Volume 5

Capítulo 219: Outro grupo se aproxima

— Fermus. Obrigada.

— Sem problemas. Eu só decidi ajudar porque, por acaso, algo semelhante aconteceu comigo no passado.

— Parecido? Também quase enganado pela Guilda dos Magos?

— Não exatamente, mas tive minha parcela de experiências desagradáveis porque atraí muita atenção.

Ao que parecia, Fermus, como nós, se destacou desde que era jovem. Ou seja, ele conseguiu ganhar um dos torneios de Ulmut em sua juventude.

Como resultado, ele foi abordado por magos, mercenários, nobres, comerciantes e organizações clandestinas. Os indivíduos e grupos que tentavam solicitá-lo frequentemente se recusavam a recuar, mesmo que ele os negasse, e às vezes até tentavam recorrer à força.

— Tenho certeza que o mesmo vai acontecer com você.

— Como lidar com isso?

— Minha abordagem era apenas fugir. Andei de um lugar para outro a fim de impedir que me fizessem acompanhar suas demandas.

O método de enfrentamento do caçador de dragões era muito bom. Não havia como as pessoas que quisessem solicitá-lo serem capazes de acompanhá-lo, ainda mais se ele tivesse cuidado em cobrir seus rastros.

— No entanto, acabei contando com Dias para resolver meus problemas por mim.

— Dias?

— É. Nós dois sempre nos demos bem, em parte porque estamos na mesma faixa etária. Ele já havia se tornado mestre da guilda naquela época, então eu apenas aceitei me chamar de seu assessor para que pudesse usar seu nome e reputação para negar as pessoas que se aproximavam de mim.

A posição de Dias como mestre da guilda fez com que a simples menção de seu nome fosse suficiente para fazer com que a maioria dos nobres menores recuasse. O apoio de Dias tornou a vida de Fermus muito mais fácil.

— Parece-me que você chamou ainda mais atenção do que eu, então pode acabar tendo que lidar com pessoas realmente difíceis. Estou confiante de que você será capaz de esmagar todos os sindicatos criminosos gananciosos que virão atrás de você, mas o mesmo não pode ser dito para a nobreza. Lidar com eles da maneira errada pode levar a algo que acabará se transformando em uma disputa internacional.

A última parte que Fermus citou parecia algo pessoal e, como resultado, foi muito convincente.

— Experiência em primeira mão?

— Hahaha. Pois é, eu entrei em uma pequena briga com um nobre de outro país e acabei deixando meu nome nos registros dele.

— Só por causa da recusa?

— Bem... ele estava agindo de maneira um pouco exigente para o meu gosto, então acabei “interagindo” com ele e com cerca de 50 de seus subordinados…

— Morto?

— Não, não, eu apenas fiz com que eles precisassem consultar um médico sem demora. O problema surgiu com o fato de a pessoa em questão estar relacionada à realeza.

É, eu podia entender por que isso acabaria irritando um país inteiro. Não havia como eles deixarem algo como isso acontecer e não reagirem a menos que quisessem perder o respeito.

— Como lidou com isso?

— Ó, sabe, não foi nada demais. Tudo o que fiz foi subjugar e capturar todos os que foram atrás de mim antes de enfim ter um encontro cara a cara com o rei da nação, apesar de ter sido uma reunião agendada no meio da noite.

Acho que isso significa que ele o ameaçou, não? Quer dizer, eu entendia que ele era forte, mas essa situação não soava como algo que o caçador de dragões, ou qualquer um, poderia se safar.

— Sendo sincero, isso só foi possível porque o país era fraco e sem influência. Até seus cidadãos mais poderosos eram mais fracos que eu. Não havia como eu conseguir fazer um truque como esse se confrontasse um país como o Reino de Kranzell.

— Entendo.

— Então, o que eu estava tentando dizer é que a melhor coisa que você poderia fazer é recorrer à Guilda dos Aventureiros e a pessoas como Amanda, em quem você pode confiar, se tiver algum problema.

— Nn. Por que Amanda?

— Ó, acho que você não deve saber. Muitas das crianças que crescem nos orfanatos de Amanda acabam se tornando aventureiros notáveis. Dizem que ela seria capaz de reunir um exército poderoso o suficiente para varrer um pequeno país do mapa, desde que fizesse uso de suas conexões.

Que diabos!?

As conexões de Amanda eram muito mais impressionantes do que esperávamos que fossem.

— Amanda, incrível.

— Ela tem um apoio incrível e é uma força a ser reconhecida, mesmo que ela não se incomode em se aventurar no campo de batalha. Ela é o principal motivo pela qual os raidosianos não entraram em confronto com Kranzell.

Eu não tinha como saber como Amanda administrava os orfanatos que ela montara em todos os lugares, ou o que ela ensinou às crianças que os frequentavam. Contudo, eu ainda fui capaz de entender por que seria razoável para as crianças que ela criou admirarem ela e sua escolha de carreira. Minha suposição era que ela devia oferecer pelo menos um pouco de treinamento, porque se isso fosse verdade, faria tudo ter sentido. Sua instrução levou as crianças que ela ajudou a desenvolver bases sólidas, o que, por sua vez, permitiu que elas se tornassem aventureiros excelentes.

— No entanto, acho que você ficará bem, em especial vendo como o País dos Homens-Fera está te apoiando.

— País dos Homens-Fera me apoia?

— Espere, você não estava trabalhando para eles?

— Não.

— Eu notei que você assistiu as finais junto com o Lorde das Feras, então assumi que você estava trabalhando para ele... se não for esse o caso, acho que ele gosta de você.

— De verdade?

— Sim. Acho que a razão pela qual ele estava disposto a aparecer em público com você é porque ele queria impedir que outros países investissem seus interesses em você.

Fermus continuou após um leve aceno de cabeça.

— Meus conhecidos homens-fera disseram-me que a maioria de seus outros compatriotas tem uma impressão bastante favorável de você. Eles também parecem pensar que poderiam aprofundar seu vínculo com o Lorde das Feras se demonstrarem que podem se dar bem com você. Do meu ponto de vista, você já se tornou uma das associadas da nação dos Homens-fera.

Ele estava certo. Do jeito que as coisas estavam indo, eu não ficaria surpreso se acabássemos ficando do lado do País dos Homens-Fera. Nós nos comprometemos a visitá-lo porque o Rei dos Homens-Fera havia conseguido fazer um favor a Fran. Ele também parecia alguém com quem poderíamos interagir daqui para frente.

Era quase como se o Lorde das Feras tivesse orquestrado tudo para que Fran estivesse mais inclinada a fazer uma visita ao seu país. Mesmo assim, senti que ele próprio não era capaz de construir um plano tão meticuloso. Provavelmente, isso foi derivado dos conselhos dados por Royce ou Roche.

Dito isto, o relacionamento que compartilhamos com o Líder dos Homens-Fera era mais parecido com o que se concentrava no ato de dar e receber, no qual trocávamos benefícios mútuos.

— Opa. Fiquei um pouco envolvido nessa conversa com você. Preciso ir.

— Obrigada.

— Dê uma passada na minha loja, se você decidir dar uma olhada em Barbola. Comecei a pesquisar sobre uma receita que envolve o uso de curry.

— Grandes expectativas.

— Magnífico. Vou me certificar de atendê-las.

Fermus fez uma última reverência antes de sair.

"Sabe, eu prefiro não continuar encontrando pessoas como os magos que acabamos de conhecer."

— Nn.

Eu quase senti como se tivesse nos agourado, pois uma pessoa mais uma vez nos chamou assim que chegamos ao lugar em que encontramos Grakma e seus capangas.

— Ei, você garota. Espere.

— Nn?

— Sim, estou falando com você.

Um grupo de quatro pessoas se aproximou de nós, com um homem vestido como um espadachim assumindo a liderança. Sua aparição fez com que todos os aventureiros ao nosso redor reagissem e começassem a murmurar um para o outro.

— Cara, dá uma olhada. É o Celldio.

— Por que ele está aqui?

Tsk. Só de ver o rosto dele eu já fico irritado.

— E eu aqui pensando que hoje seria um bom dia. Bem, lá se foram minhas esperanças.

O clima quase caiu em um instante quando o homem mostrou seu rosto. Parecia que ele era o tipo de pessoa que a maioria dos aventureiros não gostava.

Sua aparência não era o que parecia ter causado repulsa, já que ele se vestia perfeitamente e parecia o que se esperaria de um cavaleiro.

 

Nome:

Celldio Lesspus

Idade:

30 anos

Raça:

Humano

Classe:

Cavaleiro da Espada Mágica

Level:

40/99

Condição:

Normal

HP:

409

MP:

398

Força Física:

207

Resistência:

199

Agilidade:

167

Inteligência:

201

Mágica:

190

Destreza:

167

HABILIDADES

Intimidação Lv3 ⋯ Encurtar Encantamento Lv3 ⋯ Montar a Cavalo Lv7 ⋯ Resistência ao Medo Lv4 ⋯ Técnicas com Espada Lv7 ⋯ Esgrima LvMáx ⋯ Esgrima Divina Lv2 ⋯ Extorsão Lv6 ⋯ Comando Lv4 ⋯ Magia de Purificação Lv2 ⋯ Resistência a Anormalidades Mentais Lv5 ⋯ Resistência a Dano Mental Lv5 ⋯ Lâmina Elemental Lv6 ⋯ Detecção de Magia Lv3 ⋯ Connoisseur¹ Lv8 ⋯ Causa Boas Impressões no Sexo Oposto ⋯ Atração do Sexo Oposto ⋯ Matador de Orcs ⋯ Manipulação de Vigor ⋯ Anulação de Maldição

HABILIDADES ÚNICAS

Controle de Arma

TÍTULOS

Matador de Orcs ⋯ Conquistador ⋯ Visconde² ⋯ Extorquista ⋯ Viciado em Elixir ⋯ Aventureiro Rank A

EQUIPAMENTOS

Espada de Pégaso³ Espada de Basilisco Armadura da Luz da Prata Sagrada Manto Hexagonal do Rei-Cervo Anel Dimensional Pingente da Vida

 

Ele era decentemente forte, mas não era excepcional. Os membros de sua equipe estavam na mesma. Todos estavam pelo menos no nível 30 e tinham estatísticas bastante decentes. Eles também tinham um bom equilíbrio, com um espadachim, um escudeiro, um mago e um ladino. Mesmo assim, Celldio, o cara que parecia ser o líder, não parecia digno de seu título de rank A. Ele era mais fraco do que Jean e Colbert, que ainda eram ambos rank B, então não havia nenhum sentido em compará-lo a alguém como Amanda. Quer dizer, ele tinha um status bastante versátil, mas ainda assim...

Celldio falou com uma voz pomposa enquanto eu olhava e pensava sobre suas estatísticas.

— Você.

Sua voz estava completamente desprovida de cordialidade. Não foi preciso ele dizer mais do que apenas uma palavra para eu entender por que nenhum dos outros aventureiros gostava dele. O cara era com certeza um idiota total, e do tipo que desprezava outras pessoas.

Suas habilidades e títulos pareciam referenciar o fato de que ele era do tipo que você não gostaria de ver perto de sua filha. Isso, combinado com seu rosto bonito e o fato de ser um visconde, me fez querer que ele não se associasse a Fran.

"Esse cara parece ser um nobre desprezível. Deve ser melhor você simplesmente ignorá-lo e seguir em frente."

“Entendido.”

Planejamos passar por ele e sair de forma despreocupada, mas falhamos.

— Ei! Espere!

O mulherengo se colocou no caminho de Fran antes de continuar a chamá-la de maneira arrogante. Olhá-lo de perto me fez perceber que ele não era apenas um cara bonito, mas um cara incrivelmente bonito. Como resultado, comecei a odiá-lo ainda mais.

— Você é Fran, não é? A Princesa do Raio Negro?

Ele apenas a chamou porque sabia quem ela era.

Rank C. Fran.

— Bom, então encontrei a pessoa certa. Não acho que preciso me incomodar em me apresentar, mas vou fazer isso mesmo assim. Sou Celldio Lesspus, um aventureiro rank A.

— Nn? Nunca ouvi falar.

— O quê? Você não pode estar falando sério, pode?

— Nn.

— Hã. Você realmente não faz suas pesquisas, não é?

Uau, que babaca. O cara assumiu na mesma hora que não fizemos pesquisas suficientes apenas porque não sabíamos quem ele era. Seu claro excesso de confiança só me fez odiá-lo ainda mais.

Comecei a me perguntar o que ele queria. Não havia como ele chamar Fran e se apresentar se não tivesse algo em mente.

Ele devia estar querendo convidá-la para sua equipe ou pedir que ela fizesse alguma coisa. De qualquer forma, eu não sentia que o que sairia da boca dele seria algo decente.

— Precisa do quê?

— Me dê sua espada mágica.


Notas

[1] Connoisseur é uma pessoa que conhece bem alguma coisa, que é especialista, crítico, esclarecido, em um determinado campo.

[2] Visconde é um título nobiliárquico de categoria superior à de barão e inferior à de conde.

[3] Pégaso, na mitologia grega, é um cavalo alado símbolo da imortalidade. Sua figura é originária da mitologia grega, presente no mito de Perseu e Medusa. Pégaso nasceu do sangue de Medusa quando foi decapitada por Perseu.

[4] Em algumas descrições, como em bestiários europeus e lendas clássicas, o basilisco é considerado uma serpente fantástica. Para a heráldica, o basilisco é visto como um animal semelhante a um dragão com cabeça de galo e de olhar mortífero; em outras descrições, porém, a criatura é descrita como um lagarto gigante (às vezes com muitas patas), mas a sua forma mais aceita é como uma grande cobra com uma coroa. O basilisco seria capaz de matar com um simples olhar. O único jeito de matá-lo seria fazendo-o olhar seu próprio reflexo em um espelho.

[5] Um escudeiro é o menor título nobiliárquico existente. No entanto, é um título de bastante honra, sendo seu titular possuidor de seu próprio escudo de armas. Era, normalmente, alguém que por nascimento teria acesso à categoria de cavaleiro, mas que ainda não a havia alcançado. Esta classificação abrangia escudeiros rasos, escudeiros de fidalgos e escudeiros de linhagens. Historicamente, na sua função, tratava-se de um assessor que tinha como responsabilidade cuidar dos cavalos de um nobre. No seu uso contemporâneo faz menção a um assessor pessoal de um monarca soberano ou membro de família soberana. É um termo análogo a ajudante de ordens, mas este prevalece atualmente apenas no Commonwealth das Nações. É o último cargo, em ordem decrescente de importância, na base da nobreza. Na sua origem, o escudeiro era um cavaleiro em treinamento sempre com armas feitas de madeira. Recebia-se esse título geralmente aos 14 anos, depois de servir desde os 7 como pajem. Os escudeiros eram delegados a um cavaleiro que prosseguia com a educação do jovem. Além de treinamento marcial, os escudeiros se exercitavam em jogos, aprendiam pelo menos a ler, senão a escrever, e estudavam música, dança, canto e a arte da falcoaria. O escudeiro era o companheiro e servente do cavaleiro. Os deveres do escudeiro incluíam o polimento das armaduras e armas (propensas à ferrugem), ajudar seu cavaleiro a se vestir e despir, tomar conta de seus pertences e até dormir no vão ocupado pela porta como um guarda.

[6] Nos jogos de RPG, o Ladino (também conhecido como ladrão) é uma classe de personagens típica de cenários de fantasia medieval, dentre os quais se destacam os jogos Dungeons & Dragons, Pathfinder Roleplaying Game, Final Fantasy, World of Warcraft e vários outros MMORPGs.  Geralmente, ladinos são uma classe de ladrões furtivos. Quando não estão furtando algo estão caçando algum tesouro com seus parceiros. Apesar disso são muito úteis no grupo de batalha como batedores e com seus ataques furtivos. Além disso, sua alta percepção, habilidade em furtar, burlar cadeados e fechaduras e de detectar armadilhas se tornam indispensáveis ao aventurar-se por masmorras e cidades.



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