Meu Mestre é um Bebê?? Brasileira

Autor(a): Zatojo


Volume 1

Capítulo 6 - A situação piorou

Ana estava esperando Fernando no lugar combinado. Era uma parte bem vazia da festa, e ninguém estava lá para incomodá-la. "Isso é bom, ninguém vai me ver comendo um pudim." Claro, esse foi o ponto principal que ela notou. Como qualquer criança, ela não queria ser pega fazendo coisas erradas.

— É um lugar bem bonito — comentou Ana, observando a paisagem. A sacada do salão que estavam usando era virada para o jardim da frente, uma coleção de diversas flores sendo exibidas para os convidados

Olhando para o sol, Ana deduziu que deveria ser algo em torno das cinco da tarde, o que significava que, em menos de uma hora, Fernando pediria sua mão oficialmente. Essa era a tradição: antes do sol se pôr, os noivos devem oficializar o relacionamento.

“Só de pensar nisso, já fico animada. Como será que ele vai me propor?” A maneira de pedir a outra parte em casamento não era fixa. Alguns davam presentes, outros mostravam suas habilidades em algo, como artes marciais ou recitando poemas. O comum era recitar algumas palavras enquanto se dava alguns presentes, mas Fernando faria isso? Ela não tinha ideia. No entanto, Ana queria algo especial, algo que mostrasse o amor dele por ela, algo pessoal e íntimo.

Enquanto admirava os jardins, Fernando chegou ao lugar combinado com não só um pudim, mas dois deles.

— Meu pudim! — disse Ana feliz ao ver seu sonhado doce. O dia tinha sido cansativo e tudo o que ela queria era comer algo que realmente amasse: um delicioso pudim.

Ana se moveu para pegar o doce das mãos de Fernando. Ele nem teve tempo de reagir quando ela pegou os dois pratos da sua mão e começou a comer.

“Ela é rápida quando se trata de comida,” pensou ele surpreso. Ele mal havia chegado e ela já estava comendo os dois pudins. “Os dois... pudins?” repetiu o pensamento. — Ei, Ana, um deles é meu!

Ana limpou sua boca com um guardanapo e respondeu:

— Estava delicioso. — Ela sorria para ele, colocando os dois pratos de lado. Fernando a encarou com a boca aberta. Ele não entendeu como ela conseguiu comer o pudim tão rápido, ainda mais os dois.

Sendo honesto, Fernando queria ter comido seu pedaço do doce. No entanto, ele não brigaria por isso. Ele ainda tinha uma recompensa para ganhar, e isso seria melhor que qualquer doce.

— Ana — chamou ele. — É hora de ganhar meu beijo. 

Ao ouvir seu nome, ela o encarou nos olhos e, como se um lampejo de compreensão passasse pela sua cabeça, ela corou com o pensamento. Fernando se aproximou dela e segurou suas mãos. Ana desviou o olhar por um momento, mas depois tomou coragem e disse — Estou pronta.

Foi combinado, e ela também queria algo assim. Fernando olhou em seus olhos, colocou sua mão direita no queixo de sua noiva e se aproximou de seus lábios. Ana fechou seus olhos e só esperou. Ela parecia feliz.

Quando Fernando estava prestes a fechar seus olhos e beijá-la, o arranjo defensivo de sua família ativou e uma cúpula de energia começou a cercar toda a casa. Ao mesmo tempo, uma chuva de flechas bombardeava a barreira protetora.

O súbito acontecimento o fez parar por um momento. A cena em si era linda, pois cada flecha parecia um foguete de artifício, e dezenas delas estavam se chocando com a proteção, resultando em um lindo show de luzes.

Fernando iria ignorar isso. Faltava tão pouco para ele conseguir sua recompensa. Isso até que ele ouviu um som de vidro se quebrando, e assim a barreira se transformou em fragmentos quebrados, mas as flechas continuaram.

Tudo foi muito rápido e Ana ainda estava com os olhos fechados, esperando pelo beijo de seu noivo. No meio do choque, Fernando viu que algumas das flechas iriam pousar na sacada, e sem pensar muito, puxou Ana para trás dele.

Quando as flechas estavam prestes a atingi-los, foram paradas por dois velhos. Um deles gritou o nome de Ana, enquanto o outro gritou o de Fernando, mas ambos diziam o mesmo:

— Corra! Siga seu irmão, agora! — e, sem dar tempo para nada, eles os empurraram para dentro do salão.

Os acontecimentos foram tão rápidos que Ana ainda estava sendo abraçada por Fernando e não entendeu nada. Há pouco, ela estava esperando um beijo e agora estava em cima de seu noivo no chão do salão.

Antes mesmo de se recuperarem, o teto se rachou e começou a desabar. Por sorte, os convidados para essa festa não eram nem um pouco fracos, e meia dúzia deles agiu, jogando os destroços do telhado para longe dos outros convidados.

— O que diabos está acontecendo? — perguntou um espadachim que estava cortando os destroços do teto. Sua espada cortava cada pedra que estava caindo.

— É verdade, eles vieram! — gritou um velho desesperado enquanto corria para longe, sem se importar com mais nada, como se ali logo virasse o habitat de uma fera temível que o partiria em pedaços.

O espadachim tentou parar o homem, mas foi facilmente empurrado para longe. A diferença de força entre eles era muito grande, o que surpreendeu o espadachim e o fez pensar: “O que no mundo o assustou assim?”

Os outros guerreiros que estavam impedindo que os destroços do prédio caíssem sobre os outros convidados tentaram impedir o velho e o questionar, mas todos foram repelidos. Essas pessoas não passavam de nobres da terra de nível marquês e conde. O velho, por outro lado, era um cultivador nobre da terra de nível duque, um passo de se tornar um rei.

Com medo, o espadachim olhou em volta e percebeu que qualquer convidado que podia ser considerado “importante” já havia partido. Ninguém da família Rafara, ninguém da família Vitrela, ou de qualquer outra família relevante.

“Espere, ainda restam dois,” pensou o espadachim ao lembrar de ter visto Ana e Fernando aparecendo do nada no centro da festa. Imediatamente, ele olhou para onde os dois estavam antes e lá viu dois rostos familiares pegando as duas crianças.

— Jez, Liam, seus malditos, o que está acontecendo aqui? Onde estão todos e quem está destruindo tudo? — Seu grito chamou a atenção dos convidados restantes para os dois jovens que estavam pegando as crianças no colo e estavam para partir.

Liam amaldiçoou por ser pego. O plano era recolher os dois e partir imediatamente e silenciosamente. Eles confirmaram que seus oponentes eram monstros terrivelmente fortes, cadáveres sem vida, mas com suas almas dentro de seus corpos. 

Infelizmente, a confirmação veio tarde e eles nem mesmo tiveram tempo de evacuar ou se preparar, então iniciaram tudo ao mesmo tempo. Uma parte do povo foi levada para longe, incluindo os convidados mais importantes e poderosos, que iriam fugir juntos. Outros decidiram ficar e ganharam tempo.

— Estamos sob ataque, não vê? Meu avô está liderando uma força de elites para ganharmos tempo para nos prepararmos. Os convidados que você não vê aqui estão lutando lá fora — disse Jez com convicção inabalável, tranquilizando grande parte dos convidados.

Porém, alguns ainda estavam com o pé atrás. Tudo o que foi dito por Jez fazia sentido. No entanto, por que isso só estava sendo dito agora? E por que somente quando foram pegos tentando escapar na surdina?

Só tolos acreditaram nas palavras de Jez, e por isso, somente os tolos foram deixados para trás. Independentemente de quantos enviassem para segurar o inimigo, alguns teriam que ficar para trás. Todos nesse salão, com exceção de Ana, Fernando e seus “transportadores,” eram o sacrifício escolhido para ganhar tempo. 

Cada homem, mulher, velho, guerreiro ou serviçal foi deixado para trás de propósito. Ninguém poderia os forçar a lutar com palavras. Porém, eles lutariam com unhas e dentes se fosse por suas vidas.

O grupo de convidados que partiu não foi enviado para lutar. Eles iriam fugir, e todos os que ficassem para trás seriam sacrificados para ganhar um milésimo de segundo que fosse. Foram abandonados e deixados para morrer.

 Não pense que essa decisão ruim foi tomada por pessoas más. É o instinto do ser humano, o mais básico deles. “Salve a si mesmo, e aos seus.” Este não é nosso mundo, o mundo onde temos leis definidas, regras, ordem e um poder destrutivo longe de nossas mãos. Aqui isso não existe.

— Vocês são nossos convidados. Faremos nosso melhor para impedir que um deles entre nessa sala — gritou Jez. Quem se importava com as mentiras agora? A verdade me prejudica. — Mas tenho que pedir que estejam prontos para o caso de alguém invadir o salão.

— Logo o arranjo defensivo de minha família será ativado e poderemos nos reagrupar. — Outra mentira. Aqueles que estavam dentro do salão não podiam ver, entretanto, o arranjo defensivo havia sido destruído.

— Peço que todos estejam calmos. Minha casa não vai cair por causa de uma ventania leve. — Com essas palavras, ele animou os convidados e aqueles que antes duvidaram dele

 se acalmaram. “É verdade, essa é a casa dos Rafaras.”

Com o tempo, o clima de medo se dissipou e tudo o que restou foi um clima sujo de ganância e ódio.

— Quem são os idiotas que vão morrer? Quem eles pensam que estão atacando? — disse uma mulher que vestia itens luxuosos ao lado de um homem mais velho que parecia ser seu marido.

Muitos concordaram com ela e falaram também:

— Sim, esses loucos nem vão saber como morrerão.

— Hahahaha, em pouco tempo tudo estará acabado.

Fernando ouviu cada palavra dita por seu irmão e percebeu que haviam sido abandonados para morrer. Liam não perdeu tempo e, enquanto Jez distraía os outros, ele retirou os noivos da festa.

Ana queria perguntar muitas coisas, mas pela expressão que seu amável irmão estava naquele momento, ela sentiu que era melhor ficar quieta. Fernando sabia um pouco mais que Ana, mas não muito, e desejava respostas.

Assim, Jez ficou para trás animando as pessoas, e Liam partiu com os dois em silêncio. Seu objetivo era sair sem ser visto e não ser seguido. Entretanto, Liam não era daqueles com mais sorte, e o vestido de Ana era muito, muito, muito chamativo.

— Ei, eu vou com vocês — disse o espadachim de antes, seguindo Liam e os noivos. O homem não era tolo e controlou sua voz para que somente o pequeno grupo de fujões conseguisse ouvir.

— Nós estamos indo pegar armas — falou Liam sem nem mesmo piscar. Ele não era alguém fraco em mentir, no entanto, ele podia aprender mais como se faz.

O espadachim olhou para ele e disse — Nem em um milhão de anos eu acreditaria nisso. Me leve com vocês.

— Me dê um bom motivo — retrucou Liam. Ele deveria matá-lo no momento em que foi visto, mas não queria fazer isso na frente de sua irmã.

— Eu sou forte, esperto, bonito — comentou ele, brincando um pouco. Claro, isso fez com que Liam sentisse mais vontade de matar o maldito. Antes que o irmão protetor fizesse algo, ele continuou: — E eu vou gritar para todos que vocês estão fugindo se não me deixarem ir com vocês.

“Talvez eu deva realmente matar esse maldito,” pensou Liam com raiva. O simples fato do espadachim ainda estar vivo na frente deles se devia ao fato de que Liam não queria matá-lo, ao menos não na frente de sua irmã. Caso contrário, o espadachim não teria nem mesmo a chance de gritar. “Gritar para alertar os outros? Duvido que conseguisse.” 

A diferença entre os níveis de cultivo era o bastante. Fernando e Ana ouviram a voz de Liam falando com eles, mas sua boca não havia se movido, o que assustou momentaneamente as crianças.

Obedecendo à ordem, eles fecharam os olhos, e quando os abriram novamente, o espadachim havia desaparecido e Liam já estava correndo para algum lugar.

— Irmão, onde ele está? — perguntou Ana, querendo saber sobre o espadachim. O homem simplesmente desapareceu no ar, pois os dois não mantiveram seus olhos fechados por mais de cinco segundos, e o homem que antes estava ali não estava mais em lugar nenhum.

Liam evitou a resposta e continuou a correr com cada um dos pequenos em um de seus braços. Ana estava sendo carregada como uma princesa, encostada no peito de seu irmão e com uma mão a mantinha segura e firme no colo dele. Por outro lado, Fernando estava sendo carregado como se fosse um barril.

“Está claro o favoritismo aqui,” pensou ele, querendo que seu irmão Jez chegasse logo.



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