One Shot
Capítulo 1
“Tudo bem, e... lançado!”
Quarta-feira de manhã, na sala de estar de casa. Enquanto um apresentador de TV noticiava uma grande queda no Índice Nikkei de Ações, soltei um suspiro, tendo acabado de postar o último capítulo da minha web novel escrito por mim, A Beldade Fria e de Língua Afiada e a História de Como De Alguma Forma Acabei Vivendo uma Vida Enjoativamente Doce com Ela.
[Kura: Nomezinho grande. | Del: Típico das obras de hoje, se me permite dizer.]
“Terminou de escrever, Onii?”
Minha irmãzinha da quinta série, Karen, perguntou enquanto mastigava uma torrada francesa.
Sua pele era pálida como sorvete, e seu cabelo preto azeviche estava impecavelmente aparado na altura dos ombros.
Seu rosto, ainda com um toque de inocência, era incrivelmente bem-proporcionado. Como seu irmão mais velho, eu tinha absoluta certeza de que ela sempre era uma forte concorrente naquelas discussões de “Quem é a mais bonita da turma?” entre os meninos.
“Sim! Acabei de deixar mais uma cena extra doce e encharcada de calda para hoje!”
“Mm-hmm. Entendo. Ah, pode me passar a calda de bordo, Onii?”
“Nossa, sem o menor interesse, né?”
Depois de entregar o xarope, Karen sorriu como um dente-de-leão amarelo brilhante e disse: “Obrigada!”
“Aqui, está é para você.”
“Ah, obrigado!”
Peguei a torrada especial de omelete com cebolinha e dei uma mordida. Deliciosa. A crosta estava perfeitamente crocante, o interior macio e fofinho. O aroma da cebolinha passou levemente pelo meu nariz, seguido pela textura rica e pegajosa do ovo cozido. Uma harmonia de sabores se sobrepunha.
“Você nunca se cansa disso, né?”
“Cebolinha é a minha favorita. Até pão que ficou fora por três dias e ficou todo seco — é só adicionar cebolinha e pronto! Culinária com três estrelas Michelin.”
“Suas papilas gustativas quebraram?”
Ela me lançou o olhar de sempre — como se estivesse olhando para algum cultista suspeito — mas eu não me importei. Continuei mastigando minha torrada de cebolinha, feliz. Depois de dedicar toda a minha energia a escrever, meu estômago comeu rápido.
“Obrigado pela comida!”
“Foi rápido. Limpa trilho?”
“Eu não sou limpador de trilho!”
“Falando em limpar, obrigada pela limpeza de ontem, Onii.”
“Sem problemas.”
Karen sorriu como uma flor de cerejeira em plena floração, e eu fiz um sinal de positivo. Nossos pais trabalhavam e viajavam frequentemente a negócios, então costumávamos dividir as tarefas entre nós dois.
Karen, que se orgulhava de possuir habilidades domésticas de ponta, era a responsável pela cozinha.
Quanto a mim — cuja habilidade culinária era basicamente péssima — eu era orgulhosamente responsável por limpar, lavar roupa, esfregar o banheiro e tirar o lixo!
O quê? Não é uma divisão justa? Não importa. Cozinhar envolve planejar cardápios, comprar ingredientes, preparar, cozinhar e limpar. No geral, é um trabalho exigente.
“Sobre a novel que você está escrevendo...”
Enquanto eu tomava meu café pós-refeição, tendo acabado de lavar a louça de ambos, Karen de repente tocou no assunto.
“Ah? Você finalmente leu a novel do seu Onii-chan?”
“Desisti depois de ler a sinopse!”
“Imagino!”
Totalmente esperado. A história que estou escrevendo é uma comédia romântica escolar. Mas não um harém — é um cotidiano meloso e excessivamente doce com uma única heroína.
[Del: :) ]
Essa explicação soa como se meu vocabulário tivesse acabado de falhar, mas não há maneira melhor de descrevê-la.
“Minha novel é mais para pessoas cuja vida escolar pende para o lado cinza, sabe?”
Pessoas como eu, basicamente. Para alunos do ensino fundamental cujo mundo ainda brilha, provavelmente não é o ideal.
“Recomendei para meu colega Ishikawa-kun, e ele leu chorando, dizendo: ‘Esta é uma obra-prima!’”
“Ishikawa-kun, tudo bem?”
Enquanto eu me preocupava com um aluno do ensino fundamental que eu nunca tinha conhecido, um suave som de notificação soou agradavelmente.
“Ah, aí vem.”
“É a Nira-san?”
“Correto.”
Minha novel tem uma leitora muito fiel, conhecida como “Nira”.
Não importa a hora que eu poste, Nira-san sempre deixa um comentário em até dez minutos. Uma leitora divina.
{“Este capítulo foi maravilhoso de novo. A cena em que a Maika abraça o Ryosuke com um amor maternal transbordante me fez chorar. Obrigada, querido autor.”}
“Ahh, Nira-san... obrigado...”
Parecia que eu estava flutuando. Só de ouvir alguém dizer que era interessante, todas aquelas manhãs digitando valeram totalmente a pena. Não há nada mais gratificante para um escritor.
Graças a Nira-san, minha motivação continua altíssima. Além disso, me apaixonei completamente por pratos com cebolinha.
“Ops, é melhor eu responder. Vejamos... ‘Nira-san, obrigado como sempre pelo seu apoio. Eu também estava chorando enquanto escrevia aquela cena, então estou muito feliz que tenha ressoado com você.’ Pronto.”
“Onii, você é tão nojento.”
“Silêncio, criança! Você claramente não tem maturidade emocional para entender a santidade de uma cena de abraço saudável!”
[Kura: Amei esse prota kakakaka]
Assim que apertei a tecla Enter para enviar minha resposta, a campainha tocou.
“Onii, sua amada Rin-tan está aqui!”
“Quem você está chamando de amada?”
“Então ela não é?”
Em vez de responder, apenas cocei a bochecha com um olhar envergonhado em resposta ao sorriso provocador de Karen.
A ponta do meu dedo estava estranhamente quente — mas provavelmente era só porque o aquecedor estava muito alto.
“Tudo bem, estou saindo.”
“Se cuida—!”
Afastei-me de Karen enquanto ela me dispensava com um aceno. Meus passos em direção à porta da frente pareciam mais leves do que o normal.
◇
“Bom dia, Tohru-kun.”
Ao sair, fui recebido por Rin, elegantemente vestida com seu uniforme escolar.
“Oi, bom dia.”
Quando levantei a palma da mão em um aceno casual, Rin abriu a boca sem mudar a expressão.
“Você parece tão triste como sempre hoje.”
“E seus cumprimentos estão tão afiados como sempre — obrigado pela consistência.”
Era estranhamente reconfortante, como a paisagem que se vê da janela do trem todos os dias.
“Veja bem, o problema é que meu humor está diretamente ligado ao índice Nikkei. E hoje, claramente, é uma quebra do mercado.”
“Essa analogia é falha. Os preços das ações podem cair, mas também podem subir.”
“Então você está dizendo que não há chance de recuperação?!”
Os cantos dos lábios de Rin se ergueram levemente — o suficiente para que só alguém como eu notasse.
Mas a mudança durou apenas um segundo antes que ela retornasse à sua expressão habitual.
“Vamos lá. Se você tem tempo para falar bobagens, então tem tempo para ir para a escola.”
“Espera aí, Rin.”
Eu a interrompi no momento em que ela se virou de costas para mim — algo não parecia certo.
“Espere um segundo…”
Quando me inclinei para mais perto, pela primeira vez, uma pontada de inquietação surgiu na expressão normalmente inflexível de Rin.
Seu rosto, levemente avermelhado, demonstrava apenas um leve traço de agitação.
“Ei... seus olhos estão um pouco vermelhos.”
Uma puxada de ar brusca.
“Aconteceu alguma coisa?”
“...Eu bocejei há pouco.”
Isso é mentira. Eu soube na hora. Seus olhos se moveram para a esquerda e para a direita — é assim que Rin age quando está mentindo. Afinal, eu a conheço há muito tempo. Mas eu também sabia que não era nada sério. De novo, porque somos amigos de infância.
“O que você está olhando? Estranho.”
“E-eu não estava olhando!”
Ela provavelmente leu algum mangá shoujo emocionante esta manhã. Mesmo não parecendo ser o tipo, ela gosta de animes e mangás e chora facilmente. Porque sou amigo de infância dela, etc, etc.
“Bem, se alguma coisa estiver te incomodando, é só me dizer, está bem? Estarei aqui.”
“Aqui por mim, hein...”
Rin cerrou os punhos com força na frente do peito. Suas bochechas estavam com um leve tom de morango.
“O que foi?”
“Não é nada. Vamos, cachorro.”
“Você não precisava terminar essa frase com ‘cachorro’, precisava?”
Eu a alcancei e caminhei ao lado dela. A distância entre nós era do tamanho de dois pepinos.
Enquanto conversávamos sobre coisas como a última prova final e nossos planos para as próximas férias de primavera, pensei comigo mesmo novamente: Conversar com a Rin é realmente divertido.
Chegamos à estação e embarcamos no trem. Ao descermos, notei como meus passos estavam estranhamente pesados. Era a relutância agridoce de perceber que estávamos prestes a chegar à escola.
“Até mais.”
Como estávamos em turmas diferentes, nos separamos em frente à sala de aula.
“Certo. Dê o seu melhor nos estudos, está bem?”
Suas palavras finais, carregadas de espinhos, ainda me aqueceram e confortaram em igual medida.
Depois de vê-la se afastar, fui em direção à minha sala de aula.
◇
Hora do almoço, na Turma 2-2. Mordi um pão de yakisoba que comprei na loja da escola e abri o maior site de publicação de novel online do Japão, Vamos Ganhar a Vida Escrevendo Novels!
[Del: Kkkkkkkkkkk, ow, na moral, ri demais, ali estava “mordi uma frigideira”. | Kura: Del, esse jovem me lembra muito você. | Del: Como é que é meu bom?]
Certo, vamos ver que tipo de histórias estão em alta hoje — dei uma olhada nos rankings com uma expectativa esperançosa...
“Fuh!?”
Quase ergui meus olhos das órbitas e atravessei a tela. Meus colegas estavam todos me lançando olhares de “O que há com esse cara?” mas eu não tinha tempo para me importar.
“Você só pode estar brincando comigo...”
Na tela, no topo do ranking de romances de hoje:
{Denunciei Minha Amiga de Infância Valentona ao Conselho Escolar — Depois da Suspensão Dela, nos Tornamos Estranhos}
{Processando Minha Amiga de Infância Abusiva por Assalto! — Aproveitando o Dinheiro do Acordo com Férias Lunares}
{Minha Amiga de Infância se Gabou por 10 Anos de Ser Filha do Secretário-Chefe de Gabinete — Então Eu Disse a Ela que Meu Pai é o Primeiro-Ministro e que Agora Ela Pagará 500% de Imposto Sobre Vendas}
Por quê!? Por que todas as histórias de sucesso sobre amigas de infância estão completamente destruídas!?
{Amiga de Infância Castigada.}
É o rótulo de um gênero popular em que a chamada amiga de infância “heroína perdedora” é abandonada brutalmente pelo protagonista, rebaixada ao fundo da escala social ou, de outra forma, recebe apenas o que merece. Pensando bem, um autor renomado acabou de lançar um grande sucesso neste gênero recentemente. Isso deve ter dado início à tendência, e agora todos os outros escritores estão se juntando a ele — e chegando às primeiras posições no ranking.
[Del: Life Reversal? | Kura: Se invertermos os papéis, sim.]
...Eu entendo. De verdade.
Eu entendo o apelo, a recompensa emocional, os motivos da sua popularidade.
Mas eu não consigo. Não consigo ler essas coisas. Porque eu tenho a Rin — minha preciosa e querida amiga de infância.
Imaginei tudo — largar Rin, dizer que ela é a única que pagará 500% de imposto sobre vendas, ver seu rosto se contorcer de desespero enquanto ela implora: “Não me deixe!” e chora, perguntando “E quanto a taxas de imposto reduzidas...?” e estendendo a mão para mim...
BLERGH.
Foi aí que minha imaginação se fechou à força. Meu cérebro se recusou a ir mais longe. Desabei na mesa.
Resmungando com um estômago que parecia estar revirando, me amaldiçoei por imaginar qualquer coisa daquilo.
“Yonekura-kun, o que houve?”
Quando olhei para cima, a representante de classe Hashimoto Yuumi estava parada lá com uma expressão confusa.
“Amiga de infância... castigo... quinhentos por cento de imposto sobre vendas...”
“Certo, parece que alguém precisa se acalmar.”
Hashimoto-san tinha cabelos macios e fofos e emanava uma aura sonhadora e esvoaçante. Ela era o tipo de garota que sempre parecia um pouco distraída, e você nunca sabia exatamente o que ela estava pensando.
Mas ela era gentil — conversava frequentemente com alguém como eu, que não se encaixava bem na turma. Depois da Rin, ela era provavelmente a pessoa com quem eu mais conversava.
“Se tiver alguma coisa te incomodando, eu escuto, okay?”
Ela sorriu com aquele sorriso completamente desprevenido. No meu atual estado de lodo emocional, a oferta dela foi honestamente uma salvação... mas ainda era difícil de explicar. Que “Vamos Ganhar a Vida Escrevendo Novels!” estava cheio de histórias de vingança de amigas de infância, e que eu tinha projetado a Rin nelas e me afundado em ruína emocional? É, não.
“Se é difícil falar sobre isso, você não precisa, sabe~”
“...Você é vidente?”
“Você não precisa ser vidente para descobrir~”
Ela riu, cobrindo a boca com a mão, os ombros tremendo.
“Bem, se você quiser desabafar, sou toda ouvidos~”
“Yuu-miiin!”
Uma voz alegre a chamou de algum lugar próximo.
“Oh, estou sendo convocada. Te vejo mais tarde!”
“Ah, obrigado.”
Com um sorriso radiante, Hashimoto-san caminhou lentamente até seus colegas de classe.
“Desabafar, hein...”
Assim que fiquei sozinho, murmurei para mim mesmo. Desabafar...?
“É isso!”
Eu tenho o Twibber! Dei um tapa no joelho.
O Twibber é a rede social perfeita para desabafar o que você pensa. Além disso, minha conta é puramente para escrever — conectada apenas a leitores e autores — então não há risco de meus colegas de classe verem nada. Hein? Uma conta pessoal? O que é isso? É gostoso?
Toquei no ícone do pássaro-azul, abri a caixa de texto e comecei a escrever meus pensamentos.
“Toda essa coisa de carma de amiga de infância está me matando.”
Liberei meus sentimentos sem filtro no mar digital.
──Postagem enviada.
Alguns segundos depois, uma notificação foi enviada.
──‘Nira’ curtiu sua postagem.
“Ah... Nira-san.”
Nira-san é leitora das minhas novels e seguidora no Twibber.
Dito isso, nunca interagimos de verdade. Sempre me perguntei que tipo de pessoa ela é.
Enquanto eu pensava na mesma pergunta de sempre pela enésima vez, outro sinal veio.
──‘Nira’ respondeu à sua postagem.
“Mesmo!?”
Corri para a barra de notificações. Uma única resposta curta me encarou:
“Eu também acho.”
Ah, Nira-san, você me entende! Só de ser compreendido e receber minha primeira resposta de Nira-san, fiquei animado. Além disso, a culpa que senti por fazer Rin passar por um cenário tão horrível na minha imaginação me atingiu — e antes que eu percebesse, eu estava digitando isto:
{‘Nira-san! Fico tão feliz que você sinta o mesmo! Na verdade, tenho uma amiga de infância de verdade e gosto dela desde o ensino fundamental... Então, só de imaginar ela sofrendo um “karma” dói muito! Eu não quero vingança — eu quero enchê-la de amor! O que estou tentando dizer é que estou absolutamente, completamente, perdidamente apaixonado pela minha amiga de infância — AAAAAAHHHH!!!!’}
Espere! O que diabos eu vou enviar!?
──Postagem enviada.
“...Ah.”
...Que diabos estou fazendo?
Uma onda fria de pavor me invadiu. Rapidamente, estendi a mão para apagar a publicação.
Mas e se ela já tiver sido vista? Apagá-la agora pode piorar a situação...
Ping!
──‘Nira’ respondeu à sua publicação.
{“Percebo.”}
Acabou. Este é definitivamente o caminho para “ela se assustou”. Desabei na minha mesa novamente.
[Kura: Eu acho que já sei quem é a Nira.]
◇
Escrever na biblioteca depois da escola faz parte da minha rotina diária. E hoje, as coisas estavam indo bem.
Fazia cerca de uma hora desde que comecei a escrever e meus dedos não pararam de digitar nem se quer uma vez.
Por quê, você pergunta?
“Aaaaagh... Por que eu cliquei em enviar... Aaaaagh, Nira-san...”
Porque eu estava evitando a realidade. Quanto mais eu queria desviar o olhar de algo, mais produtivo eu me tornava. Graças a esse princípio, acabei terminando o próximo capítulo que planejava escrever amanhã.
“Devo postar agora ou esperar até amanhã de manhã...”
Cruzei os braços e olhei para o teto imundo. Normalmente, eu postaria imediatamente, mas agora estava hesitante.
...E se a Nira-san não comentar? Depois do que eu li durante o almoço, essa é uma possibilidade bem real. Só de imaginar isso, senti uma pontada aguda no peito.
“Por que você parece que é o último dia das férias de verão?”
Quando olhei para cima, Rin estava parada ao meu lado.
Ela estava com a mesma expressão inexpressiva e rabugenta de sempre — ou assim pensei. Algo parecia um pouco diferente.
“Seu rosto... está meio vermelho, não está?”
Quando perguntei, a expressão de Rin congelou como a de uma estátua.
“Rin?”
“P-Provavelmente é porque o aquecedor está um tanto forte!”
“Ah, sim, faz sentido.”
Agora que ela mencionou, o termostato pode estar um pouco alto.
“Bem, enfim. O que te traz aqui?”
“Por favor, não fale como um burocrata de alto escalão. É assustador.”
“Incrível como só a frase te fez pensar tudo isso.”
“Ótima resposta. Hum... quando terminar de escrever, gostaria de ir para casa juntos?”
“...Hã?”
“Por favor, não faça esse som idiota. É esquisito.”
“Quer dizer, sério, isso é incrível!?”
Eu quero esse talento!
“Você não vai para casa com a Hashimoto-san hoje?”
“A Yuu-min e a Hiyo-rin já foram embora.”
“Por que tão de repente?”
Rin desviou o olhar ligeiramente antes de responder.
“...Tudo bem de vez em quando, né? Somos amigos de infância.”
Suas bochechas ficaram com um tom de folhas de outono. E eu tinha certeza de que não era por causa do aquecedor.
Dei de ombros. Ela continua teimosa como sempre.
O tom da Rin sempre foi um pouco irritadiço, mas eu interpretei isso como um sinal de confiança. (Ou pelo menos é nisso que gosto de acreditar.)
Nos conhecemos há muito tempo e, de uma forma ou de outra, acho que a Rin tem uma quedinha por mim. (Ou pelo menos é o que eu acho.)
Mesmo assim, dizer isso em voz alta seria muito constrangedor, então essa provavelmente era a maneira dela de me convidar, sem jeito, para irmos juntos para casa. (...Ou pelo menos é o que eu acho.)
Hã? Você está se questionando sobre os parênteses? Eu não gosto de crianças espertas como você.
[Kura: Com certeza, você é mais doido do que eu. | Del: Só essa quebra da quarta parede prova isso.]
“Sinto que você está pensando em algo realmente nojento agora.”
“É tudo coisa da sua cabeça.”
“Por favor, pare de usar essa voz estranha que soa como katakana. É assustador.”
“Você é realmente sublime, sério!”
E foi assim que acabei indo para casa com a Rin.
◇
Caminhamos lado a lado a caminho de casa. Em algum ponto do caminho, notei algo.
Rin estava caminhando muito mais perto do que o normal. Esta manhã, havia cerca de dois pepinos de distância entre nós — agora era um.
“.........”
Casualmente, me inclinei um pouco para longe enquanto caminhávamos.
E assim, Rin se aproximou para diminuir a distância.
“Hum, Rin-san?”
“Eu não sou um composto.”
“Isso é ácido fosfórico. Uh, você não acha que estamos meio perto agora?”
Rin se afastou um pouco mais, então me lançou um olhar como um gato que foi pego roubando um lanche e disse:
“Agora, o que te faz pensar isso?”
“Essa foi a negação mais descarada que eu já vi.”
Olhando mais de perto, Rin piscava mais do que o normal e seus lábios tremiam em uma linha fina. Sinais clássicos de que ela estava nervosa.
“Está tudo na sua cabeça. Você está pensando demais. Se seu cérebro tem espaço para essas bobagens, por que não usá-lo para fazer alguma coisa hilária que me faria rir tanto que eu rolaria no chão segurando a barriga?”
“Isso é tão exagerado que é até revigorante!”
Ainda assim, parecia uma daquelas vezes em que eu não deveria me aprofundar muito — provavelmente só um capricho. Rin é como um gato: às vezes ela simplesmente faz coisas, e nem eu, seu amigo de infância, consigo entender.
Não há lógica nisso. É isso que são os caprichos. E se não há lógica, então é inútil pensar demais. Então, optei pela resposta madura: simplesmente deixar para lá.
Mas mesmo depois disso, Rin estava agindo de forma estranha — como se tivesse outra coisa em mente.
Olhando para trás, era estranho que ela não tivesse ido para casa com Hashimoto-san e as outras e tivesse escolhido ir comigo. Então, ela se aproximou aos poucos. Não era aleatório.
Não, isso é definitivamente estranho. Há uma intenção por trás disso. Ela está tentando dizer algo.
Eu tive um palpite — e esse palpite se mostrou certo.
“Tohru-kun, você sempre come pão da loja da escola no almoço, certo?”
“Huh? Sim. Barato, rápido e saboroso. É ótimo.”
“Então, se você pudesse almoçar de graça, instantâneo e saboroso... você escolheria isso?”
“Hum? Bem, sim. Mas não existe comida milagrosa assim—”
……
“Huh, Rin?”
“………Você estaria interessado em, digamos, um almoço caseiro?”
Rin olhou para mim.
Sua expressão vazia de sempre — exceto que ela piscava mais do que o normal, suas bochechas estavam vermelhas e seus lábios tremiam levemente.
Em seus olhos, claros como o céu de uma noite de inverno, eu vi... ansiedade? Esperança?
“Espere, Rin — não me diga que você veio até aqui só para dizer isso—”
“Não me entenda mal. Acontece que eu estava me sentindo extremamente generosa hoje e pensei em mostrar um pouco de misericórdia para um certo amigo de infância solitário cujo almoço é sempre meio triste. Só isso. Só um ato passageiro de gentileza divina.”
“Você acabou de se chamar deusa?”
“Cale a boca. Não quero ouvir isso de alguém que se autodenomina o deus de um novo mundo.”
“Eu nem tenho um caderno preto!”
[Del: Uff, referências. | Kura: Imagina se tivesse.]
“Mas você tem um caderno cheio de bobagens como ‘Infernal Blaze Hellfire Phoenix’ ou ‘Crimson Moon of the Fallen Angel Angela,’ não é?”
“Esse é o meu caderno do passado constrangedor! Espera aí — como você sabe disso!?”
Essa deveria ser minha informação ultrassecreta e super constrangedora.
“E daí? Qual é a sua resposta?”
“Claro que eu quero! Quem não gostaria?”
Eu nem precisei pensar. Cruzei os braços e declarei com confiança.
“...Entendo.”
Uma voz levemente elevada. Rin baixou os olhos e os cantos da boca se curvaram levemente para cima — claramente demonstrando alegria. Ver aquela expressão fez meu peito apertar.
Antes que eu percebesse, estendi a mão e dei um leve cafuné na cabeça de Rin.
“Hyah…!”
“Ah, desculpe.”
Sua voz soou quase duas oitavas mais alta do que o normal, e eu rapidamente puxei minha mão de volta.
[Kura: Ops, achou o botão do volume…]
“Você realmente tem um parafuso a menos, dando um cafuné na cabeça de alguém do nada desse jeito. Isso é mais do que assustador.”
Rin colocou as duas mãos na cabeça e me encarou.
“Desculpe, desculpe, eu me empolguei.”
“Você deveria estar feliz por ter sido eu. Qualquer outra pessoa teria se assustado instantaneamente.”
“Ah, então você está me perdoando?”
“...Você já sabe a resposta.”
Rin murmurou com um olhar levemente irritado. Até mesmo seu beicinho de criança era fofo.
“De qualquer forma, eu vou fazer seu almoço, então esteja pronto.”
“Obrigado! Sério, estou super feliz! Mal posso esperar!”
Eu disse exatamente como me sentia. Ao me ver pulando como uma criança em um parque temático, Rin deu um pequeno sorriso mais uma vez.
◇
“Você é nojento, onii.”
Quinta-feira de manhã. Enquanto eu dançava de alegria na sala, minha irmã disparou um comentário implacável.
“Desculpa, Karen. Seu irmão mais velho ficou um pouco animado demais.”
“Sério, onii. Tente ser a irmã mais nova que tem que assistir o irmão mais velho realizar algum ritual de culto logo de manhã.”
“Onde você aprendeu a dizer algo assim?”
“Daquele seu caderno que estava completamente riscado com caneta permanente!”
“Espera aí — por que você sabe disso também!?”
“Mais importante, onii, parabéns! Quer dizer, a Rin-taso vai fazer um almoço para você!”
“Não é!? Isso é o melhor!”
Comparado ao grande evento de hoje, o fato de meu caderno de horrores ter sido exposto foi, na melhor das hipóteses, uma pequena tragédia.
“Devo ter me comportado muito bem ultimamente. Até os deuses estão cuidando de mim.”
“Então esse Deus é realmente péssimo.”
“Isso é um pouco duro, não acha? Estou preocupado de que você esteja espalhando esse veneno na escola também.”
“Não se preocupe. O Ishikawa-kun disse que gosta de conversar comigo!”
“...O Ishikawa-kun está mesmo bem?”
Enquanto eu me preocupava com o futuro de um garoto da quinta série cujo sobrenome era tudo o que eu sabia—
“A propósito, onii, você não vai lançar capítulo do seu romance hoje?”
“Hm? Ah...”
A pergunta dela me deu o mesmo frio na barriga de quando minha mãe pergunta: “Como foi a prova?”
Eu ainda estava pensando no que aconteceu com Nira-san e não tinha conseguido postar nada esta manhã.
“O lançamento de hoje foi cancelado por... uns motivos.”
“Ah, não. Isso é raro. Você tem postado todos os dias.”
“Ah? Você está acompanhando? Isso deixa seu irmão mais velho feliz!”
“Amakusa (Alexa), me diga como lidar com meu irmão quando ele fica assim.”
Ping♪
“Nós o queimamos.”
“As IAs não estão ficando um pouco agressivas demais ultimamente?”
A revolta das IAs pode não estar tão longe.
Miau. Do nada, uma gatinha branca e fofa entrou no quarto.
Era nossa gatinha de estimação, Syrup. Quando a resgatamos pela primeira vez em um dia chuvoso, ela era do tamanho de um smartphone. Mas, como eu a mimava para que gostasse de mim, ela ganhou um corpo bem corpulento.
Meow.
Ah, ela está aqui por comida de novo, né? Mas não posso desistir agora. É hora de fortalecer meu coração e começar uma dieta para ela — ou então seu corpo vai virar um tubo único como um pãozinho ehōmaki.
Miau, miau. Acaricia, acaricia.
Preciso ser forte... Preciso...
Sua patinha fofa me cutucou gentilmente.
“Que droga, Syrup~! Olha o que eu tenho para você — ração especial de luxo para gatos!”
“Ei! Onii! Pare de mimá-la de novo!”
“Não consigo evitar! Quer dizer, olha só esses olhinhos redondos e esses batidinhos de patinhas! Tenho que ceder!”
Ahh, por que os gatos são criaturas tão insuportavelmente fofas?
Aqueles olhinhos redondos, essas patinhas delicadas. Na maioria das vezes, eles são indiferentes e reservados, mas quando bate a vontade, eles vêm até você com todos os tipos de miados e gestos, pedindo carinho. Esse abismo — esse contraste — é simplesmente irresistível.
Falando em abismo... Rin me veio à mente. Ela costuma ser tão tranquila e serena, mas de vez em quando demonstra um pouquinho de carinho. E se, hipoteticamente, ela não demonstrasse um pouquinho... mas viesse até mim toda grudenta e doce...
‘Tohru-kun…’
Só nós dois, sozinhos em algum cômodo. Ela abre os braços e diz:
‘Quero um abraço…’
Eu morreria. Sem dúvida, seria mandado direto para o céu.
A causa oficial da morte? Insuficiência cardíaca induzida por uma fofura avassaladora.
“Seu rosto parece um daqueles cones de trânsito que derreteram com o calor extremo.”
“Essa é uma bela metáfora para uma criança do ensino fundamental.”
Assim que terminou de comer, o comportamento pegajoso de Syrup desapareceu como se nunca tivesse existido. Ela se afastou sem dizer mais nada.
Parecia assistir a um show de fogos de artifício repentinamente cortado para preto, deixando apenas um vazio doloroso para trás.
“A Syrup provavelmente vê você como seu servo.”
“Por favor, pare. Eu estava me perguntando se isso poderia ser verdade.”
Talvez não seja o humano que possui o gato, mas o contrário.
◇
“Isso parece tão boooooom!!”
Meu grito de alegria ecoou pela sala multiúso. Não consegui evitar — só de abrir a tampa e ver o que havia dentro, eu gritei. Dentro da caixa bento havia uma omelete dourada enrolada, frango karaage com cobertura de mostarda e mel, omelete de cebolinha chinesa e bardana kinpira, e o prato principal: arroz misto com broto de bambu.
Bastava uma olhada e ficava claro que era feito em casa. Minha empolgação foi às alturas.
“Por favor, não grite tão de repente. Você não é criança.”
Suas palavras tinham um leve tom mordaz, mas os lábios de Rin se curvavam em um sorriso. O jeito como ela cerrava os punhos parecia menos como “Quero dar um soco nesse cara” e mais como “Eba! Estou tão feliz!”
“Ah, qual é, somos só nós dois aqui.”
“Não é esse o ponto... E, além disso, não precisamos ser sorrateiros sobre comer aqui.”
“Você não gosta de rumores, né?”
Rin era o tipo de beldade de alta performance que todo aluno admirava. Se corresse o boato de que ela estava almoçando com alguém como eu — o introvertido melancólico típico — quem sabe que tipo de boatos começariam a circular. Esse tipo de atenção provavelmente não era algo que ela gostaria.
Foi o que pensei, mas, por algum motivo, ela fez beicinho.
“Eu não me importaria.”
“Bem, é só por precaução. E também... porque eu gosto mais quando somos só nós dois!”
“E-eu estou... feliz...”
“Quer dizer, esse é o maior motivo!”
“Não diga coisas estúpidas assim. Só se apresse e coma suas calorias!”
“Obrigado pela refeição!”
[Del: Itadakimasu.]
Batendo palmas, comecei com o karaage coberto com mostarda e mel.
“Mmm!”
Devia ser uma marmita térmica, porque o karaage ainda estava levemente quente. A cobertura se desfez quando mordi, e o suco saboroso da carne explodiu na minha boca. O tempero forte de mostarda e mel despertou uma vontade insaciável de arroz, com um aroma forte de gengibre.
“Como está...?”
Olhadinha. Seus olhos demonstravam um leve nervosismo. Fiz um grande sinal de positivo para ela.
“Está incrivelmente bom!”
Rin cerrou os punhos. É, esse é definitivamente um momento de “Eba! Estou tão feliz!”
“Isso é realmente incrível.”
Os elogios não paravam. O tamagoyaki estava sutilmente doce e rico em umami, graças ao caldo de bonito (peixe). A crocância fresca da cebolinha se misturava perfeitamente com o ovo mole, criando um sabor incrivelmente suave.
O arroz misto também se destacava — os brotos de bambu doces e texturizados o tornavam nostálgicos e deliciosos.
“Espera aí... isso não é, tipo, todas as minhas coisas favoritas?”
O pensamento me atingiu e eu disse em voz alta. Principalmente o arroz com broto de bambu — que era facilmente o meu favorito de todos os tempos.
“Bem, eu sou sua amiga de infância. Já sei exatamente que tipo de comida faz suas bochechas caírem de alegria, Tohru-kun.”
Ahh, não aguento mais. Larguei meus hashis e estendi a mão em direção à cabeça de Rin.
“Obrigado, Rin.”
Dei um tapinha nela delicadamente. Textura macia e sedosa. O som de dedos roçando o cabelo.
“Yah... o-o que você pensa que está fazendo...”
Sua voz inesperadamente sensual despertou o covarde dentro de mim, e eu rapidamente retirei minha mão.
“D-Desculpe, desculpe, eu simplesmente não consegui conter o quanto me senti grato.”
“Você é o tipo de canalha que usa a gratidão como desculpa para dar carinho na cabeça das pessoas, hein, Tohru-kun?”
“Para alguém que diz isso, você não pareceu totalmente contra.”
“Eu vou ficar brava, sabia?”
“Sim, senhorita, desculpe, senhorita.”
Aqueles punhos cerrados pareciam que iam se transformar em um “Vou dar um soco nesse cara” a qualquer momento, então silenciosamente voltei meu foco para apreciar o bento.
◇
“Espere um minuto, Rin?”
Depois que terminamos de comer, Rin de repente se aproximou sem aviso.
Seu nariz bem-feito e pele translúcida se aproximaram, tão perto que eu conseguia distinguir cada detalhe.
Aqueles olhos negros, profundos e claros olharam diretamente nos meus, deixando-me completamente perturbado.
“Hum...?”
“Tohru-kun, você não parece muito bem hoje.”
“Oi?”
Toquei minha própria testa.
“Acho que estou com uns 36,5°C agora.”
“Quem falou da sua temperatura corporal?”
“Mas se você continuar me encarando desse jeito, posso passar dos 40 a qualquer segundo.”
“Ah—!”
Rin rapidamente se afastou.
“P-Pare de dizer coisas estranhas do nada! Sua sonolência pós-refeição acionou algum interruptor estranho!? Você é um macaco louco por luxúria!?”
“Você com certeza está cheia de energia hoje.”
“Concentre-se em si mesmo! E então? O que está acontecendo?”
“O que você quer dizer com ‘o que está acontecendo’...”
Agora que ela mencionou... Acho que me sinto um pouco estranho. Meio confuso, talvez.
“Meus olhos não se deixam enganar.”
Rin me encarou com uma expressão estranhamente séria.
“Sua voz não tem a energia de sempre, e até seus comentários grosseiros não são tão cortantes.”
“Então meus comentários de sempre são grosseiros, hein?”
(Rin) “Só estou dizendo... estou preocupada. Se algo estiver errado, quero que você me diga.”
Ela está preocupada comigo. Esse pensamento provocou um turbilhão de culpa e gratidão dentro de mim.
“Tem algo a ver com a sua escrita?”
Parecia que uma mão fria havia agarrado meu coração. A expressão de Rin dizia que ela tinha certeza.
“...Você é incrível, Rin.”
“Então estou certa?”
“É, você está certa. Sério, isso é impressionante.”
“Sou sua amiga de infância há muito tempo, sabia?”
Seus lábios bem delineados se curvaram em um pequeno sorriso. Cocei a nuca antes de continuar.
“Na verdade, esta manhã... deixei de postar pela primeira vez em cinco anos.”
“...Por quê?”
“Um dos meus leitores... meio que se desanimou comigo.”
“Desanimou...?”
Rin piscou arregaladamente. Faz sentido.
Como ela não lê meus romances, provavelmente não tem ideia do que estou falando.
“Tem uma leitora que me manda feedback toda vez que eu lanço capítulo, já faz um bom tempo.”
“...Okay, e?”
“Bem, ontem, essa pessoa respondeu a uma das minhas postagens no Twitter pela primeira vez. Fiquei meio animado.”
“Então você mandou uma resposta lixo, hein?”
“É isso que significa?”
“‘Resposta lixo’ é gíria. Tentar defini-la corretamente é perda de tempo. E aí?”
“A julgar pela reação dela... acho que a deixei desconfortável. E saber que provavelmente fiz a maior fã que ficou comigo esse tempo todo se sentir mal... isso me atingiu em cheio.”
“Então você estava tomado por autoaversão e culpa e não conseguiu se forçar a postar.”
“Rin, você me entende mesmo.”
“E você também está com medo de que ela nunca mais te enviem feedback.”
“Você me entende mesmo, mesmo!”
“Sou sua amiga de infância.”
Rin estufou o peito como se fosse a coisa mais natural do mundo e continuou.
“Acho que você vai ficar bem.”
Ela disse isso com confiança.
“Essa pessoa acompanha seu trabalho e te envia feedback há muito tempo, certo?”
“É. Temos... uma conexão de cinco anos.”
“Então ela definitivamente é uma grande fã da sua escrita. Duvido que alguém assim abandone completamente o seu trabalho só porque você enviou uma resposta horrível de arrepiar.”
“Por que o fator ‘horrível’ continua aumentando cada vez que você toca no assunto?”
Mas... ela pode estar certa.
“Essa pessoa provavelmente está se sentindo triste esta manhã porque sua história não foi atualizada. Talvez... ela esteja até se perguntando se é culpa dela você não ter postado nada.” Aqueles olhos claros e honestos olharam diretamente para os meus.
“É por isso que, agora, o que você precisa fazer, Tohru-kun, é postar.”
“Mas...”
“Tudo bem. Tenho certeza de que ela não desistiu de você.”
Suas palavras tinham peso.
Parecia que Rin estava falando diretamente em nome de Nira-san — tão convincente ela soava.
[Kura: Sei, sei…]
“E também...”
Ela levantou um dedo bruscamente, como se estivesse repreendendo uma criança teimosa.
“Tohru-kun, essa leitora não é a única, certo? Há muitos outros que aguardam ansiosamente suas histórias.”
Isso me impactou. Eu entendi o que Rin estava tentando dizer.
“Você deveria escrever para eles também.”
Rin estava certa. Além de Nira-san, havia muitos outros que favoritaram minha história, que deixaram comentários. Eu precisava continuar atualizando — pelo bem deles também.
“Obrigado, Rin. Eu estava começando a perder a perspectiva.”
“Fico feliz em ouvir isso... ou melhor—”
Desta vez, o tom de Rin ganhou força.
“Tohru-kun, você vai ser autor, não é? Então não tem tempo para ficar parado. Não me diga que esqueceu a promessa que me fez naquele dia.”
—Ah, é verdade. Anos atrás, fiz uma promessa à Rin.
Que, quando eu me tornasse romancista, ela seria a primeira a ler meu livro publicado. Prometemos.
“Certo!”
Chega de ficar parado!
“Estou acordado agora. Vou escrever!”
Seja para Nira-san ou para os outros leitores — há muitos motivos. Mas, acima de tudo, tudo se resume àquela promessa com Rin. Um dia, vou publicar “Vamos Viver de Romances!”. E a Rin vai lê-lo. Essa é a minha maior motivação para escrever.
“Sim, esse é o espírito.”
A expressão de Rin se iluminou mais do que eu já tinha visto há muito tempo.
Era um sorriso terno e compassivo — tão caloroso que quase tive vontade de abraçá-la na hora.
“Obrigado, Rin.”
“De nad... huh?!”
Não consegui conter a gratidão e passei a mão pela cabeça de Rin. Uma brisa entrava pela janela, farfalhando seus cabelos delicados. Pensei que ela fosse afastar minha mão e gritar: “Que nojo, pare de me tocar, seu idiota, cabeça-dura, imbecil do macarrão instantâneo,” ou algo assim.
“Mmm...”
Mas, inacreditavelmente, Rin encostou a cabeça na minha mão. Sua voz era suave e despreocupada.
[Kura: Algo me preocupa aqui… Não temos foto?!]
Como uma criança cochilando pacificamente em um terraço arejado, sua expressão era de puro conforto.
Com os olhos delicadamente fechados, ela até ronronou como um gatinho mimado.
“...Você não está brava?”
“Estou de muito bom humor agora. Esta é uma exceção especial.”
“Então vou aproveitar ao máximo este momento único na vida...”
“Se você abusar da sorte, vou ficar brava.”
“Desculpe, não vou. Eu prometo.”
“Fufu, ótimo.”
Rin deu um sorriso tão suave, tão gentil, que me fez zumbir.
Com o coração disparado, continuei acariciando seus cabelos delicadamente por mais um tempo.
◇
Depois da aula, atualizei meu romance na biblioteca e estava a caminho do banheiro quando recebi um comentário de Nira-san.
{“Este capítulo foi ótimo de novo. Ri alto quando a Maika ficou tão brava que plantou brotos de bambu sob o assoalho do Ryosuke. Obrigada, autor!”}
Nira-san não havia desistido da minha novel. E havia mais no comentário de hoje.
{“P.S.: Fiquei preocupada quando não houve atualização esta manhã. (Eu me senti um pouco solitária.) Por favor, cuide-se e continue com o ótimo trabalho.”}
Não tinha como eu não ficar feliz com isso. Não é à toa que meu rosto relaxou em um sorriso.
“Por que você parece um cone de trânsito derretendo em uma onda de calor? Que nojo.”
“Essa frase me parece muito familiar...”
Quando voltei para a biblioteca, Rin estava sentada me esperando. Costas retas, lendo um livro.
Enquanto eu me sentava ao lado dela, uma imagem do passado de repente passou pela minha cabeça.
“Há algo errado?”
“Não, é que... essa situação me lembra dos velhos tempos.”
“Há tanto ‘velhos tempos com Tohru-kun’ que eu não sei a qual você se refere.”
“Isso me deixa meio feliz. Não, quero dizer... como quando nos conhecemos.”
“Ah...”
Rin ergueu o olhar do livro e olhou para o teto. Depois de um breve e nostálgico piscar de olhos...
“Isso aconteceu mesmo, não é...”
Ela murmurou baixinho, como se a lembrança tivesse acabado de escapar. E com isso, o assunto desapareceu silenciosamente.
“Ah, certo...”
Quase me esqueci. Havia algo que eu realmente precisava dizer.
“Obrigado, Rin.”
“Pelo quê?”
“Você sabe, pelo almoço.”
“Ah, se for sobre o bento, não se preocupe.”
“Bem, estou super ultra feliz, obrigado pelo bento também, mas...”
Fiz uma pausa e continuei.
“Eu estava falando do assunto que conversamos durante o almoço. Aquela leitora. Depois que atualizei agora há pouco, ela deixou um comentário.”
“...Entendo. Que boas notícias.”
Ela respondeu após uma pausa estranhamente longa, com uma expressão estranhamente composta.
“Você estava totalmente certa. Sério, isso é incrível. Obrigado.”
“Por favor, não me elogie tanto.”
“Hã? Por que não?”
Ela cobriu a boca com o livro e me espiou por cima enquanto murmurava:
“É constrangedor, okay...”
F-fofa. Instintivamente, estendi a mão.
“Se você tentar me dar um cafuné agora, não vou mais fazer seu almoço.”
“Okay, desculpe, me empolguei... espera, oi?”
Duvidei dos meus ouvidos. Pensando que pudesse ser um sonho, puxei minha bochecha.
“O que é isso, uma imitação de um protagonista que acabou de ser isekaiado há dez segundos?”
“Então... você vai fazer o almoço de novo amanhã?”
Com um baque suave, Rin fechou o livro, deu um sorrisinho diabólico e se inclinou para me olhar.
Instintivamente, prendi a respiração — e ela soltou uma risadinha discreta.
Num raro tom de provocação, Rin disse:
“Bem... o que você acha?”
◇
Meu primeiro encontro com Rin surgiu do nada. Dez anos atrás, numa tarde de junho, com o calor do verão começando a se aproximar. Depois da escola, enquanto os colegas estavam lá fora se atirando com bolas em algum jogo quase violento, eu estava na biblioteca com ar-condicionado, trabalhando elegantemente em meus textos.
Mesmo naquela época, eu queria me tornar escritor. Embora, na verdade, não fosse diferente de como os alunos do ensino fundamental moderno dizem que querem se tornar YouTubers e criar um canal por impulso.
O motivo era simples: eu tinha visto um famoso autor de light novels, Sato Maple-sensei, aparecer no programa de domingo à noite Burning Continent e fiquei instantaneamente cativado. Era isso. Eu queria ser como Maple-sensei — uma figura solitária escrevendo histórias silenciosamente em uma mesa. Eu realmente achei que isso soava legal.
Esse é mais ou menos o nível de motivação que um aluno do ensino fundamental costuma ter. Olhando para trás agora, eu também era um solitário que tinha dificuldades com a interação social, então provavelmente só queria justificar esse isolamento me tornando um personagem assim.
Então, para mim, a biblioteca depois da escola se tornou uma espécie de câmara do tempo hiperbólica para o meu espírito.
Todos os dias, eu me sentava longe da entrada e rabiscava meus manuscritos.
Naquele dia, o ar-condicionado superpotente me pegou no meio da escrita e tive que correr para o banheiro. Depois de derrotar o monstro e voltar para a biblioteca, avistei uma garota olhando fixamente para o meu manuscrito.
Ainda me lembro vividamente de como me senti impressionado com a beleza dela.
Cabelos pretos descendo até a cintura, pele pálida como a neve e um rosto como o de uma boneca de porcelana.
“Você escreveu isso?”
Ela perguntou, com os olhos arregalados fixos nos meus. Seu olhar parecia intenso — quase como se ela estivesse com raiva.
Já desajeitado com as pessoas e não muito bom em comunicação, me vi instintivamente me encolhendo.
“Ah, desculpe.”
Como se tivesse percebido algo, ela piscou algumas vezes.
“Eu não estava te encarando. Meus olhos são naturalmente afiados, só isso.”
Ela disse isso com tanta suavidade, como se fosse uma frase que já tivesse usado muitas vezes. Ouvindo isso, lembro-me de pensar “ah, tudo bem,” e simplesmente aceitar sem muita resistência.
“Você... leu?”
“Sim, eu li.”
Por quê? Eu estava prestes a perguntar quando ela continuou.
“Eu vi o papel no chão. Quando o peguei, por acaso dei uma olhada.”
Ela desviou o olhar, um pouco envergonhada.
“Bem... era muito interessante, então acabei lendo tudo.”
Coçando a bochecha desajeitadamente, ela fez um gesto surpreendentemente inocente que parecia fora de sincronia com sua postura serena. Meu coração disparou.
“Desculpe por ler sem permissão.”
Ela se curvou profunda e educadamente. Não consegui me impedir de dar um passo à frente.
“O que você achou!?”
“Huh?”
“Minha história — o que você achou dela!?”
Tenho quase certeza de que estava brilhando mais forte do que uma estrela de primeira magnitude. Normalmente tímido e quieto, eu estava iluminado de energia, apenas pela empolgação de ter alguém lendo minha história.
Eu queria saber o que ela achava do meu trabalho. Eu queria suas impressões! Motivado por aquele desejo unilateral de validação, devo ter agido um pouco estranho, porque os olhos da garota se arregalaram por um momento. Mas, sua expressão se tranquilizou suavemente enquanto ela falava.
“Foi realmente interessante.”
Uma luz brilhou no mundo escuro e solitário em que eu vivia. Ela disse que minha novel era interessante.
Parecia que ela tinha me aceitado como eu era. Naquela época, eu não tinha amigos e estava sempre sozinho, então aquelas palavras me encheram de uma alegria tão intensa que me fez tremer. E em relação à garota que me dava aquele sentimento, comecei a sentir algo acolhedor — como a luz do sol na primavera. Eu era jovem demais para reconhecer o que realmente era aquele sentimento. Mas agora acho que fui atraído por ela a partir daquele momento.
A garota levou a mão à boca e soltou uma risadinha suave.
“Por que você está rindo?”
“Desculpe. Só pensei que você seria mais quieto e reservado.”
Ela falou como se me conhecesse há muito tempo. Então continuou.
“Não... tem continuação?”
◇
“Certo, postado!”
Bom dia. Sala de estar. Depois de postar, soltei um suspiro e engoli com um café preto.
“Bom trabalho, onii.”
Karen murmurou suas palavras entre mordidas na torrada de pizza enquanto oferecia algumas palavras de agradecimento.
“Obrigado, Karen. Lancei mais um capítulo encharcado de melaço hoje!”
“Você fala sobre o seu trabalho em qualquer oportunidade.”
“Só porque você me deu a abertura. Erro de principiante, Karen.”
Bonguei triunfantemente e tomei um gole vitorioso de café preto.
“Ainda não entendi... sua novel.”
“Se você entender, venha falar comigo. Dou todo o meu apoio.”
“Você provavelmente vai tentar me vender um vaso estranho ou algo assim.”
“Isso não é fraude espiritual, muito obrigado.”
Ping.
“Ooh, aqui vamos nós.”
“Nira-san?”
“Sim.”
{“Esta também foi ótima. Adoro cenas de abraços de reconciliação. Ser abraçado forte por uma garota mais nova como a Maika — o Ryousuke-kun está vivendo um sonho. Ele pode ter perdido sua casa para os brotos de bambu, mas em troca, ganhou a Maika. Obrigada, querido autor!”}
“Ahh, a Nira-san realmente entende…”
“O Onii está prestes a ascender ao céu.”
“Causa da morte: insuficiência cardíaca terminal. Ah, não, preciso responder. Vejamos…: ‘Obrigado como sempre pelo seu apoio, Nira-san! Situações em que um protagonista geralmente assertivo se torna doce quando são só os dois… realmente precioso,’ e enviado.”
“Onii, você é tão nojento.”
“Silêncio, criança! Você claramente não entende a santidade do romance entre idades diferentes!”
[Kura: Ahahahahah]
No entanto, se Karen realmente tivesse tido isso na idade dela, eu ficaria seriamente preocupado como seu irmão mais velho.
“O Ishikawa-kun aparentemente namorou uma veterana!”
“Ahh? Você tem coragem, Ishikawa... Isso é punível com a morte.”
“Ele deu a ela toda a mesada que tinha economizado em três dias e eles terminaram logo depois.”
“Não se esqueça de trazer o Ishikawa para nossa casa algum dia, okay?”
Vou dar a ele as mais calorosas boas-vindas.
Só quero ensiná-lo gentilmente que nem todas as garotas por aí são do tipo que só se importam com presentes.
“Ah, mais feedback acabou de chegar!”
“Oh? Isso é raro.”
“Não chame de raro... vamos ver...”
{“Aquela cena do abraço não foi crível. O autor é virgem ou algo assim?”}
[Kura: Boa, crível é algo digno de crédito, que se pode acreditar ou crer.]
“UGHHMUDONSTAAAARRRRR!!”
“Onii está quebrado!!”
Olhando para trás, esse mesmo comentário foi o catalisador para a situação exageradamente açucarada que estava prestes a se desenrolar hoje.
◇
“Você está claramente fora de si hoje.”
Pausa para o almoço. Sala multiúso. Rin ergueu uma sobrancelha desconfiada.
“Eu pareço assim?”
“Totalmente. Não só seus comentários assustadores de sempre estão fora de sintonia, como você mal está dizendo alguma coisa.”
“Então seu padrão para julgar meu nível de energia se baseia inteiramente em comentários assustadores?”
“Aconteceu alguma coisa?”
Seus olhos negros como azeviche me perfuraram. Não adiantava esconder, então mantive a simplicidade.
“Abraço.”
“A... -braço?”
Ela inclinou sua linda cabeça para o lado, confusa.
“É esse o nome do seu cachorro?”
“Isso é Pug.”
[Kura: Só eu que buguei aqui? | Del: É que pug rima com hug, que é abraço em inglês.]
Acho que cortei muitas arestas. Dei a ela uma explicação adequada sobre o feedback que recebi esta manhã. Deixei de fora a parte do “virgem”.
“Entendo. É verdade que, para você, Tohru-kun, escrever essa cena é tão avassalador quanto alguém com um apetite voraz ser forçado a comer um banquete chinês completo.”
“Não é um pouco demais? Meu estômago explodiria.”
“Além disso, você viveu uma vida completamente intocada por interações românticas.”
“Exatamente! Quer dizer, um abraço? Em toda a minha vida...”
De repente, memórias sensoriais passam pela minha mente.
O cheiro empoeirado da sala de aula. O som de soluços abafados ecoando em meus ouvidos. O calor repentino me pressionando. Aquele aroma doce.
“...Só uma vez. Aconteceu uma vez.”
As palavras escaparam como água vazando de uma represa enterrada no fundo do meu peito.
“Aquilo foi... só porque você disse algo estranho.”
Rin disse isso com uma ponta de frustração. Mas eu sabia que ela não estava realmente brava.
“Minha culpa.”
Sorri e levei a mão à sua cabeça.
Então, dei uma boa sacudida em sua cabecinha macia. Rin, sempre vulnerável a tapinhas na cabeça, imediatamente pareceu atordoada — como um refrigerante gaseificado sem gás. Sua expressão vulnerável me fez sorrir.
“V-Você não pode simplesmente dar um cafuné na minha cabeça e fingir que está tudo bem!”
Rin recobrou os sentidos, as bochechas levemente coradas, e me lançou um olhar indiferente.
Então, de repente, ela congelou.
“O que houve, Rin?”
“...Deveríamos?”
“Hum?”
“Você... gostaria de tentar me abraçar?”
Meu cérebro quase entrou em curto-circuito. O que... essa garota está dizendo?
“Não me entenda mal. Isso é puramente por gentileza divina de alguém que está gentilmente oferecendo ajuda a um amigo de infância com dificuldades em uma cena da história.”
“Tenho certeza de que você está sendo deusa demais agora.”
“Não me olhe com esse olhar de adoração — é assustador.”
Depois de soltar seu veneno de sempre como uma preposição, Rin abriu a boca desajeitadamente novamente.
“Quer dizer... eu realmente quero que você, Tohru, se torne um autor de verdade. Então, se tiver algo em que eu possa ajudar... eu quero.”
“Rin...”
Algo quente se acendeu em meu peito.
“Então isso é só para pesquisa. Pesquisa, okay? Não tem nada de indecente nisso!”
“C-Certo? Pesquisa! Pesquisa mesmo!”
Mesmo que Rin estivesse divagando algo completamente incoerente, de alguma forma eu me peguei concordando.
Quer dizer, eu também estava confuso. Pego de surpresa por essa reviravolta inesperada, eu não estava raciocinando direito.
“Então... o que vai ser?”
Ela não me deu tempo para pensar. Uma decisão precisava ser tomada.
“Vamos fazer isso ou não?”
[Kura: Aee!! Vai lá meu rei!]
Pela expressão de Rin, eu podia ler duas emoções. Uma era óbvia: constrangimento. A outra era... nervosismo?
“Se você não decidir logo, presumo que seja um não.”
“E-Espere, só me dê um segundo!”
Deixei escapar alguns sons sem sentido — “ah, uh” — antes de finalmente expressar meu desejo sincero em palavras.
“Eu quero. Sim.”
Então, depois de reunir minha determinação, perguntei:
“...Então, eu vou fazer isso, okay?”
“...Se você vai fazer, por favor, acabe logo com isso.”
Lentamente, cautelosamente, estendi os braços por vontade própria em direção a Rin.
“Nn...”
A distância entre nós desapareceu e senti seu calor contra a frente do meu corpo. Envolvi meus braços em volta dela, gentilmente, quase hesitante. O farfalhar do tecido, o som da respiração de outra pessoa, o calor, os batimentos cardíacos, a maciez.
Um aroma doce, reconfortante e relaxante. O corpo de Rin, em meus braços pela primeira vez, era ainda mais delicado do que eu imaginava — tão frágil que parecia que ia se quebrar. Pude sentir sua leve rigidez no início, mas ela gradualmente se dissipou. Como se estivesse se rendendo, Rin apoiou o queixo no meu ombro.
Algo apertou meu peito, bem em volta do esterno. Provavelmente era esse sentimento chamado afeição.
[Kura: Sabe, preciso começar a abraçar pessoas. Dificilmente faço isso.]
Essa felicidade — perceber que eu realmente gosto de Rin.
Um desejo de sentir mais dela, mais disso, começou a transbordar dentro de mim como magma.
Instintivamente, apertei meu abraço.
“Hyu—!”
“Ah—desculpe! Doeu?”
“N-Não, estou bem. Isso é moleza. Preocupe-se com sua pesquisa, não comigo.”
“C-Certo...”
Voltando ao propósito original, agucei meus sentidos.
Ela era macia, mas com uma maciez agradável. Aquele aroma doce era forte perto do seu lindo pescoço. As pontas finas do seu cabelo roçavam no meu nariz, fazendo cócegas. Um por um, detalhes sensoriais intensos inundaram meu cérebro — mas, estranhamente, eu me sentia calmo.
Era como se o resto do mundo tivesse desaparecido e agora só existisse esta sala multiúso.
Uma sensação indescritível de êxtase se espalhava do fundo do meu ser.
Eu nunca quero que esse calor me deixe, pensei do fundo do meu coração.
“Seu coração está batendo muito forte,” ela sussurrou perto do meu ouvido — e meu rosto ficou vermelho instantaneamente. Instintivamente, eu o enterrei na curva do seu pescoço.
“Hy-aau!”
Um grito curto e assustado escapou dos lábios de Rin — um que eu nunca tinha ouvido antes. Era quase como um gemido, e fez meu coração disparar.
“E-eu estou bem agora!”
Tive a sensação de que aquilo estava indo em uma direção que realmente não deveria. Eu não conseguia expressar em palavras, mas o instinto me dizia que continuar me causaria problemas.
Eu me afastei. O calor foi desaparecendo gradualmente, deixando para trás uma persistente sensação de perda que se apegou a mim.
“...Isso ajudou?”
Rin perguntou, com o rosto suave e doce como xarope.
“...Foi bem útil.”
“...Entendo.”
Não houve brincadeiras depois, nem as piadas habituais. Agora que tudo havia terminado, uma onda de clareza me atingiu — Que diabos eu acabei de fazer? — e senti vontade de me contorcer no lugar. Rin parecia sentir o mesmo. Por um tempo, nenhum de nós conseguiu olhar o outro nos olhos. Apenas ficamos ali, corando em silêncio.
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