Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 7 – Arco 3

Capítulo 67: Thiago & Leon, os irmãos do inferno.

Hideki



— HIDEKI!

… só mais 5 minutos…

— HIDEKI!!!!!

Lentamente abro meus olhos, existia um peso enorme acima do meu corpo… algo que simplesmente não consegui aguentar muito, o calor… tudo… era imenso. O céu estava escuro e apenas conseguia ver dos olhos pra cima de Yukiro.

Ela estava extremamente preocupada e não conseguia formar uma frase… ela ficou extremamente feliz só de me ver acordando…

— Você… você… DROGA, NÃO ME PREOCUPA ASSIM! — disse Yukiro.

— Hehe… foi mal…

Tento me levantar um pouco, mas o peso que estava sentindo era Shiori que estava acima de mim.

— O que… aconteceu?

Shiori parecia estar desmaiada, com isso Maki se aproxima com a Any se apoiando nela.

— Talvez seja demais pra você… entender algo desse tipo, Hideki… — disse Maki.

— Poderia falar normalmente?

— Ah… eu digo que… quando você desmaiou… a Shiori foi se rastejando até você, logo após isso uma explosão aconteceu e jogou vidro pra todo lado… se você observar as costas de Shiori.

Olho preocupado pra pessoa que estava acima de mim, suas costas estavam sangrando e na preocupação… fico desesperado.

— Uma explosão de vidro? — pergunta Yukiro.

— Sim, a floresta inteira explodiu. Todo aquele cenário que vimos… era falso.

— No caso, o cenário de agora… foi depois da destruição do meu reino… — disse Any.

— Seu reino? Não era aquele que estávamos?

— Depois explico pra vocês.

A preocupação das três era quase nula, enquanto eu estava tentando segurar Shiori com meus braços. Seu corpo lentamente esquentava como se estivesse com febre, sua expressão era linda e parecia que estava dormindo como um anjo.

— Any… você consegue curá-la? — pergunto.

— No momento… não. Usei tanto meu poder para te curar e me curar que acabei ficando sem força alguma até mesmo para ficar de pé.

— E-Entendo…

Meu rosto não mudava nada, eu não sabia o que sentir naquele momento, se estava triste, feliz, ou qualquer outra coisa do tipo. A luta acabou e isso me deixa feliz por não precisar lutar agora, mas o que me deixa triste é ter que ver Shiori dessa forma, não queria de forma alguma ter que ver a minha amada assim.

Aos poucos abraço a Shiori.

Droga… eu não sei o que fazer.

Do nada o seu corpo fica em uma temperatura pior, chegando ao ponto de simplesmente não conseguir abraçá-la, rapidamente a solto pela dor que estava sendo causada.

— Shiori?

As três se aproximam e tentam tocá-la, mas sentem a mesma queimadura.

Meu desespero aumenta e se torna extremo, tento segurá-la, gritar pelo seu nome, de alguma forma eu tinha que acordá-la. Esse sonho… não, esse pesadelo não pode estar acontecendo… não pode ser assim.

Na minha mente era como se a Shiori fosse morrer, assim como uma estrela, o seu poder deve estar tomando conta do corpo e tentando desfazê-lo aos poucos.

— Hideki… calma! — disse Yukiro.

— CALMA? CALMA O QUE? OLHA O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM A SHIORI, NÃO PODE SER ASSIM, NÃO PODE!

A cada vez que eu tentava segurar a Shiori, uma queimadura diferente era feita no meu corpo, assim eu continuava… me torturando.

— PARE, JOVEM! — disse uma voz misteriosa.

De momento todos se preparam como se fosse um ataque. Mas não.

Meus olhos rapidamente se viram para o lugar de onde veio essa voz, e olho atentamente para a pessoa que estava lentamente se aproximando… um ser com pele vermelha, um cabelo cacheado e bem arrumado, seus olhos eram escuros e mal dava para perceber qual cor que era, sua roupa de aventureiro com uma capa parecida com heróis… 

Mostrava um sorriso inabalável e não parecia ter arma alguma com ele.

— O que está acontecendo por aqui? Parece que temos convidados!

— Ei… não precisa fazer isso… a gente poderia só ignorar… — disse outra pessoa.

— Ignorar? Como assim ignorar… pessoas precisam da nossa ajuda e é a nossa hora de brilhar! Vamos fazer igual ela!

Havia outro alguém com esse cara, um garoto mais novo que tinha a mesma cor de pele, um cabelo ruivo e liso, parecia ser extremamente tímido comparado com o outro, usava roupas simples e era extremamente bonito…

Cada um tinha um chifre, o mais tímido do lado esquerdo, e o mais feliz do lado direito.

Ao ver as espadas apontadas, ambos levantam as mãos.

— Calma, está tudo bem, não estamos aqui para atacá-los, e sim para ajudá-los, da mesma forma que nos ajudaram!

— Quem é você?... — pergunto.

— Eu? Meu nome é Thiago, e esse tímido aqui é meu irmão mais novo, o Leon.

Ele se apresenta e ao falar o nome do irmão mais novo, ele se esconde ainda mais atrás do irmão mais velho, o meu olhar fica menos agressivo, mas o de Maki ainda é extremamente agressivo.

— Ajudar? Nós não fizemos nada para ajudar outra pessoa. — disse Maki.

— De certa forma é verdade, mas vocês nos salvaram, dava para ver a luta de longe…

— O que?

— Nina, a deusa das memórias estava controlando muitas pessoas, incluindo eu e meu irmão nisso!

— …

— Ela estava tentando fazer com que esse lugar fosse protegido pela gente, mas na verdade… não conseguiu muito bem!

— Entendo.

— No caso, Nina tomou nossas memórias e tentou nos usar. — explicou o irmão mais novo.

— Ei, cortou o que eu estava falando!

— D-Desculpe…

Thiago faz um carinho na cabeça de Leon e assim continua falando:

— Enfim, da mesma forma que vocês nos ajudaram, vamos ajudar vocês!

Thiago começa a andar em minha direção enquanto pede licença para as outras pessoas, o clima de tristeza era cortado para um de confusão. Ao ver a situação de Shiori, Thiago lentamente aproxima sua mão do rosto dela.

— É belo…

E assim levanta Shiori como se nada estivesse acontecendo.

— Vamos?

— E-Espera… — digo.

Na tentativa de interromper o garoto, queria falar alguma coisa, perguntar algo, mas nada sai da minha boca, na verdade ainda fico quieto como se nada tivesse acontecido. Thiago continua andando e o sigo.

Ele cantava enquanto Leon ficava olhando pra gente, eramos tipo… reféns.

Enquanto isso, Maki se aproximava de mim e tentava falar no meu ouvido…

— Hideki, irei ficar de olho caso seja alguém do mal, quero que pelo menos me ajude nisso.

— Irei tentar, acha que não é tudo estranho isso?

— Sim, é estranho, mas ele conseguir segurar a Shiori da forma que ela estava…

— Entendo… vamos esperar e ver o que pode acontecer, se puder… agradeceria se ficasse de olho caso tentassem nos atacar.

— Não vamos te atacar… — diz Leon.

A expressão de vergonha que havia no rosto de Leon dizia muito sobre sua personalidade.

Minha mente estava uma bagunça, e talvez não só a minha… e sim a de todos, ninguém teve a coragem de questionar pessoas que estavam nos ajudando, assim… do nada.

Uma guerra mental estava acontecendo dentro de mim, não sei se deixei isso claro… mas tudo estava extremamente difícil, todas pareciam ter visto a verdade… menos eu.

Essa luta na verdade só me trouxe coisas ruins… nada além disso. A visão das pessoas referente ao mundo deve ter mudado alguma coisa, mas na minha perspectiva… nada mudou, nada além de puro ódio referente aqueles que estão no poder.

O mundo foi tomado por coisas que não merecem estar no poder, a vida de muitas pessoas foram boas para um caminho diretamente ao inferno, nada além de puro ódio restou naqueles que viram tudo isso aqui crescer, pelo menos é assim que eu penso.

Shiori está em um estado que nunca vi antes, meu coração… está caindo aos pedaços, não posso fazer nada. Não consigo fazer nada… meus pensamentos estão caóticos e simplesmente não se conectam, a ansiedade me guia por um caminho sem fim, não há parede no horizonte que vejo, apenas uma rua em meio a um ambiente extremamente escuro.

“Qual é o limite?”

“Onde será o fim de tudo isso?”

São poucas perguntas que se passam na minha mente, mas mesmo assim… são muitas que não possuem respostas, esse looping que entro com apenas uma pergunta dá a resposta de algumas outras.

Não… não cresci nada.

Talvez seja isso que não quero escutar, mas mesmo assim… é melhor aprender com meus erros e tentar seguir em frente do que travar agora e simplesmente não conseguir nada.

O caminho seguia enquanto todos estavam em um completo silêncio.

Duvidamos de pessoas que tentaram nos ajudar e isso causou um clima extremamente pesado entre todos daqui, as garotas estavam com um rosto extremamente terrível, como se tivessem cansadas e com o corpo extremamente pesado, se um inimigo aparecesse por aqui, tenho certeza que ninguém iria conseguir lutar… não sei falar por esses dois que apareceram do nada.

Flores que faziam o nosso caminho começam a brilhar na cor azul, pequenos vagalumes que brilhavam em verde começam a voar… e aquela rua que estava completamente escura, agora está brilhando.

A minha visão parecia ter voltado ao normal… e aquele caminho assustador virou algo com luzes e muito mais… aos poucos meus passos iam acelerando, juntamente com o do pessoal. Até quase corrermos…

Sem nenhum motivo, até mesmo forçando o corpo a fazer coisas que não conseguiria… nós corremos.

Gritamos, corremos, e naquele momento… naquele maldito momento… toda a minha ansiedade tinha parado, e por poucos minutos que ficamos nisso… o meu mundo tinha voltado ao normal. Toda aquela fantasia de que tudo daria errado foi embora.

Tudo graças a você… Shiori.

 

4 horas depois.

 

— CHEGAMOS! — grita Thiago.

Após o cansaço eminente, todos paramos na frente de uma pequena casa no meio do mato, os barulhos da floresta que havia por perto chegavam ao ponto de serem assustadores, por isso paramos por um tempo e ficamos quietos.

Esperei os dois entrarem na casa e logo em seguida os acompanhei.

A entrada era bonita e dominada pela floresta, a casa inteira era assim na verdade, meio abandonada… mas ainda sim era extremamente bonita. Havia camas e sofás estofados, tudo parecendo confortável até demais… 

Thiago deixa Shiori em um sofá e logo em seguida me sinto do lado dela, parecia cair em um sono infinito. Maki se senta no sofá da frente e Yukiro nem consegue sentar em um sofá, na verdade ela deita no chão e fica por lá. Any… somente fica de pé.

— Pode ir preparar um chá pra eles, Leon!

— C-Claro…

Leon rapidamente corre até uma porta na direita e se tranca lá.

— Eu acho que devemos conversar melhor, né? — pergunta Thiago.

— É…

— Bem, você se chama… Hideki Hirai, estou certo?

Thiago tinha me perguntado isso enquanto apontava uma mão em minha direção e a outra colocava no queixo.

— E você é a Yukiro… 

Ele continuava acertando o nome das pessoas, dessa vez da Yukiro, como se ele fosse um intimo extremo da gente, sabendo até mesmo o nosso nome.

— Essa deitada é a Shiori…

Todos começam a ter um sentimento de desconforto, imagino eu… já que estou me sentindo assim.

— Você é a… Maki…

Maki olha diretamente a ele com ódio, como se tivesse descoberto um dos maiores segredos da sua vida, ou na verdade, como se toda a sua vida tivesse sido exposta para um desconhecido, e esse cara estivesse na frente dela falando tudo o que não deveria.

— Como você sabe quem sou eu?

— Um passarinho laranja me contou.

A resposta dele fez com que Maki se acalmasse. Parece que ela tinha entendido a metáfora.

— Essa última eu não conheço…

Any então faz uma reverência e se apresenta, Thiago bate palmas e se demonstra feliz.

Seus olhos não parecem contar algum tipo de mentira, na verdade parecem realistas demais… o que chega a ser assustador, nunca fui de me apresentar para estranhos como ele, na verdade… nunca o vi na vida, como ele iria me conhecer assim…

A Shiori também… quem seria esse passarinho laranja? E o que ele sabe da minha vida?...

— Como você conhece a gente? — pergunto.

Minha indignação era imensa, não conseguia parar para pensar direito nas coisas, um estranho me conhecia…

— Quem é… você?... — continuo.

— Hideki, ele é confiável. — disse Maki.

— Como já disse, me chamo Thiago, e eu sou… filho do deus do inferno.

 



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