Meu Mestre é um Bebê?? Brasileira

Autor(a): Zatojo


Volume 1

Capítulo 21 - Agulha dourada

Algum tempo depois do incidente, Lili deitou-se no colo de Chang e voltou a dormir. Ninguém fez qualquer tentativa de impedir isso, crianças, ainda mais quando novas, se assustam facilmente, e muitas das vezes choravam por conta disso.

Trovões, barulhos altos, lugares escuros… havia uma infinidade de coisas assustadoras para crianças, e se assustar com o choro de um bebê estava dentro do escopo. Decidindo dar um tempo para Lili, Chang a deixou dormindo enquanto reunia seus outros colegas.

Claro, o pequeno trio ainda dormia, mas Fernando e Ana conseguiram escapar deles e se juntar à reunião.

— Lili está melhor? — perguntou Ana querendo saber sobre sua recém-adquirida amiga.

— Ela vai melhorar, foi só um susto. Como um trovão… — respondeu Chang tranquilizando um pouco Ana.

As crianças pareciam ter decidido usar o ninho do crocodilo como sua base, então já haviam colocado algumas pedras para se sentarem e recolhido alguma madeira para sua fogueira.

Taki havia saído para investigar se o som de choro de antes havia atraído alguma fera, ou pior, alguém, enquanto isso Fanji decidiu ensinar aos seus colegas como funcionava o Cultivo e como começar ele.

— Como eu disse antes, mas Cultivar não é nada mais que armazenar Zyou em seu corpo para utilizar depois, ao longo da história a humanidade só conseguiu descobrir dois caminhos de Cultivo que levam ao topo.

— Vindicare e Verrror — comentou Chang.

— Exato, no entanto, isso não quer dizer que todos Cultivam da mesma forma. Não sei ao certo como funciona o método de Verrror, mas Vindicare usa três pontos em seu corpo como base, o cérebro, o coração e uma região perto do abdome. O objetivo é armazenar uma certa quantidade de Zyou em cada um destes pontos, o método que você usa para reunir Zyou não importa.

— Uma pergunta, por que no abdome? — disse Martin.

— Uma excelente pergunta — comentou Fanji —, isso é devido ao equilíbrio do nosso corpo. Quando começarem a Cultivar vão perceber que Zyou age de formas diferentes dependendo de onde é armazenado. — Fanji então pegou três pedras do chão.

Fazendo um desenho rústico de um corpo humano, ele colocou uma pedra na cabeça do desenho — No cérebro ele se comporta como um campo magnético que atrai Zyou do seu corpo.

Continuando o desenho ele colocou uma pedra onde deveria ser o coração — No coração, Zyou se comporta de uma forma bastante peculiar, ele não é como o Zyou que fica no cérebro, ele é quase seu oposto, sendo muitas vezes atraído pelo núcleo do cérebro e querendo sair do coração, e se isso acontecer… 

— Morte por contrafluxo — disse Chang com uma expressão pesada, ela já tinha visto uma pessoa morrer assim. O guerreiro tinha se precipitado e usado muito de seu Zyou do abdome para defender seu estômago de um golpe, e no fim ele perdeu o controle do Zyou e tudo foi para seu núcleo da cabeça o matando na hora.

— Isso mesmo, se só existisse o núcleo na cabeça e um no coração, todos morreriam por contrafluxo no mesmo instante que houvesse o menor desequilíbrio em seus corpos. Portanto, todos armazenam Zyou em seu abdômen, uma vez que ele se comporta de uma forma semelhante ao do cérebro e ambos cancelam a atração do outro sobre o núcleo do coração. — Fanji então colocou a última pedra, finalizando o desenho.

— Fanji, se guardar Zyou no coração é tão perigoso, por que ainda fazem isso? — perguntou Fernando, isso não parecia uma boa ideia, pois qualquer descuido poderia lhe custar a vida.

— Simples, por conta da força. Pense comigo, se eu armazenar Zyou somente em meu coração, não haveria riscos significativos em uma batalha, mas a quantidade de Zyou que eu teria seria três vezes menor do que a quantidade de Zyou que eu teria se usasse três núcleos. — Fanji tinha tocado em um ponto importante.

A raça humana sempre precisou manter sua guarda perante as outras raças, que faziam sempre o mesmo. Ninguém poderia dormir com tranquilidade sabendo que o outro lado ainda estava bem. Mesmo a aliança que os humanos faziam parte, e que gostavam de chamar de aliança da luz, não passava de uma fachada, onde todos estavam unidos por conta da presença dos anjos, não dos outros membros.

Quanto mais Zyou seus guerreiros conseguissem usar, mais poder eles seriam capazes de liberar em um confronto. Isso era vital, pois a raça humana era uma das raças com os piores físicos.

Demônios possuíam asas, músculos superdesenvolvidos, alguns tinham caudas, mais olhos, mais braços e outras características que aumentavam sua força.

Dragões eram cobertos por escamas que não poderiam ser cortadas por humanos se usar Zyou ou armas de mesma grau de destruição, sendo que um homem adulto poderia tentar cortar as escamas de um dragão por toda a sua vida e mal causaria um arranhão, além de que dragões ainda podiam voar, eram muito fortes e grandes.

Muitos outros tinham características semelhantes que os colocavam em um patamar acima dos humanos. Para conseguir lutar contra eles, qualquer vantagem seria mais que bem-vinda.

— Agora chegamos nas diferenças, todos Cultivam pelo mesmo caminho, mas a forma que cruzam ele é diferente. Formas de reunir Zyou mais rápido ou com menos impurezas são conhecidas como técnicas de Cultivo, enquanto aquelas que contam como usar Zyou em um combate são chamadas de técnicas de combate.

Fanji então comprimiu um pouco de Zyou em sua mão, não era visível, porém a presença dele ainda fazia o vento balançar e oscilar, como se começasse a formar um pequeno tufão. Usando esse mesmo Zyou, ele o arremessou enquanto movimentava seu pulso como se tivesse jogado algo de sua manga.

Alguns segundos depois, eles ouviram um estalo e havia um furo na parede de onde estavam. — Isso é uma técnica de batalha da minha família, chama-se agulha dourada, que comprime Zyou e o arremessa como uma agulha.

— Uma pergunta, por que agulha de ouro? — disse Ana curiosa com o nome, eles não podiam ver nada, então não fazia sentido chamar isso de uma agulha, muito menos uma dourada, ela sequer tinha cor, se tivesse um formato.

Fanji se lembrou de quando fez a mesma pergunta ao seu pai, na época seu pai havia dito que quanto mais se praticava essa técnica, mais próximo de uma verdadeira agulha ela seria. Agulhas muito superiores às de ferro ou aço, sendo capazes de penetrar muitos tesouros defensivos e armaduras.

Sobre a parte dourada da agulha, diziam que quando se alcançasse um certo nível de habilidade com a técnica, as agulhas tomariam forma e brilhariam na cor dourada. No entanto, ninguém nunca tinha visto isso, então a maioria achava que aquele que nomeou a técnica gostava de ouro e de ser extravagante, dando má fama ao criador.

Mesmo assim, a técnica era forte, então continuou a ser repassada pela família, junto de sua lenda. Com exceção da última parte, Fani compartilhou a história contente.

— Algumas técnicas de batalha não precisam utilizar o Zyou de nossos corpos, utilizando aquele presente na atmosfera. Essas técnicas serão nosso estudo de hoje, enquanto não encontrarmos uma técnica de Cultivo que seja incrível, vamos nos manter com esse tipo de técnicas.

Com mais dúvidas, Ana, Fernando e Martin levantaram suas mãos, mas Fanji respondeu suas dúvidas no mesmo instante dizendo — O corpo humano só pode utilizar uma técnica de Cultivo, com raras exceções. Usar mais de uma, mesmo que seja somente uma por fez, pode causar um contrafluxo e te matar no mesmo instante.

— Como deveríamos Cultivar se podemos morrer por contrafluxo quase sempre? — questionou Fernando indignado. Mas logo entendeu o motivo e continuou — É por conta das outras raças, certo? 

— Sim, a maioria dos humanos Cultiva para viver, não porque gostam. É verdade que nosso tempo de vida aumente significativamente quanto mais Cultivamos, no entanto, se torna quase inútil, pois gastamos mais da metade desse tempo Cultivando.

O universo é cruel, onde aqueles que não possuem força o suficiente para sobreviver vão ser engolidos por outro mais forte, desaparecendo. Quantas raças já não sofreram esse destino? Quantas raças a humanidade já não sentenciou a esse destino? O universo é cruel e somente poucos podem sobreviver.

— Certo, vamos praticar! — disse Fanji pedindo para Chang se aproximar. Como nenhum deles já havia manipulado Zyou em suas vidas, eles nunca conseguiriam fazer o mesmo que Fanji, já que não tinham entrado em contato com essa energia.

Mesmo para Fanji, não era algo muito fácil. Era possível e ele acreditava que os outros poderiam fazer o mesmo, mas não seria fácil. Então para ajudar seus amigos, ele tentaria manipular Zyou usando os corpos deles como intermediários, para os passar a sensação de como devem fazer.

Isso era algo significativamente arriscado, mas Fanji tinha confiança em seu controle de energia e já havia feito isso antes, no entanto, naquela hora ele tinha seus três núcleos de energia o dando suporte… “Eu vou conseguir, não é tão difícil pela terceira vez!”

Fanji pediu que Chang desse sua mão, e então começou a movimentar o Zyou, mas em vez de comprimir a energia em sua palma, ele comprimiu a energia na palma de Chang.

— Não sinto nada — disse ela um tanto decepcionada.

— Não é tão rápido, vá com calma. — Fanji estava sentindo que algo estava diferente, antes ele só comprimia a energia e a liberava usando a técnica agulha dourada de sua família por reflexo. 

Porém, nesse momento ele estava focado em controlar Zyou e percebeu algo muito interessante, não estava sendo difícil, ao menos não tanto quanto as outras duas vezes que ele fez.

Depois de alguns minutos Chang começou a sentir algo na palma de suas mãos, era um formigamento leve, mas ele aumentava de forma gradual até que ela sentisse algo em suas mãos, algo diferente.

Assim, dez minutos se passaram e Fanji parou para descansar um pouco, enquanto Chang tentava replicar o que havia sentido naquele momento. Esse era o caminho que eles poderiam usar para se fortalecerem enquanto ainda não Cultivavam verdadeiramente.

Após alguns minutos, e depois de beber um pouco de água, Fanji chamou o próximo. Martin animado se apressou, pois queria muito fazer começar a manipular Zyou, ele não sabia muito bem o que era ainda, mas a ideia parecia legal.

Nenhum dos dois se importaram com isso, e vendo a animação de Martin, Fernando e Ana decidiram deixar ele ter sua aula antes.

Da mesma forma que foi com Chang, Martin se aproximou e estendeu sua mão empolgado. Fanji então começou a trabalhar, movimentando Zyou na palma da mão de Martin.

Martin, assim como Chang sentiu um formigamento na palma de sua mão, e isso o deixou muito animado. A ideia de ter habilidades especiais, como Fanji e Taki o deixou sonhando nas nuvens.

Imagine ter força o suficiente para levantar uma pedra pesada ou um tronco pesado, lutar contra bandidos e feras e salvar a linda princesa no final de tudo. Tudo isso eram somente sonhos para Martin até ontem, mas agora ele sabia que poderia fazer isso também, como não ficar feliz?

— Certo, acabamos por agora — disse Fanji parando de manipular Zyou.

— Espera, já? — perguntou Martin surpreso, ele mal havia começado?

— Como assim já? — perguntou Fanji antes de continuar — já se passaram dez minutos.

— O quê? Não pode ser! 

— Sim, já se passaram dez minutos — disse Ana olhando para Martin confusa, esse treino fazia o tempo passar mais rápido?

Fanji então pareceu entender o que aconteceu com Martin e suspirou incrédulo, “Como ele pode se perder em seus pensamentos e esquecer do que estava fazendo… é por isso que não costumamos ensinar as crianças tão cedo.”

Martin estava confuso, até que Fanji sussurrou algo em seu ouvido que o fez cair o queixo, mas ele entendeu o que aconteceu. Ainda pasmo ele se sentou perto de Chang para tentar se lembrar de algo, mas tudo o que ele se lembrava eram suas fantasias.

Assim que Fanji descansou um pouco, Taki retornou dizendo que não encontrou nada por perto, eles então contaram o que estava fazendo e Taki decidiu ajudar.

Ana então foi para Taki enquanto Fernando para Fanji, ambos estavam nervosos, pois seu histórico não era dos melhores. Vivendo suas vidas sabendo que nunca poderiam Cultivar, eles nutriram uma sensação ruim sobre isso.

Mesmo que Fanji tivesse contado sobre o método Vindicare, mostrando que eles ainda tinham chances, a ideia de falhar ainda era forte em sua mente, pois eles não conseguiam mudar suas perspectivas assim.



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