Volume 3 – Arco 2
Capítulo 27: Você me odeia?
Maki
— Me diga… eu.. eu vou morrer? — diz Sarah.
Esse momento está marcado na minha cabeça com tanto detalhe. Pois era o ponto mais importante da minha vida.
— N-Não… eu não vou deixar isso acontecer…!
Minha resposta era algo do meu coração, não da minha mente, pois na verdade… eu sabia que era impossível fugir dali. Mas mesmo assim… segui com meu coração e queria tornar a fuga da Sarah uma realidade. Então corro em direção a um guarda.
— Me dê as chaves.
— Alteza? Por que quer as chaves?
— NÃO TE IMPORTA, EU ESTOU MANDANDO!
O guarda se assustou e me entrega todas as chaves do castelo… e mesmo sem saber qual seria a da cela, mesmo assim segui em direção a Sarah novamente… mas no meio do caminho estava meu irmão.
— Olha quem está aqui… o que está fazendo?
— Irmão… não estou fazendo nada…
— Eu sei que está tentando libertar aquela garota que está presa… então eu te pergunto… sabendo das consequências, você ainda vai salvá-la?
Meu corpo trava e a minha cabeça para por uns segundos para pensar no que aconteceria comigo caso realmente salvasse a Sarah. E mesmo sabendo que seria morta em praça pública por traição, ainda sim queria seguir para salvar minha amiga.
Não me pergunto como ele sabe de tudo isso, meu irmão sempre foi uma pessoa misteriosa, tanto que nunca soube o seu nome. Mas mesmo assim tentei respirar fundo.
— Mesmo sabendo de tudo isso… eu quero… eu quero poder salvá-la. Porque ela é minha única amiga.
— Entendo… a chave da cela é a da sala 27, a mesma que abre a cozinha… nessas chaves aí que estão na sua mão, é a segunda. Se tem plena certeza disso… eu vou te ajudar um pouco.
— Antes… tenha cuidado, aquele garoto da cela que está morto, morreu porque descobriram que ele estava organizando um protesto que iria acontecer hoje.
Assim ele sai de perto, indo em direção ao centro do castelo, sem pensar muito… eu paro e respiro, assim sigo correndo em direção a Sarah. Eu não sabia qual era o limite do meu corpo, mas entendia o fato que não iria demorar muito para desmaiar.
Ao chegar na cela da Sarah, eu pego a segunda chave e abro a cela, sem pensar muito eu pego a garota pelo braço e assim começo a correr para fora do castelo.
Seguindo pela saída principal, mesmo sem pensar que isso seria totalmente irresponsável… eu segui em frente, os alarmes do castelo começam a soar… e a população começa a protestar na frente do castelo.
Escuto muitas e muitas coisas. As vozes das pessoas eram altas demais… e muitos dos guardas reais seguiam a população, eles não queriam saber do que estava acontecendo, mas estavam cansados de serem obrigados a matar pessoas só por serem pobres…
Sarah não estava reagindo… mas mesmo assim eu a levo para qualquer lugar. Paramos perto de uma construção gigante, era como se fosse um portal. Mas, a Sarah para e me olha.
— Você… me odeia agora?
— Te odiar? Eu não te odeio, Sarah.
— Eu bati… na sua mãe.
— Já entendi isso… para de pensar nisso. Eu não te odeio por bater na minha família, só entenda que… eu quero viver com você, para todo o sempre.
Seguro as mãos da Sarah e coloco cada uma no meu rosto.
— Olhe atentamente pra mim… eu sei que está assustada, eu também estou. Mas… estou seguindo em frente só por você, eu não sei o que virá daqui pra frente… mas quero de alguma forma viver ao seu lado.
Sarah me olha e tenta sorrir, mas ela começa a chorar. E em meio à chuva… ao cheiro terrível de lixo… em meio a tantas e tantas pessoas que estavam fazendo um protesto… eu abraço a Sarah mais uma vez.
Naquele momento, o calor do corpo de Sarah me ajuda a pensar e raciocinar sobre o que está acontecendo… eu queria ficar com esse calor para todo o sempre.
Me sinto segura, viva ao estar entrelaçada pelos braços de uma pessoa tão importante pra mim. Mas… a chuva ainda existe.
Escuto um gemido de dor da Sarah e um bagulho como se fosse um líquido pesado caindo no chão.
— PEGAMOS A GAROTA!
Uma voz misteriosa grita e tenho a pior visão da minha vida…
A minha melhor amiga… estava sendo empalada na minha frente. Logo atrás dela estava um dia guardas, aquele que havia feito uma promessa comigo, seu rosto era de desespero e ele parecia querer chorar, aquilo para uma pessoa… era considerado uma traição.
Eu havia sido traída pela única pessoa que fiz uma promessa…
— Desculpa… — diz o guarda.
Logo em seguida ele pega sua faca e corta seu pescoço. Como punição da própria promessa… o guarda se matou.
Em meus braços a Sarah estava quase morrendo, mas ela não parecia estar chorando com isso. Na verdade, parecia estar feliz. Mas… eu ainda era uma criança, ver tanto e tanto sangue assim era como um trauma.
O cheiro era terrível… eu queria falar algo, mas não conseguia. Minha voz não saia, lágrimas começam a sair dos meus olhos. E principalmente… meu corpo tremia.
— M-Maki…
Pela primeira vez na minha vida… uma pessoa me chama pelo nome.
— Eu estou… indo ver o meu irmão…
Não quero que isso aconteça. Não vá embora…
— Estou feliz… mas estou triste… porque… você não vai estar do meu lado…
— Por favor… não… não vá…
— Maki… as pessoas vão em todo momento… só chegou a minha hora…
Sarah levantava sua mão esquerda.
— Maki… tá tudo escuro… cadê você? Eu estou… esquecendo do que aconteceu… está de noite? Eu estou… no quarto?
Coloco a cabeça dela nas minhas coxas… começo a aceitar esse fato. Eu não queria fazê-la sofrer e ir embora com um rosto triste…
Tenho que aceitar esse fato… infelizmente… naquele momento não podia fazer nada, pois não sabia magia de cura, nem ao menos tinha alguém para me ajudar.
Estava sozinha com a Sarah.
— Sabe… Maki… as coisas… são tristes, né?
— Elas… são…
— Você está chorando?
Assim aproximo a mão da Sarah ao meu rosto e aos poucos ela começa a limpar as minhas lágrimas.
— Maki… não chore… já sei o que… podemos fazer.
— O que…?
— Canta uma música… de ninar?
Aos poucos, em meio a lágrimas… eu começo a cantar uma música de ninar, às vezes eu parava… pois estava chorando. E no final… a Sarah sorri.
— Isso foi tão divertido… obrigada por… ser minha única amiga… Maki…
Assim ela derruba seus braços, nesse momento eu percebi que ela… não estava mais comigo. Eu queria chorar, mas logo em seguida meu irmão apareceu.
— Entende o porquê as pessoas não podem se relacionar com a gente…?
O castelo havia sido invadido e várias pessoas estavam morrendo.
— As pessoas tentam mesmo assim se relacionar com a família. Mesmo sabendo que irá morrer…
Olho para ele, o meu irmão estava com sangue pelo seu corpo todo… ele diz:
— Mas… antes que tudo dê errado… você deve viver a sua vida, deve viver mais do que todos.
O portal se abre.
— Adeus… minha pequena irmã.
Assim ele se vira para a população…
— O MOTIVO DO ÓDIO DE VOCÊS ESTÁ AQUI!!!
As pessoas se viram e me vêem, isso parece ser o suficiente para deixá-los bravos.
As pessoas começam a correr em minha direção… e o meu irmão me empurra para dentro do portal. A única coisa que eu conseguia fazer, era falar o nome da Sarah.
Após sair do portal, eu tento voltar… mas era tarde demais. Não tinha mais essa possibilidade, o portal estava fechado e eu só consegui ficar batendo na parede e gritar o nome da Sarah. Até me ajoelhar.
— Deve ser difícil… perder o povo inteiro…
Escuto uma voz estranha que me diz coisas estranhas, ao olhar pra trás eu via… um homem sentado em uma pedra, ele olhava para o horizonte lindamente perfeito.
— Meu nome é Riki.
Ele pega a espada que estava em sua cintura e a derruba no chão.
— Não irei fazer mal algum a você. Só quero ajudá-la
— Me… ajudar…?
O homem aos poucos se aproxima.
— Eu não sei o que aconteceu do outro lado, mas coisa boa que não foi. Então desse lado do portal… eu só quero ajudá-la. E agora será… esse dia. Venha comigo, venha viver uma aventura incrível… e viver uma nova vida.
— Mas… mas a Sarah…
— Sarah… ela é sua amiga?
— Sim…
Olho atentamente para baixo.
— Ela se foi?
Minha expressão respondia essa pergunta.
— Entendo… então veja isso. A sua amiga está te vendo do outro lado, ela está torcendo por você, ela torce para que viva uma vida feliz e uma vida magnífica. Eu sei que pode ser estranho, mas venha, venha comigo… Antes de tudo… qual é seu nome?
— Maki…
Assim ele estende sua mão para dar um aperto. O homem estranho não parecia ter maldade em seus olhos, tanto que ele estava completamente calmo com tudo! O que era completamente estranho. Mas… mesmo assim, ele queria me ajudar.
Eu estendi minha mão e ele me puxa.
— Veja o quão perfeito está hoje, não há nuvens no céu… apenas o lindo sol!
— Onde… estou?
— Na terra!
O planeta terra era conhecido em Júpiter como o planeta vivo.
Mas ainda sim, por livros as paisagens não eram tão bonitas quanto na vida real. A perfeição da visão que estava na minha frente me deixava tão calma que aos poucos eu parava de chorar.
Sarah, se você está me vendo de algum lugar… pode me responder uma coisa?
Você me odeia?
TEMPOS ATUAIS
Algo não saia da minha cabeça…
Como, depois de anos, você voltou para se vingar de uma promessa que nunca existiu…?
Após parar e pensar na minha vida com você… eu me pergunto. O que a Akumo fez para a Sarah?
Reviver a garota só para ter um receptáculo para a espada da vida…
Ao ver os três correndo em direção a Sarah, eu grito.
— OS TRÊS, PAREM, AGORA!
Hideki, Yukiro e Shiori param e olham para trás.
— Quem deve terminar essa luta… sou eu.
Assim começo a andar em direção a Sarah que estava deitada no chão e me sento em cima dela, ela estava completamente imóvel e não parecia conseguir reagir direito, mas mesmo assim…
— Faz tantos anos que não nos falamos… eu quero entender… por que você… voltou?
Seus olhos que demonstravam que ela não estava mais possuída se abrem.
— Eu… queria poder… te ver… uma última vez…
— Sarah… eu senti sua falta… mas tem um lugar que te merece mais do que aqui.
Eu desisti e aceitei o fato de você estar morta. Depois de muitos anos, correr atrás de você era impossível pra mim, por conta disso aceitei a verdade.
— Eu fugi de lá… só para te falar…
— Me falar o que?
— Obrigada… por ser minha única amiga… infelizmente eu não posso te falar o que aconteceu comigo… dentro desse planeta… uma hora você irá descobrir… então… Maki…
Meus olhos começam a lacrimejar.
— Eu te amo… você é realmente minha única e melhor amiga. A pessoa no qual eu mais me preocupei na vida…
— Eu também… te amo…
— Maki… Adeus!
— Antes… me faça um favor…
— O que…?
— Fale meu nome… uma última vez…
— Maki…
— De novo…
— Maki…
Assim levanto minha espada em direção ao coração dela.
E finco com tudo…
— Ma… ki…
Por uma última vez eu havia escutado a minha melhor amiga falar o meu nome. Por muitos anos isso era tudo o que eu queria… e agora eu terminei o último objetivo de vida.
Agora… eu tenho que proteger a estrela.
Eu… acho que…
Não estou tão bem assim…
Começo a chorar aos poucos.
Eu quero entender o motivo disso, por que tudo dá errado? Qual o motivo de minha vida ser um inferno…?
Eu quero entender…
Mas tem algo que eu quero entender mais…
Sarah, independente de onde você estiver…
Você me odeia?