Volume 1
Capítulo 20 - Está tudo bem
— Taki, você é mais forte do que eu pensava — comentou Chang enquanto comia um pedaço de carne de crocodilo cozinhada por Fernando.
— Na verdade, a fera era mais fraca do que eu pensava — disse ele enquanto pedia por mais carne.
O grupo tinha escolhido enfrentar a fera, para o combate Taki foi lutar na linha de frente e Fanji agiu como suporte, enquanto todos os outros assistiam. Chang era responsável, mas não sabia lutar igual a qualquer um dos outros e ficou assistindo.
Inicialmente, Taki pensou que teria que lutar contra um grupo de feras, porém só havia uma fera no covil e ela não era tão forte, sendo do nível de poder de um nobre da terra barão, como era uma criatura que mal tinha entrado no Cultivo, Taki conseguiu facilmente se livrar dela.
Reforçando sua mão com Zyou do ambiente, ele lutou contra o crocodilo com seus punhos, isso era algo que somente pessoas experientes podiam fazer, pois não era fácil manipular Zyou fora de seus corpos.
O comum era os armazenar e utilizar dentro de seus corpos, mas Taki demonstrou que poderia usar o Zyou presente no ambiente para lutar contra a fera.
Fanji deu suporte a ele da mesma forma, mas em vez de reforçar seu corpo ele formou pequenas bolinhas de Zyou concentrado e atirou sobre o crocodilo resultando em pequenas explosões.
A dupla facilmente se livrou do crocodilo e assumiu a toca, deixando seus amigos um tanto surpresos com a facilidade de tudo isso.
— Não era para ser mais difícil? — perguntou Ana pensando em todas as feras que seus irmãos já tinham matado. Mesmo os coelhos que podiam ser considerados feras inofensivas, quando tinham qualquer base de Cultivo se tornavam ameaças para várias pessoas.
— Normalmente? Claro que sim, mas parece que temos dois especialistas no grupo — comentou Chang já sentindo que a vida seria bem mais fácil agora.
Algo que ninguém levou em conta ainda, mas era um fato que eles não eram normais, qualquer um que tivesse a chance de alcançar o ápice do Cultivo não seria normal.
Quando todos começarem a aprender e Cultivar de verdade, eles perceberam que tudo aquilo que pensavam ser o senso comum não se aplicaria a eles, pois eles já estavam fora do comum.
— Ei, Fanji me ajude aqui — disse Fernando trazendo uma parte do crocodilo para perto de seu amigo. — Use seus poderes e corte o couro, vou assar essa carne!
Fanji ouviu a proposta de Fernando e imediatamente moldou Zyou para parecer com uma faca e retirar o couro.
No entanto, Martin interviu falando que precisavam desmantelar antes para conseguirem a maior quantidade de carne.
Depois que todos foram para dentro da caverna, que era a toca do crocodilo, Chang acendeu uma fogueira e Taki estava ajudando Martin e Fernando a transformar o animal em uma bela carne assada.
A noite chegou logo, mas a fogueira os manteve aquecidos o bastante, Lili por algum motivo ficou bem perto da fogueira, o que fez Chang ir até a garota e a colocar para se sentar do lado dela, junto com Lulu, que era um dos integrantes do trio.
Mais tarde Chang percebeu que Lulu era uma menina, isso aconteceu quando eles tiveram que fazer uma pausa para ir ao banheiro, e foi assim que descobriram isso.
Os outros dois, Jui e Nara, eram meninos e estavam correndo em volta de Fanji, sempre dentro do alcance dos braços dele, para caso um dos pirralhos decidisse fazer uma besteira perto do fogo.
— Hoje teremos carne!! — disse Martin animado, pois nem sempre havia carne em sua casa.
Fernando estava tão animado quando, pois ele só havia comido vegetais desde o incidente. Ao pensar nisso, ele tocou seu bolso, seu avô e seu irmão haviam o dado duas caixas, ele abriu as duas longe de Ana antes.
A caixa que seu avô tinha dado tinha uma chave amarela dentro, não parecia ser feita de ouro, era mais um cristal do que um metal. Fernando havia deixado essa caixa de lado, pois não tinha ideia da sua utilidade e não estava com ele na hora do teletransporte.
No entanto, a caixa de Jez era diferente, pois ele sabia muito bem a utilidade do item só de olhar para ele, uma vez que era o anel de noivado de Ana.
Houve tanta confusão naquele dia que esse passo nunca chegou a acontecer realmente, e Fernando ficou com os anéis no bolso. Depois quando descobriu ele não achou uma boa oportunidade e teve que manter o anel consigo, enquanto buscava o momento certo de entregar isso a sua noiva.
Consequentemente as alianças estavam com ele no momento do teletransporte, mas da mesma forma que antes, ele não tinha uma boa chance de entregar a Ana.
Fernando não queria somente dar a ela, ele queria propor como deveria ter acontecido naquele dia, e por isso enrolava buscando a hora certa.
Após uma espera de quase uma hora, Fernando começou a assar a carne com alguns espetos de madeira. Todos ficaram animados com isso, pois queriam comer logo a carne, porém, eles ainda tinham que esperar ela assar para poder comer.
— Será que carne de crocodilo é boa? — perguntou Maritn curioso.
— Ouvi dizer que a tem gosto de galinha — disse Chang sentindo o gosto da carne em sua boca, sem nem mesmo a provar.
— Galinha? Como isso é possível? — questionou Fanji, achando a ideia um tanto estranha.
— Fernando, quanto tempo vai demorar? — perguntou Taki espetando mais um pedaço de carne e segurando na churrasqueira.
— Algo em torno de uma hora ou mais — disse ele jogando um balde de água nos sonhos de seus amigos, que amaldiçoaram a demora, no entanto, não tinham mais o que fazer além de esperar.
Finalmente, quando tudo estava pronto, eles comeram a carne e sim, o gosto era muito parecido com frango.
— Faltou tempero — comentou Fanji depois de devorar a carne.
— Bem, eu não tinha nenhum — respondeu Fernando dando os ombros, ali não era uma cozinha e ele não tinha nenhum tempero por perto.
— Eu gostei — disse Ana com um pedaço de carne na boca, ela, assim como Fernando, não comia carne fazia um tempo, então ela aproveitou cada mordida.
— Realmente parece ter o gosto de galinha — comentou Lili olhando para a carcaça do crocodilo ao lado para confirmar que era um crocodilo, pois parecia um frango.
— Eu disse, não disse! — falou Chang alegre por estar certa.
As crianças comemoram um pouco naquela noite e se aproximaram, agora eles não podiam mais se chamar de estranhos e tinham se tornados realmente amigos. Assim, Fanji, Chang e Taki revezaram para vigiar e todos os demais dormiram.
Ana, Fernando, Martin e Lili insistiram que poderiam ficar de vigia também, pois eles não queriam ser tratados como crianças, mas Lili adormeceu pouco depois do pequeno trio, alguns minutos depois Martin dormiu, depois Fernando cedeu e sobrou somente Ana que dormiu logo em seguida.
Na manhã seguinte eles acordaram e comeram mais um pouco da carne do crocodilo e algumas bananas céu como café da manhã, o bebê comeu banana céu amassadas como Martin tinha mostrado antes, pois eles não sabiam se um bebê podia comer a carne do animal.
— Eu fui enganado! — disse Martin, sentindo-se envergonhado por ter feito um belo discurso ontem e dormido rápido depois.
— Quem te enganou tampinha? — perguntou Fanji enquanto tentava alimentar Nara que corria para lá e para cá.
— Meu pai, ele fazia parecer muito fácil ficar acordado até tarde!
— Na verdade, ele não te enganou. É muito fácil ficar acordado até tarde, só criancinhas como vocês não conseguem. — Fanji já estava com um sorriso perverso no rosto, brincando com Martin.
Fernando e Ana desejaram falar algo, mas eles também dormiram fácil, então ficaram quietos, Lili nem mesmo se importou e estava vendo o bebê ser alimentado por Taki, parecia que ela havia achado o bebê bem fofinho.
Taki se sentiu um pouco estranho, mas deixou assim, pois Lili parecia estar com brilho nos olhos ao ver o bebê comer as pequenas partes da banana que foram amassadas.
— É tão fofinho… — comentou ela maravilhada enquanto assistia o bebê comer.
— Ontem foi a primeira vez que você viu um bebê Lili? — perguntou Taki curioso, mesmo que ele já soubesse a resposta.
Sem muita surpresa, Lili acenou com a cabeça enquanto observava o bebê, ela até mesmo se aproximou um pouco para ver melhor, infelizmente o bebê pareceu se assustar e começou a chorar.
Lili se afastou e ficou confusa, e Taki agiu rápido tentando acalmar o bebê balançando ele levemente, mas não deu muito certo fazendo Lili entrar em pânico e pensar se tinha feito algo ruim.
O choro fez Fanji parar de brincar com Martin e olhar de reflexo para o bebê, logo em seguida os outros imitaram suas ações. Taki estava tentando acalmar o bebê e Lili estava visivelmente confusa e com medo de ter feito algo errado.
Com medo do que viesse acontecer, Chang foi até Taki e pegou o bebê em seu colo, diferente das mãos e braços de Taki, o corpo de Chang era macio, pois ela nunca havia treinado alguma arte marcial ou qualquer coisa do gênero.
Com a mudança de colo, e balanços mais suaves, o bebê chegou a se acalmar novamente, porém, antes disso ele ainda parecia estar incomodado, então Chang pensou em algo e deixou o bebê arrotar, resolvendo o problema e o fazendo vomitar um pouco.
Agora calmo, ele voltou a dormir. Deixando a caverna silenciosa novamente, porém as coisas não eram como antes, uma vez que Lili estava com medo do que fez.
Chang então devolveu o bebê para Taki e disse a Lili, que ainda estava parada no lugar com uma expressão nervosa — Lili, não se preocupe, você não teve culpa.
— Mas… mas ele chorou qua-quando eu me aproximei — disse ela com a voz tremula, ela não queria assustar o bebê, ela só achou ele fofinho e queria ver de perto, só isso — O que eu fiz de errado?
— Nada, acontece que o bebê se assustou ao ver um rosto se aproximando, é normal — comentou Fanji com medo de que ela ficasse com receio de se aproximar do bebê por conta disso.
Chang então sentou-se do lado de Lili e começou a passar a mão no cabelo branco da menina, tentando a acalmar. Não foi somente o bebê que se assustou, pois ela também se surpreendeu com a ação e se assustou com o choro.
O resto parecia estar em um silêncio mortal, até que Chang olhou para eles como se dissesse “continue a conversar, faça ela esquecer disso.” Claro, Fernando, Ana e Martin não notaram isso, mas Fanji percebeu e começou a importunar Martin novamente.
Fernando e Ana pareceram entender a dica e foram atrás do trio pequeno para ver como eles estavam. Enquanto Chang só abraçava Lili e passava a mão sobre seu cabelo tentando a acalmar do choque.
— Está tudo bem minha querida.
Mas as palavras não adiantaram muito, pois Lili estava tremendo ao lembrar do qua aconteceu, ela não queria isso, ela só o achou fofinho. Ao ver o corpo de Lili tremer, Chang a abraçou mais forte enquanto repetia.
— Está tudo bem, a culpa não foi sua, está tudo bem, querida.
Fernando e Ana tinham ido ver o pequeno trio, que não parecia estar acordado ainda, pois estavam andando pela caverna com caras de quem estava com sono. Eles já haviam comido, mas se deixasse os pequenos encontrariam em uma parede e dormiriam novamente.
Pensando não ser uma má ideia, Fernando e Ana colocaram os pequenos em seus colos e deixaram eles dormirem mais um pouco, e facilmente eles adormeceram, deixando até mesmo Ana e Fernando com um pouco de sono.
Ambos estavam gostando da ideia de dormir também, seriam só mais alguns minutos, porém seus corpos gelaram ao ouvir o soluço misturado com o choro de Lili enquanto era consolada por Chang.
A voz de Chan e o choro de Lili pareciam estar ficando mais altos e repercutiam por toda a caverna, impedindo qualquer um de se esquecer disso, por um tempo eles só ouviram o choro de Lili e a vez de Chang repetindo — está tudo bem.