Volume 9 – Arco 3
Capítulo 86: Uma esperança que se foi.
Akumo
1 hora depois.
Havia dentro de mim memórias que simplesmente não queria lembrar, mas que entraram sem aviso prévio, por conta disso… comecei a pensar demais nas coisas que estavam acontecendo. Desde o início da minha vida fui uma pessoa imprudente e que seguiu a vida na base de emoções que deveria sentir. Fui da mesma forma que várias pessoas e não consegui conhecer aquela pessoa que me colocou no mundo, pois logo após meu nascimento… essa pessoa morreu.
A única coisa que sei é que o corpo de minha mãe era tão fraco que não aguentava um parto, mas mesmo assim ela queria botar uma criança no mundo, mesmo que não fosse para cuidar, desde criança fui taxada como uma pessoa estranha por querer viver a vida da forma que eu queria, e não da forma que me colocaram para ser, por conta disso não tive muitas amigas ou amigos, já que eu fui taxada como estranha por praticamente todos.
Vivi sozinha, meu pai era ocupado demais para ficar comigo, ele na verdade nem me olhava direito no momento que estava de folga, apenas aceitava o fato de eu existir e cuidava de mim por prometer para a mamãe algo do tipo, então a minha existência desde o início era falha.
Eu sei que isso não chega nem perto de explicar as minhas ações terríveis que tive durante o atual momento da minha vida, mas eu queria ao menos me lembrar dessa pequena época que eu tinha tanta liberdade que não havia uma forma de aproveitar isso sem parecer uma estranha qualquer que está por aí. Por não ter tanto cuidado do meu pai, acabei fazendo minhas próprias escolhas desde pequena, e por conta disso… me envolvi em tanta coisa errada.
Como uma garota tão pequena, eu tinha um sonho, não era único… nem complexo demais, apenas tinha o sonho de ser uma mãe. Eu sabia que para isso acontecer, teria que entrar em uma relação, e sabia que não estava nada pronta pra isso, por conta desses longos problemas, tinha que deixar de lado a única coisa que movia a minha vida, mas isso não deixava de lado as aventuras de criança que eu poderia viver como uma retardada qualquer.
Como não tive amigas quando criança, sempre me isolava de todos que estavam por ali, mas uma pessoa em específico nunca saiu do meu lado, por sei lá qual motivo… Seu nome? Desconhecido, apenas sabia que ele tinha um cabelo longo avermelhado e que tinha olhos tão lindos como estrelas, ele chamava a atenção de todos, e isso me deixava constrangida, até mesmo para uma criança como eu.
Nunca quis tanta atenção, por conta disso deixava de lado ações que poderiam comprometer a minha paz, mas por conta das longas tentativas dessa pessoa em chamar a minha atenção, acabei tentando dar uma chance… e no meio de tudo isso fiz um amigo.
Não pretendo lembrar do seu nome, pois sei que seria mais uma das pessoas que eu iria correr atrás sem pensar duas vezes, mas ele era… extremamente bonito. Andávamos juntos na escola e ele me protegia de todos as pessoas que tentavam praticar bullying comigo, no meio de tudo isso ele sempre tomava uma advertência por entrar em briga com os outros alunos por minha causa, mas no final de tudo sempre voltava com um sorriso no rosto falando que valeu a pena tudo o que ele fez.
Nunca fui de me meter em problemas, e por conta disso a nossa amizade continuou até o ensino médio… que foi o pior momento da minha vida, descobri que este garoto estava nutrindo um sentimento por mim, e por ser uma pessoa que agora poderia tentar entender o que seria esses tais sentimentos, decidi dar uma chance.
No início tudo parecia como um mar de rosas, até chegar o momento da nossa primeira vez. Assim como toda primeira vez, foi extremamente doloroso no início, mas com o tempo tudo ia se melhorando. Naquela época assim como hoje, não me preocupei caso virasse uma mãe, já era uma pessoa que ganhava o próprio dinheiro e que saberia cuidar de um filho caso algo acontecesse, mesmo sendo cedo demais para essas coisas.
O garoto também não se preocupou em ser pai, então… tudo foi se formando em milhões de maravilhas. Após tudo acontecer, descobri que estava grávida… então tudo estava indo extremamente bem pra mim, na minha cabeça meu pai poderia aceitar tudo isso na tranquilidade, até porque ele nunca foi de se preocupar com isso, e com as coisas que eu estava fazendo, nessa época que eu tinha 18 anos, trabalhava e estudava, praticamente meu dia a dia era um inferno, mas sempre encontrava um momento para conversar com o meu pai.
Eu iria anunciar para ele que iria virar mãe, então naquele momento estava completamente ansiosa, meu namorado estava logo ao lado também, me observando estreitamente, ele foi contra a ideia de contar para o meu pai logo no início, mas isso se dava ao fato de eles não se darem muito bem, e conviverem apenas em olhares e poucos diálogos, um relacionamento meio conturbado.
— Tem certeza que isso será bom? Tipo… a forma que ele vai reagir será boa? — perguntou meu namorado.
— Claro! Vai ficar tudo bem, ele não é de todo mal assim como você imagina…
Naquele dia meu pai tinha voltado para casa extremamente bêbado, não que isso fosse relevante, já que parecia estar no meu modo normal, após minha mãe morrer, essa feição meio que se tornou algo normal aqui em casa, então não me preocupei tanto com isso, mas meu namorado… parecia bastante tenso com a situação, já que para ele aquilo não era nada comum, e poderia se resumir em… medo, angústia de algo terrível acontecer.
Segurei as suas mãos e assim fui de encontro com meu pai, que estava na sala quieto escutando o jogo do seu time favorito.
— Pai, pai, eu tenho algo muito importante para te falar!
Ele me deu atenção, mesmo sem falar algo em específico, mesmo que ele estivesse extremamente bêbado, parecia que estava tudo bem contar para ele, já que algo o deixava completamente sóbrio, a minha presença. Seus olhos que estavam cansados se transformaram em pensativos, ele não queria que alguém o incomodasse naquele momento, então foi meio que… um choque eu chegar toda feliz para falar algo desse nível.
— Eu… vou ser mamãe!
Seus olhos se abriram um pouco, na minha visão eu vi um pai que estava começando a ficar feliz com a situação que apareceu na sua vida. Ele sabia muito bem que eu estava trabalhando, estudando e sabia cuidar de uma pessoa menor do que eu, ainda mais quando se tratava de um filho, mas não era aquilo… o que eu estava vendo era apenas uma visão de que tudo poderia estar dando certo, sendo que na verdade… seus olhos se abriram um pouco pois ele não acreditava no que estava escutando.
Como prova, mostrei o teste de gravidez na cara dele, tudo estava indo bem, eu estava sorrindo…
— Como é? — perguntou desacreditado.
— É… eu vou ser mamãe!
Ele fechou os olhos por alguns segundos, respirou fundo e então pediu para que aquilo fosse somente um pesadelo.
— Você acha que tem idade o suficiente para ser uma mãe?
— Claro!
— Akumo… não me faça…
Ele parou sua própria frase, pois começou a rir aos poucos, e quando abriu seus olhos… estavam completamente avermelhados e com suas pupilas extremamente pequenas, me olhando… com um instinto assassino.
— Me diga que tudo isso não passa de uma brincadeira, afinal de contas… não faz muito tempo que você está com aquele cara.
— Não é brincadeira, é verdade… o senhor… não quer que isso aconteça?
— CLARO QUE NÃO, AKUMO! VOCÊ… VOCÊ É APENAS UMA CRIANÇA, NÃO TEM IDADE PARA VIRAR UMA MÃE!
Ele me da um tapa com as costas de suas mãos, jogando meu rosto para o lado, naquele momento meu namorado aparece e tenta dar um pequeno aviso contra meu pai.
— QUEM VOCÊ PENSA QUE É? CHEGA AQUI NA MINHA CASA, ENTRA COM TUDO, SEM É EDUCADO, E AINDA COME A MINHA FILHA? QUEM VOCÊ PENSA QUE É?!
Quando meu namorado se aproximou de mim, meu pai foi diretamente para a cozinha e voltou com um facão nas mãos, logo pensei…
“Não era assim que eu queria que fosse…”
Quando meu pai entrou em casa, ele havia trancado com sua chave, então não tinha como abrir, pois mesmo que eu tivesse a minha chave, não pensei que algo assim poderia acontecer.
— Não acredito que a minha filha… fez isso comigo.
— EI! ISSO NÃO É ALGO QUE UM PAI DEVERIA FAZER!
— Como é?...
— Você deveria apoiar a sua filha, você sabe melhor do que ninguém de que ela é capaz de criar uma criança sozinha…
— Você… não tem o direito de me dar um sermão…
Ele começa a se aproximar do meu namorado, que estava parado na minha frente tentando me proteger, os vizinhos parecem ter escutado todos os gritos, então poderiam estar fazendo alguma coisa lá fora, como ligar para a polícia.
A pressão que meu corpo estava sentindo era tanta que ele simplesmente caí no chão, e por conta meu namorado se desespera, mas não era isso o que ele deveria prestar atenção no momento. Ao meu namorado tirar seus olhos do meu pai, ele aproveita esse momento para esfaquear o ombro do meu namorado e o jogar contra o chão, o sangue… os gritos de dores, o barulho da faca entrando… tudo… era extremamente terrível.
— AMOR!!! — gritei.
— VOCÊ NÃO É NADA, NÃO… É… NADA!
Meu pai continuou… uma, duas, três, quatro facadas em lugares completamente diferentes, ele gritava de ódio, estava repleto de ódio. Eu apenas queria que tudo pudesse dar certo de alguma forma, mas por conta do meu pai… tudo deu errado. Não, não foi por conta dele, foi por minha causa, se tivesse seguido o que meu namorado disse, poderia ter ficado tudo bem.
Escutei meu coração bater forte, principalmente no momento que meu namorado não teve reação alguma e meu pai simplesmente saiu de cima dele e começou a vir em minha direção. O sangue era tanto que estava caindo em cima de mim, tentei me rastejar até a porta de casa, mas além de ser impossível de sair… era impossível de eu me mover direito, minhas pernas estavam tremendo muito e todo o medo que havia dentro do meu coração era tanto que simplesmente esqueci do que era poder mover um músculo.
— Você… me traiu.
— Pai… por favor… não faça isso…
Ele se abaixou para ficar na mesma altura que eu, segurou meus dois braços com apenas uma mão e me levantou como se fosse nada, não tinha como me mover, meus pés não tocavam o chão, tentei chutá-lo para afastar… mas algo que ele me disse simplesmente me paralisou.
— Você está… tentando fugir de mim? ESTÁ TENTANDO FUGIR DA SUA ÚNICA FAMÍLIA?
— Pai… PARA… por favor… para…
Ele… sem piedade alguma, simplesmente finca a sua faca em meu útero, como se quisesse acabar com toda a minha gravidez. Quando ele tirou a faca de vez, toda a dor extrema veio. Senti todo meu corpo queimar por segundos, logo após isso… gritei desesperadamente por ajuda, estava doendo muito, algo que nunca imaginei senti em toda a minha vida.
Senti como se fosse meu corpo se esvaziar de tanto sangue que estava saindo… e o que fez meu pai parar por aí e não dar uma segunda facada, foram as sirenes… que o fizeram me derrubar no chão… se afastar… e assim questionar tudo o que ele fez naquele momento.
— O que… o que eu fiz?
Desesperado, ele abre a porta e assim começa a correr em meio a multidão que havia se formando na frente de casa. Com isso… meu namorado tenta se aproximar de mim, ele ainda estava vivo… falou meu nome algumas vezes com extrema dificuldade… e a última coisa que lembro após todo esse momento… é ter sentido o calor do meu namorado e desmaiado logo em seguida.