Volume 3 – Arco 2
Capítulo 26: A princesa e a plebeia.
Maki
25 anos atrás.
Por muito tempo vivi no castelo da família real em Júpiter. E na primeira vez que saí do castelo, tinha apenas 4 anos de idade… lá eu conheci uma garota. Ela estava na grama da terra dada para as pessoas pobres.
— O-Oe! A… amiga? — perguntei.
Naquela época eu não sabia falar direito, mas eu queria fazer uma amiga. Algumas horas atrás o meu irmão apareceu no meu quarto falando sobre amizade e coisas do tipo, e eu… queria uma amiga.
— A-Amiga…? — pergunta a garota
— Xim, qual seu nome?
— Salah. E o seu?
— Eu sou Maki! A plinceza!
A garota que estava solitária e triste, parecia aos poucos demonstrar um rosto extremamente feliz, era como se tivesse feito uma única amiga na vida, igual a mim… pela primeira vez eu tinha uma amiga, mas eu não podia contar isso para ninguém.
Pouco tempo depois de conversarmos e darmos muitas risadas com brincadeiras de criança, um adulto aparece e olha atentamente para o que está acontecendo… era um homem, eu não lembro muito bem o seu rosto. Mas sei que ele era o pai da Sarah.
— Sarah… SAI LOGO DAÍ!
O adulto pega a garota no colo e sem pisar na grama da família real, ele se ajoelha.
— DESCULPAS, ME DESCULPA PRINCESA! Não irá acontecer de novo, desculpe.
Naquela época eu não sabia o significado dessa palavra, ela era estranha. O homem falava em um tom desesperador e tão alto, que chamava a atenção dos guardas reais, eles se aproximam e tentam averiguar a situação, mas parece ser somente um adulto com a sua filha pedindo desculpas para a princesa.
Os guardas sem saber o que fazer, me pegam e me levam para dentro do castelo. Lá a minha mãe me esperava.
— O que você está fazendo fora do castelo, e sozinha ainda por cima, senhorita Maki?
— Decupa, mamãe…
— Sem desculpas! Droga… eu tenho que ficar de olho em você o tempo todo, e que… que cheiro terrível é esse? O que você estava fazendo lá fora?
— Ah, eu estava brin…
Sou interrompida por um guarda real, que tampa a minha boca.
— Majestade, ela estava brincando com terra, quando eu a vi… estava em um estado deplorável.
— Entendo…
Minha mãe assim saí do lugar e aos poucos o mesmo guarda que me interrompeu, me puxa para conversar.
— Alteza, nunca fale que você estava com pessoas que são pobres.
— Hm?
— Isso pode causar um destino terrível para essas pessoas.
— Po que?
— Não é bom explicar isso… então vamos fazer assim, uma promessa, ok?
— Pomessa?
— Sim, e será que… você nunca irá contar que está falando com outras pessoas, e em troca, eu deixo você brincar do lado de fora.
Para uma criança que não conseguia sair de casa, aquilo era como ouro, poder brincar do lado de fora… mas… óbvio que tinha outra coisa além disso.
— Eba, brincar!
— Isso…
Assim entrelaçamos nossos dedinhos e fazemos essa linda promessa.
Então entro no castelo e após tomar um banho e me arrumar novamente, vou até a mesa de jantar, onde estava toda a família.
— Aqueles pobres tentaram invadir aqui novamente… — diz minha mãe.
— O que aconteceu dessa vez? — pergunta meu pai.
— Foram mortos sem pestanejar. Eles tiveram a ousadia de tocar no meu vestido… o meu precioso vestido… tive que jogá-lo fora.
— Vamos ter que criar muros em volta do castelo, assim eles não poderão entrar.
— E você, Maki… o que fez hoje? — pergunta meu irmão em uma tentativa de mudar o assunto.
— Blinquei.
— Com o que?
— Com a tela!
— Tela? Tela do que? Computador?
— Não seu bobo, a tela!
— Não estou entendendo muito bem…
Naquela hora, o rosto do meu irmão demonstrava um certo desconforto em escutar a conversa do nosso pai, ele tentava loucamente mudar o assunto e isso era assustador, naquela época eu não sabia o que meu irmão aprontava, mas eu sabia de uma coisa, existiam muitos acontecimentos que ele escondia da família.
A mesa de jantar aos poucos se tornava um lugar silencioso… até mesmo para uma criança, aquele canto da casa era conhecido como terrível. A vida de uma princesa em uma família ruim era… pior do que viver precariamente.
No próximo dia acordei e fui direto para o lado de fora da casa juntamente com o guarda que havia feito uma promessa comigo, lá fora estava a Sarah e nesse momento o guarda percebeu no que estava se metendo.
Eu e Sarah brincávamos muito e era todos os dias.
Na parte da manhã, eu estudava com meu tutor, na parte da tarde eu e Sarah brincávamos e conversávamos, e à noite voltamos de onde viemos. Os guardas reais faziam vista grossa sobre nossos encontros, pois… algo que percebi com o tempo, eles tinham pena dessas pessoas.
Os anos se passaram e com isso conseguimos conhecimento sobre o mundo ao nosso redor. A família real havia criado uma lei onde o plebeu não podia fazer nada com qualquer membro da família real, e isso se aplicava a minha amizade com a Sarah, que em pouco tempo percebemos que era proibida, mas mesmo assim… continuamos amigas.
Um dia a Sarah teve a ideia de ver as estrelas junto comigo.
— Princesa, princesa! Vamos ver as estrelas juntas?
— Como vamos fazer isso?
— Você pode ficar na janela do seu quarto, e eu vou ficar aqui do lado de fora do jardim, vamos ver as estrelas juntas e assim mandamos aviões de papel uma para a outra!
— Oh…
— Eu estava treinando minha pontaria, saca só!
Sarah tira da sua mochila um papel e faz um avião e joga em direção à janela do meu quarto, incrivelmente tinha dado certo. E assim foi feito.
Ao chegar da noite eu estava na janela do meu quarto e Sarah estava do lado de fora, mesmo contra as leis, ela queria ver as estrelas com outra pessoa, por que de onde ela veio isso significa que amamos uma à outra.
O sol se põe e envolta da gente… estrelas enormes e que brilhavam intensamente. E ao mesmo tempo de tudo isso estava tendo uma chuva de meteoros, ou seja… o céu estava perfeito naquela noite.
Nesse momento um avião de papel acerta minha cabeça e eu olhei atentamente para a Sarah, ela estava com a mão na parte de trás da sua cabeça e com a língua pra fora como se estivesse pedindo desculpas.
Abro o avião de papel e lá eu vejo letras que pareciam um enigma…
Eu percebo que Sarah… não estava escrevendo isso agora, era uma carta de muito tempo atrás. Os plebeus não podiam mandar cartas ou qualquer outra coisa que não fosse dinheiro para a família real.
Leio…
“Já faz 10 anos que somos amigas, tanto tempo… chega até ser indescritível o quão você é importante na minha vida… queria poder de alguma forma te ajudar e fazer a sua vida se tornar algo incrível, assim como você fez a minha! Mas eu não consigo… não posso te abraçar, não posso ficar ao seu lado por muito tempo, e principalmente, não posso falar e me gabar que tenho uma amiga incrível.”
Meus olhos se abrem um pouco mais que o normal. Por mais difícil que era ler aquela carta, ainda sim… eu estava completamente emocionada.
“Isso pode ser triste, mas não tira o significado da nossa amizade! Todo dia brincamos, todo dia conversamos e rimos das coisas que acontecem, somos pessoas que aos poucos podem se afastar, mas sempre vão voltar a se falar com extrema felicidade no rosto. Minha vida se tornou algo incrível com você do meu lado, e isso talvez seja porque você é a minha única amiga… MAS NÃO ESTOU TRISTE COM ISSO!!! Muito pelo contrário, estou feliz até demais de ter só você como amiga, como amiga não… como MELHOR amiga! NÃO NÃO, COMO IRMÃ!!!!”
Assim eu olho para a Sarah que observava o lindo céu do chão, com suas roupas sujas.
Meu olho começa a soltar lágrimas…
Eu havia percebido, ela… era a única pessoa que me importava, na minha família ninguém se aproximava tanto de mim, as pessoas às vezes pareciam querer se afastar. Os guardas tinham medo de brincar comigo ou fazer qualquer outra coisa, sempre foram tão protetores… mas a Sarah não.
Ela não era uma simples pessoa que tinha medo do que eu era, na verdade me tratava como alguém normal, me amava como um membro da família e vivia ao meu lado… ela, acima de todos… era a pessoa que eu queria para a vida, uma irmã para ficar ao lado para todo o sempre.
A carta terminava com um…
“Eu te amo, minha melhor amiga!”
Eu desço as escadas, corro pelo castelo e saio dele… indo em direção a Sarah, eu tinha que abraçá-la, eu tinha que chorar nos ombros dela, eu tinha… tinha que… estar ao lado dela.
Ao ver a Sarah eu simplesmente pulo para abraçá-la e tudo começa a ganhar cores mais vivas.
Comecei a chorar alto, mas minha voz era apagada pelo alto barulho dos fogos de artifício que estavam saindo do centro do castelo, estava tendo um evento da família, mas mesmo assim eu ignorei isso… só para poder ficar ao lado da Sarah.
— P-Princesa?
— Sarah… Sarah… você é a pessoa mais importante da minha vida…
— …
— Seja a minha melhor amiga… para todo o sempre…
— S-Sério? É claro que eu serei sua melhor amiga para todo o sempre!
Porém… nem tudo são flores.
Ao lado de um campo florido estava eu, e ao lado de uma terra morta… estava a Sarah.
Nosso mundo era o mesmo… mas por que a nossa vida era extremamente diferente?
Nem tudo… era um campo extremamente florido.
Naquele dia eu chorei até me despedir da Sarah… e fui dormir feliz, porque no próximo dia eu poderia falar com ela à vontade. Mas… no próximo dia, aquele lindo campo florido estava completamente molhado pela chuva.
Sarah não estava do outro lado, na terra sem vida, então eu a procurei em volta do castelo, mas ela não estava em lugar algum. Esperei por horas e nada aconteceu, então decidi perguntar para o guarda que havia feito a promessa comigo.
— Aquela garota que você brinca todo dia…? Ela… está em um lugar… diferente por agora…
— O que aconteceu com ela?
— Está presa, nas masmorras.
— E-Espera… POR QUE?
— Ela bateu na sua mãe.
— O que….
— É prisão perpétua, você sabe disso.
Aquela informação havia me chocado mais do que qualquer coisa, a Sarah até então, por mais misteriosa que seja a vida dela para alguém da família real, ela nunca ousou levantar a voz para qualquer coisa. Era uma pessoa que sempre se demonstrava calma e tranquila com qualquer situação… mas naquele dia… naquele maldito dia, ela estava atrás das jaulas, e eu tinha mais que plena certeza que era errado.
Eu corri até as masmorras, sem pensar direito no que estava acontecendo. Aquele lugar era proibido à minha entrada, pois meu corpo naquele momento era fraco demais para aguentar um cheiro de corpo morto tão forte. Mas mesmo assim… eu entrei.
O cheiro forte entrava no meu corpo e me deixava completamente tonta, mas mesmo assim segui em frente sem pensar em qual seria a consequência. E assim chego na cela onde estava a Sarah.
Eu estava extremamente ofegante e com medo do que estava acontecendo, não queria ver de forma alguma a minha amiga lá… mas… era verdade. Sarah estava presa e de costas…
— S…Sarah?
— P-P-Princesa…?
Ela se vira assustada e no canto da cela eu vejo um corpo, ele estava sangrando… e parecia ser recente, naquele momento meu corpo congela e meu coração acelera, aquela pessoa estava morta, o que mais me choca era que… não era uma simples pessoa, era alguém mais do que isso.
— Essa pessoa…
— O que tem… ela… Sarah?
— Essa pessoa… é o meu irmão…
O meu olho arregala nesse momento, dou uns passos pra trás, batendo minhas costas na cela que estava logo atrás. Sarah começa a chorar lentamente, e eu não sabia o que fazer…
— Princesa…
— O-O que?
— Me diga… eu.. eu vou morrer?