Volume 5

Capítulo 220: Celldio

— Precisa do quê?

— Me dê sua espada mágica.

Uh, quê? Espere, como é? Este filho da puta estava mesmo tentando extorquir Fran no meio da cidade com todos à nossa volta assistindo?

— Nn? Não. Por quê?

— Porque eu sou um aventureiro rank A.

— O que significa?

— Olha, você sabe o quão incrível é essa espada, certo? Você deve saber que dar ela a alguém como eu é a mesma coisa que fazer um favor ao mundo inteiro.

— Não entendi.

— Tá, tá, agora pare de ser tão egoísta e passe ela para cá.

— Nn?

O fato de ele estar tagarelando sobre o mundo enquanto tentava nos extorquir de forma descarada fez com que Fran congelasse e olhasse diretamente para ele. Fran já teria cortado o cara pela metade se ele estivesse tentando nos enganar, mas podíamos dizer que ele acreditava mesmo no que estava dizendo. O homem estava tão cheio de si que ele pensou que estava fazendo uma boa ação.

— Então ela será sua próxima vítima? Cara, deve ser péssimo estar no lugar dela.

— Então vá impedi-lo!

— Nem pensar cara, você é louco!? Celldio tem merda na cabeça, mas suas habilidades são reais. Espere, por que ele está em Ulmut?

— Tenho certeza de que foi porque Forrund o deixou meio-morto nas ruas quando os dois se encontraram em Barbola.

— Claro, faz sentido. Mas puxa, eu realmente não esperava ter que olhar para aquela cara feia dele depois de fazer essa viagem tão longa.

— Ah, verdade, e não se esqueça, a garota com quem ele está tentando mexer agora é a Princesa do Raio Negro. Tenho certeza de que as coisas não vão acabar do jeito que costumam acabar.

Parecia que o que Celldio estava fazendo agora não era nada fora do normal para ele. Como resultado, muitos dos aventureiros ao nosso redor começaram a lançar olhares de pena para Fran.

— Pagarei o quanto você quiser. Vou te dar tanto dinheiro que você poderá se aposentar. Tenho certeza de que se aventurar não é o tipo de negócio de que uma garotinha como você quer fazer. E quanto a mim? Vou fazer bom uso dessa sua espada.

O espadachim bateu no peito enquanto falava, quase como se dissesse que ela podia deixar toda a sua aventura para ele.

— Tenho certeza de que é o que sua espada também quer.

— Não é possível.

— Você diz isso, mas eu? Eu sei. Eu sei como as espadas se sentem. Eu posso entendê-las. Essa espada não acha algo agradável que uma garotinha esteja a empunhando. Vamos lá, por que você está hesitando? Estou lhe dando uma chance de parar de se aventurar, uma chance de se transformar em apenas mais uma garota.

— Já satisfeita. Cuide da sua vida.

— Puxa vida, você com certeza é ignorante. Deixe-me adivinhar, você simplesmente não quer dar a espada a outra pessoa porque está sentimental? Sabe, eu reconhecerei que isso tem algum valor, mas você não está pensando direito. Que vida triste você deve ter levado para não poder considerar todo o benefício que dar sua espada a mim te trará. Acho que isso deve significar que precisarei puni-la um pouco para fazer você entender. Eu sei que você está vendo um chicote, mas não se preocupe. Eu só vou te chicotear por amor.

O que mais me incomodou em tudo isso foi que Celldio ainda não falara uma única mentira. O Princípio da Falsidade julgara tudo o que ele dissera como algo que ele acreditava ser a verdade.

O pensamento lunático de que eu queria que ele me usasse, que me entregar a ele beneficiaria o mundo como um todo, e que chicotear uma jovem por uma questão de disciplina era um ato de amor.

Não pude deixar de sentir nojo a ponto de querer vomitar, apesar de nem sequer estômago eu ter. Ele era um patife maldito. Ele não parecia louco nem excêntrico. Você realmente não podia discerni-lo de qualquer outra pessoa, quanto mais descobrir o quanto sua mente estava ferrada com apenas um olhar. Mas ainda assim, algo nele apenas parecia... errado. Preferia que um goblin me usasse do que ele. Ele me enojou tanto que senti repulsa fisiológica.

"Deus, ele está me enojando tanto que acho que estou ficando arrepiado."

Sede de sangue estava começando a surgir de dentro de Fran toda vez que Celldio abria sua boca. Parecia que ela enfim superou o choque inicial e percebeu que ele queria me tirar dela.

"Como matar?"

"Uhhh, vamos tentar não partir para a violência ainda."

Para ser honesto, assassinar o retardado e seu grupo seria uma tarefa simples. Eles eram muito mais fracos do que nós. A única coisa que me fez parar Fran foi o fato de ele ser um visconde. Eu não estava com vontade de lidar com as consequências que resultariam de fazer essa escolha.

Eu considerei recuar, mas desisti, porque senti que isso não acabaria com o incidente. Celldio apenas continuaria a nos perseguir e nos incomodar. Como resultado, eu não conseguia descobrir o que fazer.

— Agora, que tal entregá-la? Posso entregar-lhe ainda mais dinheiro se isso não for suficiente, apesar de dever ser. É uma quantia que permitirá a uma plebeia como você sobreviver por alguns anos.

A quantia que ele preparou foi de 500 mil Gorudo.

Meros 500 mil Gorudo.

Minha mente quase apagou. Na verdade, eu não conseguia entender o que ele estava pensando.

Ele realmente não entendia o quanto eu valia? A quantia que ele estava pagando não seria suficiente para comprá-lo nenhuma espada mágica decente, muito menos eu.

— …

Sua oferta foi tão ridícula que fez Fran ficar em silêncio por uma mistura de surpresa e raiva. Celldio parecia ter interpretado o dito silêncio como o fato de ela não achar a oferta dele alta o suficiente, o que o levou a responder de maneira azeda.

— Então você não acha que isso é o suficiente...? Você sabe que a obsessão por dinheiro transforma sua vida em nada mais do que uma confusão, não sabe?

Ele estava dizendo algo que você esperaria que um adulto razoável dissesse a outro, mas também estava aproveitando o ditado e distorcendo-o de uma maneira que o fizesse servir a seus propósitos.

— Tá legal, que tal isso então? Vou fazer de você uma das minhas concubinas.

"Quê? O qu-que diabos esse filho da puta acabou de dizer!?"

— Sabe, seu rosto poderia ter algumas melhorias, mas está tudo bem. A honra que vem com essa posição deve valer a pena, não concorda? Eu venho de uma linha de marqueses, então você terá uma boa vida, mesmo que seja apenas uma concubina. Esse tipo de recompensa faz toda essa troca valer mais a pena para uma mulher-fera como você, não estou certo?

"… … … … … … … …"

— Então, o que você me diz? Você será minha concubina e basicamente receberá dinheiro infinito. Parece bom, não parece?

Celldio não tinha dúvidas de que estava fazendo um favor a Fran. Ele estava, sem dúvidas, esperando que ela o agradecesse, porque ele pensava que tinha acabado de lhe dar as "melhores condições possíveis".

Ahahahahahahahahaha.

Então esse conquistador barato e pedófilo não apenas quer me afastar de Fran, como também transformá-la em uma de suas concubinas?

Por sorte, a própria Fran não entendeu o que o homem estava propondo e acabou por encará-lo com um olhar vazio. Ela teria mais do que explodido de raiva se soubesse do que ele estava falando.

“Mestre?”

"… … … …"

“Mestre? Algo errado?”

"Acho que acabei de ter uma ideia muito boa."

— Nn?

"Tudo bem, repita comigo."

“Entendido.”

Fran começou a transmitir minhas palavras para Celldio.

— Nn. Esta espada escolhe o portador. Não pode ser usada por não qualificado. Se não qualificado tentar usar, morrerá.

— Hahaha! Não precisa se preocupar. Sou especial, um dos escolhidos.

— Vai queimar golpistas, envenenar ladrões, matar vilões.

Nós o falamos várias coisas, então eu esperava que ele se afastasse. Eu estava disposto encerrar o assunto depois de castrar e quase matá-lo se ele estivesse disposto a parar.

— Fmph. Só entregue isso logo.

— É, anda logo.

— Você está sendo rude. Nosso senhor é ocupado e não tem tempo para isso.

O ladino sorriu depois que os outros dois companheiros de Celldio encorajaram Fran a me entregar.

— Milorde¹, acho que seria melhor apenas tirar a espada dela, mesmo se você tiver que fazê-lo através da força. Parece que ela é incapaz de ver a razão.

O fato de o visconde escutar as palavras do ladino e se aproximar enquanto agia todo metido a besta me fez sentir como se o homem estivesse manipulando o mulherengo pedófilo.

— Isso é verdade. Ela logo vai me agradecer, mesmo que não o faça imediatamente.

Ele sacou a arma e começou a emitir uma aura de sede de sangue, como se demonstrasse a Fran o que o destino lhe reservaria se ela não me entregasse.

Eu tinha certeza de que o grupo de Celldio assistiu às lutas de Fran, então não entendi direito por que eles pensavam que poderiam me arrancar dela através do uso da força. Parecia que eles estavam cheios de si ou supuseram que ela não machucaria Celldio porque ele era um nobre.

— Apresse-se e entregue-a.

— Tem mesmo certeza?

— Claro que tenho certeza que quero! Agora me passe a espada garota!

Parecia que ele queria me tirar de Fran, independentemente do fato de termos avisado que ele poderia morrer.

Bem, acho que isso significa que a vida dele estava perdida. Eu não poderia fazer Fran parecer uma mentirosa, e, antes de mais nada, já estava meio puto. Essa era a oportunidade perfeita para resolver esses dois problemas ao mesmo tempo.

Os aventureiros que estavam por perto poderiam servir como testemunhas para confirmar que Fran havia avisado Celldio e que a culpa de sua morte era dele próprio.

"Sinta-se livre para me entregar a ele quando quiser."

— Entendido. Não serei responsável pelo resultado.

— Está tudo bem. Você me dando a espada é tudo o que importa.

E assim, Fran me entregou a Celldio. Ele me tocando me fez sentir uma onda de nojo percorrer meu corpo, mas me forcei a suportar isso por enquanto.

Parecia que ele me segurando não estava causando a ativação da punição da Deusa. Isso só deveria acontecer assim que ele me equipasse. Era bom saber disso, pois significava que poderíamos pelo menos permitir que outras pessoas me segurassem, desde que não tentassem me usar como arma, o que, por sua vez, significava que poderíamos ter ferreiros lidando comigo.

Ele teria me equipado automaticamente se me guardasse no coldre ou tentasse me usar, mas, no momento, ele estava apenas me segurando, assim, a retribuição divina da Deusa não seria ativada a menos que ele tentasse me equipar de forma consciente. Foi assim que funcionou quando eu conheci Fran, ela não foi capaz de se tornar minha portadora até que se esforçou para pensar sobre isso.

Senti um pouco de fluxo de energia mágica de Celldio vindo para mim. Ele estava tentando usar sua habilidade Controle de Arma antes de me equipar.

Contudo, ele não conseguiu superar minha habilidade Anulação de Controle e acabou falhando. Eu estava planejando roubar a habilidade se começasse a senti-lo tomando o controle de mim, mas, felizmente, não precisaria fazer isso.

Toda a energia mágica que ele derramou em mim acabou se dispersando.

— Hum? Por que ela não está…

Celldio entendeu que não havia conseguido me controlar, mas não chegou à conclusão de que sua habilidade havia falhado e, por isso, se esforçou um pouco mais para conseguir fazer a habilidade funcionar. Eu estava bem com ele não me equipando. Eu meio que queria vê-lo ferido, mas também estava querendo ser aquele que ia fazer isso.

A primeira coisa que fiz foi invocar a Lâmina Elemental, especificamente com o elemento das chamas. De forma natural, usei a habilidade Feitiçaria para bombear o máximo de energia mágica possível.

— Uou! Essa coisa está começando a queimar.

Heh, bem feito, seu desgraçado! Adivinha quem não deveria ter assumido que sua habilidade Controle de Arma funcionaria?

O rosto de Celldio se torceu em uma careta como resultado do repentino influxo de calor.

— Qu-quê!? Por que essa espada não me obedece? Eu deveria ser um dos escolhidos!?

MUDA, MUDA, MUDA, MUDA, MUDA²!

O fato de ele pensar que era especial estava me fazendo rir. Sua idade mental era algo para ser ridicularizado.

— Qu-que diabos!? Não posso soltá-la!

Segurei as mãos de Celldio com a Telecinesia para impedir que ele escapasse da minha ira. Concentrei toda a força que teria usado para me catapultar em seus braços a fim de mantê-los em posição, então não havia como ele escapar, mesmo depois de considerar que ele era um aventureiro rank A.

— Gaah!

Ele não podia me soltar, mesmo que sua pele estivesse começando a queimar. Comecei a assediá-lo ainda mais quando ele começou a entrar em pânico. Ou seja, mudei a forma da minha guarda e punho e esfaqueei as duas na mão dele, enquanto também usava a habilidade Presa Venenosa Mágica.

— Gaarhhh!

Seu rosto ficou com um tom azul profundo quando o veneno começou a circular por suas veias. A avaliação dele permitiu que eu confirmasse que seu estado mudou para "gravemente envenenado". O veneno não havia funcionado com nenhuma das pessoas com as quais lutamos nos últimos tempos, então fiquei feliz por enfim ter encontrado uma chance de fazê-lo brilhar.

— Mi-minha habilidade Connoisseur não me contou sobre isso!

Connoisseur era um tipo de avaliação, mas só funcionava em itens.

Isso explicava por que ele estava disposto a fazer essa aposta. Ele viu a página falsa que eu tinha preparado e chegou à conclusão de que eu não tinha os recursos que Fran havia descrito.

— Milorde!

A maga lançou Cura e Antidote em Celldio.

— Guaaaahh!? Anna, anda logo e me cure!

— Minha magia não está funcionando…! Karam, poções!

— T-tá!

Karam, o ladino, tentou usar várias poções de cura para restaurar Celldio, mas suas ações foram inúteis. Eu ainda estava emitindo calor e continuando a envenená-lo. Todo o dano que ele curou seria imediatamente reaplicado.

A mistura de chamas e veneno forçou o cavaleiro a se lembrar das palavras que Fran havia falado antes.

— Se afaste! Arggg! Por que não posso soltar essa espada? Por quê!?

Sendo mais específico, Celldio lembrou da palavra "morte". Uma onda de pânico tomou conta do homem e tingiu seus gritos de medo.

Mas isso não importava. Essa era a sua recompensa ao tentar fazer de Fran sua concubina.

O visconde achou que suas próprias ações eram justas, mas, verdade seja dita, ele não estava fazendo nada além de extorquir pessoas e roubá-las. Ele era um criminoso que cometeu esses atos repetidas vezes. Havia uma boa chance de ele também usar a influência de sua família para sequestrar mulheres que, de outra forma, não estavam dispostas a aceitá-lo.

Eu sabia que ele também poderia ser uma vítima, uma pessoa enganada por seus companheiros. Ele era um viciado em elixir, o que significava que alguém poderia ter feito ele perder a cabeça com o abuso de drogas, mas eu não me importava. Não me importava com as razões que ele tinha, nem se ele próprio tivesse sofrido.

Eu não tinha nenhuma intenção de perdoá-lo.

— Gaaaaahhhh!


Notas

[1] Milorde é uma forma de tratamento dada aos ingleses de berço nobre.

[2] Cada instância de "muda" significa: "O que você está fazendo é inútil.", referência a Jojo.



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