Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 12 – Arco 4

Capítulo 113: Será que o outro lado é um paraíso?

 

Hideki



A noite daquele dia terminou com balões com mensagens que subiram até os céus e demonstraram ao mundo qual era o desejo daquelas pessoas que ficaram tristes com as coisas que tinham acontecido naquele reino… logo em seguida decidi seguir e dormir com Shiori, ela me disse que não estava com sono, mas que se manteria do meu lado para que nenhum pesadelo acontecesse.

Escutar sua voz até que meu corpo descanse foi uma das melhores coisas que já aconteceu comigo nesses últimos tempos. Não que houvesse tantas coisas para falar que foram boas.

Por conta disso, consegui ter uma ótima noite de sono depois de tanto tempo. Naquela noite… algo me incomodou, Shiori não tinha perguntado nada sobre a Maki, como se soubesse o que teria acontecido, talvez eu devesse conversar com ela para averiguar a situação.

Na manhã do próximo dia, acordei com algumas pessoas no meu quarto, no geral estava a Any, Shiori, Yukiro, e Emilly.

Ambas estavam me esperando acordar, ao ver que dormi ao lado de Shiori e perceberam que talvez não acordaria tão cedo…

— Bom dia…

Meus olhos não se abriram direito, e por o pouco que abriram… percebi que algo sério estava vindo. Elas me deram bom dia e logo me preparei para o dia, me arrumei de uma forma geral, colocando uma roupa mais de lazer… na verdade, um roupão.

Percebi que teria que ficar com algo mais confortável naquele dia já que meu treinamento não estava para acontecer.

O tempo passa e logo depois de se arrumar, começamos a andar pela cidade.

Na minha cabeça, várias coisas passavam de tempo em tempo… em como eu poderia contar a verdade da Maki para a Shiori… mas quando tentei pensar melhor nisso, cheguei na entrada de onde ficava a Emilly com a Any, dentro daquela casa, todos nós sentamos na em volta de uma mesa circular para conversar sobre o que será feito a partir de agora.

— Vamos botar as coisas na mesa. — disse Emilly.

Ela respirou fundo e assim continuou.

— Primeiramente, seja bem-vinda de volta, Shiori. Hideki em seus dias de treinamento disse muito sobre você.

— Bem, eu acho que agradeço…

— Percebi que em meio a isso, você não tentou usar seu poder nem nada do tipo… será que tem algo que está te deixando aflito?

— Meu… poder?

No meio de tudo não há mistério sobre o que eu posso ou não fazer, e pensei que isso nem deveria ser treinado com tanta dedicação…

Mas isso me fez pensar em algo… e se chegar ao ponto dele simplesmente falhar? Como será que eu responderei aos ataques que poderão vir? Com essa guerra que está vindo aqui, não posso simplesmente deixar esse poder de lado e fingir que nada irá acontecer.

Olhei para as minhas mãos, e logo olhei pra frente de novo… 

— Creio que não será necessário entender o que pode ser feito com o meu poder.

— E se ele falhar…

— Provavelmente será meu psicológico, não sei como funciona, não existe nada explicando meu poder.

Isso era uma verdade, não existia nada que explicasse meu poder.

Nada… sem ser meu pai.

— Bem, com a volta da Shiori, precisamos treiná-la para que fique tranquila como rainha, e em uma possível guerra… que seja ela a comandante. — disse Any.

A Shiori me olhou de canto, e fez uma cara de desentendida, logo percebi o que queria falar. 

Era meio estranho pois ela acabou de acordar e já tem que ficar com muita coisa atolada na mente sem que saiba o que está acontecendo… mas isso é só até a Any começar a falar.

— A Maki já morreu… não queremos perder mais uma pessoa.

Shiori ficou perplexa com o que ela disse, e logo saiu correndo da sala. Gritei pelo seu nome, mas não me respondeu, é com isso que eu saí da sala correndo atrás dela… a garota parou em uma esquina e não olhou para trás, na verdade me aproximei o máximo que dava, e logo coloquei a mão nas costas dela.

— Maki… morreu?

— Sim.

— Foi uma morte… tranquila?

— Não sei dizer… afinal de contas ela me protegeu.

— Por que?

— Hm?

Ela se virou em minha direção com pequenas lágrimas no canto de seus olhos.

— Não me falou nada, por que?

— Eu queria te falar sobre, mas não sabia o horário certo para falar sobre esse tipo de coisa, eu não queria encher a sua mente com tanta informação logo de cara.

Logo segurei a mão dela, e comecei a puxar para o lado de fora da cidade, no mesmo lugar onde o túmulo da Maki foi feito.

Lá paramos um do lado do outro… respirei fundo e comecei a falar com ela:

— A Maki morreu tentando me proteger.

— Ela te protegeu?

— Sim… enquanto eu lutava com Mier, ela se jogou na frente de um ataque para que eu não morresse no lugar… e que continuasse o sonho dela.

— Qual? Eu posso ajudar? O que eu tenho que fazer para realizar o sonho da Maki?

Me virei de costas, olhando para o céu, e por um curto tempo… fiquei silencioso… mas eu disse.

— O sonho dela… era te proteger, e te fazer feliz.

— …

— Ela tem meu sonho, que é te fazer feliz, e te proteger… por conta disso ela quis deixar esse mundo, pois não fazia sentido duas pessoas terem o mesmo sonho… eu tentei… sabe…

— Tentou…

— Tentei protegê-la, mas não consegui…

— …

— Ela se jogou na minha frente e… tomou todas aquelas espadadas no meu lugar…

Foi assim que me virei para a Shiori, demonstrei que estava chorando…

— Ela… me disse naquele momento… “Não há mais… o que fazer… apenas me deixe… ir.”

— POR UM MOMENTO EU TENTEI…

Me ajoelhei, e logo comecei a chorar mais alto, em um tom de desespero, a Shiori correu e me abraçou, foi assim que ela disse as palavras mais carinhosas que já poderia ter me dito na vida…

— Está tudo bem… Você… fez o que pode… a culpa não é sua.

Na minha cabeça era sim minha culpa, eu que deixei a garota morrer, e é por isso que me culpo e choro quando tento lembrar de suas exatas palavras naquele momento, isso é um momento de luto onde eu tento me desculpar com as almas que um dia já foram por minha causa…

Talvez seja esse o motivo dele correr atrás de mim, por conta de ser um perigo para a humanidade…

Shiori soltou meu abraço, logo me olhou de cima. Ela não queria se sentir superior nem nada do tipo, era a primeira vez dela demonstrando emoções diferentes depois de tudo o que aconteceu, no mínimo… a confusão iria acontecer.

— Você não está sozinho… Hideki.

Ela sempre foi assim, uma pessoa compreensível e que sempre esteve comigo não importa o que aconteça.

Ela segurou seu choro, dava para perceber que isso estava acontecendo. Shiori me levantou e assim me levou para dentro de nossa casa, lá… se preparou e me colocou para sentar no sofá.

— Fica aí… eu te garanto que irei preparar algo para comer.

Ela saiu… mas foi assim que no espelho que estava na minha frente, apareceu “eu”.

— Ela sabe de muitas coisas agora. — disse “eu”.

— Como assim?

— Quem você é verdadeiramente, ela provavelmente conseguiu ver dentro das próprias memórias, algo que… você não conseguiu.

— Anh?

— De início, só queria saber qual era o significado de sua própria existência, mas ao saber que fazer tudo aquilo iria resultar em nada, qual é o significado agora, Hideki?

Parei de olhar para o espelho, mas logo percebi que aquela voz estava na minha cabeça, tudo não passava de uma ilusão… era a minha própria pessoa me questionando…

— Qual o motivo de você seguir em frente?

Eu achei que já tinha colocado um motivo enorme pra isso.

Eu quero saber a verdade por trás de mim.

— Será que é só isso mesmo? Será que não tem uma pitada de vingança no meio disso?

Vingança é um sentido que não sei se senti…

Naquela época fiquei confuso com o que estava acontecendo comigo, não sabia o que era que estava para fazer. Passei pela desculpa que estava correndo atrás do motivo pelo meu pai ter sumido da minha vida, mas quando menos pensei que poderia acontecer… a minha mente já chegava a uma conclusão estranha de que… estava certa.

Na verdade, o grande problema pra tudo isso acontecer era minha culpa.

Pensei que poderia mascarar meus objetivos nisso até que eu realmente pensasse no que poderia fazer, pois sei que no final de tudo, aquela pessoa que vivia dentro de mim sabia que tudo era resumido a…

Vingança.

Corri atrás daquela pessoa que matou minha mãe simplesmente por vingança, e descobri que por trás dessa pessoa que matou minha mãe, estava meu pai, que acima de tudo estava querendo me matar.

O que passava na minha mente era que isso poderia ser um objetivo sujo… e que não me levaria a lugar algum. Por conta disso fui fraco o suficiente para ser o motivo de Shiori ficar em coma por muito tempo, e mais do que isso…

Fui o culpado… por tudo isso acontecer.

No final das contas a vingança às vezes poderia nem ser contra meu pai, mas sim contra a minha própria pessoa. Talvez esse sentido de seguir em frente fosse para ver até onde meu corpo poderia aguentar… para assim desistir de vez e morrer.

No outro lado poderia só falar que não deu certo e assim seguir em frente, seja lá o que tem daquele outro lado.

Mas depois de ver tudo isso acontecer na minha frente e sem que nada fosse feito, meu coração chegou a decidir alguma coisa.

Naquele momento tudo poderia ser resumido ao motivo de eu estar fraco e não conseguir seguir em frente, mas já deu disso.

Fiquei tanto tempo dando e dando desculpas para mim mesmo que no meio de tudo isso me perdi. E talvez seja por isso que minha vida poderia estar jogada no lixo.

Agora era hora de seguir em frente e eu sabia melhor do que qualquer um que minhas escolhas poderiam resultar em problemas para o mundo todo… mas é meio a tudo isso que eu escolho… por um fim em toda essa história e finalmente…

Me vingar do meu próprio pai.

Me deitei no sofá e olhei para o teto bege que havia na minha casa.

— O que eu estou fazendo da minha vida?

— Hideki?

— Hidekiiiii!!!?

— OW, ACORDA!

Assim acordo com a minha cabeça ardendo, quando olho um pouco pra cima havia Shiori com um rolo de pão na mão, assim ela se aproximou e continuou falando:

— O café está pronto.

— Ah… já estou indo!

— Vê se não dorme, em…

Quando fui para a cozinha, percebi que Any estava lá, sentada em uma cadeira, foi assim que ela me deu boa tarde. De início, respondi, mas ignorei o fato dela estar lá em casa, e assim segui com o belo café que era um pão com presunto e queijo, junto com um café com leite um pouco doce.

— Pera um momento… o que você está fazendo aqui, Any? — perguntei.

— Ela disse que queria conversar com você, Hideki.

Do lado de fora escuto um barulho relaxante que basicamente me colocaria na cama de novo, era chuva.

— Sobre… o que você quer falar, Any?

— Nada demais, apenas queria… ver como você estava na verdade.

— Hm…

Ela tomou um pouco do chá de hibisco que havia na xícara, e logo deixou no pires, e assim olhou para cima.

— Sabe… esse lugar antigamente era mais… tenso.

… o que é isso que ela estaria tentando falar?

— Naquela época… antes mesmo de eu nascer, uma guerra estava acontecendo aqui. O mundo inteiro estava ignorando esses dois reinos lutando intensamente.

— Dois reinos? — perguntei.

— O Reino Diamante, e o Reino Esmeralda. Eu creio que já falei um pouco sobre isso pra você.

— Deve ter falado, mas essas coisas fogem fácil da mente às vezes.

— Eu sei, você estava com a cabeça meio tensa nesses últimos dias, mas enfim, meu pai era rei do Reino Diamante… e eu nunca o conheci… nem mesmo sei o seu nome.

— Mas…

— Quando ele morreu, eu nasci. Nunca ouvi as pessoas falarem bem dele, nunca ouvi as pessoas… falarem… sobre ele.

— Sinto muito por isso.

— Não há com o que sentir, mas escute! Um pouco depois do meu nascimento, meu olho foi marcado com uma estrela, o rei sabia o que era… mas eu só fui descobrir agora.

— O que é isso? Sempre me perguntei.

— Significa a marca da servidão que meu povo tinha pelo povo do Reino Esmeralda. A guerra começou com isso…

— Ah…

— Mas sabe, nunca conheci meus pais, e sempre vivi com as mesmas pessoas em volta de mim, o resto me odiava muito… e hoje… são essas pessoas que me odiavam muito que estão precisando de minha ajuda hoje.

— Eu quero saber… o que você quer falar com tudo isso?

— Nada demais, apenas te contando uma história.

Any sorriu e logo olhou pro teto.

— Sabe, me pergunto… como será que as coisas iriam ser se eu tivesse conhecido meu pai e minha mãe, se o reino ainda existisse, se não houvesse guerra… e se nada disso realmente tivesse acontecido.

— …

— Talvez eu não teria conhecido a Emilly, ou se conhecesse… teria sido algo completamente estranho e algo só para juntar as duas famílias reais.

No meio disso ela me olhou novamente.

— E você, Hideki, se fosse diferente… acha que teria conhecido a Shiori?

Essa pergunta passou na minha mente em alguns momentos na minha vida, se as coisas tivessem sido diferentes, eu teria… conhecido ela? Bem, claro que sim.

— Sim. Tenho certeza que o destino daria uma forma de juntar nós dois.

Shiori se virou para a pia e fez de contas que estava lavando a louça.

— Você é realmente um cara engraçado.

— Acho que isso foi um elogio.

— Bem… eu acho que entendi.

— Mas também… eu acho que esse tipo de coisa pode também servir pra você.

Any me fitou, de forma séria.

— Eu acho que em algum momento da sua vida, chegará a hora de conhecer seus pais, seja por histórias que você verá em livros, ou seja… do outro lado, quando você ir pra lá.

— Você acha que o outro lado é um lugar calmo? E acha que eu vou pra lá?

— Claro que vai, um dia, quando eu era criança… me falaram que eu iria para o outro lado pois lá é o paraíso, e se realmente for tudo isso o que falam… tenho certeza que seus pais estarão lá, te esperando para fazer um almoço.

Ela sorriu.

— Obrigada. 

Então, segurou na mesa e se levantou… olhando para o lado de fora da janela.

— Irei embora, e sobre a nossa reunião… podemos conversar amanhã?

— Podemos.

Foi nesse momento que Any saiu de nossa casa… e assim fiquei pensando no que poderia acontecer a partir dali.

Para mim, a história das coisas está apenas começando, e não há uma forma de pensar diferente disso. A guerra que está por vir poderá ser diferente do que as pessoas imaginam, mas… não há o que fazer perante a isso…

Estou pensando se terei que criar um exército tão grande para poder lutar contra aqueles caras… mas no final das contas acho que só quero pessoas para me ajudar, e não muitas.

Talvez naquela reunião… poderemos pensar melhor nas coisas que estão acontecendo.



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