Volume 1
Capítulo 16 - Não chorem
Em um salão de reuniões gigantesco, várias figuras estavam discutindo sobre o Afaldair. Cada uma dessas figuras tinha uma cadeira esculpida em uma pedra branca para si, no entanto, havia muito mais cadeiras do que figuras.
Cada uma dessas figuras era alguém importante para a raça humana, cada um deles havia alcançado com sucesso o ápice da vida, cada um deles havia Cultivado até o nível que chamam de deus, ou de combatente ápice, todos eles eram os deuses da raça humana.
Contando rapidamente havia mais do que alguns deles, talvez seu número alcançasse a casa dos setenta, e cada um deles era distinto da sua forma.
— Qual é o plano da vez? Carmino, o que temos? Me diga se dessa vez vamos bater naqueles malditos — gritou um homem com a pele bronzeada, ele vestia uma pele de animal, que às vezes tinha relâmpagos vermelhos correndo pela pele morta, o homem estava sem sapatos e sem algo para cobrir sua parte superior.
— Cale a sua boca Kreas! Tenha mais dignidade! E onde estão suas roupas?! — gritou uma mulher que se vestia inteiramente de azul, ela usava um vestido fino, com luvas e um chapéu que cobriam seu corpo.
— Eu não preciso delas, afinal eu vim ao mundo sem elas — respondeu ele, gerando aplausos de seus amigos, e claro, reclamações do grupo da moça, que se chamava Ariel.
Ariel ficou extremamente irritada com a resposta de Kreas, então começou a xingar ele, porém isso era tudo o que a mulher poderia fazer, pois ela não era mais forte que Kreas, na realidade ela era bem mais fraca que ele.
Kreas já estava acostumado e ignorou a mulher voltando sua atenção para Carmino, que estava sentado em uma mesa de pedra branca, a mesma pedra que foi usada para montar as cadeiras de todos, esperando a resposta do homem.
Carmino estava simplesmente bebendo uma xícara de chá sem se importar muito com o que eles estavam fazendo. Assim que ele acabou seu chá, um pequeno som de um guizo soou no salão, calando a Ariel.
O sino pertencia ao Simon, ele havia chegado na sala de reuniões, junto de Azure, e o homem que se chamava Rubbers, e ele foi o primeiro a falar quando chegou, — Oh, Carmino, o senhor está tomando chá, teria um pouco para esse monte de ossos velhos?
Carmino gesticulou para que Rubbers se sentasse e ele imediatamente apareceu em uma das cadeiras perto da mesa, ansioso para tomar o chá feito por Carmino.
Enquanto preparava mais uma xícara de chá, Carmino perguntou a eles como estavam os grupos de humanos desse Alfadair. Para sua tristeza, tanto Rubbers quanto Azure haviam dito que seus grupos não tinham muita esperança.
Não que não houvesse alguém com talento, pelo contrário, todos eram extremamente talentosos, mas isso não bastava.
Todas as outras raças adoravam o Alfadair, sempre torcendo para que cada um de seus gênios conseguisse ser convocado, todos menos os humanos. Para a raça humana, o Alfadair era um desastre.
Os humanos eram fortes, muito fortes, sendo uma das raças mais relevantes em poder militar de todas. Porém, um humano comum demoraria um bom tempo para conseguir Cultivar, entretanto, a história era diferente para os outros.
Sendo os mais fracos de todo o lugar, os humanos sofriam muito. Com seus deuses impotentes para os ajudar, tudo o que restava era assistir à humanidade perder uma ampla gama de talentos, por isso muitos dos deuses odiavam esse maldito evento realizado pelo universo.
A convocação era forçada, e com exceção de um pequeno tempo no começo, os deuses não eram permitidos de entrar ali, muito menos interferir fora das regras.
Todos ficaram decepcionados com isso, normalmente a chance da humanidade se manter, ao menos viva, naquele lugar era com um gênio extremamente absurdo, ou alguém que fosse bom em combate sem nenhum Cultivo, algo extremamente raro.
Rubbers conseguiu sua xícara de chá e estava adorando o momento, ele não parecia triste pelo Alfadair dessa vez, Azure também não estava se importando, o que fez alguns deles acharem que algo estava estranho.
Carmino então serviu uma xícara de chá para Simon e perguntou a ele — E o seu lote, algo bom?
Carmino era uma pessoa muito simples, sempre usando uma roupa estilo vitruviano, luvas brancas e um terno preto. Diferente do normal, ele não tinha medalhas ou adornos, fazendo parecer que era somente mais um no meio das pessoas.
Ninguém sabia quanto tempo esse homem viveu na realidade, porém eles tinham certeza, não havia ninguém mais calmo e tranquilo dentre os deuses humanos que Carmino.
Simon pegou sua xícara de chá e a bebeu antes de olhar para o seu amigo e dizer — Tivemos muita sorte dessa vez. — Sua frase foi simples, mas chamou a atenção de todos os presentes, “como eles poderiam ter sorte nesse evento maldito?”
— Um rank estrela, uma das crianças era um rank estrela antes de ser convocado. — Finalizou Simon, e com o fim de sua fala, todos entraram em alvoroço.
— Que sorte, ainda bem que bebi todo o chá antes de ouvir isso, não poderia imaginar o desperdício de cuspir essa preciosidade — comentou Rubbers.
— Então era por isso que você estava feliz — murmurou Azure.
— Hahaha, vejam isso, essa é a minha raça humana! Vamos para cima daqueles malditos! — gritou Kreas entusiasmado, e logo seus amigos comemoraram com ele.
Ariel também estava feliz, porém ela comemorou de uma forma mais sofisticada que Kreas, fazendo alguns comentários com seus amigos, em vez de gritar por aí.
Carmino se surpreendeu pela primeira vez em muito tempo, porém isso logo foi escondido por sua face calma de sempre, — então, quem é a criança? — perguntou ele dando ao Simon uma esfera azul.
— Vou lhes mostrar, mas saiba, as coisas não são tão boas assim. — Então ele usou sua energia fazendo a esfera transmitir uma imagem para todos os presentes, a esfera estava mostrando a planície em que as crianças estavam.
Após ampliar um pouco uma imagem apareceu, era a criança da qual eles estavam comemorando há pouco… estavam tão alegres, até que viram quem realmente era a pessoa.
— Merda. — Gritou Kreas com raiva.
Nas planícies, as crianças estavam se reunindo perto da menina que foi escolhida como a líder do grupo. Ela parecia ter quatorze, muito perto de ter quinze, usava uma roupa típica de uma nobre, um vestido longo cheio de bordados e joias, luvas enfeitadas e bordadas com desenho de leões, e uma tiara em sua cabeça.
Aparentemente a mulher estava em uma festa antes de vir para aqui, ao menos foi o que a maioria das pessoas pensou quando viram suas roupas.
A menina estava agindo rápido, e reunia as crianças para perto dela, uma pessoa forte normalmente não era tola, ela sabia que não tinha muito tempo para perder e tinha que se apressar, não havia garantia de que eles estariam seguros por muito tempo.
— Vamos lá? — perguntou Ana, esse deveria ser o melhor para eles, pois os pequenos eram simplesmente leigos no Cultivo, suas melhores chances de sobreviver era ficando junto dos outros.
Por azar, Fernando e Ana estavam em uma ponta da planície e sua pequena líder estava do outro lado da planície. Não que fosse uma distância muito grande, eles podiam atravessar isso em alguns minutos, mas quando eles sentiram o chão tremer, ambos perceberam que não tinham mais esses minutos.
Vindo do norte, várias árvores estavam sendo derrubadas, os tremores estavam ficando cada vez mais fortes e um rugido soou pela planície. Algo grande e pesado estava vindo, e não estava sozinho.
No pouco tempo que os dois usaram para notar isso, a líder já estava reunindo todos que estavam por perto e correndo para a floresta. Quanto aos que estavam longe, sua escolha era correr para o grupo dela ou fugir sozinho.
Ana percebeu imediatamente e gritou — Vamos!!
Se eles quisessem ter chances de chegar ao outro lado antes do que quer que seja aparecer para o pisotear, eles tinham que começar a correr agora.
Fernando olhou para o norte, vendo que as árvores que tombaram estavam cada vez mais perto, ele fez um cálculo mental rápido e chegou a conclusão que eles não poderiam chegar do outro lado a tempo.
Eles demorariam no mínimo três minutos para cruzar a planície, porém essas feras pareciam chegar em menos de um minuto.
— Não vai dar tempo — disse ele olhando em volta, poucas pessoas tiveram o azar de começar desse lado da planície, e por um azar ainda maior, quase todos pareciam perdidos sem saber o que fazer.
— Temos que tentar, como vamos sobreviver sozinhos? — retrucou ela sem perder tempo, Ana queria muito correr para o outro lado nesse momento.
Fernando olhou em volta e percebeu que ainda tinha uma chance, um certo garoto ainda estava no mesmo lugar em que apareceu, alguém que mesmo se esforçando para sair dali, não conseguia.
— Ana, tire eles do seu choque, vamos tirar todos daqui e ir para a floresta do nosso lado, é nossa melhor chance.— Com isso dito ele correu para o garoto sem uma de suas pernas.
O homem claramente era forte antes de ser convocado, o mais forte do grupo deles, e isso era algo que salvaria suas vidas nesse momento.
Se aproximando do menino Fernando gritou — Se apoie em mim!
O garoto pareceu grato e estendeu sua mão para receber a ajuda de Fernando, ele agradeceu dizendo — Obrigado cara, eu te devo uma.
— Menos papo, mais ação! — disse Fernando, ele já podia ver que Ana estava tirando as pessoas do seu torpor inicial, sacudindo alguns, agarrando outros, os mandando para a floresta.
O menino era mais velho que Fernando, entretanto, ele não era incompetente, na verdade, ele era bastante competente, e se tivesse um apoio antes com certeza ele poderia ter se levantado e fugido dali.
Fernando estava prestes a começar a se mover quando viu algo no chão ao seu lado, o que ele viu o deixou paralisado por um momento e disse — se apoie no meu ombro por um momento.
O jovem fez exatamente isso, dando a chance para Fernando usar suas duas mãos para pegar alguém no colo, um bebê que parecia não ter mais de seis meses de idade estava no seu colo nesse exato momento, “Até mesmo bebês podem ser convocados? Como eles sequer deveriam cultivar?” pensou Fernando amaldiçoando esse lugar estranho.
Com isso, os dois começaram a se dirigir até a floresta, mas por ter os dois braços ocupados sua velocidade ainda era muito baixa, eles não poderiam escapar assim.
Felizmente, outro garoto apareceu e aumentou a velocidade da marcha, pouco depois Ana chegou e pegou o bebê do colo de Fernando, possibilitando o trio se mover com força total.
Quando o trio conseguiu se esconder na floresta, junto dos outros, as feras apareceram na planície, as feras estavam correndo com seu bando, feras grandes e pesadas que pareciam mamutes, tendo quatro chifres em sua cabeça e uma longa tromba, os animais tinham um pelo marrom e pareciam ter seis metros de altura.
Com sua manada correndo, o chão tremeu e as árvores da fronteira da planície caíram uma a uma, revelando uma manada de pelo menos quinze dessas feras. Sentindo alívio por não estar mais na vista delas, as crianças respiraram fundo.
Isso deu a Fernando a chance de ver seu pequeno grupo de crianças. Além dele e de Ana, eles tinham o garoto sem uma de suas pernas, o outro que ajudou a chegar na floresta, um bebê, uma menina que deveria ter doze ou treze, um garoto que supostamente tinha oito anos, uma menina que não deveria ter mais de sete anos por sua altura e três pequenos que pareciam ter menos de cinco anos.
Era um grupo de onze pessoas, dentre eles quatro tinham menos de cinco anos, seu grupo parecia bem precário, porém era o que eles tinham. Infelizmente eles não tiveram muito tempo para respirar, pois os tremores fizeram com que os trio dos pequenos ameaçassem chorar.
“Não, por favor, não chorem!” pensaram todos os presentes ao ver aquilo.
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Recado do Autor.
Caso se pergunte, não, eu não escrevi errado. Vou explicar melhor nos próximos capítulos o motivo de Simon ter dito rank estrela.
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