One Shot

Capítulo 3

“...Está finalizado.”

   De noite, no meu quarto. Soltei um suspiro profundo após postar o capítulo final de A Beldade Fria e de Língua Afiada e a História de Como Acabei Vivendo uma Vida Enjoativamente Doce com Ela.

   Cem capítulos. Duzentas mil palavras. Cerca de três meses de uploads.

   Nem uma vez perdi um único dia de atualização. Acho que realmente dei o meu melhor.

   Abri a latinha de refrigerante e virei. A doçura forte, o efervescente satisfatório, o aroma nostálgico que preencheu meu nariz — essa foi minha pequena e silenciosa comemoração por ter chegado ao fim sem fazer uma pausa.

“Sempre foi tão bom?”

   Enquanto eu saboreava a catarse que ¥130 não tinha o direito de proporcionar, um tom de notificação zumbiu em meus ouvidos.

{“Parabéns por terminar a história. Aproveitei cada pedacinho, do começo ao fim. Não consegui parar de chorar durante a cena em que o Ryosuke pede a Maika em casamento na cabana de bambu da infância deles. Estou ansiosa pelo seu próximo trabalho. Obrigada, Autor-san.”}

“Obrigado novamente, Nira-san.”

   Pensando bem, conheço Nira-san há cinco anos. Desde então, ela nunca perdeu uma única atualização e sempre deixou um comentário. No outono do meu primeiro ano do ensino fundamental, quando lancei minha história de estreia — cheia de paixão e risível em retrospectiva — não houve nada além de silêncio dos leitores. Quando eu estava prestes a desistir, um comentário de Nira-san apareceu. Aquele momento realmente significou o mundo para mim.

   Se não fosse por ela, eu provavelmente não teria chegado até aqui.

“Conto com você novamente, Nira-san.”

   Digitei uma resposta mais longa do que o normal. Depois de clicar em enviar, recostei-me na cadeira e olhei para o teto.

   Então me peguei refletindo sobre como essa história surgiu.

   A partir do meu sétimo ano do ensino fundamental, concentrei-me em escrever o que atrairia os leitores: histórias isekai. Reencarnação, viagens de mundo, poderes roubados, transferências de classe, vida lenta, banimento de grupos — e assim por diante. Quando escrevi para o tópico em Trending, as visualizações aumentaram e recebi muitos feedbacks. Isso me manteve motivado e consegui terminar tudo o que comecei. Mas nenhuma delas chegou a ser impressa.

    Tudo se resumia a uma coisa: eu não era bom o suficiente.

   Títulos populares que realmente fazem sucesso têm algo decisivamente diferente do que eu escrevo.

   Mas o que é? É difícil colocar em palavras, mas não se trata apenas de realização de desejos com poderes fortes e haréns. Há algo que realmente mexe com suas emoções.

   O tipo de história que te faz dizer “Claro que sim!” ou aperta o peito com um doloroso “ugh...”, ou até te leva às lágrimas.

   Quando você termina de ler, fica aquela dor agradável e persistente que te faz refletir sobre si mesmo e sobre a sua vida... É vago, mas definitivamente real.

[Kura: Sei como se sente meu jovem…]

   Ainda não tenho a habilidade de infundir minha escrita com esse tipo de magia.

   Tentei descobrir — lendo, aprendendo, me esforçando — mas ainda não encontrei a resposta. É como estar perdido em um labirinto sem saber se há saída. Mesmo assim, eu disse a mim mesmo que não conseguia parar de escrever histórias isekai, então continuei... até que o vazio se instalou.

   Também comecei a me cansar de me ater ao mesmo tipo de tom e estilo. Fiquei com medo de me esgotar completamente. Então, como uma forma de refresco, comecei a escrever esta comédia romântica.

   Eu costumava escrever comédias românticas o tempo todo no ensino fundamental. Eu não pensava demais em nada — apenas escrevia por instinto. Olhando para trás, tenho certeza de que a escrita era uma bagunça, e quem sabe se isso sequer contava como uma história. Mas Rin sempre me disse que era divertido e continuava lendo com um sorriso.

   Uma coisa é certa: eu escrevia com mais liberdade naquela época. Eu escrevia o que queria. Nesse sentido, estou feliz por ter escrito esta também. Comparado aos meus trabalhos isekai mais antigos, não recebeu nem de longe a mesma atenção, mas me diverti mais do que nunca trabalhando nele.

   Acho que consegui me lembrar de algo importante sobre o motivo pelo qual comecei a escrever.

“Mas...”

   O período de atualização acabou. Se eu quiser almejar a publicação, preciso voltar a escrever isekai. Ser isekai ou não muda drasticamente as chances de alguém pegá-lo à primeira vista.

   Isso ficou dolorosamente claro nestes últimos cinco anos escrevendo.

[Kura: Você está quase lá… Já ultrapassou as 5 mil horas, falta pouco para as 10 mil e uma oportunidade.]

   Olhei para o pingente pendurado no meu abajur — um que dizia “Desejo Realizado.”

   Sentei-me e cerrei o punho com um firme “Certo!”

   Hora de mergulhar de volta no campo de batalha.

   Renovando minha determinação, abri a pasta “Novos Projetos” e fui digitar...

“Urgh...?”

   Parecia que meu estômago revirou. As palavras na tela se distorceram e se retorceram. Uma dor lancinante percorreu minha cabeça como se tivesse sido raspada em carne viva. Meus dedos congelaram, como se alguém tivesse lançado um feitiço de petrificação neles. Não apenas meus dedos — meu corpo inteiro travou.

   Eu reconheci essa sensação. Era a mesma que senti logo após terminar meu último trabalho, quando tentei começar um novo. Aquela sensação de vazio, oco. Eu sabia disso instintivamente — meu cérebro estava rejeitando a ideia de escrever.

     Eu tenho que escrever...

   Tentei me forçar a apertar as teclas. Mas não consegui.

   Era como se todas as funções do meu corpo tivessem se unido para se rebelar contra o ato de escrever.

   Depois de lutar contra aquela sensação de pesadelo por quase uma hora, aceitei: eu não conseguiria escrever hoje.

   Como um carro velho e sem gasolina, todas as forças se esvaíram do meu corpo.

“...Acho que vou dormir.”

   Eu provavelmente estava apenas cansado. Eu vinha me esforçando muito ultimamente, e terminar um projeto sempre deixa a gente com uma sensação de vazio. Tudo ficaria bem — eu conseguiria escrever amanhã.

   Com essa esperança, me arrastei para a cama.

   Mas naquela noite, não consegui dormir por um bom tempo.

   E mesmo quando o dia seguinte chegou, eu ainda não conseguia colocar uma única palavra. No dia seguinte, foi a mesma coisa.

   Nem uma letra.

   No terceiro dia sem conseguir escrever, tive febre e fiquei de cama.

 

 

 

 

“Você está mesmo bem?”

“Estou bem... sem problemas.”

   De manhã, no meu quarto. Rin estava ao lado da minha cama, os lábios franzidos em uma linha reta e as sobrancelhas perfeitamente delineadas, franzidas de preocupação. Fiz um sinal de positivo para ela debaixo das cobertas.

   Mas a tristeza em seus olhos claros não havia desaparecido.

“Sério, estou bem. É só uma febrezinha... Provavelmente vou melhorar depois de um descanso.”

“Você ficou acordado até tarde de novo?”

“Uh, não, não dessa vez.”

“...Parece que ficou sim.”

   Assim como eu sei quando Rin está mentindo, parece que ela também consegue me enxergar.

   Talvez eu tenha algum tipo de tique.

“Aconteceu alguma coisa?”

   Ela perguntou, com uma expressão estranhamente séria. Honestamente, eu não conseguia pensar em nada além de possíveis causas.

   Provavelmente era algum tipo de febre induzida por estresse.

   E eu sabia exatamente o que estava causando esse estresse. Mas...

“Te conto quando me acalmar.”

   Eu não conseguia me obrigar a falar sobre isso ainda. Eu ainda não tinha resolvido tudo na minha cabeça.

“Entendo...”

   Ela não insistiu mais, mas seus lábios permaneceram firmemente fechados.

   Isso fez meu peito doer em sincronia.

“...Desculpe por te deixar preocupada.”

“Não, por favor, não se desculpe. Pois bem, eu vou para a escola.”

“Okay.”

   Levantei a palma da mão para me despedir dela, mas de repente ela a agarrou com um leve tapa.

   O frio da mão dela contra a minha me deu um arrepio na espinha.

“Rin...?”

“Se acontecer alguma coisa, por favor, entre em contato comigo imediatamente.”

   Ela acariciou meu cabelo delicadamente. Com cuidado e gentileza.

“...Desculpa. De verdade.”

“Está tudo bem.”

   Sua voz estava calma. Depois de um último roçar suave na minha testa, Rin se levantou lentamente.

“Pois bem, eu me vou.”

   O silêncio se instalou na sala como um lago parado. O tique-taque do ponteiro, dos segundos, soava mais alto do que nunca.

   Uma sensação de solidão, de cidade fechada, se instalou no fundo do meu peito.

 

 

 

 

   Mesmo que a aula já tivesse começado, eu ainda estava enrolado em pijamas e cobertores. A sensação era surreal.

   Parecia que eu havia vagado por outro mundo. Olhei fixamente para o teto familiar, revirando pensamentos enferrujados em minha mente. A causa da minha condição era óbvia.

   Não consigo escrever uma única palavra desde três dias atrás. Minha cabeça — meu corpo — simplesmente se recusa.

   Quando tento forçar, as dores de cabeça e a náusea voltam. Corri para o banheiro mais vezes do que consigo contar.

   A tensão mental constante finalmente desgastou meu corpo.

“...O que devo fazer agora?”

   Para ser sincero, eu estava no meu limite. Não foi tão ruim da última vez. Pensei que talvez conseguisse escrever outra comédia romântica — mas também não funcionou. Meu corpo rejeitou o próprio ato de escrever. Como se meus instintos de sobrevivência estivessem impedindo meu pé de pular de um telhado.

   Algo frio escorreu pelas minhas costas. Quanto tempo duraria esse estado?

   Uma semana? Um mês? E se... continuar assim para sempre?

   O pior cenário passou pela minha mente. Minha promessa com Rin voltou à tona. Meu estômago embrulhou novamente.

   Embora eu não tivesse comido desde cedo, um líquido quente começou a subir pela minha garganta.

   Mais uma vez, corri para o banheiro.

 

 

 

 

   Acordei um pouco depois do meio-dia. Felizmente, minha febre havia baixado bastante.

   Eu também estava me sentindo um pouco melhor. Agradeci ao milagre do sono enquanto verificava minha temperatura — só um pouco mais alta do que o normal. Parece que essa febre tinha sido apenas temporária, afinal.

   Assim que percebi que estava me recuperando, meu estômago começou a reclamar baixinho de seu vazio.

   Quando desci, Syrup apareceu aos meus pés com uma cara que dizia claramente: Por que você está aqui?

   Seu miado soou como se ele estivesse dizendo: Se você está aqui, então me alimente.

“Você tem vida fácil, hein?”

   Dei um sorriso cansado e me agachei, acariciando-a brevemente em troca de comida.

   Excepcionalmente, Syrup não resistiu.

   Era como se ela tivesse percebido que eu não estava bem e estivesse dizendo: Só por hoje.

   Olhei para ela enquanto me deixava acariciá-la em uma rara demonstração de afeto.

   Dez anos atrás, em um dia chuvoso, ela era apenas uma pequena gatinha chorando em uma caixa de papelão da Ama-izon. Agora, ela era um membro de verdade da família. O tempo voa mesmo.

   Depois de alimentar Syrup, vasculhei a despensa em busca de algo para comer. Mas não consegui encontrar nada que parecesse bom para o meu estômago. O bento artesanal da Rin me veio à mente. Eu andava comendo bastante os almoços dela ultimamente, e só de pensar que não conseguiria um hoje me senti um pouco solitário.

   Cara, eu queria muito aquele arroz de broto de bambu... Não adianta. Agora estou com mais fome ainda.

“Acho que vou comprar alguma coisa.”

   A loja de conveniência mais próxima ficava a três minutos de caminhada. Imaginei que já estava bem o suficiente para isso. Além disso, eu queria tomar um ar fresco — desculpa perfeita.

   Só por segurança, me agasalhei e coloquei uma máscara antes de sair. Uma brisa morna roçou suavemente minhas bochechas.

   O longo inverno finalmente havia chegado ao fim. Eu podia sentir a primavera se instalando de verdade. Enquanto eu caminhava, sentindo a maciez sob meus pés, uma voz chamou inesperadamente.

“Olha só~, Tohru-kun?”

   Eu me virei e vi—

“...Kaoru-san?”

   Era a mãe de Rin, Kaoru-san, que estava parada com uma expressão de surpresa.

 

 

 

 

“Aqui está.”

   No momento em que a panela de barro foi colocada à minha frente, não pude deixar de soltar um “uau” baixo de admiração.

   Caldo dourado, macarrão de trigo integral lindamente arranjado. Os acompanhamentos incluíam cebolinhas-brancas grossas, tofu frito em fatias finas e uma ameixa em conserva sem caroço. E no centro, como a estrela do show, um ovo cozido reluzente banhava-se em uma luz dourada. Não consegui deixar de pensar: por que estão me servindo udon quente na sala de estar na casa dos Asakura?

   Eu tinha encontrado Kaoru-san a caminho da loja de conveniência, procurando um almoço leve.

   Depois que eu disse a ela que estava com trancado, doente em casa, a conversa foi mais ou menos assim:

‘Ah, não! Venha para casa, vou fazer uma coisa para você.’

‘Não, sério, estou me sentindo mal. Minha febre está quase passando e eu ia comer algo rápido para o almoço…’

‘Não. Se você baixar a guarda agora, ela volta logo. Conte com os mais velhos quando precisar.’

‘Mas…’

‘Seus pais também não estão em casa hoje, né?’

‘Ugh…’

   E assim, do nada, ela me levou embora sem margem para discussão, e acabei sendo convidado para o almoço.

   Entre os bentos e o almoço do outro dia, meu estômago tem estado em dívida com a família Asakura ultimamente.

“Vá em frente e coma enquanto está quente.”

“Certo... obrigado pela refeição.”

   Hesitante, peguei os hashis descartáveis ​​e juntei as mãos.

“Mmm, isso é tão bom...!”

“Hehe, que bom.”

   O macarrão era fino, mas firme na mordida, e o caldo rico em dashi grudava perfeitamente nele.

   O molho quente tinha um sabor suave e delicado. Ao fluir para o meu estômago, me aqueceu de dentro para fora.

“Traz lembranças, não é?”

   Enquanto eu sorvia o macarrão, Kaoru-san sorriu nostalgicamente.

“Você costumava comer aqui com a Rin o tempo todo.”

   Uma lembrança distante veio à tona.

   Na época em que meus pais estavam muito ocupados, Kaoru-san costumava me convidar para jantar.

“Obrigado novamente por naquela época.”

“Não precisa ser tão formal. Eu também gostava. Além disso—”

   Com um sorriso suave, ela estreitou os olhos.

“Eu estava tão feliz que a Rin tinha um amigo.”

“Eu me sentia da mesma forma.”

   Olhei Kaoru-san nos olhos e disse o que realmente sentia.

“Naquela época, eu estava realmente sem ninguém... então, quando a Rin se tornou minha amiga, fiquei muito grato.”

   Dizer isso em voz alta fez meu peito apertar. Virei o chá oolong com um único gole. Sou só eu, ou chá tem um gosto melhor na casa de outra pessoa?

“A Rin parece tão feliz ultimamente.”

“Huh?”

   Fiz uma pausa, pego de surpresa.

“Seja se arrumando de manhã, ou depois de chegar em casa, ou quando está comendo... ela está sempre sorrindo como se estivesse flutuando no ar.”

“Sério?”

“Quando pergunto se algo bom aconteceu, ela sempre diz ‘nada’. Mas é tão óbvio.”

   Depois de uma risada discreta, Kaoru-san olhou diretamente para mim.

“Obrigada por ser amigo da Rin.”

   Um agradecimento simples e sincero. Por algum motivo, doeu fundo no meu peito.

“Eu deveria ser a pessoa a agradecê-la.”

   A dor se transformou em palavras, como gelo derretendo em água.

“Na verdade, sou eu quem está sendo apoiado pela Rin. Estou sempre causando problemas para ela... Eu até a deixei preocupada outro dia. E de novo, hoje...”

   As palavras continuaram vindo. Tudo o que eu havia reprimido derramou como a água de uma garrafa furada.

“Às vezes, eu simplesmente não entendo.”

   Finalmente expressei os pensamentos que queria contar a alguém.

“Por que alguém como a Rin... ficaria ao lado de alguém como eu?”

   Aquelas algemas de baixa autoestima me prendiam fortemente.

   Por um lado, ela era linda, inteligente, atlética, gentil, trabalhadora — alguém que chamava a atenção por onde passava.

   Por outro lado, eu era mediano nos estudos e esportes, sempre agindo de forma descolada, mas não passava de um zé-ninguém.

   Como eu não conseguia me perguntar por quê?

“Acho que a Rin poderia ter pessoas muito melhores na vida do que eu. Mas ela escolhe ficar ao meu lado, e eu não entendo por quê. Ultimamente, isso tem sido... perturbador.”

   É. Acho que venho tendo medo.

   Medo de estar atrapalhando Rin.

   Medo de que, se ela conhecesse outra pessoa, sua vida seria melhor.

   Mas, ao mesmo tempo, eu não queria que ela fosse embora.

   Eu estava com medo de perdê-la.

   Kaoru-san ouvia tudo com uma expressão paciente e compreensiva. Ela assentiu gentilmente.

“Ah — desculpe...”

   Levei a mão à boca quando a realidade voltou.

“Isso não é algo que eu deva despejar em você. Eu só estou... agindo de forma estranha hoje.”

   Forcei um sorriso. Senti meus músculos faciais se contraírem e me encolhi um pouco.

“Não, está tudo bem.”

   Kaoru-san balançou a cabeça lentamente.

“Eu também passei por esse tipo de fase. Quando você é jovem, é fácil julgar as pessoas com base no que você pode ver. E quando você não tem nenhuma característica visível, começa a se sentir inseguro.”

“Característica... visível?”

“Exatamente.”

   Levantando um dedo, Kaoru-san explicou como uma professora.

“Ser bom na escola, ser bom nos esportes, ganhar muito dinheiro — as pessoas tendem a julgar os outros com base no que é fácil de ver. É simples, afinal. E muitas pessoas escolhem com quem passar o tempo com base nisso. Isso não é necessariamente uma coisa ruim.”

   Então, ela continuou com uma verdade mais profunda.

“Mas às vezes, você se sente atraído pelas partes de alguém que você não consegue ver... pelo coração dela.”

“Pelo... coração dela.”

“Sim, pelo seu coração.”

   Kaoru-san colocou a mão no peito e riu baixinho. Aquele sorriso infantil dela me lembrou de alguém.

“Enfim, mudando de assunto.”

   Sua voz ficou um pouco mais grave.

“Rin... lembra lá no ensino fundamental, teve uma vez que ela estava tendo problemas com os colegas?”

“...Eu lembro.”

   É uma lembrança amarga para mim também. Naquela época, quando eu ainda estava no ensino fundamental, eu nem sabia que Rin estava sendo tratada tão cruelmente pelos colegas.

“A Rin tentou desesperadamente esconder, mas dá para perceber, né? Ela chegava em casa todos os dias parecendo que ia chorar. Eu fazia o que podia, mas... a situação não melhorava facilmente.”

   Kaoru-san baixou o olhar. O arrependimento era visível em seus olhos.

“Mas um dia, ela começou a sorrir mais.”

   Sua voz se acalmou novamente, e ela abriu um sorriso radiante.

“Então perguntei a ela: ‘Aconteceu alguma coisa boa?’ E sabe o que ela disse?”

   Pensei por um momento. Claro, eu não fazia ideia. Olhei para Kaoru-san.

   Por uma fração de segundo, senti como se Rin estivesse sentada bem ali na minha frente. Com um sorriso como a luz do sol, Kaoru-san falou:

 

“—Encontrei alguém de quem gosto.”

 

   Aparentemente, quando a surpresa ultrapassa um certo limite, o cérebro ativa uma espécie de limitador. Tudo à minha vista de repente parecia irreal. Kaoru-san, sentada à minha frente. A sala de estar. A mesa envelhecida. A geladeira coberta de post-its. Parecia tudo falso. Calma.

   Aquelas cinco palavras que Kaoru-san disse ecoaram na minha cabeça. Agarrei o peito, tentando acalmar a batida do meu coração enquanto repassava meus pensamentos. Assim como eu não tinha interação com ninguém além de Rin naquela época, Rin também não tinha nenhuma conexão além de mim. O que significa, por eliminação, que o “alguém” de quem Rin gostava devia ser...

“O amuleto.”

   Olhei para cima bruscamente.

“A Rin ficou tão feliz. De verdade, muito obrigada.”

   Kaoru-san fez uma reverência profunda. Mas parecia que eu deveria me curvar.

   Assim como eu gostava de Rin desde o dia em que nos conhecemos, ela vinha pensando em mim o tempo todo, desde muito tempo atrás. Não sei por quê, mas se for verdade, então essa regra que impus a mim mesmo pode estar causando muita tristeza e solidão a ela.

[Kura: Essa obra é igual a um broto de rosa. Quanto mais tempo passa, mais linda ela fica.]

     Dizer a ela que confessarei quando me tornar escritor de verdade... Que não consigo ficar ao lado dela a menos que chegue a esse ponto... Não é apenas orgulho equivocado? Só ego, na verdade.

     Será que não estive pisoteando os sentimentos da Rin esse tempo todo por causa daquela teimosia estúpida?

     Se eu realmente amo ela — se eu realmente me importo — então o que eu deveria fazer agora é...

 

 

 

 

   Algo quente tocou minha testa suavemente.

   Quando abri os olhos, um rosto familiar apareceu.

“Desculpe, te acordei?”

“...Não.”

   Ainda grogue, endireitei meu corpo pesado.

   Esta não era minha casa. O layout, o cheiro, a atmosfera — tudo era diferente. Até a luz que entrava pela janela parecia mais fraca.

“Que horas são?”

“Seis horas da tarde.”

“Nossa, já está tão tarde?”

   Lembrei-me de quando Kaoru-san me convidou para almoçar.

“Você pode tirar um cochilo enquanto estiver aqui.”

“Hã?”

“Você ainda está com febre, não é? Coloquei um futon no quarto da Rin, então não hesite.”

   Antes mesmo de perguntar “Por que o quarto da Rin?” de alguma forma me vi cochilando lá. Fim do flashback.

“Você me assustou. Imagine chegar em casa e encontrar um cara estranho dormindo no meu quarto. Se a minha mãe não tivesse deixado um bilhete, eu teria chamado a polícia imediatamente.”

“Vamos lá, pelo menos confira primeiro!”

“Imaginei que fosse você pelo vulto embaixo do futon.”

“Você ainda teria chamado a polícia!?”

“Obviamente. Aproveitando a minha ausência para fazer sabe-se lá o quê com as minhas coisas — que nojento.”

[Kura: kkkkk, esses dois.]

“Eu não fiz nada disso!”

   Respondi rispidamente, e Rin deu um sorrisinho.

“Parece que você está se sentindo melhor agora.”

“É, graças a você.”

   Minha febre tinha praticamente baixado. Comparado com esta manhã, meu corpo parecia ter passado de chumbo para algo parecido com papel.

“Acho que vou poder ir para a escola amanhã.”

“Não tem aula amanhã.”

“Ah, certo. É sábado.”

“Na verdade, são as férias de primavera.”

“Ah—!! Verdade!”

   Eu tinha esquecido completamente. Já tínhamos entrado naquele intervalo estranhamente curto de dez dias.

“Então acho que não vou ter os almoços artesanais da Rin por um tempo.”

   Esse foi o primeiro pensamento que me veio à mente. Rin piscou, surpresa.

“Bem, se você pedir... eu posso ir aí e fazer durante o feriado.”

   Ela disse isso suavemente.

“Oh, obrigado. Mas eu me sentiria mal em fazer você vir, então venho para sua casa.”

[Kura: Como posso resumir meus pensamentos em uma palavra? Ah, intrometido! kkkk]

   Com isso, a expressão de Rin se suavizou e ela assentiu gentilmente. Não pude deixar de estender a mão.

“E-Ei... o que você está... fazendo...?”

   Apesar do protesto, ela me deixou afagar sua cabeça sem resistência. Depois de afagar bem seu cabelo, puxei minha mão. Ela fez beicinho como uma criança mal-humorada.

“Ei!”

“Uwo!”

   Rin de repente me abraçou, passando os braços em volta das minhas costas.

   Um aroma doce preencheu o ar, fazendo minha cabeça girar.

“Vingança.”

   Sua voz alegre era como a de uma criança travessa. Suspirei e abracei suas costas pequenas.

[Kura: Protesto por mais fotos assim, elas enriquecem a leitura :)]

“Isso não é vingança. É mais como... uma recompensa.”

   Fiz uma piada, esperando a resposta habitual de Rin. Mas ela não respondeu — apenas ficou ali, com o rosto enterrado no meu peito.

“Rin?”

“...Eu estava preocupada.”

   Sua voz levemente abafada dizia tudo.

   Eu entendia o que Rin devia estar sentindo enquanto eu estava na escola.

   A culpa cresceu dentro de mim e, gentilmente, abracei seu pequeno corpo com mais força.

“Desculpe por fazer você se preocupar.”

“...Eu te perdoo.”

   Rin olhou para cima e deu um sorriso radiante.

   De perto, seu sorriso era como a luz do sol rompendo as nuvens.

   Meu coração disparou e, mais uma vez, percebi: eu realmente a amo.

   Seus traços delicados, seus maneirismos inocentes, seu coração gentil escondido atrás de uma fachada fria—

   Sua pureza, sua honestidade, sua diligência, sua teimosia — eu amo tudo isso. Tudo. Cada pedacinho dela. E Rin me ama também.

   Isso já é uma verdade inegável.

     Então... não é o suficiente?

   Eu amo Rin.

   Rin me ama.

   Aprofundar esse amor, levar nosso relacionamento um passo adiante — certamente é isso que devemos fazer. É isso que eu quero fazer. Mas me lembro do motivo pelo qual nunca dei esse passo.

     Ainda não sou alguém digno de estar ao lado dela. Quero me tornar um escritor antes de nos tornarmos algo mais.

   Esse tipo de maldição autoimposta — que piada. Não sou só eu me apegando ao meu próprio orgulho? Apenas ego.

     Fingindo colocar Rin em primeiro lugar, mas no fundo... quem realmente mais me importava era eu mesmo, não era?

   Aquele orgulho barato e inútil que eu nem conseguia jogar fora — foi o que fez Rin esperar todo esse tempo.

   Não posso deixá-la esperando mais.

   Este relacionamento malfeito — termina hoje.

   Vou dizer a ela como me sinto. Estou pronto. Eu nem estava mais nervoso. Mas antes disso—

“Ei, Rin.”

   Afastei-me delicadamente e me virei para ela, pronto para lhe contar algo que havia decidido.

   Uma escolha que fiz depois de muita reflexão e luta.

“Sim? O que é?”

   Rin provavelmente ficaria chocada. Talvez até magoada ou com raiva. Mas já estava decidido.

   Para a garota que apoiou meu sonho por tanto tempo, finalmente abri minha boca pesada.

“Estou pensando em parar de escrever.”

“...Huh?”

   No momento em que ouvi aquela voz frágil e quebrada, me senti como um réu aguardando um veredito de culpa. O ar na sala de repente ficou tão pesado como se estivesse saturado de mercúrio.

   O céu, tingido há poucos momentos com as cores do crepúsculo, agora estava completamente escuro.

“Você está... brincando, né?”

   Neguei com a cabeça. O medo do abandono transpareceu em suas feições serenas.

   Ela provavelmente sentia, pela atmosfera, que aquilo não era uma piada.

“Por quê...? Por que agora, de repente...?”

“Eu simplesmente não consigo mais escrever.”

   Eu disse simplesmente.

“Não consegue... escrever...?”

   Rin pareceu atordoada, incapaz de entender o que eu queria dizer. Continuei, calmamente.

“Três dias atrás... depois de terminar minha última história. Tentei escrever algo novo, mas fui tomado por náuseas e uma dor de cabeça latejante. Não conseguia nem me mexer. Não escrevi uma única palavra desde então.”

   Seus olhos claros se arregalaram de repente, como se ela tivesse acabado de fazer a conexão.

“Então... hoje, quando você desmaiou—”

“Provavelmente foi a reação de me forçar a escrever.”

   Eu tentei passar eletricidade por um circuito que já havia desligado. É claro que entrou em curto. Simples assim.

“M-Mas!”

   Rin cerrou os punhos com força e levantou a voz, quase como um apelo.

“Não é como se você nunca mais fosse conseguir escrever, né!? Só mais uma semana — ou até um mês — e se você estiver bem até lá? Pode descansar até—”

   Coloquei a mão delicadamente em sua bochecha corada. Em voz baixa, eu disse:

“Está tudo bem agora.”

   Até eu fiquei surpreso com o tom da minha própria voz.

“Já fiz o suficiente.”

   Pensei nos cinco anos que passei escrevendo sob a bandeira do Vamos Ganhar a Vida. Buscando publicações, encarando as paradas de sucesso, produzindo palavras todos os dias. Eu havia escrito apenas o que venderia, sufocando o que eu realmente queria escrever — só para cumprir uma promessa que fiz com Rin.

   E, ao fazer isso, esqueci o que tornava a criação divertida, em primeiro lugar. Não apenas divertida — parei de saber o que queria escrever. Depois de me sintonizar constantemente com as expectativas dos outros, perdi a noção de mim mesmo.

   E escrever se tornou nada além de sofrimento.

   Seria diferente se eu tivesse algo para mostrar. Mas não tinha. Já percebi isso inúmeras vezes — sou apenas mediano. Não tenho talento nem sensibilidade para me destacar.

   Aquela centelha mágica que move o coração de um leitor... eu nunca a tive.

   Talvez se eu continuasse por anos, décadas, eu pudesse me destacar com puro esforço. Mas mesmo isso não é garantido. É apenas ilusão. E não tenho mais forças para continuar correndo uma maratona sem linha de chegada à vista.

   Esse foi o ponto principal do que expliquei para Rin.

   Para minha surpresa, consegui dizer tudo com clareza e calma. Rin parecia querer dizer algo o tempo todo, mas ouvia em silêncio.

   Respirei fundo, como se estivesse traçando um limite para tudo. Então abri a boca mais uma vez.

“De agora em diante, quero usar o tempo que passei escrevendo novels... para você.”

   Rin exibia a mesma expressão de surpresa novamente — uma que eu já tinha perdido a conta.

Eu talvez conseguisse escrever de novo se desse um tempo, como você disse. Mas mesmo se eu conseguisse... se isso significasse apenas voltar a repetir os mesmos dias de novo e de novo... então eu preferiria estar com você, Rin.”

     Talvez eu devesse encarar isso de forma diferente. Talvez perder a capacidade de escrever seja, na verdade... uma coisa boa.

   Talvez seja o primeiro passo em direção a uma felicidade simples e cotidiana.

   Uma imagem acolhedora flutuou pela minha mente — eu e Rin, já adultos, sentados à mesa de jantar.

“Pensando bem, eu já sonhei em ser escritor de novels.”

“Você sonhava, não sonhava?”

   Rin sorria gentilmente e dizia: “Isso me traz lembranças.” E eu sorria de volta: “É, realmente traz.”

   Talvez houvesse uma nova vida conosco naquela mesa também — só talvez.

     Talvez seja esse o tipo de felicidade que eu deveria estar buscando.

“Não desista!!”

   Aquela visão calorosa foi subitamente substituída por uma voz que eu nunca tinha ouvido antes.

   Era o tipo de voz que irrompe depois de ser contida por muito tempo.

   Assustado, olhei para Rin. Seu rosto era uma tempestade de emoções.

   Raiva. Tristeza. Frustração. Arrependimento. Mas a mais forte de todas... era a raiva.

   Sim, claro. Eu sabia que isso aconteceria. Claro que ela ficaria brava. Havia uma parte de mim assistindo a tudo calmamente.

   Eu me preparei para isso. Quebrei minha promessa — claro que Rin ficaria brava.

“Sinto muito mesmo. É realmente quis dizer isso. Você me disse que me esperaria, que estava ansiosa por isso... e acabou assim. Você está brava, e isso é—”

“Não é isso!!”

   Uma negação firme.

“Também estou com raiva da promessa, sim — mas, mais do que tudo, o que me deixa mais brava é—”

     Parece que a entendi mal de novo.

“—é que você está mentindo para si mesmo, Tohru-kun!”

   Meu cérebro não conseguia processar direito o que aquilo significava.

“Mentindo...?”

   Deixei a palavra flutuar no ar. Apesar de tudo, meu coração deu um pulo.

“Sim. Uma mentira. Você está mentindo para os seus próprios sentimentos. Você mesmo disse isso agora mesmo, certo? ‘Chega’ e ‘Já fiz o suficiente’. Mas tudo isso foi mentira.”

   Ela falou tão rápido que nem tive tempo de responder.

“No seu íntimo, você não pensa nada disso. Você não acabou. Não é o suficiente. Eu sei que você não acredita em nada disso. Nem por um segundo.”

“Como...”

   Quando finalmente consegui dizer uma palavra, senti as brasas ardentes dentro de mim começarem a se agitar.

“Como você sabe disso?”

“Eu simplesmente sei.”

[Del: Afinal, eles são amigos de infância.]

   Rin retrucou imediatamente, completamente imperturbável com a força na minha voz.

“Porque eu te conheço desde que éramos crianças.”

   Havia mais peso por trás disso do que qualquer argumento que eu pudesse ter.

   Uma verdade tão forte que cortava qualquer desculpa, qualquer tentativa de fingimento, qualquer mentira.

“Quando você mente, você pisca com mais frequência.”

   Minha cabeça começou a arder. Isso é... irritação?

[Kura: Ela liberou o segredo…]

“É por isso que o que você disse antes não pode ser o que você realmente sente. A verdade é que—”

“Eu disse que terminei!”

   Eu a interrompi como se estivesse tentando encobrir a verdade antes que ela pudesse expô-la.

“Eu fiz o meu melhor. Eu me esforcei. Estou satisfeito e já me conformei com isso.”

   Eu enfatizei cada palavra, como se estivesse tentando me convencer.

“Então me diga—”

   Sua voz angustiada destruiu o pequeno mundo que eu havia tentado construir.

“Então por que você parece... como se estivesse com tanta dor?”

“...Huh?”

   Sua voz abafada me fez esquecer como respirar.

“Se você estivesse realmente bem com isso — se estivesse realmente satisfeito — então não teria essa expressão no rosto. Aquele rosto magoado, atormentado, à beira das lágrimas. Eu consigo ouvir — seu coração gritando: ‘Não quero desistir. Ainda quero ser escritor.’“

   Foi quando percebi que havia um calor silencioso crescendo atrás dos meus olhos.

     ...Ah.

   Eu entendi. Não podia continuar escondendo.

   Eu tentei separar razão e emoção, enterrar o que eu realmente sentia. Mas Rin tinha visto através de tudo. As emoções que eu havia enfiado bem, no fundo do meu coração explodiram como uma inundação.

“...Eu sei.”

   E agora, não há como pará-las.

“Eu já sei disso!!”

   Minha voz se elevou.

“Eu sei que continuo dizendo a mim mesmo que não há esperança, que eu deveria simplesmente desistir, que tudo isso é uma perda de tempo! Mas, no fundo, não consigo desistir. Ainda quero ser escritor. Estou preso nessa contradição patética da qual não consigo escapar — e sim, eu sei disso. Eu sei disso muito bem!!”

   As palavras explodiram da minha boca, carregadas com toda a minha energia.

   Eu estava com raiva — mas não de mais ninguém. Eu estava furioso comigo mesmo.

   Aquela lama espessa e negra de emoção surgiu como um deslizamento de terra.

   Todos os meus sentimentos crus e emaranhados se espalharam, um após o outro, confusos e imparáveis.

   Eu não queria mostrar esse meu lado para Rin... mas não conseguia parar.

“Mas agora... eu simplesmente não sei mais o que fazer...”

   Era um grito de fraqueza, completamente movido pela emoção.

“Depois de escrever dezenas de milhares, centenas de milhares, milhões de palavras... percebi uma coisa. Não tenho talento. Não tenho dom. Não importa o quanto eu continue tentando, o resultado será o mesmo. Eu sabia disso há muito tempo.”

[Kura: Sabe, a parte mais triste de uma história é que, você se esforça ao máximo, tanto que não consegue enxergar nada além do seu sonho. Mas as coisas não dão certo, dói… Mas por que parar? Já estamos aqui mesmo kakakaka]

   Um muro invisível que eu jamais conseguiria escalar, por mais que trabalhasse. Uma realidade esmagadora que eu não conseguia mudar.

   Eu já havia sentido aquela frustração lancinante tantas vezes que perdi a conta.

“Mas ainda assim... mesmo assim... eu queria ser. Eu queria entregar histórias aos leitores que ansiavam por elas. Essa era a única coisa que me fazia seguir em frente...”

   Olhei para as minhas mãos.

   As mãos que haviam criado histórias todos os dias durante dez anos. As mãos que, três dias antes, pararam de criar completamente.

“Não consigo mais escrever. Meu cérebro, meu corpo, minhas mãos, meus dedos — todos entraram em greve. Eles decidiram que escrever uma novel como estas não valem a pena.”

   Era psicológico. Continuei escrevendo mesmo quando não era mais divertido. Obriguei-me a continuar, ignorando como realmente me sentia. Eventualmente, meu coração simplesmente parou.

“Não consigo mais escrever.”

   Tudo.

“Não quero mais escrever.”

   Meu próprio fardo para carregar.

“Estou cansado.”

   Parecia que uma armadura pesada havia escorregado do meu corpo. Todas as coisas que eu havia guardado — toda aquela sujeira — finalmente saíram. E, em seu lugar, uma estranha sensação de alívio. Mas eu não conseguia olhar para Rin. Mantive a cabeça baixa. Tinha certeza de que ela estava decepcionada. Que havia desistido de mim. Mas não havia como evitar. Era quem eu era — inconfundivelmente, inegavelmente, eu.

   Quanto mais eu encarava isso, mais patético eu me sentia. Eu queria desaparecer deste mundo por pura autoaversão.

   Mas a Rin…… ela não foi embora.

“Obrigada por ser honesto comigo.”

   Sua voz era como a luz quente do sol rompendo a terra congelada.

   Levantei a cabeça. Rin sorria gentilmente.

   Por que... por que ela parecia ter aceitado tudo?

“Está tudo bem.”

   Aquele aroma doce e familiar fez cócegas no meu nariz.

“O Tohru-kun não é o tipo de pessoa que se quebraria aqui.”

   Rin se aproximou, envolvendo seus braços nas minhas costas.

“Eu sei o quão forte você é.”

   Ela me puxou para um abraço firme.

“O Tohru-kun é alguém que consegue encarar suas próprias fraquezas, seus próprios erros e ainda assim seguir em frente.”

   Ela acariciou minhas costas gentilmente como se estivesse manuseando algo delicado.

“O Tohru-kun é muito mais forte do que pensa. Muito mais incrível do que imagina. E eu sei disso melhor do que ninguém.”

   As palavras de Rin lentamente começaram a derreter o gelo que havia se firmado em meu coração.

“É por isso que vai ficar tudo bem.”

   Sua voz gentil e encorajadora ecoou em meu peito como uma bela melodia, sacudindo meu âmago.

“Faça uma pequena pausa e você poderá escrever novamente em um piscar de olhos. E a partir daí, você será imparável. Você, Tohru-kun, se tornará um escritor — sem dúvida.”

“Você não... você não sabe disso...”

“Eu sei.”

   Eu tremia de medo, mas Rin me abraçou novamente, desta vez ainda mais forte.

“Porque eu sou...”

   —Pensei que ela ia dizer Porque eu sou sua amiga de infância. Uma frase familiar.

   Mas nunca veio.

“Eu sou a...”

   —Você escreveu isso?

   —Foi realmente incrível.

“...Sua fã número um no mundo inteiro.”

 

 

-DelValle: Clap, clap, clap, clap, clap…

 

-Kurayami: Me emocionei aqui…

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