Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 12 – Arco 4

Capítulo 112: A linda dança ao luar.

 

Hideki

1 hora atrás.



Não lembrava que água tinha um gosto tão lindo de se beber.

Depois de tomar um copo, meu treinamento acabou… chega aquele momento no dia onde eu visitarei Shiori. Quando me levantei do chão, e novamente coloquei minha camisa… o vento que passou por mim foi tão forte que nem cheguei perto de conseguir abrir meus olhos.

Há um longo tempo atrás… me vi perdido em um lugar onde não havia volta, um caminho fechado que apenas me levava ao mesmo lugar.

Ao mesmo… lugar…

“— QUAL FOI O MOTIVO DE VOCÊ TER MENTIDO PRA MIM?”

Naquela época eu estava tão vidrado em tentar de alguma forma acordar a Shiori que nem consegui fazer nada além de me irritar com aqueles que foram contra o que eu disse.

O dragão foi morto com tanta facilidade que nem era digno de se colocar em uma história.

Mas tudo era falso, tudo o que ele me disse não passava de algo apenas para libertar o povo que vivia nesse lugar.

“— O QUE EU SOU PRA VOCÊ?”

Talvez… naquele momento eu estivesse perdido conforme a música tocava, talvez o disco que tocasse a minha vida… estivesse riscado, elevado. Não sei.

Pensava nessas coisas enquanto me aproximava da casa em que ela estava. Da minha cabeça não saia aquele sorriso lindo que uma vez você me deu, as suas palavras perfeitas que preencheram meu coração…

Eu estava cansado assim como em todos os dias, meus sonhos só tem sido a Shiori.

Minha vida inteira… só tem sido ela.

“Ainda me lembro de certos momentos, onde eu acordava e você estava lá. Minha memória é curta… mas sua voz, seu rosto belo… tudo estava lá ainda.”

Balancei a cabeça… e quando abri a porta…

Um pequeno ar de nostalgia bateu no meu coração, eu sei que todos os dias estou entrando nesse quarto, e que todos os dias estou vivendo o mesmo.

Eu sei que todos os dias… estão mortos.

 

— Mais um dia se passou.

 

 

Quando me sentei na cadeira, senti como se fosse uma mão me tocando no ombro, eu sabia quem era, e que estava me seguindo por todos os lugares que eu passava…

— Mãe… me deixe sozinho com ela.

A mão sumiu.

— Quanto tempo… se passou? Meses?...

— Estamos em uma data desconhecida, mas… sei lá. Talvez nem mesmo andei conversando com outras pessoas, apenas você.

Desde aquele dia… não falei com ninguém.

— Eu já nem sei mais o que fazer.

“Estou perdido.”

— Talvez seja melhor desistir.

“Alguém me salva.”

— Seria legal se eu pudesse… sei lá, ter um poder onde você acordava.

“Me tirei daqui.”

— Eu já nem sei mais o que eu devo… seguir.

“Às vezes parece que esse treinamento é inútil.”

— Será que minha voz… chega até você?

“Já chorei tantas vezes nesse quarto, quase todos os dias.”

— Eu me perdi…

“Nunca me encontrei de verdade.”

— Sabe, esses dias… eu estava pensando…

“Se talvez eu nem devesse existir.”

— Afinal de contas… talvez grande parte dos problemas só existem por minha causa…

“Eles correm atrás de mim como se fossem animais.”

— Se… sei lá… em algum lugar distante, eu poderia viver feliz para sempre… com você.

“Faria qualquer coisa por isso…”

— A minha morte… parece significar muito pra eles.

“Então morrer é o certo.”

Desistir, talvez.”

“Se entregar, assim o mundo para.”

“E se ela nem estiver dormindo?”

“E se estiver morta?”

“Estou segurando uma pessoa que… talvez nem esteja aqui.”

Mesmo sabendo que prometi a mim mesmo, tudo isso sempre bate no meu coração como se fosse um tiro.

Segurei minha cabeça, fechei meus olhos…

— Por favor… me salva…

Repeti.

— Me salva.

Chorar.

— …

Morrer.

— …

Não sabia dizer o que estava no meu coração, nem o que estava acontecendo comigo. Todos os dias eram iguais, talvez eu tivesse perdido o sentido do tempo, talvez eu perdi tudo.

Eles continuam seguindo em frente, mas eu estava parado.

Seguindo algo que nem existia.

Qual o motivo de tentar correr atrás do passado? Dele? Sendo que a Shiori não está comigo?...

Depender.

Viver. Por. Alguém.

Eu vivia para ver ela vivendo.

Eu queria abraçar o corpo dela, eu queria soltar todo meu choro, meu horror, meus medos. Eu queria que alguém me entendesse.

Talvez, se de alguma forma eu pudesse seguir em frente da minha forma, mas não consigo.

Eu queria só viver ao lado dela, só isso.

Sei que é difícil, que doi…

Arde.

Se eu pudesse parar o tempo naquela hora onde nós estávamos felizes, eu poderia… ficar naquele momento pra sempre.

Assim não iria ser necessário lutar.

Talvez não fosse necessário pensar demais nos assuntos que estão acontecendo. Eu… virei um rei.

Prendi uma pessoa.

Destruí muitos lugares…

Deixei alguém morrer.

“— Já não há mais espaço pra mim… nesse grupo.”

Sim… tinha.

Eu estava sendo horrível demais…

— Shiori… o que você faria no meu lugar?

Minha cabeça estava abaixada…

Meus olhos fechados.

Mas…

Senti um calor indescritível. Uma… mão.

Meu cabelo estava sendo tocado, de uma forma completamente gentil… mas meu coração tremeu, e até mesmo deve ter pulado uma batida.

Mas eu senti…

Minha cabeça não queria se levantar, ela queria apenas sentir aquilo, poderia ser a minha mãe, ou até mesmo a Yukiro… que entrou aqui de alguma forma, poderia ser alguém que eu não queria ver.

Mas talvez… se “ela” tivesse ouvido o que eu disse, se de alguma forma eu…

Ainda sim… levantei minha cabeça.

Aos poucos… abri meus olhos.

As lágrimas sumiram ao evaporar com um dedo que estava abaixo dos meus olhos.

Eu conhecia bem… aquele rosto.

Sempre ficou com seus olhos fechados.

Por tanto tempo…

Eu travei, mas aquele sorriso estava preso na minha mente, que me libertou de vários momentos difíceis.

—  Shi… Shiori?

— … 

Ela não me respondeu… assim sorriu de uma forma amarela e gentil, com seus olhos fechados e um sorriso grande estampado.

Eu sabia.

Segurei aquela mão que estava abaixo dos meus olhos.

Senti bem… o calor, coloquei sobre minha bochecha, e assim percebi que não era um sonho, e sim algo real.

Meus olhos… ficaram embaçados com tantas lágrimas… e logo, chorei muito alto.

Não sabia qual expressão estava no meu rosto, mas sabia que estava acontecendo alguma coisa comigo, meu coração parecia ter parado, e o tempo andou lentamente para o momento onde ela abriu os olhos preocupados novamente.

— Hideki!

— Me desculpa!!...

Abaixei minha cabeça, a primeira coisa que eu queria falar pra ela era um pedido de desculpas por deixar a Maki morrer, também por ser ingênuo, acreditar em quem não deveria, por não seguir em frente, por… desistir.

— O… o que está acontecendo? Calma!

— ME DESCULPA, POR FAVOR, ME PERDOA…!

— Calma, meu bem, se acalma!!!

— Eu… eu… eu fiz tanta coisa errada, meus pensamentos, minha vida, tudo!...

— Não tem problema… eu te perdoarei…

— Eu… eu… eu não sabia o que fazer… ela… ela… ela estava nos meus braços e não tinha como fazer nada…

— Quem… amor, quem estava nos seus braços?

— Desculpa… desculpa…

Pulei para abraçá-la, e assim… chorei.

Shiori ter acordado foi muito estranho, ainda mais que do nada, mas não queria pensar direito nessas coisas, não havia necessidade disso.

— Eu… acabei de acordar, o que aconteceu, onde estamos?

Limpei minhas lágrimas, e logo olhei diretamente em seus olhos, com uma voz de choro… falei:

— Não sei… passou muito tempo com você dormindo… não sabia mais o que fazer!!

— Muito tempo? Eita…

Ela novamente sorri, e assim eu levanto ela da cama, suas pernas ficam fracas e quase cai no chão, mas consigo ajuda-la.

— Realmente… passou muito tempo desde que não acordei. 

— O que aconteceu?...

— Eu não sei… dentro daquele lugar, eu vi muitas coisas.

Seu olhar se tornou confuso, provavelmente não sabia dizer o que estava acontecendo dentro da cabeça dela…

Seus olhos fixaram os meus, e logo ela segurou meu rosto, e me abraçou.

— Não sei o que eu vi direito, tudo isso está tão confuso na minha mente… o que aconteceu antes… de eu dormir?

Antes dela dormir…

Quanto tempo faz isso? Quanto tempo faz desde que ela dormiu?

Na minha mente fazem anos, ou até mais do que isso.Antes que tudo isso pudesse acontecer, estávamos lutando contra alguém… mas quem?

— Não lembro ao certo… estávamos lutando contra… alguém.

— Disso eu acho que eu lembro, mas minhas memórias estão sendo muito estranhas, eu me lembrei de estar presa com alguém, e que essa pessoa me mostrou tudo… da minha vida.

— Sério?

— Sim…

Ela me abraçou mais forte.

— Dessa vez eu não vou te perder.

Não quis questionar de início, o choro de Shiori dizia que ela não estava afim de… entender o que estava acontecendo. 

Mas foi naquele momento que eu percebi algo.

O seu choro.

Seus sentimentos.

Desde que lutamos contra a Sarah, ela não demonstrava nada, não entendia o que estava acontecendo com ela naquele momento. Meu peito se sente estranho, mas ainda sim segurei sua cabeça e abracei.

Não queria questioná-la de nada, talvez só de ficar em silêncio fosse uma grande ajuda pra ela.

 

Um tempo se passou, e logo assim ela ficou em silêncio ainda.

Aos poucos eu expliquei o que aconteceu enquanto ela estava desacordada. Sua reação, por mais real que fosse… ainda era confusa.

Ela olhou pela janela, viu que as pessoas estavam preparando o pré-evento.

— Então você se tornou rei de um reino, e mais do que isso, está para dançar com sua rainha? Quem será?

Ela ri, mas logo percebe que eu estava sério enquanto olhava pra ela.

— Ai meu deus, sou eu?

— Bem… não queria tentar com outra.

— Tem a Yukiro!

— Não… ela é minha irmã.

— Mas ainda sim, ô bobão.

— Ela pode saber dançar e outras coisas do tipo, mas eu queria fazer isso com você!

— Eu acabei de acordar de um tempo indeterminado… e você quer me botar pra dançar?

— Eu te seguro, sei lá…

— Ai ai… meu deus, acho que vou voltar a dormir por mais um tempo.

— Espera!!

— Estou brincando.

Ela tentou se levantar da cama, e quase tropeçou, mas agora conseguia aguentar o peso do próprio corpo. Então ela segura meu corpo e me abraça.

— Shi… ori…

Logo abracei a garota, mas meu corpo me deixou paralisado por um tempo longo… senti como se alguém estivesse me impedindo de fazer isso.

Algumas lágrimas caíram dos meus olhos, e logo tentei me segurar, mas já era tarde.

— Aconteceu alguma coisa?

Ainda parece que é um sonho, se passou tanto tempo sem você… parecia que o mundo ia acabar a qualquer momento.

— Entendi… então você ainda é assim.

— Assim?...

— Nada. 

Ela mexeu uma de minhas mãos até sua cintura, e logo colocou a sua mão no meu ombro… seguramos as outras mãos, e ela começou a dar pequenos passos pra lá… e pra cá.

Depois… percebi que ela estava tentando dançar comigo, meu corpo rapidamente se envolveu nisso e começou a guiar a dança no lugar dela.

A mão que estava em sua cintura logo se envolveu em minhas costas, e com a mão que estava no meu ombro, se envolveu em sua cintura.

Ela se aproximou, logo se afastou.

Seu cabelo se alisou como se fosse nada, e assim se soltou. Levantei minha mão e logo ela girou, se aproximou de costas com seu corpo maravilhoso e passou por mim… deixando sua mão fluir no ar, novamente isso aconteceu, mas para o outro lado.

Então, girou três vezes, se aproximou e deixou seu corpo cair, a segurei como uma princesa, e aproximei meu rosto… dando um beijo leve.

— Então eu só tenho que deixar meu corpo fluir que você irá me levar para todos os lugares? — pergunta Shiori.

— Sim… eu acho?

Ela dá pequenas risadas, e logo olhou para a janela… observando a cidade que ainda estava em construção.

— Então… o que aconteceu?

— Eu acho que me decidi…

Sabia que chegaria a hora de contar a ela a verdade por trás das coisas que estão acontecendo dentro da minha vida, todos conseguiram voltar suas memórias a sua vida passada por conta da morte de uma certa pessoa que não consigo me lembrar…

Mas eu?

Nada aconteceu.

— Eu tenho que te falar algumas coisas, Shiori.

Pelo menos a única coisa que eu sei o que aconteceu na minha vida.

 

Desde que nasci, percebi que havia algo estranho em mim, e isso… mais do que qualquer coisa, me deixou paralisado de medo, nos espelhos… sempre há outra pessoa.

Nunca me vi em um espelho, a aparência sempre foi a mesma, mas a forma que aparecia… era outra pessoa… foi aí que eu descobri uma coisa.

“— Eu sabia que um dia iriamos nos conhecer…”

Essa voz estranha, que parecia com uma minha… me disse um dia que iria me conhecer, e que se sentiria horrível ao saber o que se tornou o que ele tanto tentou proteger.

Naquele dia eu vi sangue em minhas mãos.

Não era meu.

Não era do meu pai.

Não era de ninguém.

Era sangue.

“— Seja forte… que um dia você usará um poder que nem mesmo conhece.”

E eu sabia que ele estava certo disso, em algum momento a minha vida se tornaria algo que nem conseguiria suportar, uma vida que nem… conseguiria viver.

Eu sabia que…

Algo estava pra acontecer, mas como uma criança inocente que eu era, achava que algo bom estava vindo.

Essa voz misteriosa que não saia da minha cabeça, estava comigo em todos os momentos, não me lembro de nada… só que ela falava que…

“— ISSO TUDO É UM SONHO, ACORDE.”

E tudo parecia um sonho.

A reação das pessoas, o mundo, tudo parecia um sonho.

Algo que nunca veria de novo, pessoas que já vi antes, mas que são diferentes.

Minhas memórias sempre foram uma bagunça.

Mas naquele dia eu sim fiz o que eu queria.

Desde o início.

Eu sabia.

“— Adeus, ‘eu’.”

Eu sabia que estaria dizendo um adeus para ele.

Mas que na verdade era um…

“— Então você acordou.”

Uma espécie de boas-vindas, bem ruim…

Ele buscou a vingança.

“— Eu vou matar essa pessoa que nós chamamos de pai.”

Eu busquei entender.

“— Espera, por que você faria isso? É o nosso pai…”

Meu entendimento veio só a partir de agora.

Depois de muito tempo que fui buscar um objetivo em certo, naquela época… ou até agora mesmo, usei o objetivo das outras pessoas como uma desculpa para tentar seguir em frente, e por esse mesmo motivo que não consigo ao certo entender o que estava acontecendo dentro de mim.

Era estranho que pra minha pessoa, que não tinha nada para entender, estava vendo alguém tentar matar aquela pessoa que estava tentando entender.

Meu pai é um mistério, até mesmo pra mim.

Mas mesmo sendo esse terrível mistério, eu queria entender. Mesmo que fosse complicado ou até mesmo difícil, eu queria entender. Ele ao menos deve saber o que está acontecendo dentro da minha mente.

Eu acho.

Foi por isso que quando eu era pequeno, fiz um trato com esse “eu”.

— A partir de agora, tudo o que eu falar, você entenderá… lá no futuro, a gente vai se ajeitar.

Não nos ajeitamos como deveria ser, mas aceitei.

Dentro de mim tem alguém.

Um monstro.

Um humano.

Alguém que está buscando uma vingança.

Alguém que está tentando entender o que é vingança.

Mas que mesmo assim quer matar aquela pessoa.

Mas que mesmo assim… quer fazer aquela pessoa sofrer.

Eu queria entender, pra ser honesto.

Pelo menos é o que eu pensava antigamente, que queria entender.

Os sinos da cidade tocam, demonstrando que algo estaria acontecendo… esse era o festival que estava para começar.

— Bem, depois de tudo isso, é melhor que a gente tire um pequeno descanso. — diz Shiori.

— Será que… é bom mesmo?

— Não vejo motivos para não ser, vamos dançar… ficar mais quietos, assim a gente pode pensar nas coisas depois, não vamos estragar todo o evento que a cidade está preparando.

Ela seguiu até a porta, e logo eu tentei para-la… mas não consegui, senti como se não tivesse que fazer alguma coisa para pará-la.

Logo andei em direção a Shiori, meu coração estava um caos por tudo isso, pensar dessa maneira faria eu enlouquecer um dia desses.

Mas “ele” sempre estava em todos os cantos que eu olhava, simplesmente era a minha sombra que até mesmo me perseguia.

— AH! ESPERA!

Shiori parou de repente.

— O que aconteceu?

— Eu esqueci que precisava vestir alguma coisa!

— Ah… acho que a Yukiro deixou um vestido longo pra você.

— Entendi… estou indo usar!

Ela não se importava comigo estando no mesmo comodo que ela se trocando, mas por respeito decidi olhar para o lado.

— O que está tentando desviar desse olhar aí?

— Acho que não posso te ver dessa forma…

— Tá com vergonha do meu corpo? Vamos lá, você pode sim ver, não há problemas, afinal de contas somos namorados agora, quem sabe um dia seremos noivos, ou até mesmo…

Ela parou…

— Será que um dia vamos nos casar? — perguntei, de alguma forma para provocar.

— Claro que vamos!

Ela continuou a se trocar, o vestido que tinha era um pouco exagerado, vermelho e lindo… ela se vestiu, arrumou o cabelo, o deixando completamente pra trás… e logo assim, me olhou.

— Eae, como ficou?

— Perfeição…

Ela sorriu, segurou minha mão e assim me puxou pra fora de casa, de uma forma, a festa estava quase começando, mas as pessoas que estavam barulhentas, agora estavam em silêncio, me olhando andando pra lá e pra cá com a Shiori.

Muitos deles não chegaram a saber quem era a pessoa que estava me acompanhando, mas do pouco que sabia, entendia que ela estava completamente em coma a alguns segundos atrás.

Ela ignorou o silêncio, e as pessoas paralisadas, questionando quem seria essa linda mulher que estava comigo.

Correu comigo até… o centro.

Subimos o palco e lá olhamos as pessoas do reino inteiro, que devolveram o olhar pra gente, estava um pouco ofegante, mas mesmo assim sorri, de uma forma que não tinha como explicar…

Shiori fez a mesma coisa, e assim olhei para o povo…

— Que comece… o festival.

Alguns minutos depois.

 

Yukiro procurou a gente e quando viu, pulou em cima de Shiori, e derramou lágrimas.

Shiori, sem entender o que estava acontecendo, apenas abraçou a garota perdida e segurou as costas dela.

— Sua idiota, nunca mais suma desse jeito!

— Eu, sumir? Ta doida, só foi um cuchilo.

— Idiota…

— Ehe… bem, depois de toda essa festa, vamos fazer uma reunião pra vocês me contarem o que aconteceu.

Ela sorriu de novo, e assim me segurou pela mão…

— Vamos aproveitar o festival! Temos comida… temos tudo!!!

— Ah… mas não é assim… — uma voz feminina diz.

Emilly se aproxima junto com a Any, ambas vestidas como princesas.

— O rei e a rainha são obrigados a ficar de pé no trono dando benção para os outros.

— O QUE?????

—- É isso aí mesmo.

Yukiro se aproxima das duas que chegaram agora.

— Vocês estão lindas…

— Obrigada.

As duas olharam para o meu lado, e quando percebi o que estava acontecendo, percebi que Shiori estava tentando sair de fininho.

— Calma lá, meu bem… não sai assim não.

— A gente fez uma pequena dança, por quanto tempo eu tenho que fazer isso?

Emilly apenas responde com um joinha e da um sorriso tentando acalmar a situação Shiori em resposta não entende e simplesmente devolve com um sorriso amarelo de ódio.

Mesmo assim puxo Shiori para o meu lado e me movo até o palco que havia no centro da cidade que estava sendo reconstruída. Um vento frio bate no meu corpo, parecia uma temporada de inverno, não sei dizer ao certo…

Mais ou menos nesse tempo seria um verão lindo, mas talvez agora esteja sendo o inverno que sempre conhecemos. O frio é solitário, porém pior que isso, realmente machuca.

No palco, novamente. Uma linda música é interrompida, as pessoas se perguntam o que teria acontecido, e logo tudo se fecha, até que um piano suave começa a tocar, notas lentas, calmas… depois um violino…

Segurei a mão de minha rainha, e deixei com que ela fizesse seu corpo ficar mole para assim conduzir a dança. Segurei sua mão, girei seu corpo e aproximei do meu, seus olhos confusos diziam algo que talvez não iria conseguir entender, mas ainda sim tentei.

Segui a movendo pelo palco, fazendo uma dança clássica, ou seja lá o nome. Muitas pessoas chamam de valsa, outras chamam de clássica, o real nome não sei.

Por um tempo se seguiu, no máximo, uns 10 minutos. Em todo esse tempo meu corpo se sentiu bem, o cheiro do sol no cabelo dela dava uma sensação de como tinha acordado em um dia suave e ensolarado.

Então, aproximei seu corpo como último movimento, e a beijei.

O povo ficou parado por um tempo, tentando processar o que tinha acontecido, logo a Emilly apareceu retirando a gente do palco, e falando no nosso ouvido que isso era algo fora do padrão…

O rosto dela estava envergonhado, enquanto isso, do outro lado do palco, estava a Any que se segurava para não rir, mas quem estragou o silêncio foi Shiori.

Ela riu.

— É sério que você fez isso?

— O que? — perguntei.

— Nada, nada, só foi muito engraçado, ahaha.

— Em?

— Beijar a rainha era algo que sempre ficou fora do padrão por ser íntimo demais aqui dentro desse reino… — diz Emilly.

Meu rosto ficou vermelho, e logo o povo começou a rir e se divertir, o festival estava completo nesse momento, tudo o que eu e a Shiori tínhamos que fazer agora era…

Bem…

Ficar no trono pelo resto da noite.

Me sentei no trono ao lado de Shiori e assim ficamos por um longo tempo.

— Você acha interessante que o céu está lindo? — perguntou a deusa do sol.

— Acho…

— Nesses momentos, ficar com você foi a melhor escolha da minha vida.

— E nos outros momentos?

— Acho que também foi a melhor escolha!

— Ai Deus.

Seria isso… amor?

No meu coração algo palpitava intensamente, fazia meu coração querer falar alguma coisa, talvez fosse amor.

Eu acho que era.

Naquela noite, não ouvi a voz das pessoas, as músicas nem nada.

O que realmente fazia meu coração ficar palpitando, era a Shiori… meu coração só ouvia ela.

— O que vamos fazer depois?

— Deixa que eu te conto… depois. Por enquanto… me permita te ouvir mais.

Aproximei meu rosto do dela, e sem reação, Shiori tentou se tapar, como se estivesse envergonhada, então eu ri.

— TÁ RINDO DO QUE?...

— Nada… nada, eu só achei engraçado a forma que você se escondeu!

E assim… o festival continuou.

 

No dia seguinte acordei de uma forma tensa, tive um pesadelo…

“— Não se esqueça de seu propósito.”

Falei novamente comigo mesmo, em tanta diversão acabei me esquecendo o que estava fazendo… então logo decidi me recuperar, Shiori estava dormindo do meu lado, e sem acordá-la decidi me levantar e seguir em frente para me arrumar.

Mas era tarde, a garota no qual dominava meu coração acabou acordando e se perguntando o que teria acontecido. Não havia resposta, olhei sério e simplesmente tentei sorrir.

— Tá escondendo algo.

— Não, sério, não estou.

— Hideki, eu te conheço há tanto tempo que nem sei contar direito, pode me falar.

— Eu só não sei direito o que fazer, e caso não seja o suficiente? 

— Você não é o suficiente para o quê?

— Para… derrotar o meu pai.

— Entendo… mas a gente nem sabe do que ele é capaz de fazer, como poderemos saber se você é capaz ou não? E outra, hoje você vai ter que me ensinar tudo de novo, sabe… é difícil tentar lutar quando provavelmente não irei conseguir.

Era isso, primeiro de tudo deveria tentar ensinar a Shiori a como mexer uma espada… depois deveria tentar conversar com ela sobre as coisas.

— Certo, eu te ajudo… vamos se arrumar, comer e assim treinar. Depois chamamos todos para uma reunião do que iremos fazer.

— Claro!

Só assim poderei entender o que vai acontecer daqui pra frente.

 



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