Volume 12 – Arco 4
Capítulo 116: Adeus passado, olá presente.
Yukiro
Quando senti o vento batendo no meu corpo, percebi que era a hora certa de sair daquele banho ao ar livre.
Peguei uma toalha que estava próxima, e coloquei sobre meu corpo. Logo andei até a entrada de casa. A banheira que foi construída do lado de fora da casa do Hideki era um bom lugar para tomar banho, e acho que todas as garotas do grupo sempre vinham pra ca para tomar seu devido banho, também… Hideki raramente aparecia dentro de casa, então ela deveria ser usada para alguma coisa.
Entrei no quarto vago para visitantes, e lá me arrumei com uma roupa extremamente simples para dormir.
— Eu tenho que cortar meu cabelo… — pensei alto.
Mas logo fui tomada com alguém entrando no quarto.
— Ta fazendo o que aqui Yukiro?
Era Shiori.
— Que susto!
— Relaxa, achou que poderia ser quem?
— Não sei… o Hideki?
— Ai ai, ele não entra assim com tudo.
— Desculpa entrar na sua casa sem permissão, é que… a banheira é tão boa…
— Talvez seja mesmo.
— Você não toma banho ali?
— Às vezes, só quando o Hideki me convida.
— Ah.
— E então, está fazendo o que, está olhando pro espelho aí?
Quando percebi, estava de frente com o grande espelho que tinha neste quarto, ele pegava dos pés e ia até o teto…
— Apenas observando.
— Ouvi que você quer cortar seu cabelo, é verdade?
— Sim! Acho que estou precisando disso.
— Talvez eu consiga te ajudar!
— Você sabe cortar o cabelo?
— Não.
Shiori me olhou extremamente feliz, e logo correu para o seu quarto pegar algumas coisas, quando voltou, trouxe uma cadeira e me pediu para sentar em frente ao espelho.
— Eu posso fazer algo melhor para você, já que entendo o motivo disso.
Recentemente Shiori passou por uma pequena transformação. Seu longo cabelo agora ficava preso como rabo de cavalo, Shiori se tornou cada vez mais feminina, usando maquiagem.
Um dia desses perguntei o motivo dela estar fazendo tudo isso, e na verdade ela só sorriu e disse que não existia mais motivo para correr atrás de toda essa luta.
O sonho dessa bela mulher agora se tornou ser uma esposa de casa.
Shiori esperou que eu fosse me sentar, se posicionou logo atrás… e assim me abraçou.
A mudança de visual não acontece do nada, na verdade vem de muito tempo onde queria deixar meu cabelo pra trás e todo esse visual.
Shiori preparou a tesoura, após molhar meu cabelo, aos poucos foi cortando algumas pontas, e assim passou para mechas… e foi subindo cada vez mais.
Não tinha dito para Shiori qual tipo de corte queria, mas é como se ela sentisse qual eu realmente quero…
— Espera Shiori, eu não cheguei a te contar o que eu quero no cabelo!
— Não precisa… eu já sei.
— Como assim?...
Shiori continuava cortando meu cabelo enquanto cantava uma música na qual não sei qual era. Aos poucos… ela continuou, até encurtar mais ainda.
— Sabe Yukiro, você não precisa se prender ao que os outros querem ver sobre você.
— …
— Eu sei que você deve estar pensando sobre o que o Hideki vai achar, o que eu vou achar… o que a Lola vai achar.
Através do espelho, olhei para o rosto de Shiori, que estava com um sorriso estampado.
— Cortarei assim seu cabelo para que você possa largar seu passado, e ter uma nova Yukiro dentro do seu coração.
Shiori sabia o que eu estava querendo fazer… talvez mais do que eu mesma.
Cortar o cabelo significava abandonar o próprio passado e seguir em frente de alguma forma, pelo menos foi assim que pensei.
Por um tempo, entendi o que ela queria falar com pensar no que os outros iriam achar, por um tempo tive medo de fazer isso, pensando que as pessoas achavam feio ou algo do tipo, mas realmente… não precisava parar para pensar no que os outros estão achando de mim.
Penso que agora poderia largar esse passado, e seguir em frente de alguma forma, é isso que… a Lola iria querer.
Fechei meus olhos e por um tempo me senti em um espaço em branco. Meus pensamentos.
Não sabia o quanto isso seria difícil pra mim.
Pensar nessa vida que estou tendo é como… tentar achar uma saída em uma rua que não tem.
Não queria que tudo fosse dessa forma, talvez… de alguma forma, eu queria felicidade, queria entender o que é ter alguém para conversar sobre a vida e coisas normais, não conversar sobre guerras, lutas… conversar sobre… estar sozinha.
Talvez realmente… fosse melhor seguir tudo isso como se não fosse ter um final feliz. Lutar contra deuses, contra… eu mesma.
No final das contas nunca quis levantar uma espada… nunca.
Por um tempo me senti sozinha, como se ninguém fosse entender o que eu sinto. As pessoas à minha volta sempre passavam sem me perceber, e por um longo tempo entendi o que acontecia.
Eu era uma maldição para o mundo, uma garota que talvez não tivesse salvação. Aquela que lutou contra deuses e fez de tudo para tornar suas próprias amizades como inimizades. Quando tive a oportunidade de ter amigos à minha volta, tudo o que fiz foi usar eles como ferramentas para fugir de uma prisão.
Essa prisão não era só física, mas também mental. Na minha mente não passava nada além de uma vingança que nem conseguiria fazer ser real.
No final, fui condenada a viver infinitamente, enquanto todas as pessoas à minha volta morriam… perdiam tudo.
Me culpei.
Me odiei.
Qual era o motivo deles lutarem por mim?
— Terminei.
Quando Shiori me falou isso, abri os olhos e senti meu coração palpitar mais rápido… era meu novo visual.
Um cabelo mais curto, volumoso nas laterais e em cima, uma franja desfiada, em camadas…
— Yukiro. Agora… pode ser você mesma e se desprender do seu próprio passado.
— Eu… não sei se consigo fazer isso.
— Consegue.
— A pessoa que mais me importa está lá, me esperando no passado!
— Mas…
Shiori fez um rosto difícil, suspirou fundo e assim olhou para o espelho.
— Essa pessoa não está te esperando no passado.
— Claro que está! A porta está aberta com ela lá, me vendo!
Sempre que olhei para trás… Lola estava lá.
Uma porta sempre estava aberta, e a Lola me observava de longe.
Nunca entendi.
…
— Mas ela só está com a porta aberta e te olhando, porque quer muito saber o que vai acontecer com você, se quando virar a esquina… ainda vai estar bem, e que não vai voltar para pedir ajuda, já que agora está livre!
…
…
…
Chorei… pois quando olhei pra trás…
A porta estava fechada.
…
Lola…
Minha mente se envolveu em um cénario…
E neste momento me aproximei da porta, já estava fechada.
— LOLA!
Gritei.
Bati na porta.
Fiz de tudo.
Ela não apareceu mais.
Quando me ajoelhei… me senti em um local frio, uma neve envolvia meu corpo… o novo cénario que agora era uma floresta… tudo estava congelado.
Eu… estava com medo.
Por um tempo me senti com medo de me envolver com a escuridão, pois nela… todos os meus medos estão ali.
— Você já pode prosseguir sozinha… minha pequena garota.
Um abraço me envolveu. Era doloroso.
Por um tempo, nunca quis seguir em frente com medo da Lola me perder… e eu perder ela. Mas no meio de tudo isso, ela se foi. Foi tudo minha culpa.
Se não fosse por mim, estaria tudo bem! Aquelas imagens… aquela dor… aquele sentimento… ainda passa na minha cabeça.
Eu vivi, sobrevivi aquelas imagens por toda minha vida, por toda a eternidade.
Se eu tivesse ficado quieta… se eu não tivesse pedido por socorro, A LOLA AINDA ESTARIA BEM!
SE ELA NÃO TIVESSE ME CONHECIDO! SE ELA NÃO TIVESSE INVADIDO AQUELE LUGAR!
EU PODERIA…
Eu poderia…
— Não é verdade…
Na minha frente.
— Não é… verdade.
Eu.
— O que você quer.
— Sou eu quem organiza suas memórias.
— …
— Lola… não se sentiria bem se não fosse por você, Yukiro.
— Foi por minha causa que tudo isso aconteceu, se não fosse eu nascer… se não fosse a minha existencia… tudo teria dado certo.
— Mentira.
A garota de cabelos longos andou e levantou meu rosto em sua direção.
— Lola está bem, mesmo que disntate… está bem. Ela sempre prezou pelo seu bem, sempre esteve lá por você.
— Eu ocupei um bom tempo da vida dela.
— Mentira. Lola cuidou de você porque quis, ela se sentiu na necessidade de te ajudar.
— …
— Lola sempre te esperou na porta pois queria ver se agora você poderia viver sozinha.
— Não…
— Yukiro, você consegue!
Meus olhos se abriram, e quem falava isso era Shiori que estava de pé logo atrás de mim, eu abracei a garota e ficamos juntas… até eu cair no sono.
…
Quando acordei, Shiori estava cantarolando uma música de ninar enquanto se sentava na frente da janela que dava para a cidade.
Ela olhou atentamente para cada luz se apagar enquanto parava de cantarolar a música. Lentamente me olhou e sorriu…
— Acordou?
Estava deitada na cama, com o cabelo lavado… e tudo estava bem.
— Eu te dei um banho antes de te colocar na cama, você tem um sono bem pesado em.
— D… desculpa, Shiori.
— Tudo bem, nem se preocupe. Está tudo bem? Você dormiu se mexendo toda.
— Eu tive… um sonho estranho.
— Entendi.
— Não sei o que devo fazer a partir de agora…
— Bem, eu também não, mas faça o tempo valer a pena de alguma forma.
— Você é uma pessoa muito gentil… Shiori.
— Não, longe disso. Ainda tenho alguns problemas comigo mesma… mas acho que estou apenas levando a vida como deve ser.
— É…
— Sabe, infelizmente escolhemos essa vida pra gente, assim como a vida nos escolheu para isso. Logo, a única coisa que temos que fazer é seguir em frente e tentar de alguma forma tirar alguma felicidade disso.
— E a sua felicidade?
— É ajudar vocês a seguir em frente de alguma forma, talvez seja melhor assim e dessa forma conseguimos… fazer os outros felizes.
— Ah…
— Não é sempre que teremos o que queremos, mas no pouco que temos, podemos tirar alguma coisa boa.
— Depois de tudo isso, vai fazer o que?
— Eu… quero fazer uma família com o Hideki, e assim conseguir fazer um restaurante de comidas do mar.
Nós duas nos olhamos por um tempo e rimos juntas…
— E você, Yukiro?
— Eu… quero ir pra praia… e me tornar uma cantora!
— Olha só, isso parece ser muito divertido!
— E realmente é! Cantar é incrível, você não acha?
— Ah, não sei… não sei cantar direito.
— Poxa, claro que sabe.
— Se você diz.
A nossa conversa se encheu de risadas e logo algumas horas se passaram… Shiori estava se sentindo cansada, então eu saí da casa deles e segui em frente…
No final da rua, Hideki vinha em minha direção… parei um pouco para conversar com ele.
— Hideki!
— Oi, Yukiro.
Ele estava cansado… com um olhar triste.
— O que aconteceu? — perguntou Hideki.
— Como assim?
— Cortou o cabelo.
— Ah sim, eu queria mudar um pouco o visual.
— Ficou legal.
— Obrigada!
— Eu estou muito cansado, as coisas não estão indo muito bem com o treinamento.
— Você já treinou bastante nesses últimos dias, talvez seja melhor dar uma descansada, só assim você poderá progredir no treinamento.
— Eu preciso aprender logo… Só assim vou poder… seguir… e lutar por um motivo…
— Qual o motivo de você lutar, Hideki?
Ele parou, ficou sem expressão e logo olhou atentamente para a lua.
Trêmulo…
— Motivo?
Foi quando o vento passou por nós, sentia que cada vez mais, Hideki se separava de todos, sem entender ao certo o que acontecia… ele parou.
— Não sei… sinto que se parar… vai ser um trabalho mal feito.
— Não é por vingança?
— Quando percebi, não era isso que movia minhas pernas… na verdade, minhas pernas já desistiram a muito tempo. Agora só estou parado esperando que algo aconteça.
Hideki olhou nos meus olhos, e dava pra ver que havia desespero.
— Eu não sei… não sei qual o meu motivo de lutar… eu acho que não é vingança… eu acho que só quero ver ele morrer.
Ódio.
— Afinal, isso é justiça! Por tudo o que ele fez… Yukiro, ele matou muita gente… está fazendo tudo isso… por minha causa!
Vingança.
— Eu tenho medo que ele continue e assim mate todo mundo, eu tenho medo de ficar sozinho.
…
Medo de ficar sozinho?...
Mas isso... só seria o começo.
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