Volume 6

Capítulo 249: Finalmente, ação

Um dia se passou desde que aprendemos um pouco mais sobre as Serpentes de Midgard.

Ainda estávamos aproveitando a vida. Fran havia tomado um banho na noite anterior, então estava de excelente humor por toda a manhã.

Só para registrar, fizemos questão de drenar o banho e enchê-lo de novo depois que Fran tinha terminado. De jeito nenhum eu deixaria um monte de caras mergulhar na mesma água que ela acabara de usar.

Fran passou a maior parte do dia olhando para o horizonte, observando os peixes e golfinhos que passavam e relaxando em seu quarto sempre que ficava entediada.

Mas, naquela tarde, nossa pacífica viagem de barco enfim chegou ao fim.

O toque de um sino alto encheu nossos ouvidos. Ele tocou quatro vezes, parou e repetiu. O padrão de quatro toques era um sinal cujo significado memorizamos com antecedência. Ele avisava que o navio estava sendo atacado por piratas.

"Piratas!?"

— Indo!

Au!

Fran me agarrou e correu para o convés. Lá, ela encontrou o capitão, que estava no meio da emissão de ordens para sua tripulação. Ele mandou os marinheiros se movimentarem para que estivessem em posição para a batalha que estava por vir.

Mordred parecia estar no convés desde o início, pois ele e seus homens estavam olhando para algo ao norte.

— Você está aqui? Isso foi rápido. Estou impressionado.

— Piratas, onde?

— Eles estão bem ali.

Sem dúvidas conseguimos distinguir algo para o qual Mordred estava apontando, mas estava longe demais para conseguirmos detalhes significativos. Não podíamos nem dizer se era um navio, muito menos um navio pirata.

— Aqueles, navios piratas?

— De forma alguma eles não seriam. Os malditos têm bandeiras piratas içadas.

Jerome parecia muito confiante. No começo, pensei que ele era de alguma forma capaz de enxergar muito longe, mas após uma inspeção mais detalhada, percebi que ele tinha um telescópio na mão. Ele claramente o usou para examinar o navio que se aproximava.

— Possibilidade de escapar?

— Duvido disso. Aqueles modelos são rápidos, navios pequenos, e o vento não está nos fazendo nenhum favor neste momento. Eles provavelmente vão nos alcançar em uma hora.

— Então lutaremos.

— Vamos precisar. Não parece que eles têm qualquer intenção de nos deixar ir embora.

Eu duvidava muito que os piratas pudessem danificar nosso enorme barco com os menores que eles usavam. Eu duvidava muito que eles pudessem embarcar mesmo quando enfim nos alcançassem. Mesmo assim, não havia como eles iniciarem uma batalha que achavam não poder vencer.

— Aqueles navios têm rostros¹ projetados na parte da frente. Eles devem estar planejando romper nosso casco e fazer seus homens embarcarem.

O rostro do navio pirata não era totalmente sólido. Ele tinha uma passagem construída no interior para facilitar a infiltração. A estratégia deles era elaborada sob o pressuposto de que o navio que eles atacariam era maior que o deles.

Eles nos alcançariam com suas embarcações de alta velocidade, nos parariam ao colidir com vários navios diferentes e depois invadiriam o interior de nosso galeão. Era um método muito mais seguro do que o que eu pensava: alinhar seus navios com os nossos e embarcar com uma escada. Como os defensores, achei bastante difícil lidar com a abordagem deles. Tínhamos que nos preocupar com o fato de haver inimigos dentro de nosso navio desde o início.

— Como?

— Basicamente, precisamos recorrer ao básico e afundá-los com feitiços e tiros de canhão antes que eles cheguem até nós.

A coisa que o capitão nos disse era mesmo o mais básico possível que se podia fazer em uma batalha naval. Os piratas precisavam se aproximar se quisessem embarcar em nosso navio. Tudo o que precisávamos fazer para detê-los era garantir que eles nunca chegassem perto o suficiente para nos alcançar. Mesmo assim, senti que uma batalha de proximidade não seria uma ideia muito ruim. Poderíamos apenas espancar os piratas, capturá-los, confiscar seus navios e trocá-los por dinheiro quando chegássemos à costa.

— Afundá-los deve ser a melhor opção, porque as consequências são uma enorme dor de cabeça se fizermos isso.

— Motivo?

— Pense nisso. Precisamos de um lugar para prendê-los até chegarmos à costa. Também precisaríamos alimentá-los e mantê-los vivos. Quanto aos navios, precisaríamos transferir alguns homens para que eles.

— Mas o tesouro do inimigo também afundará?

— A única maneira de eles terem saque em seus navios é se eles acabaram de atacar alguém. Duvido que qualquer um que nos ataque tenha algo valioso a bordo.

— Tá.

O capitão tinha um bom argumento e me convenceu de que estava tudo bem afundarmos os navios piratas que se aproximavam.

— Os únicos navios que valem a pena capturar seriam os maiores. Seus sistemas de propulsão podem valor uma boa nota no mercado. Eles podem render um lucro tão grande que eu diria que valeria a pena atacá-los em vez de esperar pelo contrário.

O tom de Jerome era tão sério que me causou arrepios na espinha. Os navios mercantes realmeeente não deveriam estar atacando navios piratas, deveriam?

— Eu ficaria mais chateado se eles escapassem do que qualquer outra coisa.

Embora o capitão soubesse da maioria dos piratas em torno dessas partes, ele não reconheceu o grupo que estava nos atacando. A bandeira deles era desconhecida.

— Eles devem ter vindo do norte ou do sul. É melhor tomarmos cuidado, eles já lançaram cinco navios em nossa direção.

Mesmo assim, a aparência de um novo grupo de piratas não era motivo de preocupação. O local era quase um ninho de piratas devido a todos os navios mercantes que faziam uso dessa rota. Piratas infestaram o local, mas a maioria dos navios mercantes estava pronta para eles. O ato de atacar era um risco real. Ainda assim, a grande frequência com que navios mercantes passavam pela área ainda os atraía de todas as partes, muitas vezes levando a disputas territoriais e coisas similares.

Várias gangues de piratas maiores meio que dominaram por completo a área. Era muito difícil para uma tripulação recém-chegada criar um nome para si mesma, e era por essa razão que a aparência de um novo bando de piratas não era motivo de preocupação. Afinal, eles acabariam sendo dominados por uma das gangues maiores.

— O envio de cinco navios significa que eles acham que têm uma boa noção de onde estamos e quando podemos reagir. Seria melhor para nós afundá-los.

Eu não tinha certeza de qual era a norma, nem se seria bom nos intrometermos agora, então Fran se voltou para alguém com um pouco mais de experiência em busca de aconselhamento.

— Mordred, o que fazer?

— A batalha começará com uma troca de tiros de canhão. Nós, aventureiros, er, os lançadores de feitiços que temos, começarão a lançar magias assim que chegarmos perto o suficiente para isso.

A explicação do mago da lava fez todo o sentido para mim, pois os canhões do navio tinham mais alcance do que a maioria dos feitiços. Ainda assim, eu senti que isso seria ineficiente. Nós e nossos inimigos tínhamos canhões, então estávamos apenas trocamos danos. Jerome e Mordred nos disseram que sofrer alguns danos era uma conclusão inevitável quando perguntamos a eles sobre isso. Para eles, trocar ataques era apenas uma parte natural das batalhas navais. No entanto, optamos por discordar.

— Ei.

— Sim?

— Deixe comigo.

— Imagino que você tem algo em mente?

— Nn. Vou afundar inimigos.

— Parece promissor para mim, mas você tem certeza que está apta para isso?

— Claro.

— Hum, eu não quero que você faça algo que a coloque em perigo. Ainda temos uma longa viagem pela frente e precisaremos de seu poder para abrir caminho.

Jerome trocou olhares com Mordred, como se silenciosamente perguntasse ao rank B se ele achava que Fran seria capaz de fazer o que estava dizendo, ao que ele respondeu com um aceno de cabeça.

— Os ranks A são fortes o suficiente para serem chamados de desumanos, e ela tem poder suficiente para derrotar um. Eu, eu diria que ela vai ficar bem.

— Tudo bem então, vá em frente. Apenas certifique-se de não danificar nosso navio, tá bem?

— Entendido. Indo agora.

— Indo?

— Nn. Indo afundar inimigos. Urushi.

Au!

— Uoooah! Seu lobo na verdade era gigante?

— Estou... começando a pensar que ele poderia até me derrotar...

Fran ignorou Jerome, que arregalou os olhos de surpresa, e montou em Urushi.

— Vá.

Au!

E assim, os dois saltaram em direção aos piratas, deixando uma série de marinheiros chocados para trás.


Nota

[1] Em náutica, chama-se rostro o prolongamento da proa (ou aríete) dos antigos navios de guerra, utilizado para perfurar o casco de navios inimigos.



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