Volume 9 – Arco 3

Capítulo 89: Reencontro.

Akumo

— Há quanto tempo…

— Mamãe.

Vozes que eu não escutava a muito tempo ressoam pelos meus ouvidos, por um breve momento um sentimento de nostalgia enriquece meu coração. Segurei para que lágrimas não caíssem de meus olhos, e não me virei…

Na minha cabeça tudo poderia ser um longo sonho que estou vivendo, o motivo desse pensamento se daria pelo fato de tudo estar dando certo pra mim, não que seja ruim, é só que… está longe do que eu imaginava que poderia acontecer, minha cabeça está a muitos e poucos pedaços.

Até que… depois de fechar os olhos, respirar fundo e cair na realidade, virei para trás e olhei diretamente nas pessoas que estavam comigo, por um momento apareceu duas crianças incríveis, mas em um piscar de olhos… elas aparecem na minha frente. O meu lado humano aparece mais uma vez, só que dessa vez para pessoas que o viram a muito tempo atrás, nada que isso me preocupe…

Não segurei o choro e logo tudo caiu…

— Mamãe… está tudo bem? — perguntou Saionara.

— Sim… está…

— Esse lado seu é novo. — disse Alysci.

— Fazer o que, né? Eu mudei um pouco de um tempo pra cá…

— Bem-vinda de volta, mamãe. — disse as duas.

Sorri e novamente olhei para o horizonte. Havia um plano na minha mente que eu não poderia esquecer, o plano que essa luta seria a minha última, e que depois de tudo isso eu iria descansar com aquela pessoa que deve estar cansada de me esperar por tanto tempo. Eu queria contar a elas esse plano e fazer com que toda a família se reúna novamente, mas estava com medo de ser ignorada e elas ainda quererem viver. Não posso simplesmente jogar meus sentimentos pra cima dos outros e esperar que eles aceitem tudo isso, quero dizer, com elas é assim.

— Eu tenho que falar algo pra vocês duas.

— Diga, mamãe.

— Existe um plano na minha mente, algo que talvez seja egoísta demais para colocar em palavras, e que talvez exista a chance de vocês não aceitarem…

— O que seria? 

— Aceitam fazer dessa luta… a nossa última?

— Como assim, a nossa última luta?

— Eu digo, Solveig está esperando por nós no inferno, por que não nos juntamos a ela nessa vida e ficar lá para sempre, juntas?

O plano era simples, porém havia algo nele que me deixava ansiosa demais, o fato de ter a chance de simplesmente não conseguir ir para aquele lugar, já que… eu poderia ser uma alma que estaria vagando pela terra e nem chegar perto de ir para o inferno, ou para o outro lado… mas, eu ainda sim queria que a família conseguisse se reunir para que todas vivessem juntas para toda a eternidade.

— A eternidade… é muito tempo, não é? — pergunta Alysci.

— Mesmo que for, vocês aceitam passar toda a eternidade comigo?

— Eu acho que é pouco tempo, então por que não passar mais que a eternidade juntas? — perguntou Saionara.

Quando eu morrer, a escuridão na terra sumirá, e isso poderá ser bom para qualquer pessoa que está por aqui, isso pode ser bom, porém eu… já não sou mais essa pessoa que é a vilã da história. Já fiz tudo o que deveria fazer, agora é hora de realizar meu sonho, e quem sabe abrir um orfanato no inferno, para que as almas de crianças perdidas pudessem descansar em um lugar, até mesmo se for o pior lugar de todos… talvez isso seja um sonho muito humilde para uma pessoa igual a eu.

Alysci passa por mim, e toca no meu ombro, enquanto Saionara toca no outro.

— Não precisa mais se segurar, se quer juntar toda a família, nós iremos fazer isso juntas.

— Não precisa ter medo, mamãe, as coisas vão dar certo, mais do que já deram…

O vento forte bateu no meu corpo, e logo virei novamente para o horizonte, abaixo de mim estava não só uma cidade totalmente horizontal e vertical, mas também várias pessoas prontas para lutar, tanto inimigos, quanto amigos.

Sabia que naquele momento não havia muitas pessoas para me ajudar, na verdade os outros deuses que estavam ali, era mais para impedir que o Hideki fizesse alguma coisa, mas isso era indiferente pra mim, não estava nem aí se alguém ou alguma coisa fosse me matar, se era para realizar o sonho da minha familia, estava tudo bem, por conta disso não me importei quando ele começou a gritar como um líder.

— CHEGOU FINALMENTE A HORA, O MOMENTO EM QUE TUDO SERÁ DECIDIDO. VAMOS REALIZAR OS SONHOS DE TODOS AQUELES QUE NOS ACOMPANHARAM E NOS AJUDARAM A FAZER TUDO ISSO SE TORNAR REALIDADE. Não estamos sozinhos… TODOS ESTÃO NOS OLHANDO E TORCENDO PELO MELHOR, VAMOS EM FRENTE, A GUERRA VAI COMEÇAR… AGORAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!

Provavelmente esse lugar inteiro seria destruído com um simples toque dele, mas mesmo assim quis lutar e seguir em frente com suas palavras. Dei um passo para frente e levantei a minha mão, como se fosse um comando para avançar, ordenei que todos do inferno corressem em direção a qualquer um para lutar, não importa quem fosse, poderia até mesmo ser a Mier que estava por aí.

Os humanos começaram a correr desesperados por luta, com isso Hideki na linha de frente, corre e grita diretamente pra mim:

— EU VOU TE MATAR, AKUMO!

Como eu tinha pensado, me tornei a vilã dessa história por atos que eu mesma cometi, por um instante isso me deixa triste, mas ao pensar melhor na situação, não me importei quando ele disse essas palavras diretamente pra mim, meu coração até que estava feliz em saber que alguém está se esforçando para me levar ao inferno.

Por momento abracei todo o desejo desse garoto, e me lembrei das coisas que aconteceram, talvez no momento que o Hideki descobrir a verdade pelo seu passado, ele entenderá e talvez se arrependerá de tudo o que fez e do que pode fazer. Mas, isso não é hora de ficar falando sobre essas coisas, talvez ele nem iria parar para escutar os sentimentos de alguém que matou a “mãe” dele e se juntou ao pai dele para causar o inferno no mundo todo.

Não me arrependo de ter feito essas coisas, com base de que tudo poderia ter sido melhor e poderia ter ficado mais tranquilo a situação. Tudo valeu a pena, e a minha família poderá se juntar e ficar feliz graças a tudo o que fiz, não haverá pessoas atrapalhando a minha vida, não terá ninguém me colocando em uma jaula e fazendo experimentos com meu corpo, após essa luta, será apenas a minha alma se juntando com a minha família e vivendo uma eternidade feliz.

Após um tempo eu percebi que não era sobre ajudar os outros seguir um sonho… era sobre eu seguir meu sonho, mas aquele sentimento feliz de saber que independente do que aconteça aqui, tudo dará certo pra mim, esse sentimento domina a minha mente, e a loucura aos poucos começa a se mostrar, eu não poderia deixar tudo tão fácil para crianças que ainda não sabem o que é viver a vida, então… procurei ao máximo dificultar tudo para que os outros não achem fácil demais… talvez estivesse sendo ingênua.

— O DEUS HIDEKI HIRAI SE JUNTA A GUERRA AO LADO DOS HUMANOS, PARA DERROTAR UMA AMEAÇA MAIS FORTE AINDA… — grita uma voz misteriosa.

Essa voz começa a ser o foco da minha atenção, porque é como se alguém estivesse narrando o que está acontecendo nessa guerra.

— AKUMO, A DEUSA DA ESCURIDÃO E DO INFERNO ANUNCIA GUERRA CONTRA TUDO E TODOS, ENQUANTO MIER E KRIG ANUNCIAM A DESTRUIÇÃO DA TERRA.

Então percebi o que estava acontecendo, Riki, o deus da criação, estava armando passar isso para todo o mundo como se fosse um evento lindo de se ver, logicamente todos ficaram ao lado do Hideki, já que ele era o único que simplesmente ficou ao lado da humanidade, olhei para o alto, de onde caía uma pequena garoa e simplesmente sorri, esse sorriso começou a ser um grito de guerra, uma risada maligna que pararia qualquer coisa simplesmente por medo.

— Se é luta que essa humanidade procura, é luta que ela terá, agora… será o fim DE TODOS VOCÊS!

As lâminas em formato de pata de aranha se prendem nas paredes e ficam cada vez maiores, ao ponto de meu corpo se tornar minúsculo perto dessas lâminas gigantes. Aqui poderia ser o fim, então usarei tudo ao meu favor, independente do que for, qualquer coisa só para marcar uma história nesse universo. 

Comecei a destruir prédios, avenidas, matar pessoas, tudo simplesmente era um marco gigantesco para a humanidade, então continuei, sem dó e nem piedade daqueles que estavam abaixo de mim, o mundo iria sentir o pior de tudo.

Na minha frente a humanidade estava vindo em peso pra cima de mim, eu não tinha um plano de guerra, nem pensei direito nisso, mas sabia que eles tinham alguma coisa para jogar contra minha pessoa, algo que nem cheguei a levar em consideração, já que eles pareciam ser fracos demais.

Avancei com tudo pra cima deles, enquanto alguns tentavam me atacar, eu esquivava e contra-atacava, os outros que estavam a distância tentando me acertar com golpes mágicos, flechas, tiros, ou qualquer outra coisa que seja a distância, perderam seu alvo depois de me cobrir com almas perdidas.

Dentro daquele domo de almas que fiz, decidi que era hora de criar um portal que me levava pra cima da cidade, no lugar mais alto, apenas para analisar melhor o campo de batalha que estava envolta de mim. Por que escolhi um lugar tão estranho para lutar contra as pessoas? Se me lembro bem, aqui foi onde começou a humanidade, e da mesma forma que começou… é o lugar que tudo irá terminar. 

Quando chego acima da cidade, levanto minhas mãos para o alto.

— QUE A ESCURIDÃO CHEGUE AO CORAÇÃO DE TODOS…

Uma bola de energia vai crescendo acima de mim, o que eu estava fazendo era algo simples e fácil de entender, um pequeno meteoro de poder para destruir toda a área e deixar maior simplesmente para ser mais fácil de lutar contra todos os humanos.

Enquanto voava para criar essa esfera de energia, sorri para que todos observassem que eu estava me divertindo com aquilo, e melhor do que tudo, eu sabia que era mais forte que todos dali, mas necessitava deixar isso muito mais claro para aqueles que simplesmente não conseguiram entender o meu poder.

Os humanos me olhavam com uma cara de desacreditados com o que estava acontecendo. O céu já estava escuro, mas ainda dava para ver as estrelas, o que eu estava fazendo tampava todo o brilho que o universo tentava dar para a terra, poderia causar o fim de tudo com tanta vontade nesse primeiro ataque, mas ainda tinha que fazer o que eu queria, tinha que realizar o meu sonho.

Quando a esfera atinge um tamanho considerável ao ponto de criar um rombo na cidade, eu paro.

— Essa luta não é tão simples quanto vocês imaginavam, existe tanta coisa para acontecer ainda, vamos nos divertir e criar mais um momento incrível para a história, mas dessa vez… O ÚLTIMO MOMENTO, ESSA SERÁ A ÚLTIMA PÁGINA DO MUNDO TODO!

Então soltei essa esfera, enquanto ela adentrava na cidade, destruindo tudo que estava na volta dela, indo em direção a todas aquelas pessoas, a minha felicidade em ter uma última luta digna de algo tão gigante a esse nível era… enorme.

Eu sabia que poderia deixar tudo pior, mas ainda queria que fosse assim.

Não sei se você está vendo tudo isso, Solveig, mas saiba que não falta muito para Alysci, Saionara, e eu estarmos com você nesse lugar tão calmo que você alcançou.

O fim está próximo, e com ele levarei a história de milhares de anos.

Espere por mim, filha, já já estarei aí para ficar com você e te dar toda a atenção que queria, a mamãe só precisa acabar com isso aqui.

— QUE OS JOGOS COMECEM!