Meu Mestre é um Bebê?? Brasileira

Autor(a): Zatojo


Volume 1

Capítulo 12 - Anjo de pedra

Fernando olhou em volta, exausto pelo que viu, mas não encontrou nada que remetesse à aquela cena infernal, não havia sangue, corpos, ou mesmo o seu vômito. Fernando estava de volta ao esconderijo, onde as paredes cinza e a iluminação das pedras brilhantes era tudo o que seus olhos podiam ver, além de algumas portas claro.

Ao seu lado, ele ainda podia ouvir o choro de sua noiva, estava mais baixo do que antes, talvez ela estivesse se contendo com medo de Fernando a escutar, ou esse era o fim.

Como se esperava, Ana se manteve em choro até desligar o chuveiro, parecia que ela acreditava que o som do chuveiro abafaria o som de seu choro, e por garantia ela diminuiu seu choro quando achou que já havia ficado muito tempo ali.

 Após ouvir o chuveiro desligar, Fernando se levantou, enxugou o rosto com as mangas e disse — Ana, assim que acabar, venha até a cozinha, eu fiz algo para comermos.

Fernando sabia que ela já deveria estar acabando, porém, ele fingiu não saber para não deixar Ana suspeitar que ele estava ali, e que ele ouviu ela.

Ana se assustou quando ouviu a voz de Fernando do outro lado da porta, ela ficou com medo de ele ter ouvido algo, no entanto, a voz de Fernando e suas palavras a levaram a acreditar o contrário, ele parecia muito calmo.

— Certo — disse ela se enxugando —, já estou saindo. — Ana fez seu melhor para que sua voz soasse como normalmente, ela não tinha coragem de chorar na frente de Fernando.

A casa que estava sendo atacada era a casa Rafara, eles eram as pessoas que mais vão sofrer nessa batalha, esqueça a sua morada, somente o número de mortos e a destruição de sua terra será significativa, comparada a isso, o número de mortes dos convidados ou da família Vitrela, será irrelevante.

Ana não queria chorar na frente de Fernando, pois sabia que ele deveria estar muito pior que ela. Vestindo suas roupas, que eram um tanto grandes para ela, Ana saiu do banheiro e se dirigiu até a cozinha, Fernando disse ter feito algo para ela comer, o que era bom, pois ela já estava ficando com fome.

Fernando tinha medo de que seu rosto, com lágrimas causadas pela alucinação, causasse algum mal-entendido e correu para a pia da cozinha limpar seu rosto. Se Ana o visse com o rosto assim, ela saberia na hora que ele escutou o choro dela, o que era verdade, mas o rosto de Fernando não havia ficado assim por causa disso.

Assim Ana chegou na cozinha e a visão deixou seu noivo parado por um momento, ela vestia roupas simples, roupas que qualquer artista marcial usaria para treinar, no entanto, elas eram muito maiores que o seu próprio tamanho, o que resultou em uma cena bem fofa para seu noivo ver.

Sem sequer perceber, sua noiva estava tendo a mesma vista fofa que ele, pois nenhum deles estava vestindo roupas que eram sequer próximas ao seu tamanho usual.

Com Ana agora na cozinha, Fernando serviu a mesa com seu delicioso prato, legumes fritos. O que, pela reação de Ana, ela não gostou tanto.

— Não temos ingredientes melhores — disse ele antes mesmo dela ter a chance de falar algo.

Ana só pode fazer uma careta e comer os legumes, que estavam ótimos para a surpresa dela. Fernando então pegou uma parte e começou a comer.

“ Acho que usei muito manjericão e pouco orégano, vou me lembrar disso para a próxima.”

Fernando tinha dois passatempos, o primeiro era cozinhar com seu irmão Jez, o outro era aprender sobre as ervas com seu tio Vincinti, portanto ele era bem sensível ao uso de temperos, principalmente os que ele gostava de usar, como orégano. 

Perdido em seus pensamentos, Fernando começou a pensar sobre as combinações que ele poderia fazer para melhorar a comida. Ao mesmo tempo, a face de Ana escureceu enquanto ela se lembrava do que aconteceu.

Ana estava vestindo roupas limpas, comendo uma comida quente e escondida em um lugar seguro. Isso estava certo? As pessoas lá em cima estavam lutando, sangrando e morrendo, mas ela estava bem.

— Fer… isso está certo? Digo, eles estão lutando para viver… mas, nós estamos seguros e vivos sem lutar… 

— Ana, você sabe usar uma espada?

— O qu– dizia ela antes de ser interrompida por ele.

— Sabe usar uma lança? Um chicote? Um arco? Um escudo ou alguma outra arma? — disse ele sem qualquer ponta de dó, nesse momento a realidade era a melhor forma de acabar com essa culpa inútil.

— Não…

— Sabe medicina? Ou melhor, Ana você sabe fazer qualquer coisa que seja útil em um campo de batalha para Cultivadores? 

Ana se calou e não respondeu à pergunta, ela realmente não sabia fazer qualquer coisa que fosse útil em um campo de batalha desse nível. Ambos eram filhos de clãs marciais, mas nenhum deles recebeu ensinamentos do clã, uma vez que nenhum dos dois eram capazes de Cultivar.

Os Cultivadores eram super-humanos extremamente fortes, e contra eles, um humano normal era impotente, ainda menos duas crianças que nem mesmo sabiam usar qualquer arma.

Fernando não mentiu e disse tudo o que disse, pois tinha medo do que Ana faria quando ele desviasse o olhar, ela não deveria se culpar por não saber lutar, isso não era sua culpa.

— Ana, você não tem culpa pelo que está havendo lá em cima, você não é culpada por nascer dessa forma, você não tem culpa de nada — e se levantando do seu lugar e parando do lado dela ele continuou a falar — viva comigo, pois se você morresse eu ficaria muito triste.

Fernando sempre soube que nunca poderia viver com sua família, Cultivadores tinham uma expectativa de vida aumentada, um aumento muito além do que os humanos normais podiam suportar, ele morreria provavelmente de velhice antes de seu avô.

Neste mundo em que ele era um grão de poeira no tempo, somente sua noiva, que era igual a ele, poderia viver do seu lado. — Além disso, tenho certeza que se você colocasse sua cara lá em cima, todos os nossos inimigos iriam te caçar para te usar como refém.

Ana tinha se emocionado com as palavras de Fernando, mas depois de ouvir seu último comentário ela imediatamente perdeu seu ânimo. — Eu não seria pega tão facilmente!! Ao menos eu duraria mais que você! — protestou ela.

— Sério? Eu não sei não, tenho certeza que muitos iriam querer esse seu rostinho lindo — disse ele puxando bochechas dela, — por que acha que você duraria mais que eu? — perguntou ele querendo saber de onde sua noiva havia tirado a sua confiança.

— Simples, se eu fosse encontrada e estivesse em perigo você ia me salvar, mesmo que custasse sua vida. — comentou ela de relance.

A resposta de Ana assustou ele por um momento, mas depois ele disse — Sim, provavelmente eu faria isso mesmo, então aumente meu tempo de vida não fazendo besteiras.

Fernando sentou-se ao lado dela e segurou sua mão, o melhor que ele podia fazer nesse momento era estar ao seu lado.

— Fer, desculpe por antes, foi uma preocupação idiota.

— Não acho, isso estava te preocupando não estava? Se ela te incomodava, é uma preocupação válida, ao menos para mim.

— Obrigada. — Ana então deu um belo sorriso para ele e depois encostou sua cabeça no seu ombro.

Fernando olhou para Ana novamente, ela havia acabado de sair do banho e vestia roupas maiores do que seu tamanho habitual, o que resultou em uma combinação perigosa para o jovem.

— Você é linda Ana, principalmente quando está sorrindo — disse ele simplesmente falando o que pensava.

Ana ouviu o elogio, e corou imediatamente. No exato momento tudo o que ela desejava fazer era cavar um buraco e se enfiar nele, entretanto, ela não tirou sua cabeça do ombro de seu noivo e simplesmente se manteve encostada ali por um tempo.

Após se sentir pronta ela tirou a cabeça do ombro de Fernando e olhou para ele, e assim ela abriu um belo sorriso. 

— O quê está fazendo? — perguntou ele curioso com as ações dela.

— Se meu noivo gosta do meu sorriso, eu deveria sorrir mais, não acha? 

— Sim, isso seria algo bom.

Assim ele bagunçou o cabelo de sua noiva e se levantou da mesa para lavar a louça. Ana ficou no lugar em que estava sorrindo para ele, no entanto, Fernando pensou em algo e decidiu sorrir para ela, e assim, Ana ficou vermelha igual a um tomate.

Cansado, Fernando se levantou e se dirigiu para a cama, ele precisava muito dormir, e Ana pensou que deveria fazer o mesmo. Sem se importarem com dividir a mesma cama, eles simplesmente apagaram e dormiram.

Enquanto dormiam, a entrada para o cemitério recebeu um visitante. Saindo da água estava um tentáculo de pelo menos um metro de diâmetro, a fera que Fernando se referiu antes apareceu depois de rastrear o sangue de Ana.

A fera saiu da água e deixou todo o seu corpo visível, ela era uma espécie de lula com seis tentáculos grandes que ela estava usando como pernas, era inteiramente branca, da cor de mármore. Porém, a lula tinha diversos ferimentos em seu corpo, ferimentos curados, mas que deixaram cicatrizes.

Três de seus tentáculos estavam sem ferimentos, pois ela havia perdido esses três em combate e teve que criar novos, os outros três estavam cobertos de cicatrizes de quando a fera lutou contra os membros da família Rafara, subindo um pouco, os olhos da fera haviam sido destruídos, deixando no lugar, olhos vazios.

A fera tinha a oportunidade de recuperar sua visão quando avançou seu reino de Cultivo, mas por viver em águas com quase nenhuma luz, ela preferiu curar seus tentáculos perdidos na batalha, o que em seu ambiente normal, foi a decisão certa.

Agora a fera não podia ver, mesmo com a iluminação da caverna, no entanto, ela podia sentir a presença das coisas ao seu redor e isso substitui sua visão perdida.

Quando a fera aquática apareceu o anjo de pedra saiu de seu pedestal e apontou a sua lança para a lula. Esse era o sistema defensivo da caverna, enquanto um ser vivo entrasse nesse lugar sem possuir o sangue da família Rafara, ou estar acompanhado de um deles, o anjo barraria sua entrada e o mataria.

A fera não sentiu que o anjo de pedra fosse uma ameaça, pois ele não era algo vivo para a lula, era como se um pedaço da parede tivesse caído longe dela, nada ameaçador.

Isso até que o anjo usou suas asas para aparecer do lado da fera e cortar um de seus tentáculos recém formados. A fera soltou um grande rugido que sacudiu a caverna, mas nada disso saiu da caverna, o anjo não podia permitir que a localização deles fosse exposta então ele ativou sua aura e depois a dispersou.

Sua aura, cinza, saiu do seu corpo e se espalhou para o ambiente em que estavam e o anjo disse — Conquista de domínio.

Com isso, todo o lugar em que a aura do anjo estava tocando virou seu território, onde ele detinha um controle imenso de tudo o que acontecia ali, assim o som foi facilmente abafado.

A fera achou o fenômeno estranho, ela não sabia o que era uma Conquista de domínio e simplesmente cobriu seus tentáculos com uma aura vermelha e atacou o anjo.

O anjo usou suas asas para desviar dos ataques da lula e depois usou sua lança de pedra novamente para atacar um dos tentáculos da lula. 

Para a surpresa do anjo seu golpe não pode cortar o tentáculo imediatamente, pois ele acertou agora um dos tentáculos que haviam resistido na luta da lula contra a família Rafara, ele não era igual ao recém formado, além de que nesse momento, a lula revestiu seu corpo com sua própria aura.

A lula sentiu que tinha vantagem ao ver que o anjo não podia mais causar tantos danos nela e tentou o agarrar com seus tentáculos. Infelizmente para ela, o anjo era muito rápido e usava suas asas com maestria, algo que a lula nunca tinha visto.

O anjo então murmurou — Domínio próprio: asas de pedra. — e o seu domínio que antes estava espalhado pelo ambiente se reuniu em pequenas bolinhas de luz cinza se juntaram e manifestaram a imagem das penas que estavam nas asas do anjo.

As penas atacaram a lula de todos os lados causando diversos ferimentos o que enfurece a fera, ela começou a atacar todos os lados tentando acertas as penas de pedra, mas o ato foi inútil, pois as penas simplesmente seriam recriadas em outro lugar e o acertariam novamente.

Com medo, a Lula decidiu fugir, ela não estava entendendo nada do que o anjo de pedra estava fazendo, para começar, ele nem mesmo estava vivo. Porém, sua tentativa de fuga foi impedida pelo anjo que apontou sua lança para a lula em fuga e disse — Domínio próprio: livro de contos.

Assim, alguns caracteres saíram do livro que o anjo carregava e prenderam a fera, que berrou tentando se libertar, mas ela estava presa, após isso o anjo disse — Manifestação do desejo: lança de pedra.

Com isso todas as penas feitas da aura do anjo se reuniram e cobriram sua lança, elas se dissolveram na lança fazendo que a arma voltasse a ser coberta pela aura cinza do anjo, mas claramente isso era diferente da aura comum.

A lula tentou fugir, mas ela estava presa pelos caracteres que saíram do livro e só pode esperar pele ataque, que não demorou, uma vez que o anjo atacou rapidamente e sua lança atravessou o monstro por completo, o matando no lugar.

O corpo restante da lula começou a se transformar em pedra e caiu no chão, se espatifando em poeira. Quando o anjo decidiu que o inimigo tinha sido exterminado, ele voltou ao seu pedestal e manteve sua pose de sempre.



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