Masmorra do Desejo Brasileira

Autor(a): Alonso Allen & Zunnichi


Volume Único

Capítulo 8: Dúplice

Diante dessas duas rotas possíveis, o grupo não tinha evidências da diferença entre elas. Na verdade, eles não tinham evidência sequer se havia alguma diferença entre elas. 

Apesar da Masmorra parecer uma caverna, claramente não era natural, então talvez todos os caminhos terminassem no mesmo lugar. Além disso, do lado de fora era possível ver seu limite, então eventualmente chegariam ao final de qualquer rota que tomassem.

— Qual lado será melhor? — Alexsander pensou alto.

Lohan encarou atentamente ambas as passagens e falou: — Não sinto diferença de mana em nenhuma das passagens.

— Então as duas passagens estão livres de monstros? — perguntou Minerva.

— Na verdade, a masmorra inteira emana energia. As paredes, o teto, o chão e até mesmo o ar estão exalando mana. — Lohan passou a mão no queixo sem barba. — Então não consigo medir com precisão nenhum dos caminhos.

— Deve ter mais bifurcações à frente... — comentou Horse. — Sugiro seguir sempre pela direita. Se precisarmos voltar, será mais fácil achar o caminho de volta.

— E-eu acho uma boa ideia — concordou Alice.

Com todos de acordo, o grupo seguiu adiante pelo caminho da direita. 

O corredor era estreito e não permitia que três pessoas andassem lado a lado. A tocha de Alexsander também não conseguia jogar a luz tão longe, dando uma atmosfera sinistra ao caminho.

— Minerva, por favor tome a dianteira e tenha certeza se não tem alguma armadilha no nosso caminho.

— Sim, sim. — O ladino passou à frente e disse orgulhoso: — Afinal eu sou o melhor rastreador que conheço.

— Você deveria conhecer mais pessoas — provocou Lohan.

No corredor estreito, uma fila indiana era a melhor opção. Caso alguma coisa acontecesse, as pessoas na frente ainda teriam espaço para vir para trás e as pessoas atrás poderiam passar à frente.

Em ordem: Minerva, Horse, Alice, Lohan e Alexsander. Minerva amarrou o lampião que o grupo possuía na cintura, permitindo que ele ficasse com ambas as mãos livres. 

Quanto a Alice, ela recebeu a tocha para poderem notar qualquer coisa que tentasse se esgueirar pela retaguarda. Agora a luminosidade no caminho estreito era suficiente para ver até mesmo as gotas d’água pingando do teto.

— Parem. — Minerva levantou a mão esquerda na altura do ombro.

O grupo cessou o movimento e se preparou. O ladino caminhou até uma raíz escura, quase da cor da pedra do túnel que cruzava o túnel, e analisou as paredes onde se conectava. 

— Vão um pouco para trás.

Quando o grupo se afastou, Minerva arremessou com precisão sua adaga, cortando a raíz em duas. Em seguida, o local onde o grupo estava antes foi atingido por uma saraivada de espinhos que saltaram das próprias paredes do túnel.

— Uma armadilha natural!? — exclamou Lohan.

Após o ataque, o punk se aproximou de um dos espinhos fincados na parede e olhou com atenção. Uma seiva esverdeada e com cheiro amargo escorria da ferida na parede.

— A ponta é bem dura, conseguiu atravessar a pedra. Também parece venenoso.

Alice engoliu em seco. Ela possuía um milagre que removia venenos e toxinas, mas o que aconteceria se ela mesma fosse envenenada?

Com a armadilha inutilizada, eles seguiram adiante e chegaram ao final desse túnel. Havia um salão grande o suficiente para que eles saíssem da fila indiana. 

Alexsander olhou para trás e confirmou que somente o túnel por onde vieram levava até ali. A bifurcação realmente levava para lugares diferentes, ele pensou.

O teto era alto e possuía um grande cristal no centro, que emitia uma luz azul constante e suave. 

— Aquele cristal… — Minerva tinha olhos sérios. O grupo inteiro ficou em alerta, já que poderia ser outra armadilha. — … será que dá pra roubar? Deve valer uma grana.

— Seu idiota! Nos deixou preocupados por nada. Pare de ser ganancioso o tempo todo! — reclamou o mago.

— Uma gema que brilha no escuro… Vai dizer que não está nem um pouco interessado? 

— Eu realmente nunca ouvi falar de uma gema luminosa com esse tamanho… 

Alexsander levantou uma sobrancelha e questionou: — Não tinha nada sobre isso nos seus livros?

— Poucas pessoas têm força para vencer uma masmorra e sabedoria para escrever um livro decente. — Lohan suspirou. — Uma vez até me deparei com um que falava sobre essa Masmorra das Planícies, mas custava centenas de moedas de ouro.

— Aposto que aquele cristal deve valer centenas de moedas de ouro — inferiu o ladino.

— Sequer temos como levar essa merda de cristal!

— Hahahaha. Vocês são muito energéticos, mas não esqueçam onde estamos — falou o monge.

Alexsander concordou com a cabeça e complementou: — Já que não tem nada aqui, vamos continuar.

Novamente havia duas opções, e mais uma vez escolheram o caminho da direita. Enquanto andavam, sentiram uma sútil corrente de ar frio vindo contra eles.

Uma fraca luz vinha do final da passagem, porém era avermelhada como o sol poente. 

— Minha percepção está embaçada, mas parece que tem alguma coisa emitindo muita mana adiante…

Zuuum

Um espinho veio zunindo na direção do grupo. Minerva moveu sua adaga no momento exato em que passaria por ele, redirecionando o projétil para a parede da caverna. 

— Alexsander, estamos bem na mira deles! — gritou. Ele tinha muita agilidade para desviar e contra atacar, mas certamente não era a melhor linha de frente para proteger aqueles que vinham atrás dele.

— Trocando!!

O guerreiro disparou em linha reta e assumiu a dianteira, com o escudo de metal diante do torso e o sabre de aracne acima da testa.

Como não tinha um capacete, usar a espada para cobrir parte da cabeça era a forma mais segura de se proteger dos espinhos e manter aqueles atrás dele igualmente seguros. Entre o sabre e o escudo, manteve uma brecha para poder enxergar o que estava na frente dele.

Uma chuva de projéteis espinhosos veio na horizontal, colidindo violentamente com o metal e gerando um barulho semelhante a duas armas se chocando em um duelo.

— Os espinhos dessas plantas são muito fortes! — A cada dois passos que Alexsander dava, os múltiplos impactos o faziam deslizar outro para trás.

— Ce-certo, eu vou ajudar!

Alice conjurou a benção da Deusa. A carta na mão dela brilhou em uma energia dourada, que avançou pelo ar e cobriu Alexsander.

Com um aumento de cinco pontos em força, totalizando agora 31 pontos, o guerreiro teve mais facilidade para aguentar os impactos. Contudo, ainda deslizava para trás devido ao terreno desfavorável.

— Não foi su-suficiente!? 

— Conte comigo para isso! — gritou o monge. Ele deu um tapinha no ombro de Minerva, que estava entre ele e Alexsander, e o ladino se abaixou, permitindo que o moreno saltasse por cima dele. — Vamos dividir a força do impacto!

O musculoso botou as palmas da mão nas costas de Alexsander e se curvou para frente, aumentando a tração no piso do túnel. Com a combinação de exatamente 55 pontos de força dos dois homens, eles facilmente venceram a força dos espinhos. 

A uma velocidade impressionante comparada a antes, o grupo atravessou ferozmente pelo túnel. 

Com as armas em punho, saltaram para dentro do salão. Antes mesmo de verificarem completamente os arredores, usaram suas habilidades na planta que disparava os espinhos contra eles.

Ativando Foco Arcano, a habilidade que recebeu das entidades, o mago aumentou o poder da sua próxima magia. Não havia dúvidas de que o fogo era a melhor arma para lidar com plantas. 

Uma esfera flamejante voou rumo ao caule e explodiu em faíscas.

GRRWUAAAAAG

O monstro berrou e as paredes do salão tremeram. A criatura, porém, não parou de atirar seus espinhos, que agora estavam em chamas!

— Isso é ruim! — gritou Minerva, enquanto desviava um espinho flamejante que ia atingir o rosto do mago elfo. — Essa coisa também parece mais irritada do que antes.

O monge socou o chão e arremessou os detritos contra os ataques da planta — uma proficiência e precisão no uso do próprio corpo que apenas os melhores monges Ragardas conseguiriam alcançar. 

— Companheiros, parece que teremos um problema agora. 

— Is-isso não é problema o suficiente? — falou Alice, enquanto se escondia atrás do escudo de Alexsander.

A pele de Horse era tão resistente quanto metal, graças ao seu alto nível marcial. Aqueles projéteis, entretanto, também eram bem resistentes.

O guerreiro olhou para o monge e entendeu a mensagem. Um sutil filete de sangue escorreu pelo seu braço, provavelmente por um espinho que pegou de raspão em sua pele.

GRRWUAAAAAG. Os espinhos cessaram, mas a terra do salão tremeu violentamente. Algo grande iria acontecer.

Alexsander queria aproveitar e avançar para cortar o oponente, mas Alice não conseguiria se proteger dos ataques sozinha. A armadura dela parecia extremamente poderosa, mas na verdade não oferecia proteção contra ataques pelo baixo atributo de resistência.

O ladino ergueu sua adaga e analisou o monstro. — Tem algo vindo… Por baixo! 

Uma raiz gigantesca se ergueu do piso do salão, arremessando fragmentos de pedra em todas as direções. Com um movimento horizontal, a raiz varreu na direção do grupo.

Minerva pegou Lohan pela cintura e o ergueu do chão. — Ainda bem que você ficou mais leve, Lohan! — Em seguida, saltou por cima do ataque inimigo. 

— Tinha que ter alguma vantagem… 

Vendo que os dois estavam seguros, Alexsander voltou seu escudo em direção ao ataque e firmou os pés no chão. — Alice, atrás de mim! Mantenha a concentração! 

O aumento de sua força estaria em vigor enquanto Alice mantivesse o foco nisso. 

A raíz atingiu com uma força sobrenatural e o guerreiro deslizou quase cinco passos até parar o movimento da planta. Tem que ser agora!

Com um movimento carregado com toda a força em seu braço, Alexsander cortou a raíz, que era tão grande quanto ele, ao meio.

O monstro planta recuou a outra metade, balançando-a no ar como se fosse um chicote. Neste exato instante, Lohan acertou outra flecha de fogo no monstro. 

Aproveitando a brecha, Paulo carregou suas manoplas de mana, concentrando-as e aumentando seu poder de destruição.

— Sinta meus Punhos do Amor! 

Um direto de direita atingiu violentamente a parte mais fragilizada pelas chamas de Lohan. O tecido tão duro quanto metal foi deformado como se fosse barro, abrindo uma cavidade profunda que transpassou o corpo da criatura. 

GRRWUAA. Seiva jorrou do ferimento e o monstro berrou pela última vez, caindo imóvel no chão.

— A-acabou?

— Parece que sim — Alexsander se aproximou do monstro e o chutou, mas a criatura não se moveu. — Alice, cure o Horse antes que mais algum monstro apareça.

A sacerdotisa usou Curar e interrompeu o sangramento do monge. O restante do grupo não possuía ferimentos, apesar de estarem cansados. Fizeram uma pausa no salão e descansaram um pouco.

Após recuperarem as energias e comerem uma breve refeição pronta, avançaram novamente para as bifurcações. Dessa vez eram três. À esquerda descia, a do meio continuava em frente e a da direita subia — era de onde vinha a corrente de ar.

— Parece que dessa vez também muda a altura — falou Lohan.

Alexsander parou diante do caminho da direita. 

— Se mudarmos a estratégia agora pode ser um problema fazer o caminho de volta.

Minerva tomou a dianteira e entrou primeiro na passagem. Quando entrou viu um sutil brilho dourado. Com um gesto de mão, pediu para o grupo parar.

Enquanto verificava se era uma armadilha, avistou uma moeda de ouro. Não dá para dividir um entre cinco, então agora é meu.

Quando a colocou no bolso, as chamas do lampião de Minerva e a tocha na mão de Alexsander se apagaram ao mesmo tempo. Em seguida, reacenderam novamente.

O grupo encarou o salão e viu que a passagem que subia tinha se fechado. Minerva encarou o caminho, agora bloqueado, e deu um sorriso idiota.

— Bem, parece que teremos que ir pelo outro. Vamos indo então! 

O ladino andou despreocupado e adentrou pelo caminho do meio.

— Eu tinha ouvido falar que a Masmorra das Planícies era um labirinto, mas não sabia que as passagens se fechavam dessa maneira — comentou Lohan.

— Vamos logo, gente!

O túnel era idêntico ao anterior, então fizeram uma fila única. Paulo, Lohan e Alice seguiram atrás do ladino. Alexsander encarou a passagem que tinha se fechado e hesitou por um momento. 

A chama da tocha bruxuleou por um instante e Alexsander seguiu atrás do grupo.

O grupo não encontrou armadilhas ou inimigos. Quando viram uma luz amarela brilhando do fundo do túnel, entraram em alerta.

— Estamos perto da próxima sala! — gritou o ladino.

O grupo seguiu em frente e saltou para o salão. Estava completamente vazio. Um cristal brilhava no teto e havia somente uma passagem na frente, que parecia levar para cima. Lohan o encarou e coçou o queixo, como de costume.

— Dessa vez o cristal brilha em amarelo…

Sem nada no local, o grupo caminhou em direção à próxima passagem. 

BUUUUM. Um barulho muito alto preencheu o cômodo, pó de pedra se espalhou por todo o lugar e o piso inteiro tremeu com violência. 

Assim a poeira baixou, Alexsander encontrou apenas Minerva. Diante deles agora tinha uma grande parede de rochas negras.

— Você estão bem?! — o guerreiro gritou.

… Estamos… todos inteiros — parecia ser Lohan.

O guerreiro encarou o ladino e perguntou: — O que aconteceu?

— Acho que pisaram em um tijolo armadilha. Quando eu senti a ativação da armadilha, pulei para trás e escapei.

Alexsander assentiu e se aproximou da rocha. Era claramente muito mais resistente do que eles poderiam lidar com suas armas.

— Não temos como quebrar.

O guerreiro encarou pensativo a passagem bloqueada. As vozes dos companheiros do outro lado eram quase inaudíveis, mas conseguiu distinguir que os três estavam lá. 

— Putz, que droga. Parece que teremos que deixar eles aí mesmo…

— Realmente. Precisaremos tomar outro caminho — concordou o guerreiro.

Alexsander fechou o rosto, quando o escudo em sua mão vibrou e emitiu um leve brilho. Seus olhos brilharam na cor do sangue. 

— Agora eu entendi — falou o guerreiro. 

Com um movimento extremamente rápido, Alexsander perfurou o peito de Minerva com seu sabre.

 

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