Volume 7 – Arco 3
Capítulo 66: O terrível medo volta.
Hideki
30 minutos atrás.
Havia um plano na minha mente, algo que iria acabar com toda essa luta de uma vez. Com o tempo fui percebendo que Nina não gosta de ler a mente dos outros, e que sempre estava fazendo cara feia ao escutar o pensamento de tantas e tantas pessoas, talvez tenha sido por isso que Maki invocou esse exército.
Uma explosão de pensamentos acontecia na minha mente, como se estivesse falando coisas aleatórias… Um caminho se abre enquanto caminho até Nina, parece que já sabem o que vai acontecer… isso é até interessante.
Nina me observa de canto, parece que consegui fisgar-lá.
“Entendi.”
“Entendi tudo.”
“Matar pessoas é divertido.”
Sabia que pensar coisas assim iria atraí-la de alguma forma, entendi que caso meus pensamentos falassem mais alto que os dela… em algum momento Nina iria se entregar e assim pensar as mesmas coisas que eu.
Não era possível imaginar que isso estaria tão próximo…
À medida que estava caminhando, era possível perceber que ela estava tendo as mesmas expressões, os mesmos sentimentos… as mesmas coisas que eu, e tudo estava indo como o planejado. Enquanto ela lutava com Yukiro e lia a mente de todos… eu estava lá, pensando mais que todos e fazendo a minha voz interna chegar na mente dela.
“Só há uma forma de acabar com tudo isso, e é matando o real perigo dentre essas pessoas, o deus da destruição… Riki… mas há um problema em tudo isso, ele está sabendo controlar o poder.”
“Se der certo uma fuga, irei dizer ao Riki o que esse garoto está planejando fazer… nas memórias dele são tão divertidas, chegam a me dar prazer só de escutá-las um pouco, mesmo que esteja indo contra o meu eu interior.”
O medo, a raiva, tudo estava incluso nesses sentimentos, entendi isso. Entendi perfeitamente.
O fato de conseguir controlar a mente de uma deusa me deixa… extremamente louco. Ter nas minhas mãos o controle de uma pessoa tão forte e tão importante para o mundo era como se estivesse tendo uma parte da humanidade em minhas mãos.
“Espadas se colidem, o barulho de metal batendo é delicioso… já escutei milhares de vezes na minha vida… nunca me canso desse som, desse belíssimo som. Escutava também o som de passos se aproximando, cada passo ficava mais tenso que o anterior e isso me deixava aflita com uma coisa…”
“Quem está se aproximando?” Quem será que estava se aproximando de você… Nina? Eu, Hideki Hirai.
Me aproximava cada vez mais, e com isso Nina joga Yukiro pra longe com a sua espada, logo em seguida me olha fixamente e tenta me atacar inúmeras vezes. Nada me acertava, ela de forma alguma conseguia me atacar. Todos os seus golpes estavam sendo cancelados pela Any que aos poucos criava uma barreira de proteção à minha volta.
Não estávamos nos comunicando pela fala, apenas uma ação era necessária para entender o plano do outro, e cada um sabia o que iria acontecer em seguida. Minha raiva estava entrando na mente de Nina, ela nem ao menos deveria conseguir pensar normalmente…
Eu a odiava, odiava tanto que nem conseguia colocar em palavras, apenas de me olhar já dava para perceber o que estava acontecendo.
Nina aponta sua espada em minha direção, apenas uma coisa passava na minha mente…
“O quanto eu quero matar essa deusa.”
O ódio tinha dominado o meu corpo que apenas se movia por contra própria… apenas desejei que tudo à minha volta fosse deletado aos poucos, e tudo começou com a espada na Nina.
“Tal pai. Tal filho.”
O nome do meu pai causava um sentimento estranho na Nina, era como se ele fosse alguém extremamente perigoso para ela, uma pessoa na qual não se pode mexer mais de uma vez, caso o contrário está morto na hora.
“Risadas começam a voar pelo ar. Tentei atacar o Hideki algumas vezes, porém todos os ataques são parados por uma barreira que havia se criado em volta dele. Não era isso… alguém estava protegendo essa pessoa. Lentamente se aproximava como se nada estivesse acontecendo, como se tudo fosse uma plena mentira.”
Poderia abusar disso somente por conhecer o pouco dele… mas não queria citá-lo, esse nome… também me causa um sentimento ruim.
— Então… somos iguais. — disse Nina.
Não, não somos iguais. O ódio que você nutre é por todos, o ódio que nutro é por alguém específico, não há como uma pessoa que somente odeia tudo e todos ser igual alguém que apenas está seguindo pela verdade de um passado distante. Somos diferentes.
— Mesmo que tente me botar medo, isso nunca… NUNCA IRÁ ACONTECER.
Não era o medo que eu queria passar, apenas o meu ódio que estava implantado no seu coração. Percebi que não tinha mais como continuar com isso, então tentei dar o golpe final.
“Medo era a única coisa que me deixava travada, e não conseguia pensar ou fazer outra coisa sem ter haver com o Hideki, era como se ele tivesse entrado na minha mente, os pensamentos das pessoas invadiam minha cabeça, até mesmo do exército que aos poucos também deixava de existir, era como se literalmente tudo estivesse sendo apagado.”
“Percebi enquanto ele se aproximava, Hideki… tinha me travado em um plano dele.”
“Em um plano na minha cabeça.”
Enquanto escrevia essas palavras na mente de Nina, Yukiro e Maki se juntam para atacá-la de várias formas diferentes, pois naquele momento dava para perceber o quão hipnotizada ela estava.
Os meus pensamentos, e talvez os de todos, fizeram com que Nina não soubesse mais o que pensar, não soubesse mais o que fazer, a sua mente estava dominada por palavras que não eram as dela, o que fez a mente travar e como se tivesse dado um “reset”, algo do tipo.
Memórias é algo que não se pode brincar, não se pode apagar, tudo o que pensamos, ou armazenamos em nossa mente, tudo é essencial para o ser humano, não… para o ser vivo. Somente com o que temos em mente podemos criar uma personalidade e começar a pensar por nossa causa.
Nina brincava com a mente dos outros pois sabia que isso era divertido, sabia que apenas traçar uma linha na outra era o suficiente para fazer alguém mudar completamente. Vários e vários ataques se direcionaram a Nina, pois naquele momento… ela nem ao menos conseguia reagir.
O corpo dela tentava se regenerar, mas era impossível, os golpes além de rápidos eram fortes e completamente destruidores… ninguém conseguiria sair vivo disso.
Quando parece que Nina acordou, estava deitada no chão sentindo o peso do meu corpo… meu braço estava enfiado completamente no buraco negro que havia no seu peito.
— Conte.
— O que? — perguntou Nina.
— Conte a ele… que estou me aproximando, e que irei fazer a minha vingança… Conte a ele que… estou chegando.
— Não tem como…
— Grite, vai… grite por socorro. Antes de te deletar desse mundo, eu irei deixar você fazer um último desejo… e é um pedido de socorro. Quero que grite, peça por misericórdia, grite com toda sua garganta que estou me aproximando… nem que tenha de matar todos os deuses.
— Mesmo que eu grite… ninguém irá ouvir.
— Ainda bem que sabe o que está fazendo. Isso me poupa muito tempo… deusa inútil.
Um sorriso de raiva abria no meu rosto, pois sabia que estava pior do que aquele que estava perseguindo, apenas estou matando uma deusa por conta dela ter machucado a pessoa que mais amo nesse mundo, sem nem ao menos entender o motivo dela, nem queria saber do motivo na verdade…
Tudo que girava em volta dessa mulher que estava abaixo de mim era terrível, eu entendia que se mexer com ela era a mesma coisa que tacar álcool em uma fogueira.
O ódio dela… estava quase me dominando.
— Então… você me pegou direitinho nesse seu plano… deus da destruição.
Minha mente parecia retornar ao normal, todos os sentimentos ruins foram removidos da minha mente, naquele momento percebi que não estava sozinho naquela sala, havia pessoas do meu lado e que estavam lá para me ajudar caso algo ruim acontecesse.
Na visão dessa deusa deve estar observando uma pessoa completamente terrível, mas o que estava sentindo era… felicidade. Estava feliz por conseguir chegar ao fim dessa luta vivo… estava feliz por perceber o que estava à minha volta, por entender que não estava sozinho, não estava… de forma alguma… sozinho.
Faltava apenas uma coisa para acontecer e terminar com tudo o que foi feito com essa pessoa que estava abaixo de mim.
— Diga adeus… Nina.
— Nunca.
Ela então… some da minha frente e um barulho gentil de vidro quebrando é escutado pela sala inteira que simplesmente some com a deusa.
À nossa volta tinha se tornado a floresta que nos encontramos e por segundos se escutava somente a respiração das pessoas.
O momento de tensão havia acabado… e percebi que tudo era realidade quando senti a chuva cair sobre meu corpo… percebi que não estava sonhando, que Nina nem tinha tocado em mim.
“Filho…”
Uma voz feminina entra na minha mente, o que faz meu coração… explodir.
Como se as memórias estivessem sendo negadas pelo meu corpo… talvez até mesmo a dor por tudo o que fiz estava incluso nisso.
Olho para Shiori que ainda estava no chão e me aproximo dela, seus olhos se abriram lentamente e com extrema dor… ela me olha. A realidade ainda não tinha caído sobre seus pensamentos, então por segundos nos encaramos.
— Acabou?...
Escutei de Maki… o fim da luta, o que fez tudo se tornar realidade de verdade.
Shiori quase caí em lágrimas, mas ela não conseguia… de forma alguma derrubar o choro…
Sua cara estava sofrendo… pela primeira vez em alguns momentos vi o rosto de Shiori estar triste… algo não estava certo, e quando Shiori tenta falar alguma coisa…
— Eu… estou…
Sua voz é interrompida por um gemido de dor, e assim ela caí de novo no chão.
O sentimento de vitória era dominado pela preocupação, todos vieram ver o que tinha acontecido com Shiori, todos estavam preocupados, o exército já não existia mais, e isso não era uma preocupação minha, apenas quem era amigo estava por ali.
— Shiori?
Toco em seu corpo e o calor era imenso, havia queimado a minha mão…
— Para… não brinca com isso… SHIORI!
Sua voz não saia, nada estava acontecendo, e quando tentava tocar no seu corpo… minha mão queimava ainda mais. Para… por favor… diz que está tudo bem… por que ela parece estar queimando de febre?… Não… parece que quer queimar o mundo todo.
O cansaço… a dor… a preocupação… tudo faz o meu corpo cair.
Desmaio como se tudo fosse apenas um sonho que estava para retornar na minha mente.
— Filho… você está bem?
Uma voz gentil domina a minha mente, mas não era isso o que eu queria saber. O que estava na minha lista de preocupações… era a Shiori e somente ela. Nada além disso estava me preocupando mais.
Será que ela está bem? Será que ela está me vendo? Shiori.. acorda… ACORDA!
O escuro estava dominando as cores à minha volta, o meu coração começou a bater extremamente rápido.
— SHIORI! SHIORI!!!
Gritei pelo nome dela, mas ninguém aparecia, gritei pelo nome de cada uma… mas ninguém aparecia. Era como se tudo estivesse apagado, não tinha mais com o que sonhar, com o que pensar, não tinha mais com o que se preocupar, tudo estava terrível, mas ao mesmo tempo estava bem.
Não tinha mais como gritar, não tinha mais como falar… era como se qualquer esforço fosse inútil, quem era eu, quem era a pessoa que estava chamando?
O que estava acontecendo? Meus pensamentos foram dominados por perguntas que não tinham respostas, apenas isso acontecia por muito e muito tempo. Na verdade nem noção do tempo tinha como ter, Não tinha um sol, não tinha uma lua, não tinha como ficar de dia ou de noite, apenas… era tudo escuro.
O medo dominou a minha mente, o medo da escuridão.
Meu corpo estava extremamente cansado… não estava mais cansado, não estava sentindo nada.
Então… caí… em um sono profundo em meio ao pior medo de todos.