Volume 1
Capítulo 8 - Escuridão
Jez Rafara estava lutando nas linhas de frente do combate, sua espada de energia negra como a tinta cortava os seus inimigos elevando a moral do seu lado. “Um erro de cálculo, eles são muito mais numerosos e fortes do que pensávamos”, inicialmente o plano era que a vanguarda liderada por seu avô segurasse os inimigos até que o restante da família ganhasse distância ou os reforços chegassem.
Infelizmente os inimigos eram muitos e a linha de defesa inicial foi contornada. Dessa forma uma segunda linha de batalha foi criada, uma linha onde Jez era o único guerreiro decente.
Depois de decapitar um de seus oponentes com sua espada de aura, Jez olhou seus arredores e percebeu que esse lugar estava condenado. Não havia ninguém capaz de enfrentar as tropas da Seita Nova Vida, mesmo quando os convidados se juntavam em grupos, seus grupos eram inúteis frente aos fortes corpos dos seus inimigos. Sendo honesto, Jez não ficou surpreso com o resultado.
Qualquer convidado que tivesse o poder de enfrentar um membro da seita Nova Vida já estava na linha de frente com seu avô ou havia evacuado para buscar os reforços e proteger a nova geração, não havia ninguém nesse salão que fosse útil em combate. Mesmo assim, essa não era a única forma deles serem úteis.
Se alguém usasse um monte de gravetos como barricada, é mais do que óbvio que ela desmoronaria com alguns empurrões, mas ela duraria alguns segundos. Cada momento que eles aguentassem em luta seria positivo, pois eles fariam seus inimigos perderem o precioso tempo deles com inúteis.
Você não pode culpar Jez por isso, o mundo dos Cultivadores é um mundo onde todos os tipos de maldades são feitas, tolos falecem sendo manipulados, fracos perecem sendo devorados e o forte quando é pego desprevenido.
Havia um ditado que permeava todos os lugares, “se não estiver pronto para morrer, nem mesmo pense em começar a Cultivar”. Não que o Cultivo leve a morte, pelo contrário, o Cultivo poderia prolongar a vida de uma pessoa por várias centenas de anos, o detalhe aqui é: qualquer um que queira Cultivar deve estar pronto para morrer, pois esse é o jeito da coisa.
Ao mesmo tempo, Liam estava lutando contra três oponentes de mesmo nível, cada um dos seus inimigos eram fortes, pois a Seita Nova Vida não era qualquer um no mundo marcial. Porém, eu nunca disse que Liam era mais fraco que eles.
Liam usou sua aura e fez uma lança, a luta já estava durando um tempo. De um lado Liam estava com uma ferida sangrando muito em seu estômago, um dos membros da Seita Nova Vida havia acertado um soco limpo naquele lugar, resultando na destruição de boa parte de seus órgãos e em um buraco na região.
Do outro lado, os seus três oponentes estavam cheios de feridas e havia sangue caindo de todas elas. Entretanto, isso não era muito, pois essas feridas eram muito superficiais para causar sérios danos neles. — Sendo sincero, eu não sei como a Seita Fogo Divino consegue caçar vocês — disse ele esticando sua lança na direção do trio.
O trio não falou nada e continou a pressionar Liam, um deles usou seu punho para se chocar com a lança de Liam, uma aura verde chocou-se com uma aura vermelha. A lança tremeu e Liam foi empurrado alguns passos para trás, em compensação o seu oponente também recuou alguns passos e teve seu punho ferido.
Aproveitando a oportunidade, os outros dois atacaram pelas laterais, um deles desferiu um chute que mirava na cabeça de Liam, o outro mirava no seu ferimento. Uma combinação excelente que pegou Liam desprevenido na primeira vez que usaram ela.
Liam não podia esquivar a tempo, portanto usou o cabo da sua lança para parar o chute de seu oponente e usou o impulso para se afastar um pouco, mas como se isso já tivesse sido considerado, o seu segundo adversário deu um salto e mudou sua posição para acertar em cheio a cabeça de Liam.
Essa era a segunda vez que esse trio fazia uma combinação nessa luta, portanto Liam sabia bem que o seu maior problema não era o seu adversário que desferiu o chute ou aquele que visava sua cabeça. Seu maior problema era que enquanto ele estivesse distraído com esses dois, o terceiro iria ter a chance de fazer um ataque limpo.
Foi assim que esse trio conseguiu ferir gravemente Liam na troca anterior — Não pense que eu vou cair no mesmo truque de novo. — Ele disse isso, mas Liam não tinha um plano para escapar disso, a pior parte era que ele tinha que se defender de todos os ataques, pois se um ataque acertasse ele seria gravemente ferido.
Sem poder pensar o muito, o soco que visava a sua cabeça chegou e ele defendeu com sua lança, entretanto não foi sua melhor ideia pois seu movimento foi muito desajeitado e apressado, assim que ambos se encontraram sua lança quebrou e se desfez.
O outro ataque estava vindo e acertaria em cheio seu ferimento, se isso acontecesse seria o fim de Liam. Para sua sorte um corte de aura negra apareceu e empurrou seu oponente salvando Liam — está atrasado, muito atrasado — disse Liam sorrindo muito.
Ele havia apanhado como um condenado por um tempo, se ele estivesse lutando sozinho só havia uma forma dele vencer, mas como não era algo que ele pudesse garantir assim Liam evitou usar seu trunfo. Com Liam e Jez essa luta estaria ganha.
Liam então refez sua lança quebrada usando sua aura e correu na direção do corte negro de antes, e assim viu, lá estava Jez, e ele estava correndo na sua direção, ou… fugindo de alguém?
— Liam! Não venham para cá, corra!!
Sim, Liam tem muito azar.
Ao mesmo tempo, Fernando estava correndo para dentro da floresta com Ana, sua noiva estava segurando firmemente suas mãos e corria ao seu lado, no entanto, ambos estavam mais do que exaustos neste ponto. O principal culpado? Simples, eles eram suas roupas de festa.
Mesmo sendo crianças e não possuindo Cultivo algum, eles tinham energia o suficiente para correr de um lado para o outro, eles faziam muito isso quando brincavam de algo. Porém, eles não usavam roupas ou sapatos de festa quando brincavam.
Os sapatos e roupas de Fernando ainda estavam aceitáveis para ele, mas Ana estava perdida, suas roupas dificultavam até mesmo sua movimentação básica, muito menos uma corrida.
Percebendo isso, Fernando decidiu parar perto de uma árvore grande e então disse em meio a longas respiradas de ar frio, estava escurecendo — Ana… sente-se aqui… — Sua noiva não pensou duas vezes e se sentou em uma pedra que estava ali. Ela estava exausta, e seus pés doíam muito. Não se deveria correr de salto, eles não foram feitos para isso, muito menos em um ambiente tão irregular quanto o chão da floresta.
Ana se sentiu mais leve só por ter se sentado na pedra, “talvez descansar por alguns minutos não seja tão ruim assim.” Mas quando ela se lembrou dos três atacantes que estavam lutando com Liam, e da velocidade deles, Ana abandonou a ideia de descansar alguns minutos.
Eles eram pessoas comuns tentando fugir de Cultivadores, cada segundo que eles perdessem tornaria mais fácil de serem encontrados. No entanto, quando ela pensou em correr novamente com esses saltos sua energia desapareceu novamente. Infelizmente ela não tinha escolha no momento então decidiu se levantar para continuar, seus pés sentiram a falta de algo, ela não estava mais com seu salto.
— Como está? Pronta para continuar? — perguntou Fernando com um sorriso travesso — enquanto você estava perdida em pensamentos eu mudei seu visual um pouco. Ana olhou para ele e depois olhou para baixo, seus saltos não estavam em lugar nenhum e ela estava usando os sapatos de Fernando.
Olhando rapidamente para seu noivo ela perguntou — Você não está pensando em ir descalço? Seus pés vão se machucar!
Havia duas coisas que Ana não gostava, um ser alvo de cócegas, dois deixar alguém sofrer ao ajudar ela. Claro, Fernando já tinha sua resposta pronta — Não se preocupe, sou mais rápido descalço, ouça Ana, pode até ser verdade que eu vou me machucar, mas os seus pés já estão no limite. Agora vamos logo!
Pegando a mão de sua noiva novamente, ele voltou a correr, Ana começou a correr também para não cair, mas ela não ia desistir por isso e continuou a falar — Fernando, pare agora!
Porém, ele ignorou sua noiva e continuou a correr, Fernando não tinha nenhuma intenção de parar nesse momento, se ele parasse agora seria difícil conseguir convencer Ana a voltar a correr enquanto ele estivesse descalço.
Ser ignorada a deixou com ainda mais raiva e ela queria pisar no pé de seu noivo por estar com raiva, porém isso a lembrou da sua última tentativa, em que ela avançou com tudo e acabou caindo em seus braços e seu rosto ficou vermelho como um tomate.
Felizmente, isso ocupou sua mente pelos próximos minutos e assim eles chegaram na beira de um lago. Parecia que a sorte estava do lado deles, pois não haviam encontrado nenhum Cultivador inimigo durante o caminho.
Entretanto, se olharmos por outro ângulo, eles não encontraram nenhum Cultivador aliado também, ou melhor, eles não encontraram ninguém no caminho até ali. Porém, nenhum dos dois percebeu esse problema e seguiram em frente.
— Ana, nós vamos nadar agora, independente do que aconteça, não solte a minha mão e confie em mim.
— Você fala como se fosse assustador — comentou ela um tanto nervosa — nós só vamos mergulhar um pouco, não é?
— Sim, isso mesmo, mas tem um pequeno probleminha… Ana, você não tem medo do escuro, certo?
— Está pensando o quê? Que eu sou uma criança, é claro que eu não tenho medo de algo tão infantil!
— Perfeito, então não vamos ter problemas!
Mesmo dizendo isso, Fernando ainda estava nervoso, ele fez todo o caminho até aqui, pois sabia de um esconderijo que eles podiam usar. O esconderijo era submerso e sem saber chegar nele, ninguém poderia os achar ali.
O problema que estava o deixando nervoso era que até eles chegarem lá seria um breu total, o esconderijo estava submerso, e mesmo que ele fosse seco, para chegar lá eles teriam que ir pela água, em outras palavras, sem luz nenhuma.
Todos acabam perdendo o medo do escuro ao crescer, mas isso não é o que se vê na absoluta escuridão, pois a escuridão é a falta de luz. De qual parte da terra a luz brilhará dentro de um buraco? Juntando isso com o fato de que eles estariam nadando, as chances de se perderem e morrerem por falta de oxigênio era grande.
Por um segundo Fernando até mesmo decidiu abandonar essa ideia, do que adiantava ter um lugar seguro se eles morressem tentando chegar ali? Mas ainda assim ele decidiu fazer isso, Fernando estava confiante de que poderia fazer o caminho novamente, ele já havia feito várias vezes.
Claro, algumas vezes ele precisou da ajuda do seu irmão para não morrer afogado, entretanto, hoje esperançosamente não seria como esse dia.
— Ana, eu vou repetir, por favor, não solte minha mão de forma alguma!
— Eu já disse que não vou! Nossa!
— Certo, e também não fale nada quando paramos para respirar, não podemos chamar a atenção dos peixes que dormem ali, me prometa isso.
— Ok, ok, agora vamos logo, estou louca para dar um mergulho!
Ao olhar para Ana sua coragem vacilou um pouco, porém era isso ou morrer aqui em cima, quanto tempo demoraria para a batalha se expandir para essa parte das terras? Uma hora? Duas? Três? Podiam ser até mesmo um minuto.
— Respire fundo! — falou ele para sua noiva, depois seguiu seu próprio conselho e respirou o mais fundo que pode, vendo isso Ana fez o mesmo e ambos pularam no lago. No começo foi interessante, havia algumas algas e plantas submersas, a luz estava boa e Ana pode ter uma visão excelente dos seus arredores.
Depois de nadar um pouco eles pararam para respirar em um bolsão de ar e depois continuaram, dessa vez Ana viu que existiam alguns peixinhos por perto, eles nadaram perto deles e pareciam estar acostumados a isso.
Fernando e os seus familiares usavam esse caminho às vezes, isso fez que os peixes se acostumarem com a presença humana, depois eles respiraram em outro bolsão de ar e seguiram viagem.
Dessa vez Ana reparou que não conseguia mais ver muito longe de si, mas ainda tinha uma boa noção dos seus arredores, ela sabia que havia várias pedras por perto.
Após respirarem novamente Ana mal podia ver um palmo na sua frente, ela não sabia mais para onde estava indo e estava sendo guiada por Fernando, mesmo assim ainda podia saber o que estava por perto.
Quando eles respiraram pela quinta vez, Ana não podia ver mais nada, estava um breu total. Nessa escuridão Fernando continuou a nadar como se ainda pudesse ver, mesmo sendo mentira.
Na sexta vez ela estava cansada, era muito sufocante nadar no escuro, mesmo assim ela se manteve firme.
Em sua oitava parada ela bateu uma de suas pernas em uma pedra, ela nem mesmo sabia onde estava a pedra que ela bateu, ou quão feio foi a batida, mesmo assim ela lutou contra a dor e continuou a nadar.
Depois de respirarem pela décima vez ela estava se sentindo sufocada, ela não podia ver nada, ela não estava sentindo nada além da água que a cansava a cada metro que se moviam, e isso estava a sufocando.
Na décima terceira vez ela sentiu que o caminho estava ficando mais apertado, ela tinha a sensação de estar rodeada por pedras, pedras pontudas.
Quando eles respiraram pela décima quinta vez, Ana quis ir embora, ela não podia aguentar isso! Mas ela não sabia ir embora e se ela soltasse a mão de Fernando agora, ela morreria.
Depois de vinte pausas para respirar ela estava enlouquecendo, só havia ela e a escuridão, nada mais além da profunda escuridão.
Na trigésima parada ela quis gritar, porém, se conteve.
Na trigésima quinta parada ela só abraçou seu noivo com tudo que tinha, pois estava com medo, muito medo, o escuro era assustador! Infelizmente, a água e a falta de oxigênio, junto com a recente maratona de natação, a fez ficar com a cabeça zunindo; logo, o abraço caloroso que ela deu ao seu noivo em desespero, não foi diferente de abraçar um colchão de água.
Isso a fez se sentir muito mal, e ela queria sair dali, ela queria gritar, ela queria respirar e ver!! “ Eu preciso sair daqui!! Eu vou morrer!”
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Olá, aqui quem vos escreve é o autor da obra. Gostaria de me desculpar por não ter postado nada na semana passada; acabei adoecendo e até mesmo ligar meu computador para escrever era um desafio. Portanto, nas próximas duas semanas, vou postar três capítulos, arrumando assim o atraso. Desculpe por isso e aproveitem sua leitura.
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