Volume 1
Capítulo 3 - Na sala da noiva
Ana e sua mãe, Laura, estavam observando tudo desde o momento que Fernando chegou perto do lugar, ambas já haviam se posicionado e estavam escutando por trás da porta.
Depois que a comoção começou, elas abriram uma pequena fresta na porta para ver o que estava acontecendo.
— Mãe, chega pra lá, eu não estou conseguindo ver — falou Ana, uma garota vestida com um vestido vermelho lindo, que combinava com a cor de seu cabelo, também vermelho. Ela tinha as características do pai, olhos verdes e cabelo vermelho.
— Ei, cuidado sua pentelha, você vai bagunçar o vestido! — disse agora uma mulher que era a mãe da menina, com longos cabelos pretos e olhos azuis. Como sua filha, ela vestia um vestido lindo, um vestido azul-escuro com leve toques de branco que simulavam um céu estrelado.
Originalmente Laura deveria estar lá na festa, no entanto, ela decidiu que queria pentear sua filha e invadiu a sala expulsando todas as pessoas que deveriam arrumar Ana.
Diferente de Fernando, que era fácil de se arrumar, as roupas de Ana eram um terror. Os vestidos das mulheres sempre foram mais complicados que as roupas dos homens. Portanto, tudo o que Laura não queria era que o vestido de Ana ficasse bagunçado.
Enquanto as duas mulheres assitiam a comoção, elas também comentavam a situação, como “Liam, eu vou te bater muito depois disso” ou “ Esse maldito nunca aprende”, em geral, eram maldições para Liam, que era o maior injustiçado do dia.
Ambas, mãe e filha, estavam bravas com Liam. Sua família tinha inimigos, eles causavam uma confusão onde quer que fosse e sempre teriam pessoas que lutariam com eles, outras já se submeteriam ou correria para longe, no entanto, sempre havia algum idiota que os desafiava.
Nesses casos, a regra de sua família era, “elimine qualquer um que possa vir buscar vingança depois”. Por isso que ambas estavam tão irritadas com Liam, pois o homem mascarado era a prova que ele não fez seu trabalho direito.
— Olhe, mãe, parece que Jez vai se livrar do invasor — disse Ana animada, ela queria que isso fosse resolvido logo para continuar a festa, hoje era a festa do seu noivado, tudo o que ela queria era ficar com Fernando durante a festa e no final ter sua mão pedida em noivado.
— Com certeza ele é melhor que o seu irmão, aura negra é algo raro, mesmo se aumentarmos o escopo de pesquisa para os países ao redor da União, diferente do lixo do seu irmão que despertou uma aura vermelha, quem ele pensa que é? Um maníaco por batalhas? Ele teve sorte que sua aura era diferente da vermelha comum, se não eu teria dito para o seu pai enviar aquele idiota para o campo de batalha.
Quando os cultivadores chegassem ao nível escolhido dos céus, eles conseguiriam usar aura. Esse era o requisito mínimo para ser considerado alguém desse nível, a aura era uma representação de sua personalidade e ficaria mais forte enquanto o usuário fortalecer sua crença ou praticasse ela.
Uma aura vermelha normalmente representaria uma pessoa que era considerado um maníaco por combate, entretanto a aura de Liam parecia um pouco diferente da aura vermelha normal e por isso seus pais não o enviaram para um campo de batalha para melhorar sua força.
A cor da aura em si não representava um aumento de poder, mas é bem mais fácil melhorar seu poder com determinados tipos de cores do que outros, logo a diferença cresceria muito com o tempo.
— A aura escura do meu irmão também não é igual a outras, meu pai disse que nunca viu uma aura igual — comentou Fernando encostado na porta olhando diretamente para os dois pares de olhos que estavam na porta — E Ana, você está linda.
Ambas as mulheres se assustaram um pouco, elas estavam tão focadas na luta e em amaldiçoar Liam que esqueceram de manter o sigilo.
— Fe-Fer? Olhe para outro lugar seu idiota, dizem que dá azar ver a noiva antes da festa.
— Bem, com a porta como está, eu não consigo ver muito além de seus olhos.
— Seu pequeno sem vergonha, como pode enganar sua noiva no dia da festa?
— Eu não enganei ninguém, eu posso não ter visto como Ana está, mas eu sei que não é possível ela ser feia; logo, ela está linda.
— Fernando, você aprendeu isso com seu irmão, não é?
— Huto, ótimo, leve ele embora, ainda não acabamos aqui — disse Laura antes de fechar a porta na cara de Fernando.
— Tudo bem mãe, Fernando, vamos deixar elas acabarem de se arrumar — comentou Huto, afastando Fernando e o levando para um lugar que ele teria uma visão melhor da luta.
A luta tinha progredido sem muitas surpresas, Jez estava batendo tanto no coitado do invasor que ele mal podia resistir, mesmo sua aura branca não foi de grande ajuda.
O homem brandiu seu machado na direção horizontal querendo acertar Jez que avançava pela frente, mas no momento o impacto Jez passou por debaixo do machado e desferiu um soco poderoso no estômago do oponente.
Ao receber o soco, o homem encheu sua boca de sangue, no entanto, seu sangue era preto. Provavelmente o homem tinha algum tipo de veneno no seu sangue, então Jez evitou o líquido preto que o homem cuspiu.
Enfurecido o homem fez um ataque vertical buscando acertar Jez, qualquer um saberia que ele nunca acertaria seu alvo com esse movimento, entretanto Jez não evitou o ataque e usou suas mãos para parar o ataque do machado quebrando as fraca película de aura branca que o envolvia.
— Vamos com calma, não quero que você quebre o chão da minha casa, ele é bem caro, sabe. — Com outro soco, dessa vez mais forte que o anterior, Jez tirou o machado da mão do invasor.
Agora derrotado, o homem decidiu correr por sua vida, ele só veio aqui hoje para enfrentar Liam e se vingar do incidente de alguns anos atrás, ele não veio aqui para enfrentar Jez, muito menos ser derrotado por ele.
Era humilhante ter que correr com o rabo entre as pernas assim, mas não havia o que pudesse ser feito. O invasor não tinha permissão para morrer ali.
Mas Jez nunca permitiria que o ele fugisse e então sua aura escura formou uma espada fina, uma espada bem simples que ele usaria para atacar e fez um corte.
A aura escura saiu da espada de Jez na forma de uma meia-lua e perseguiu o atacante, esse golpe seria o suficiente para o matar.
— Eu acho que você não me conhece, mas eu sou Jez Rafara, e eu sou um cultivador da espada, ao menos saiba quem te matou quando for para o inferno.
Quando o golpe de aura estava prestes a acertar o homem, que levantou seus braços para uma defesa desesperada, seu anel brilhou intensamente e absorveu grande parte do impacto e liberando sua força como um impulso que fez com que o homem voasse seis ou oito quilômetros, conseguindo fugir.
Jez estava para perseguir o invasor, ele conseguiu uma grande vantagem com o impulso, no entanto, um escolhido pelos céus ainda poderia cobrir esse espaço se gastasse algum tempo.
Entretanto, quando ele ia começar a perseguir o invasor, Huto apareceu e disse — a culpa dessa vez foi do meu irmão, deixe que eu vou atrás desse cara. — e, apontando para Fernando continuou — tenho certeza que ele te quer aqui hoje.
Assim seguiu a corrida, Huto era mais fraco que Liam ou Jez, mas sua força era o bastante para perseguir e capturar o homem.
Jez agradeceu a Huto, que devolveu o gesto com um aceno com a cabeça antes de acelerar e ir atrás do invasor. Jez então dispersou a multidão, retomando o clima festivo da ocasião, os empregados rapidamente retiraram o machado do lugar e a festa voltou ao normal.
No final das coisas, a luta acabou animando ainda mais o público do que qualquer outra coisa, até mesmo algumas jovens damas ficaram maravilhadas com o poder de Jez e tentaram sua sorte.
— Jez, você foi tão incrível agora, sua força e velocidade são de outro mundo.
— Senhor Rafara, sua luta agora foi estupenda, poderíamos dançar para nos conhecer melhor?
— Ei, Jez, me conte mais sobre o seu último golpe.
Algumas senhoritas, sem talento ou uma boa posição de nascença, já estavam com a corda no pescoço, se quisessem viver uma boa vida era se casar com alguém que tivesse um dos dois.
Caso contrário, elas teriam que se contentar com uma vida bem mais simples e cansativa.Algumas poderiam ter destinos ainda piores, como serem forçadas a se casar com um velho que desejasse seu corpo jovem, portanto elas pouco se importam com o ambiente e faziam suas investidas descaradamente.
O normal era que elas fossem recusadas educadamente, no entanto, hoje elas abusaram um pouco de mais da boa vontade, digo, hoje era uma festa de noivado para o seu irmão, Fernando, havia momentos muito melhores para tentar se promover.
Sem responder às senhoritas, Jez foi para o lado de Fernando e falou — Agora, vamos em busca da sua noiva.
Fernando acenou com a cabeça e juntos foram novamente para a porta que separava os noivos. A tradição dizia que o noivo deveria ir até a sala onde a noiva estava e a chamar, depois disso eles fariam uma dança juntos, o banquete se iniciaria e por fim o noivo pediria a mão da noiva formalizando o acontecimento.
Fernando estava seguindo seu irmão, como um patinho seguindo a mamãe pata, com Jez liderando o caminho, todo aquele amontoado de gente foi facilmente evitado. Sempre que a dupla de irmãos se aproximava, eles davam o espaço necessário para passarem.
— Espera, Jez, elas ainda não acabaram — comentou Fernando se lembrando de antes, não fazia muito tempo que ele estava lá.
Jez então se virou para olhar para a porta, lá viu uma pequena fresta aberta e dois pares de olhos assistindo tudo. No instante em que os olhos de Jez se encontraram com os de Laura, ela fechou imediatamente a porta.
Entretanto, depois ela abriu uma fresta maior da porta e levantou quatro dedos e depois a fechou.
“Ela quer quatro minutos, então…”, Jez se virou para seu irmão e disse — já que chegou nesse ponto, vamos incomodar alguém que quase acabou com a sua festa hoje.
Em pouco tempo Liam estava seriamente cogitando fugir da festa, no entanto, ele não podia mesmo se quisesse, então ele teve que ficar ali sendo judiado pela dupla de irmãos.
“Socorro!”
Ao mesmo tempo, dentro daquele quarto, Ana e Laura estavam tendo uma conversa de mãe e filha, ou ao menos era para ser assim.
— Mãe, estou pronta, vamos! — disse Ana apressada, sendo honesto ela não achava essa roupa confortável, ela era muito volumosa, logo era quente de mais estar com essa roupa, principalmente nesse quarto fechado — depressa!
Laura olhou para sua filha e disse — sua fedelha, esse é o seu noivado, como sua mãe, eu quero falar algumas coisas para você. — Depois disso, ela se sentou em uma poltrona e gesticulou para sua filha sentar-se na cama.
Assim que Ana se sentou ela falou novamente — não vou perder tempo, Ana minha filha, um noivado pode parecer simples, só um simples acordo do futuro, no entanto, não é um simples acordo, isso é sua vida, portanto se aquele pentelho espertinho do seu noivo bancar o engraçadinho, de uma boa surra nele, igual e fiz com seu pai, e seu precisar de ajuda, eu dou uma boa surra nele no seu lugar…
Quando Laura começou a falar, Ana ficou séria e prestou atenção, devia ser importante para sua mãe decidir falar agora e realmente parecia estar sendo importante, isso até a pancadaria ser mencionada — Mãe! — disse ela interrompendo Laura — você não pode bater no meu noivo!
— Não é bater — Laura parou por um momento para pensar, e depois de uma ideia surgir disse — é educar, sim, educar.
— Não é não, mãe, você não vai tocar no meu noivo! Você vai arrebentar ele como faz com o papai. — retrucou Ana querendo defender seu noivo, para ela Fernando era como um coelhinho fofinho, fraco e frágil.
— Não vai ser tão forte como quando eu bato com seu pai! — rebateu Laura querendo defender seu ponto de vista.
“Mãe, não é esse o ponto aqui…” pensou Ana jurando não deixar seu noivo sozinho com sua mãe, nunca.