem diabos fica com o celular desligado!?

Naquele momento, amaldiçoei o tanto quanto podia, pois tinha certeza que aquele demônio tinha visto tudo e decidido me fazer esperar apenas porque eu disse que era urgente.

— Seu tempo acabou, garoto. — Pachinoda sorriu de maneira maliciosa. — Você sabe o que vai acontecer, certo?

Ah, finalmente! — Lyra, que estava cochilando se levantou da sua cadeira, percebendo as intenções assassinas do agiota. — Se você quiser encostar um dedo no Akazawa, vou ser obrigada a te matar. 

Hahaha, isso não será necessário, minha querida.

E então, o chão embaixo de Lyra se abriu, fazendo com que ela desabasse. Era um fosso clássico daquelas casa de vilões. 

Mwhahahahaha! Agora vocês já eram. Eu vou acabar com toda a sua famíli…

— Como diabos você construiu isso em um lugar tão pequeno? E pra onde esse fosso leva? — interrompi ele, realmente curioso sobre essa conveniência de roteiro estúpida.

Ora, o-ora… Isso importa!? Eu precisava de alguma forma de me livrar dessa garota, se não ela ia limpar o chão comigo. E, aliás, não me interrompa enquanto estou sendo maligno. É rude…

Revirei os olhos com isso, mas permiti que ele continuasse fazendo a risada maléfica por um pouco de respeito. O coitado já tinha sido humilhado demais por hoje.

— Seu maldito vilão! Eu nunca vou deixar que você machuque minha família! Prepare-se para sofrer as consequências. — Apontei para ele dramaticamente e me preparei para a luta da minha vida.

Sim, naquele momento eu era o herói da história e nada ia me impedir de levar esse criminoso para a justiça. Por todas as vidas que ele prejudicou, estava na hora de ser derrotado!

E então realizei meu primeiro movimento para tentar atacá-lo, mas logo ouvi um som estrondoso que estava totalmente fora de lugar em uma cena como essas.

Bang! 

Olhei para o homem em minha frente. Sua mão portava uma pistola com fumaça saindo da boca. E então… sangue começou a escorrer de mim. A dor na cabeça era insuportável e quando coloquei minha mão, senti um buraco na minha testa.

— Merda… Não era assim que era… 

Corpo pesado, visão turva e uma luta apenas para se manter de pé. Se eu caísse agora, tudo seria destruído. Fui pego desprevenido, mas precisava lutar. Lutar… Lutar… Lutar…

— Eu vou… eu vou… — Meu corpo relaxou cada vez mais, não tinha como mantê-lo em uma forma decente para lutar. 

— Resiliente, né? Mas, sabe, nenhum mané carrega apenas uma bala em sua arma. Então… 

Bang! Bang! Bang!

No peito, nas pernas, no estômago. Três tiros certeiros. Agora não havia mais como me mover. E o sono, a vontade de cair apenas aumentava. Não… podia… mais… aguentar…

— D-desculpe, velho…

Ploft!



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