Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 9 – Arco 3

Capítulo 87: Seu nome será Solveig.

Akumo

 

Minhas memórias após todo esse acontecimento se resumem em um quarto de hospital, onde tinha duas pessoas que não conhecia naquele momento, mas que atualmente se tornaram importantes. Uma linda mulher com seus cabelos azulados, e um homem forte como um super soldado.

Meu namorado parecia estar bem e estava sentado em uma cadeira me esperando… quando acordo era notável a sua felicidade.

— Akumo…

— Amor… você está bem?

— Eu que deveria perguntar isso pra você, já que foi a pessoa que mais sofreu com isso…

— Tô até que bem…

Ele me olha com felicidade, e logo vira para as outras duas pessoas que estavam atrás dele.

— Essa daqui se chama Mier, e ele se chama Krig, são pessoas legais e que nos ajudaram.

Um ar misterioso passa por toda a sala do hospital, e tudo isso fica cada vez pior quando aquela mulher começa a falar.

— Bem, eu sou Mier, como seu namorado já me apresentou. Estou aqui pois fui responsável por fazer você continuar viva, tenho algumas notícias para você, Akumo. Seu corpo estava extremamente machucado no que parece ter acontecido na sua casa, por conta disso tivemos que nos precipitar e colocar dentro de você coisas que poderiam te matar…

Ela tinha dado explicações complexas demais referente ao que estava dentro do meu corpo… e só recentemente fui entender o que estava acontecendo. Mier e Krig estavam criando um deus extremamente artificial, eles queriam criar um poder tão forte quanto o de um deus, sem precisar matar um. Dessa forma iriam conseguir criar um exército forte o suficiente para bater de frente com o deus da criação, que é o que eles queriam com todas as forças.

Porém como não tinha cobaias para testar, eles decidiram me pegar como uma, apenas uma pessoa que estava no hospital, não sei como eles conseguiram isso… e nem pretendo saber, mas de uma forma terrível eles me usaram como uma cobaia para criar um soldado perfeito… por conta disso, consegui poderes que nem ao menos um ser humano iria conseguir aguentar.

Nos primeiros momentos não percebi nada de diferente no meu corpo, estava até que tudo indo bem, com o tempo as coisas foram começando a ficar estranhas, comecei a sentir necessidade extrema de experimentar sangue. Enquanto estava em casa, comecei a me cortar e beber meu próprio sangue, segundos depois a ferida se fechava sozinha, e o sangue que entrava no meu corpo rapidamente me deixava melhor, como se tivesse feito algo incrível. Não demorou muito tempo até eu matar a primeira pessoa na minha vida.

Tudo o que tinha sido colocado dentro de mim me deixou completamente maluca, em um dia estranhamente chuvoso me vi de joelhos, na frente de uma pessoa que estava caída no chão, comecei a cortar cada pedaço dela e beber todo o sangue que tinha naquele corpo, a satisfação que estava sentindo naquele momento estava cada vez melhor. Não cheguei a me perguntar como fiquei maluca dessa forma, naquela época nada se passava na minha mente em relação a isso, cada vez que tentava pensar sobre, todos os meus pensamentos eram dominados pela mesma necessidade… 

Sangue.

Porém, no dia em que matei a primeira pessoa na minha vida, meu namorado me viu e logo me abandonou, me deixando sozinha no mundo, sem nem ao menos me dar um tchau, ou falar comigo, tudo isso aconteceu de uma hora para a outra. Após tudo isso, continuei matando pessoas, rumores surgiram por toda a cidade, e até mesmo a polícia começou a me procurar, mas nada acontecia… era como se estivessem sendo controlados por alguém.

Essa abstinência que criei acabava me tornando uma assassina por completo, algo que sem querer me tornei… mas tudo estava indo perfeitamente bem com o plano de Mier e Krig. Em um dos dias onde estava matando pessoas e bebendo o sangue delas, Mier aparece, eu sabia que ela estava me observando de longe, mesmo que nunca apareceu na minha frente, sabia disso pois aquele sentimento inédito de sempre ter alguém te observando estava totalmente presente pra mim, a toda hora.

— Você até que funciona bem como uma arma… Akumo.

Por um tempo nossos olhos se encaram, meu rosto estava cheio de sangue, assim como meu corpo. Porém… ela parecia ser uma deusa por completo, sua roupa que era branca com pequenos detalhes em azul…

— O que você quer? — perguntei.

— Nada, apenas de olho no que a minha pequena cobaia está fazendo…

— Não me chame assim.

— Oh… pode deixar.

Com todo o tempo que estive matando pessoas, consegui habilidades incríveis de acrobacia e de lutas, antes de me tornar essa coisa terrível, fui uma pessoa completamente normal e que nunca lutou ou se quer optou pela violência na vida, isso não me importava na verdade, mas como tive que seguir todos os piores caminhos só para sobreviver, acabei criando dentro de mim um sentimento que nunca irá sair.

A gigante vontade que tenho de matar cada vez mais… é muito bom.

— Vejo que você nem se importa com quem vai matar, só está matando quem está na sua frente…

— Como pode falar isso, me preocupo para não matar alguém importante.

— A pessoa que está devorando agora… é o seu pai.

No mesmo instante que ela disse algo desse tipo, me virei para a pessoa já desfigurada que estava abaixo de mim, em nenhum momento percebi o que estava acontecendo, e por conta disso… apenas me afastei e comecei a tentar me lembrar de quando matei essa pessoa.

É óbvio… não me lembro. Fiquei tão vidrada no que estava fazendo que acabei não olhando para o que estava na minha frente, ao olhar para trás e observar que em meio a escuridão tinha tantos e tantos corpos… meu corpo estremeceu.

— Isso é culpa sua… 

Tentei botar culpa na deusa que estava do meu lado, mas ela estava sorrindo friamente enquanto me olhava.

— Isso é… muito interessante…

Mier levanta sua mão e cria uma lâmina de água, não parecia cortar tanto, até porque não faria sentido algum, mas quando ela passa aquilo pelo meu rosto e começa a me cortar, começo a ficar com medo.

— Já que o período de teste acabou, é hora de você… morrer. — disse Mier.

A primeira coisa que tentei fazer foi me levantar, mas o peso que estava acima de mim me mantém no chão, estava com tanto medo que nem conseguia mexer minhas pernas, mas… logo o sentimento desse ser desconhecido que tinha tomado conta do meu corpo aparece. Era óbvio que eu não deveria morrer, meu desejo era muito maior do que tudo isso que estava acontecendo, não queria só matar pessoas, queria mais do que isso.

“Morrer? Morrer não é para pessoas como eu, mereço mais do que simplesmente parar em um lugar desconhecido que chamam de paraíso, não tenho que morrer. Na verdade… esse tal de paraíso, eu tenho que criar um para mim mesma, e será aqui na terra. Um lugar onde poderei matar quem eu quiser e quando quiser, ter essa sensação perfeita de ter um corpo na minha frente, de estar ensanguentado, de escutar seus gritos de morte, seus pedidos… tudo isso é perfeito demais e é algo que nunca irei sentir do outro lado.”

Logo me lembro de uma pequena palavra de uma das primeiras pessoas que já matei.

“— SEU… SEU MONSTRO!!!!”

Sim… eu sou uma pessoa terrível que irá matar qualquer um que aparecer na minha frente, eu vou ser… melhor do que qualquer um.

Aos poucos meu corpo foi se levantando, e na minha face foi se mostrando um sentimento de felicidade, quando Mier tenta descer sua espada para me matar de vez, ela fica travada, enfiada no meu corpo. O sangue se explode e começa a formar um rio pelos meus pés.

— Isso é… divertido. — digo.

Logo seguro na lâmina e a retiro como se fosse nada.

— Oh… acho que a gente deveria ter feito isso antes, agora já é tarde demais… entendi.

Mier toca no seu ouvido, um aparelho diferente aparece e ela diz:

— Krig, vamos deixá-la viver, chegamos tarde demais… ela atingiu um nível no qual se matarmos, irá causar algo terrível no outro lado.

O que parecia ser uma chamada, se fecha com um “certo!” e logo ela remove a lâmina de mim, a ferida simplesmente se fecha e logo ela faz a lâmina sumir.

— Se é isso o que você quer, é o que terá, Akumo. Vamos deixá-la seguir o que quer, mas se caso você fizer algo que não deveria… aí sim entraremos em uma luta.

— Há, agradeço a humilde gentileza de me deixar viva, mas tenha em mente que eu vou fazer o que eu quiser, vou pelos limites que eu quiser.

— É o que vamos ver.

Com essa frase final, Mier some em pequenas partículas de água, e assim continuo o que estava fazendo. Logo após todo esse acontecimento, me levei para fora do lugar em que estava, e era uma igreja — agora abandonada, que não fazia parte da cidade que estava logo ao lado.

Me pergunto o que deveria fazer agora, já que não há muito mais o que se fazer, já estava cheia de matar os outros no dia, poderia deixar mais para depois, mas uma pequena voz na minha cabeça diz algo interessante.

— Talvez… devemos ir no cemitério.

Uma chuva forte começa a cair, isso não me afeta e começo a ir em direção ao cemitério. Lá era um lugar que eu ficava feliz, pois os mortos apareciam na minha frente e me contavam o que aconteceu com eles, se fosse um pedido de vingança, eu poderia realizar esse pedido, mas caso não fosse, às vezes eu não poderia fazer nada.

Eu consegui ver os mortos depois do que Mier fez com o meu corpo, nunca fui de ouvi-los, mas esse desejo enorme de matar alguém me fez dar ouvidos aos mortos. Suas histórias tristes me davam um certo medo, já que algo assim poderia acontecer comigo, mas logo era ignorado e seguia em frente com o desejo de matar pessoas.

Em meio a essa caminhada que parecia ser infinita, comecei a escutar um choro infantil. Demoraram horas para chegar até onde estava, e não queria parar até chegar no cemitério, mas um desejo que vinha diretamente do meu coração falou mais alto.

Eu queria ser mãe, mas não pude, isso foi retirado de mim logo após meu pai me esfaquear, então esse choro mexeu comigo. Então ignorei a voz que me chamava para o cemitério e segui até o forte choro de criança.

Ao chegar lá vejo um bebê deixado na lama, ele estava chorando muito alto, logo o segurei em meus braços e tentei acalmá-lo, mas o bebê só parou de chorar quando o sol se demonstrou em meio as nuvens de chuva que pararam junto com o choro da criança.

— Entendi… então você só para de chorar caso o sol esteja à sua vista…

Parei e comecei a pensar melhor nas coisas que estavam acontecendo na minha volta, percebi que o que estava nos meus braços era uma garota, e era meu sonho ter uma filha para seguir os meus passos e se tornar o que ela queria ser. Olhei para o alto e comecei a pensar se seria uma boa ideia pegar essa criança para ser a minha filha. De início não achei uma boa ideia, mas aquele desejo de ser mãe falou muito mais alto do que eu, logo… olhei diretamente para a criança, sorri fixamente, e escolhi um nome para ela.

— Sendo assim… seu nome será Solveig!

Aquelas palavras me fizeram sorrir cada vez mais, e aquela criança segura o meu dedo indicador, e não solta por um bom tempo, talvez esse sentimento tivesse que ser bom caso eu fosse a mãe dessa criança, mas o que bate no meu coração é algo estranho e que simplesmente não pude descrever.

Dali pra frente… a minha vida se tornaria algo melhor, graças a essa criança que encontrei e transformei na minha filha.



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