Meu Mestre é um Bebê?? Brasileira

Autor(a): Zatojo


Volume 1

Capítulo 10 - Sangue

Agora que Ana estava melhor, ela olhou bem a estátua. A estátua do anjo foi esculpida inteiramente em uma espécie de pedra cinza. O anjo usava um robe simples que cobria seu corpo, em uma das suas mãos estava uma lança, do mesmo material do resto da escultura.

Na outra mão, o anjo tinha um livro feito inteiramente de pedra, infelizmente o anjo era muito alto e ela não tinha ideia se algo estava escrito naquele livro ou não. 

O anjo tinha três pares de asas que se espalhavam por suas costas, cada asa parecia real, como se fossem uma coleção de penas de aves da com cinza. Com cada peça posicionada em um conjunto gigante que montava a imagem de uma asa de anjo.

Porém, como as asas estavam em ótimas condições, no mínimo elas eram falsas, e pelo que Ana podia ver, também eram feitas do mesmo material da estátua, a pedra cinza. Isso a fez pensar se o escultor esculpiu a peça com as asas ou adicionou elas depois.

Deixando isso de lado ela olhou para a face do anjo, lá ela viu um rosto puro e simples, a maior demonstração de emoção que a face do anjo mostrava era um leve sorriso em seus lábios e seus olhos que pareciam acolhedores de alguma forma.

Isso fez Ana pensar “essa estátua parece estar viva”, no entanto, isso era um pensamento idiota que ela estava prestes a descartar quando pensou em outra coisa. Durante todo o caminho ela percebeu uma coisa, além de que ela podia ter desenvolvido medo do escuro novamente.

A família Rafara não parecia ser tão simples quanto aparentavam, a família Rafara que ela conhecia era uma família que estava no mesmo patamar da família Vitrela, entretanto, sua família não poderia nem mesmo sonhar em construir um labirinto subterrâneo como esse, muito menos para usar somente como um cemitério.

Juntando tudo isso com as pedras brilhantes e o cada detalhe da escultura, algo a dizia que a estátua não era tão simples quanto parecia. A estátua poderia não ser somente uma estátua muito bem feita, talvez ela fosse algo a mais?

— Ei Fer, essa estátua não pode estar viva, pode? — A estátua parecia muito bem feita, mas ao invés de uma estátua de verdade, parecia mais uma criatura viva revestida em pedra, ou no caso, um anjo revestido de pedras.

Claro, isso parecia idiotice, porém o “e se” continuava na sua mente, além disso, não custava nada perguntar.

— A estátua? — disse ele se virando para a encarar melhor, a estátua era rica em detalhes e muito bem feita que podia dar a sensação de que ela estava viva, no entanto, era isso. Fernando não se lembrava de nenhum dos seus familiares contar algo importante sobre essa estátua. — Não sei ao certo, ela parece viva não?

— Sim, ela parece estar viva, mesmo sendo uma estátua… Espera, você não sabe? Isso quer dizer que é possível?

— Claro que é possível — E depois de dizer isso ele a guiou para dentro do cemitério, passando pela estátua. — Nunca ouviu a frase “Tudo é possível, desde que seu Cultivo seja alto o bastante”?

— É óbvio que eu já escutei ela, entretanto isso não passa de uma falácia para convencer as crianças a focarem no treino. — disse ela olhando seus arredores, mesmo que Fernando diga que isso é um cemitério, há poucas lápides.

Pelo que ela podia ver, o cemitério não deveria ter mais de 30 metros quadrados, e mesmo sendo pequeno, ele não tinha muitas pessoas enterradas ali, dando a impressão de que era um lugar sem ninguém.

Se não houvesse ocasionalmente algumas lápides com títulos escritos ela não acreditaria que isso era um cemitério.  

“ O demônio da lança, governante dos mares. Aqui está enterrado Davi Rafara.”

“ A santa, a paladina mais forte na terra. Aqui está enterrada Rafaela Rafara.”

“ O rei da fortuna, líder do grupo mercante Bolsa de Ouro. Aqui está enterrado Júlio Rafara.”

Enquanto passavam, Ana lia as lápides que encontrava. Diferente de Fernando que já havia vindo aqui algumas vezes e não queria mais saber dessas lápides, ou melhor, de quem eles foram em vida, Ana estava super curiosa.

— Fer, os títulos nessas lápides são reais? Eles realmente eram chamados disso? — Ana estava curiosa, ela gostava de ouvir histórias, e essas lápides cheiravam a uma boa história.

— De acordo com meu irmão, esses títulos ainda não são o bastante para eles, ele sempre me diz “será que devíamos mudar os títulos? Eles fizeram muito mais que isso.” No entanto, meu pai e avô o impediram.

— Você só pode estar brincando, esses títulos são exagerados o bastante. — Rei da fortuna, Demônio da lança e Santa não são títulos que deveriam ser dados assim.

— Eu também achei isso, mas ele é mais teimoso do que parece. — Fernando ainda se lembrava que seu pai disse para ele longe de Jez “depois que eu morrer, não deixe seu irmão mudar as lápides ao seu gosto”.

— Sério? Pensei que Jez era mais maduro. — comentou ela se lembrando da visão que tinha de Jez, um menino educado, forte e bondoso. Claro, uma parte desse pensamento veio do fato de Jez ser irmão de Fernando.

— Depende muito do caso, quando ele quer ele parece ter centenas de anos, em outros momentos ele parece ter cinco ou seis. — Ele não estava brincando, Jez saiu para a sua jornada, pois havia brigado com sua mãe, Carol, e para escapar de uma bronca ele fugiu dizendo que começaria sua jornada.

— Então ele é igual ao Liam, ao menos de vez em quando. 

— Sério? Não acho que consigo ver Liam agindo de uma forma madura, Huto, por outro lado, é bem possível.

— Liam é igual a Jez quando se trata de agir de forma infantil, e Huto também! — Ana nunca esquecia o dia em que seus dois irmãos encenaram um teatro para enganar uma doce criança.

Vendo a exaltação de Ana, Fernando entendeu que Huto não era tão maduro quanto parecia. No entanto, esses dois não sabiam que, além da família ou de amigos próximos, Jez e Liam nunca agiram assim, muito menos Huto.

Após cruzarem o cemitério, que não demorou muito tempo, eles chegaram no outro lado da caverna, e ali não havia nada além do fim da caverna.

Fernando soltou a mão de Ana e começou a procurar uma pedra específica na parede, ele já sabia o local aproximado então foi bem rápido. Assim que ele a achou começou a tirar algumas pedras.

“Três pedras para a direita, uma para cima, cinco para baixo e por último, dez pedras para a esquerda.”

Ana então viu algo que ela não sabia ser possível, uma parede estava se movendo sozinha. Na verdade, a parede não estava se movendo sozinha, isso era uma das invenções de uma das pessoas enterradas nesse cemitério, uma mecanismo que utilizava um sistema de energia que quando algumas pedras específicas eram movidas, ele ativa e abria a passagem.

— Isso é magia? — comentou ela animada! Magia era raro de se ver, ainda mais um mecanismo tão interessante assim.

— Magia? Não, o homem que inventou isso chamou de ciência — Mas mesmo dizendo isso, Fernando não tinha ideia de como isso funcionava e também achava que era um tipo de magia, se não fosse a constante reclamação que ele recebia ao chamar isso de magia, ele ainda ia pensar que era magia.

— Ciência? O que é isso? Uma outra forma de magia? — Ana não tinha ideia do que era essa Ciência que seu noivo estava falando, portanto ela ficou curiosa e quis perguntar.

Infelizmente Fernando não tinha a mínima ideia de como isso funcionava e não pode dar a ela as respostas que queria. Deixando isso de lado eles adentraram no seu pequeno refúgio.

Agora as pedras que estavam presas no teto, estavam presas nas paredes e iluminavam muito bem os corredores, como se fosse de dia ao ar livre. Dessa forma Fernando pode ver algo que ele não tinha visto antes quando a iluminação não era tão boa.

— Ana, você pode me responder algo? — disse ele com olhos assustadores, ele parecia um tanto bravo nesse momento.

Ana imediatamente pensou em tudo que fez até o momento e não achou nada que pudesse ter irritado Fernando então relaxou um pouco. — Sim, o que quer perguntar?

Fernando se aproximou de sua noiva, se ajoelhou e então cutucou sua perna e a ação causou uma pontada de dor em Ana. — Queria saber quando você ia me contar desse seu machucado.

Ana sentiu dor quando o dedo de Fernando tocou perto do seu machucado, nada muito sério, no máximo esse machucado era considerado um ralado de quando uma criança cai na rua.

Acontece que por estar sangrando, seu noivo julgou o ferimento como algo muito mais sério do que era. — Eu ia te falar… algum momento.

Fernando olhou para ela como se duvidasse da sua afirmação e perguntou, — quando isso aconteceu? 

— Eu bati em uma pedra enquanto nadavamos… — disse ela tremendo um pouco ao lembrar daquele momento, ela definitivamente não queria ficar em lugares escuros novamente.

— Espere, enquanto nadavamos? Isso significa que você estava sangrando na água… — Se Ana estava sangrando enquanto eles nadavam, um rastro de sangue se misturou à água, com certeza um humano nem mesmo sentiria a diferença, pois não foi grande coisa. No entanto, uma fera marinha sim, ainda mais a fera marinha que se escondeu nesse labirinto de escuridão.

Correndo para a entrada na passagem, ele começou a mover a parede, mesmo que ela tenha um mecanismo para abrir, ela ainda tinha que ser fechada de forma manual. —  Ana me ajude a fechar isso agora!!

Enquanto puxava a parede com toda a sua força, ela começou a se mover e estava correndo no trilho. Originalmente não deveria ser difícil fechar a “porta”, porém, isso quando eram adultos usando ela, não crianças.

Ana chegou logo depois e começou a empurrar, mesmo não entendendo o desespero de seu noivo, algo estava errado. — Fer, o que está acontecendo?

— Se lembra que eu te disse para não fazer barulho enquanto nadavamos? Esse caminho é muito pouco usado, e como você percebeu, uma escuridão total. Há um tempo uma fera marinha nasceu nessas redondezas e como ninguém sabia dela ela cresceu muito rapidamente.

“Quando meu avô achou ela, a fera já tinha alcançado a força de um escolhido dos céus, e escapou dele. Depois ele voltou com meu pai e meu tio, mas a fera já havia se tornado mais forte novamente e conseguiu escapar de novo, eles caçaram a fera por um mês e meio, mas ela sempre escapava.”

“Na última caçada eles usaram um tesouro marinho para atrair a besta, era um tesouro que as feras que habitavam na água adorariam ter. A armadilha foi feita e eles conseguiram ferir a besta gravemente, no entanto ela fugiu com o tesouro e depois nunca mais apareceu.”

“Todos pensaram que ela havia morrido, porém meu irmão explorava o labirinto em busca do cadáver da besta, parecia que ele queria usar o núcleo da fera no cultivo, e descobriu que ela estava viva. Não só isso, ela havia alcançado o próximo nível, a fera tinha obtido a força de um combatente do céu.”

“Por sorte, a fera tinha perdido uma parte de seu rosto na batalha e não parecia ter se acostumado com seu novo Cultivo, então ele pode escapar facilmente, entretanto, essa besta com certeza vai sentir o cheiro do sangue.”

Com a história contada eles estavam puxando a porta com tudo o que tinham, e eles conseguiram fechar a porta. Se tudo acontecesse de uma boa forma, a besta iria embora depois de não achar mais ninguém.

— As paredes vão segurar essa fera? — perguntou Ana nervosa, qualquer um que tivesse alcançado o poder de um combatente do céu seria um desastre natural vivo, e ela não achava que essas paredes conseguissem segurar a fera.

— As paredes? Com certeza não, mas há um sistema de segurança nessa caverna, se a besta entrar ele vai ativar. Só espero que seja o bastante para espantá-lo.



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