Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 12 – Arco 4

Capítulo 117: Mente deturpada.

Riki

 

 

Naquela época o trono estava vazio.

A mesa estava vazia.

A sala também.

Tudo vazio.

Bem.

Não.

Obviamente.

Não esperava menos.

O trono vazio.

A casa vazia.

Isso tudo foi culpa de só uma pessoa.

— Riki.

Essa voz é irritante.

Atrapalha meus pensamentos.

Eles sempre vão e voltam.

E meus pensamentos ficam… terríveis.

O tempo não faz sentido pra mim, as vezes parece que estarei no futuro, as vezes parece que estive no passado, e às vezes parece que estarei no presente.

Afinal de contas, que sentido faz a vida, se a loucura já dominou tudo?

Sentei no trono vazio.

Agora estava com alguém.

A mesa se recheou de comida, e as cadeiras se rechearam de pessoas.

O clima estava quente, o ar estava belo.

Que lindo é estar com pessoas que são queridas. Mas quem são?

De um lado da mesa, três cadeiras, três pessoas, três rostos desconhecidos. Do outro lado da mesa, três cadeiras, três pessoas, três rostos desconhecidos.

Agora estava tudo cheio, os rostos demonstraram felicidade.

Mas uma pessoa nunca ficou feliz com isso.

No canto esquerdo da mesa, onde não chegava perto de mim, uma pessoa não estava feliz.

O rosto estava normal, sem expressão.

Mas isso é imperdoável.

Por conta desse garoto, o jantar era arruinado, a família ficava… perdida, sem saber o que fazer.

Pelo rosto triste desse desgraçado, tudo deu errado de novo.

Ainda não consigo criar um cenário perfeito onde tudo estivesse bem.

Mas entendi que teria feito algo diferente se soubesse o que iria acontecer no futuro.

Mas não, eu não sabia o que iria acontecer. Eu sabia apenas que o futuro era incerto, duvidoso, complexo.

Eu sabia, mais do que qualquer um, que o futuro seria ruim, quebrado, tenso. Ainda assim, não corri contra aquele garoto. Não corri porque não quis enfrentar o poder dele.

Rapidamente me pergunto o porquê. Olhando para o passado, entendo que nada era certo e que tudo era difícil. Nós, deuses que criaram este mundo, não tínhamos noção do poder que daríamos às pessoas neste planeta.

No final, era inevitável que um de nós tivesse uma família e desejasse segui-la pela eternidade. Mas, obviamente, não daria certo. Afinal de contas, o dever de um deus era, na verdade, proteger os seres humanos e todas as criaturas deste planeta que criamos.

Em algum momento, falhei. Talvez não como deus, mas talvez sim como humano, mesmo que eu não devesse possuir esses sentimentos complexos e quebrados que os seres humanos, simples e difíceis, carregam.

Entendi que, naquela hora, não foi minha culpa. E, se foi culpa de alguém, talvez tenha sido dele, daquele garoto. Como eu poderia saber que existiria alguém com um poder tão diferente? Mas, pelo menos, compreendi que ele poderia se tornar uma arma, e assim tentei usá-lo. Porém, não foi tão fácil.

Quebrado, caminhando pelas ruas, o garoto encontrou outra garota, e juntos viveram felizes, mesmo duvidando de sua própria família e enfrentando aqueles que os criaram.

É difícil acreditar, mas esse garoto estava lá, perdido em seus pensamentos. Ele seguiu a garota sem hesitar e, então, conheceu outra mulher. Uma pessoa difícil de lidar, mas que, ainda assim, permaneceu ao lado deles.

Era como uma jovem rechonchuda que sempre os acompanhava. Se não fosse por ela, possivelmente aquele garoto ainda seria uma arma até hoje.

Mas onde foi que eu errei?

Não sei…

Logo, uma voz familiar atingiu meus ouvidos, era nada mais do que Mier.

— Riki. O que será?

— Será o seguinte: a guerra vai começar, tudo o que temos que fazer é focar em algumas pessoas especificas, nada além disso.

— Porém a humanidade estará do lado deles, será difícil fazer algo do tipo.

— Na verdade… irei aproveitar que Akumo está no inferno para fazer uma coisa simples…

Enquanto aquela inútil está no inferno, poderei pegar sua mente para dominar todas as almas que estão naquele lugar, enfeitar tudo… e trazer todo o inferno pra guerrear.

Me levantei da mesa, e segui em direção a saída.

— O resto… deixo com você, Mier.

E quando saí, respirei o puro ar que estava do lado de fora.

Estava doendo ter que ver tudo aquilo se formando na minha frente… eles conseguiriam chegar em algum lugar, em alguma paz antes que tudo isso… chegue ao fim do que eu planejei.

Um portal se abre do meu lado, e pronto estou para ir ao inferno, fazer uma pequena visita.

O local que era quente, agora estava esfriando, e as árvores estavam ressecadas, com todas as folhas vermelhas caídas no chão. E o caminho na minha frente que era reconhecido por ter almas prontas para entrar no inferno… estava vazio.

Caminhei lentamente até o portão do gigante castelo que tinha naquele lugar… e assim o portão se abriu na minha presença.

— Alguém no local? — perguntei.

Enquanto entrei, meus sensos começaram a sentir que alguém estava me espiando, e além disso… pronto para atacar.

— Eu sei que o que está fazendo, não há como se esconder para sempre.

Logo, dentro daquele enorme salão que até então estava vazio… as luzes começaram a ascender, e assim olhei para o teto, de onde vinha esse olhar com intenção assassina.

Akumo.

Ela cai do teto, pronta para o ataque com suas garras, mas logo… ela para no ar.

— Sabia que você iria vir em algum momento, Riki.

— Então poderei cortar algumas introduções.

Seus olhos logo começaram a brilhar em uma tonalidade roxa…

— Está… fraquejando, Akumo?

— Droga… o que você está fazendo?

Suas garras tremiam…

— A sua mente já estava sob meu controle desde que entrei nesta sala.

Logo, andei um pouco para frente, fazendo o corpo de Akumo cair no chão logo atrás de mim.

— Não há muita coisa para te falar, apenas o básico.

Ela se levantou.

— O que você quer? — perguntou Akumo.

— Você irá para a guerra, e lá vai lutar um pouco.

— Ou?

— Já vi que você matou… — Logo me esqueço o nome de quem estava aqui — é difícil se lembrar do nome desses inúteis.

— Esse lugar agora é meu.

— Poderia… ser seu.

Quando me viro, seguro o pescoço de Akumo, e a levanto.

— A situação é bem simples, e não aceito nada além dela. Sua mente agora é minha e você vai lutar por mim querendo ou não.

Sorri, pois sabia que meu plano iria voltar a funcionar.

— NINA, APAREÇA!

Seu cabelo vermelho, seu braço de uma cor escura, o outro claro, sua roupa preta… a deusa das memórias.

— Espere… mas ela—

Botei meu dedo na frente da boca de Akumo, já que essas coisas não precisam ser notadas por ninguém, mas estava divertido observar que seus olhos pularam de medo pelo o que estava para acontecer.

Ela entende bem…

— Não há muito mais o que te falar agora, Akumo… a guerra tem que começar uma hora ou outra, e não há nada que dê para fazer agora.

— Riki, isso já é loucura, reviver os mortos…

— Nina… nunca morreu.

— Estou aqui… mestre — disse Nina.

Isso está certo. Nina nunca morreu.

A deusa das memórias sempre viveu na mente de todos aqueles que um dia já tiveram sua cabeça mexida por ela, mesmo que Hideki tente apagá-la… não tem como, pois sempre que algo acontece… Nina sempre consegue voltar na mente de alguém.

Toquei a minha cabeça com a de Akumo, contra a vontade dela.

— Isso não vai doer, Akumo.

— Você não pode fazer isso.

— Eu não posso? Ué… eu vou fazer mesmo assim.

— Riki… isso já é uma luta perdida, não adianta fazer mais nada… eles tem alguém do lado deles também.

— Eu ia fazer isso ser indolor para você… mas parece que terei que fazer do meu jeito.

— Pode me matar, me usar, qualquer coisa já é normal a este ponto… e meu objetivo já está concluído.

— Sua desgraçada… acha que pode simplesmente falar essas merdas como se fosse ser algo simples? É impossível que eles tenham algo a mais do lado deles, tudo já está dominado… não há como eles ganharem essa luta, uma simples força de vontade não vai ser o suficiente…

— Riko iria se decepcionar.

— Nina. Comece.

Virei meu corpo e comecei a andar, enquanto Nina forçava sua entrada na cabeça de Akumo, era uma dor que não tinha como falar.

— ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM, RIKI! ELE AINDA VAI CONSEGUIR CONTORNAR POR CIMA!

Me virei de volta e segurei Akumo pelos cabelos.

— Como você pode ter tanta certeza? Em?

— Agora eu tenho sua atenção né? Pergunta pra sua mulher. Vai ver ela sabe o que está acontecendo de verdade. Seu merda.

Isso nunca fez sentido na verdade.

Riko está morta, não tem como ela ter alguma vivencia com o Hideki.

— Termine.

— Sim. — respondeu Nina.

Depois de um tempo, a corpo de Akumo ficou parado no chão, enquanto isso, me sento ao lado dela e já me preparo para dominar aquele corpo de vez.

— O que agora, Riki?

— Eu vou… lutar com isso.

— O corpo dela será o suficiente?

— Não seja tola, o corpo dela é muito mais que o suficiente para aqueles.

— Entendo.

Nina não deve saber como ela chegou naquele terrível estado, por conta disso não irei conseguir entender o que aconteceu antes. Dois anos se passaram enquanto ela estava com o Hideki, achei que teria sido o fim dele naquele momento.

Quando as coisas começaram a voltar ao normal, entendi que ele tinha ganhado a luta contra Nina, então esperei um pouco para ter alguma ação. Talvez ele tenha ficado cada vez mais forte…

Lembro que Shiori não estava bem e estava paralisada. Se ela estiver assim até agora, grande parte do poder de fogo deles está acabado. Se for verdade que uma guerra irá iniciar por conta deles, talvez eu tenha uma chance de fazer Hideki pagar pelo o que fez.

Já faz 20 anos.

Não sei se isso será o suficiente.

Meus olhos se fecharam, e logo quando abri, estava no corpo de Akumo. De certa forma era meio difícil se acostumar com as garras dela… e a melhor coisa é que sua consciência estava paralisada, ou seja, não iria tentar tomar o corpo de volta enquanto estou nele.

— Obrigado, Nina, volte para os outros e avise para se prepararem, pois a guerra irá começar.

— Ok.

Não sei se é possível que essas coisas aconteçam, perder não é uma escolha, por conta disso tenho noção da minha força e da força de Hideki. Até mesmo com este corpo estou acima dele.

Mas ainda sim, certa coisa começa a tremer em meu corpo, talvez seja o medo da Akumo por algo ter acontecido… Eles não chegaram a se encontrar, mas talvez nas memórias dela tenha uma luta que viu.

Vários acontecimentos estão na mente dela, não há tempo para observar todos… mas tenho certeza que ela deve ter visto algo que não gostou, e assim seu corpo começou aos poucos sentir um pouco de medo.

Estranho…

Começo a me mexer para o lado de fora do castelo, me preparando para voltar ao mundo normal, e só de sair do portão para fora, as almas do inferno já começam a ficar em volta de mim.

É isso. O portal se abre e todo mundo começa a sair comigo. Sem precisar dar uma palavra do que iria acontecer, todas as almas começaram a me seguir, isso era gratificante…

De volta ao mundo normal… é agora que tudo isso vai começar a ficar interessante.

A guerra… vai começar.

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