Volume 5

Capítulo 221: A retribuição da Deusa

— Gaaaaaahh!

O rosto de Celldio se contorceu em agonia. Seus dedos tinham sido queimados ao ponto em que já haviam escurecido, e sua mão estava cheia de buracos, porque cobri meu punho com espigões de veneno.

Apesar disso, minha raiva ainda não havia diminuído. Ele não sofrera o suficiente para compensar o fato de tentar fazer de Fran uma de suas concubinas.

Eles poderiam até a levar à força se ela ainda estivesse tão fraca como na época em que nos conhecemos.

Imaginá-lo usando a força para toma-la me deixou mais do que louco o suficiente para rasgá-lo em pedaços.

Mais uma vez mudei de forma para poder machucá-lo ainda mais.

— Hggiiiiiiihhhh!

Eu fiz os espinhos saindo do meu punho crescerem e se contorcerem como uma criatura viva enquanto eles serpenteavam no braço do homem. Eu me certifiquei de retrair os espinhos pela metade enquanto eles se moviam antes de voltar a espetá-lo.

— Aarrghghghghghgh!

A dor o levou a perder o controle de seu corpo enquanto começava a ter espasmos. Os membros de sua equipe tentaram curá-lo, mas não foram capazes de ajudar.

Para minha surpresa, os servos de Celldio estavam falando sério sobre tentar salvá-lo. Não era preciso dizer que eles tentaram evitar me tocar, mas não estavam particularmente inflexíveis quanto a isso.

De qualquer maneira, senti uma gratificação ao vê-lo derramar lágrimas, ranho e outros fluidos corporais.

Eu queria descobrir o tipo exato de punição que a Deusa administraria, mas o visconde não estava mostrando nenhum sinal de querer me equipar. Eu estava ficando um pouco cansado de deixá-lo me segurar, então comecei a pensar se deveria ou não usar minha Catapulta Telecinética para acabar com ele.

— Merda… merda…!

"Que tal tentar equipá-la?"

Decidi fazer uma última tentativa e comecei a coagi-lo com telepatia. Eu esperava que ele aceitasse o que eu disse ou considerasse os pensamentos que eu transmiti a ele como uma invenção de sua própria imaginação.

De modo natural, eu o abateria na mesma hora se ele escolhesse a última opção.

— Haa… haahh… é isso! Na verdade, eu não tentei equipar essa coisa maldita!

Perfeito.

— Arrrrghhhhhhhhhhhh!

Celldio soltou um uivo de pura dor que provocou arrepios nas espinhas das pessoas ao nosso redor no momento em que ele tentou me equipar. Era de um tipo que ecoava até as profundezas da sua alma.

A visão dele voltando os olhos para o céu, enquanto continuava a gritar, era tão estranha que fez com que seus servos e os aventureiros ao nosso redor congelassem.

A cena persistiu por alguns segundos antes que a pessoa que a causou por fim quebrasse o silêncio.

— Por-por favor, não! Por favor, me perdoe! Argghghgahghgahh!

Rios de sangue irromperam dos olhos, ouvidos e boca de Celldio no momento em que ele soltou esse último grito.

E então ele caiu. Seus joelhos dobraram assim que cederam e fizeram o corpo do homem desabar.

— …

O baque dele caindo de cara no chão foi o último som a preceder um silêncio tão pesado que só poderia ser descrito como sepulcral.

— Nn. Não qualificado.

A única pessoa que permaneceu capaz de se mover foi Fran. Ela caminhou até o cadáver de Celldio, limpou meu punho e me pegou.

Só então a multidão finalmente voltou à vida. As pessoas ao nosso redor começaram a gritar em pânico. Eu não poderia culpá-las. Celldio era um homem que ninguém gostava, e ele também não era tão forte assim, mas mesmo assim, ele era um aventureiro rank A. Em outras palavras, as pessoas ao nosso redor processaram a visão como a de um rank A encontrando uma morte instantânea.

Eu tinha que dizer que a retribuição da Deusa diferia bastante do que eu estava esperando. Meu palpite era que ela o acertaria com um raio que surgiu do nada, já que o castigo que abateria as pessoas que não sabiam que eu estava vinculado a minha portadora parecia ser algo relacionado a um choque elétrico. Mas a visão da morte de Celldio parecia ilustrar que a punição relacionada à morte fazia algo no interior da cabeça do alvo.

— Co-co-co-como você se atreve!? Como se atreve a matar o Milorde!?

— Ignorou conselho dado. Se matou.

— Que-que tipo de desculpa é essa!? Se você sabia que isso iria acontecer, por que não insistiu para que ele parasse!?

O homem que se aproximou de Fran era o que carregava o escudo. Ele parecia um cavaleiro e, para ser sincero, devia ser mesmo. Se eu tivesse que adivinhar, diria que ele serviu os pais de Celldio.

— Queimado, envenenado, morto. Claramente golpista, ladrão, vilão.

— Vo-você se atreve!? Suas palavras equivalem a você insultar a honra da casa dele, a casa de um marquês!

— Só falando a verdade.

— Sua merdinha!

O cavaleiro com o escudo levou a mão à espada como se quisesse indicar que queria lutar contra nós. No entanto, ele foi parado antes que pudesse sacar a arma.

— Isso é o bastante. Todo mundo aqui viu que a culpa foi do visconde e não da garota. Vou ter que intervir e lidar com você se você quiser continuar a culpando.

— Vo-você é cego Colbert!? O Mestre Celldio era um aventureiro rank A e um visconde!

— As ações dela foram o mesmo que traição contra o Estado e a guilda dos aventureiros.

— Bem, eu não sei bem o que vocês viram, mas eu só testemunhei um vigarista tendo o que merecia depois de tentar extorquir a arma dela.

— Ma-mas o que você...

— Você vai mesmo tentar sustentar essa farsa mesmo depois de fugir por todo o caminho para Ulmut com o rabo entre as pernas? Eu poderia até dizer que é provável que foram vocês que instigaram o visconde a fazer isso.

— Chega do seu sermão! Você não pode negar que a menina assassinou o Milorde!

— Isso não é verdade. Ele morreu porque foi atingido pela maldição da espada. Ela o avisou, e o visconde a ignorou, então a culpa é toda dele, e ele só recebeu o que merecia. Você é incapaz de compreender o número incrível de pessoas que serviram para testemunhar os acontecimentos que acabaram de acontecer?

Todos os aventureiros ao nosso redor começaram a olhar para os membros do grupo de Celldio. Eles não pareciam estar dispostos a recuar, então retornaram os olhares e fizeram com que a situação se transformasse em um concurso de encaradas.

Um humor pesado começou a se propagar por toda a área.

— Vocês com certeza gostam de bagunça. Alguma coisa aconteceu?

Dias falou quando saiu da guilda. Parecia que toda a comoção tinha causado ruído suficiente para chegar a seus ouvidos.

O primeiro a responder à pergunta de Dias foi o escudeiro.

— Mes-Mestre da Guilda! Milorde foi morto pelas mãos dela. Administre a pena capital agora mesmo!

— Hum, você tem uma língua afiada para um rank B. Diga-me, você está tentando me dar ordens?

— Qu-que…!? Você está brincando comigo!? Você quer recusar!? Este é um caso de assassinato, que envolve a morte de um dos potenciais sucessores do Marquês Ashtonah! Obedecer às minhas ordens não deveria ser nada menos do que seu dever, aventureiro!

Os nobres eram normalmente considerados de classe mais alta que os membros da equipe da guilda, então parecia que o cavaleiro esperava que Dias acatasse sua ordem.

Mas ele não o fez. Em vez disso, o velho chefe da guilda respondeu com uma risada desdenhosa.

— Embora eu não tenha testemunhado o evento, fui inteirado sobre o que aconteceu. Deixe-me perguntar uma coisa. De quem você acha que é a culpa de tudo isso? Eu gostaria muito que você ponderasse sobre essa afirmação, a digira e cale a boca. Seus pais não lhe disseram que todos os ladrões começam como mentirosos?

— Vo-você... você está me chamando de mentiroso?

— Sim. No entanto, acho que uma pequena investigação seria importante, já que não vi o evento em primeira mão.

Os seguidores de Celldio pareciam interpretar as palavras de Dias como uma oportunidade, pois começaram a apelar para ele e a tentar convencê-lo de que Fran enganara o visconde para matá-lo.

Eu confiava em Dias, mas não tinha certeza de que ele não ficaria do lado do marquês. Ele era um mestre da guilda, membro de uma organização maior que precisava tomar esse tipo de decisão de tempos em tempos. Para esse fim, me preparei para o combate enquanto esperava sua resposta.

— Vou ter que investigar um pouco mais para descobrir a verdade. Colbert, Forrund, vocês dois poderiam levá-los até a masmorra por enquanto?

— Claro.

— Agora mesmo.

Forrund apareceu de repente atrás da equipe de Celldio e fez com que os três indivíduos restantes arregalassem os olhos com medo. Parecia que o que quer que ele tenha feito com eles os deixou com algumas profundas cicatrizes mentais.

— Certifique-se de tirar seus equipamentos, algemá-los e amordaçá-los. Seja o mais rigoroso possível, tendo em mente que eles são ambos testemunhas e suspeitos do assassinato de um visconde.

— Qu-quê!? Você só pode estar brincando! Pare com isto, pare com isto agora mesmo!

— Por que você está deixando essa pirralha livre!? Você deveria pelo menos fazer o mesmo com ela!

— Ééé, isto não é justo!

— Não se preocupem, ela também está presa. No entanto, eu a levarei para o meu escritório, em vez da masmorra, porque a interrogarei primeiro.

Dias cruzou seu braço com o de Fran. Ela não se incomodou em resistir e apenas falou uma frase em seu tom de voz habitual.

— Ó não. Sendo presa.

— Viram? Eu a prendi.

Os membros do grupo de Celldio mais uma vez começaram a se agitar no momento em que viram isso acontecer, mas eles não foram capazes de influenciar Dias de qualquer maneira.

— Is-isto é injustificado! Como você pode nos tratar dessa fo-...

— Injustificado? Eu não acabei de lhe dizer que vocês estão sendo detidos como testemunhas e suspeitos? Por que seria razoável eu deixar um desses dois tipos de indivíduos fora do meu alcance?

— Maldito plebeu! Você se atreve a agir dessa maneira só porque conseguiu uma posição um pouco decente!? Você vai se arrepender disso. Vou me certificar disso!

— Is-isso mesmo! O marquês vai fazê-lo pagar por isso!

— Você pagará por isso!

Forrund levou os três embora enquanto eles continuavam a gritar.

— Eles acham que o marquês vai me fazer pagar? Hah, engraçado. Não sei por que eles acham que vão sair vivos das masmorras.

Dias murmurou algo muito sinistro antes de se voltar para Fran e sorrir com sua maneira usual, enquanto a puxava pelo braço.

— Tudo bem, que tal você me dar um rápido resumo de tudo o que aconteceu?

— Entendido.

— Ah, sim, e você não precisa se preocupar com nada, visto que todos aqui testemunharam o que aconteceu, certo?

Os aventureiros ao nosso redor responderam imediatamente a Dias chamando por eles.

— Com certeza. Sabemos o que aconteceu.

— Não sei quanto a você, mas assistir Celldio morrer acabou de deixar meu dia melhor.

— Não se preocupe, eu testemunharei que tudo foi culpa deles e não sua!

As muitas respostas deles quase pareciam se assemelhar aos aplausos com que fomos recebidos na arena.

— Hahaha, parece que você é tão popular quanto o seu apelido sugere. Contudo, isso não é surpresa nenhuma, dado que as pessoas sempre amaram uma aventureira forte, jovem e bonita. Sabe, eu provavelmente seria deposto se trancasse você junto aos membros do grupo de Celldio.



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