Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 9 – Arco 3

Capítulo 88: Estou Pronta.

Akumo

 

Todos os bons momentos que passei com a minha filha foram incríveis, mas eu não sabia que isso daria muito problema na minha vida. Nessa época existia uma deusa que se chamava Taiyo, ela era deusa do sol e estava sumida por muitos anos. Ninguém sabia ao certo o que tinha acontecido com ela, e por conta disso as pessoas estavam procurando a sua filha que nesse momento estava em minhas mãos.

Solveig passou 6 anos comigo, mas no dia que ela ia completar essa idade… chegou um momento onde encontraram o que queriam. A deusa da escuridão, que era conhecida como Morke me encontrou com a filha da deusa do sol em mãos.

— Você se chama Akumo… não é mesmo?

Minha atenção se moveu para essa mulher que estava toda escura. Nesse momento, aquele sonho de ter um orfanato tinha se realizado, e estávamos procurando crianças para ajudar e trazer para o nosso lugar, mas era difícil a partir do momento que as pessoas não abandonavam crianças, isso de certa forma me deixava feliz.

— Sim… eu sou Akumo, quem é você?

Realmente não me vinha na mente quem era essa pessoa, mas naquele momento nada disso importava, eu sabia que ela poderia apresentar perigo, por conta disso coloquei Solveig atrás de mim.

— Meu nome é Morke, sou deusa da escuridão, vim pacificamente lhe passar uma mensagem de Riki… o deus da criação.

— Qual seria a mensagem?

Peço humildemente para que traga a criança que está em suas mãos, caso o contrário… coisas ruins poderão acontecer com você. Estamos procurando essa criança há muitos anos.

— Estão falando da… Solveig?

— Oh, você até deu um nome pra ela.

— Sim… ela é minha filha.

— Errado. Ela é filha da Taiyo, deusa do sol, e neste momento ela deve ser entregue para o deus da criação.

— Mamãe… o que está acontecendo? — perguntou Solveig.

— Nada, filha…

Meus olhos se encontraram com o de Morke, que estava com suas mãos estendidas para receber o que pediu, mas eu não queria entregar… uma frase dela me fez pensar mais ainda.

— A filha de uma deusa teria que ser sacrificada para não existir vestígios de que um dia o poder do sol poderia passar para outra pessoa.

Solveig era a filha da deusa do sol, a regra de que deuses não poderiam ter filhos ainda existe, então a Taiyo poderia ter sumido só para não morrer, ou para não perder o poder… ou na verdade, ela poderia já estar morta, e neste momento o poder do sol já está na Solveig, eles só querem colocar esse poder em outra pessoa, em alguém que realmente vá ajudá-los.

Eu não posso deixar que isso aconteça, simplesmente porque agora ela é minha filha e não desses seres terríveis que só querem ver ela morrer. Com isso em mente começo a dar pequenos passos para trás.

— Akumo, desista.

— NUNCA! Vocês abandonaram a criança e agora querem matá-la? E a vida que tem pela frente?

— Isso… ela não pode existir.

— Ha! Só por que é filha da Taiyo?

— Sim, só por conta disso mesmo.

— Entendi… uma criança que não pediu para nascer, que não escolheu os pais, têm que sofrer as consequências de uma mãe que não sabe se controlar…

— Akumo, chega. Entregue a Solveig.

— NÃO! Pode me matar, torturar ou qualquer coisa… eu nunca vou deixar ela nas mãos de pessoas que não valorizam uma criança.

Na minha cintura havia uma faca que era banhada no sangue de Deus, e como eu consegui isso? Foi um presente de Mier que queria ver até onde eu iria chegar com tanto poder que estava nos meus braços.

Corri sem pensar duas vezes e finquei minha faca com tudo no peito de Morke, provavelmente ela pensava que isso não iria causar nenhum arranhão, então deve ter tomado para tentar me dar uma chance na minha mente, porém, pelo fato do sangue de Deus não ser compatível com nenhum corpo, ela praticamente morre instantaneamente.

Com isso me lembrei de pequenas palavras que Mier tinha me falado naquela época quando me entregou a faca.

— Use com sabedoria, ela só vai funcionar uma vez, e com isso você pode roubar o poder de um deus também… então… tenha em mente que você pode até mesmo morrer junto.

— Morrer junto? Mas… qual seria o motivo de você me dar isso?

— Quero ver até onde você vai… relaxa, não sou sua inimiga, não me trate como uma, apenas estou vendo até onde você vai com isso.

— Entendo…

— Isso é… o sangue de Deus?... Como… como conseguiu isso?

— Não importa agora, me dê o seu poder… porque é minha hora de vingar a minha filha.

Logo liguei com o que tinha acontecido comigo, o fato de eu perder a minha filha por conta do meu pai… sempre achei tudo isso injusto, e por agora… eu queria matar qualquer um de novo, só para que todos sintam o que aconteceu comigo nesse passado.

— Hm, acha mesmo que irá conseguir matar todos os deuses?

— Não acho, tenho certeza. Todos vão sofrer, um por um… até não sobrar nada mais.

Quando percebi que a deusa não estava mais consciente, pedi para que Solveig corresse até o orfanato e foi o que ela fez, e com isso… enfiei minha mão com tudo no peito de Morke, arranquei seu coração, e aos poucos comecei a mastigar como se fosse apenas uma comida do dia a dia.

— Isso é tão… tão saboroso… o poder de uma deusa está nas minhas mãos, e agora eu irei… conseguir vingar todos aqueles que morreram nas suas mãos… Riki, Riko.

Foi nessa época que eu me tornei a deusa da escuridão.

O poder dela corria pelo meu sangue e passava por tudo no meu corpo, era delicioso, tudo o que eu mais queria naquele momento. Por conta desse poder que estava em meus braços, agora eu poderia fazer até mesmo o que eu quisesse, ninguém poderia me parar… era o que eu pensava.

Meu corpo sempre foi fraco, mas com o poder que Mier me deu, acabou que ele se regenerava sempre que algo acontecia comigo. Caso eu realmente tivesse aquela filha, provavelmente iria morrer no parto pelo fato desse corpo ser muito frágil. Mas… mesmo assim eu insisti que queria algo desse tipo, então… era culpa minha tudo isso que estava acontecendo.

O poder da deusa da escuridão era demais para o meu corpo, que aos poucos começava a perder o controle, por conta de eu ter me tornado uma deusa, acabei entrando na guerra deles que estava acontecendo, então sempre que era necessário eu lutava pelo bem da tal humanidade, porém nunca cheguei a matar um deus dentro do campo de batalha, até mesmo porque eu não queria que isso acontecesse.

Em um dia simplesmente decidi sumir do campo de batalha, já não queria mais que algo assim afetasse a minha vida mais do que já estava afetando, além que… estava perdendo total o controle do meu corpo por conta desse poder idiota que estava em mim, de tempos em tempos eu me arrependia demais do que aconteceu comigo, mas nada que eu pudesse fazer, afinal de contas… tudo isso foi uma escolha minha.

Mas óbvio que uma escolha minha não fazia diferença para a humanidade, sempre tentei ajudá-los para não causar problemas pra mim, mas sempre que algo assim acontecia, eles faziam questão de me usar cada vez mais e mais, simplesmente porque não queriam ter trabalho para eles, o que me deixou cada vez mais cansada.

Por conta dessa escolha idiota que tive, depois de deixar o campo de batalha, o exercíto veio pra cima de mim naquela maldita época.

— Nada demais, só que você tem que voltar para o campo de batalha.

— Já te disse que nunca mais iria voltar.

Por conta de tudo que aconteceu no meu orfanato, acabei deixando o poder subir a minha cabeça… e assim deixei para trás todos os sonhos que uma vez já tive só para seguir o que os deuses queriam, usei minhas duas filhas, entreguei a mais preciosa para que os outros pudessem fazer o que quiser com ela, todos os meus sonhos foram destruídos na minha frente sem que pudesse fazer alguma coisa, e isso foi tudo culpa minha.

Após Nina morrer e eu receber minhas memórias de volta, percebi o quanto estava longe de mim mesma, sem conseguir fazer alguma coisa para ajudar os outros que tanto quis ajudar. Nesse momento eu sou praticamente uma avó, mas o que não me deixa feliz com essa notícia é que… minha neta me odeia por completo por eu ter matado a minha filha.

Talvez eu mereça uma morte completamente terrível, a única pessoa que poderá decidir isso… é a Shiori, ela será a única capaz de escolher o que irá acontecer comigo no final da minha vida, querendo ou não ela fazia parte de um sonho meu, um longo sonho que foi destruído por minha culpa. Será que havia outro caminho que eu pudesse seguir? Há outros lugares para ir e viver uma vida mais calma? Não sei dizer, só sei que a partir daqui não tenho mais escolhas.

Sou feliz por eles terem que lutar contra minha pessoa, e que para seguir o sonho deles… terão que ser fortes e acima de tudo… terão que ser magníficos. Acompanhei o sonho da minha neta, mas o triste é que eu não consegui de forma que realmente queria, ao lado dela… todo o caminho que ela teve foi por minha causa, enquanto Riki tentava guiá-los por um caminho, eu fiz de tudo para eles seguirem outro caminho… outro que ninguém poderia fazer, fugir da academia, matar a Sarah, Nina, entre outros… só para realizarem o sonhos deles, e agora…

Ambos querem me matar…

Se eu fui má o suficiente… então acho que esse realmente deve ser o meu destino.

Me levantei do trono que estava sentada, e logo andei até a janela mais alta do castelo, emitindo uma escuridão que chamava a atenção de todas as almas do inferno, a pátio do castelo já estava cheio de almas, e agora… era o momento certo de fazer todos seguirem para o campo de batalha, se há algo que eu posso fazer… é lutar para manter os dois livres de qualquer problema possível.

Levantei minha mão e atrás do castelo se abre um portal enorme.

— TODOS, ENTREM NO PORTAL.

Sem questionar… as almas começam a entrar para o campo de batalha… pra mim a luta iria começar desde cedo, mas não há nada que eu pudesse fazer. Se eu tivesse a chance de desejar alguma coisa, seria a minha própria morte, e talvez da pior forma possível.

Infelizmente sou o tipo de pessoa que não serve para estar viva, mas por algum motivo idiota eu esou viva… e mais do que isso, sou uma deusa extremamente poderosa que conseguiu seguir e ser mais forte do que praticamente qualquer um, mas não era isso o que eu queria. Após matar muitas pessoas e fazer os sonhos da minha filha e da minha neta se tornarem apenas caminhos distantes, não há nada melhor do que a morte para mim.

Mas por algum motivo eu… sou a pior pessoa do mundo.

— Nós também te amamos, mamãe!

Duas vozes pequenas entram na minha mente, e olho para o céu avermelhado que estava acima de mim. Não há tempo para hesitar, agora seria a hora certa para seguir em frente e tornar todo o sonho daquela que ainda está viva uma realidade, é a minha única missão agora…

E se o sonho dela é me ver morta, não há nada melhor do que me matar na frente dela.

— Se vocês duas estiverem em algum lugar… por favor, venham me encontrar.

Esperei que todo o inferno se esvaziasse, com isso eu fui a última a entrar no portal.

Na minha frente uma cidade completamente futurista aparece, e tudo aquilo deixa meu coração palpitar cada vez mais.

Antes que eu dê um passo à frente, sinto uma mão tocando meu ombro…

— Há quanto tempo…

— Mamãe.



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